Na nossa viagem por Marrocos, decidimos tentar subir ao cume da montanha mais alta do norte de África: o Toubkal. A cordilheira do Atlas e a mais extensa e mais alta da África do norte, e o seu pico, o Toubkal, atinge 4167 m. Depois de conhecer as cidades imperiais, o deserto do Sahara, a rota dos Kasbahs, as profundas gargantas, teríamos que culminar a nossa aventura com esta ascensão do Toubkal.
É difícil a ascensão ao Toubkal
À partida, o Toubkal não exige grande técnica na subida (pelo menos nos meses de Verão), no entanto, no Inverno, quando o Toubkal está coberto de neve, este cume tem alguma dificuldade e exige muito mais do que destreza física e boa forma. Exige que saiba usar crampons e tenha bom equipamento para o Toubkal.
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Como chegar ao Toubkal e a Imlil
Viajámos de Marrakech para Imlil, uma aldeia na base da montanha do Toubkal de onde se tem que começar o trilho de ascensão ao Toubkal. Foi em Imlil onde contratámos um guia de montanha (Omar), uma mula (que não sabemos o nome!) e um cozinheiro (Ibrahim). Dai fizemos um trekking de seis horas até ao refúgio onde dormimos no Toubkal.
Da aldeia de Imlil ao refúgio de montanha do Toubkal
Imlil situa-se a 1740 m e o refúgio do Toubkal a 3200 m. Esta parte do trilho do Toubkal é importante porque permite ao organismo humano aclimatar. Estávamos com alguma ansiedade já que, durante esta viagem, não fizemos nada em montanha e por isso o mal de altitude poderia vir a ser um problema no Toubkal.
A ascensão ao cume do Toubkal
No refúgio do Toubkal passámos a noite e começámos a ascensão ao cume do Toubkal às 6h da manhã. No refúgio já havia bastante neve mas nunca pensamos encontrar o trilho do Toubkal praticamente todo coberto. As três primeiras horas foram bastante duras porque havia enormes quantidades de neve e gelo, com inclinações vertiginosas no Toubkal.
Ali os crampons foram mais do que essenciais. Foi um grande esforço. Eu estava cheia de dores e muitas vezes pensei que não ia conseguir subir o Toubkal. O percurso para o Toubkal estava muito difícil e eu enterrava-me muitas vezes. Só pensava mais um passo. Só mais um… e lá fui em direcção ao Toubkal!
O trilho do Toubkal estava bem marcado porque havia vários alpinistas na montanha, mas está longe de ser fácil no Inverno. Ao fim de três horas tínhamos subido até ao final da linha de gelo e prosseguimos por mais de meia hora até ao cume do Toubkal. Pelo caminho ainda tivemos que parar algumas vezes. Um chocolate, um golo de água! Quando o organismo pede há que responder!
Lá em cima, o triângulo que marca o cume do monte Toubkal! Só me apetecia gritar. E gritei, gritei! A subida do Toubkal tinha sido muito dura. Estava muito sol no Toubkal, o que foi óptimo porque dali as vistas são fabulosas. Nada mais alto (até onde a vista pode alcançar). Uma laranja no cume… uhmm, que maravilha! Parecia um piquenique no topo do mundo, neste caso no Toubkal
Descer do Toubkal
Depois, há que descer do Toubkal. Aí foi outro problema. No percurso de rocha no Toubkal, as rochas soltas fazem-nos tropeçar mas com atenção e concentração não há problema. Quando chegámos à neve, ganhámos confiança e quase corríamos com os crampons no Toubkal. Mas depois de descer um pouco, já eram quase 11.30h e o sol derretia a neve. Começámos a enterrar-nos muito no Toubkal e a necessitar de grande esforço para conseguir prosseguir.
Era meio dia quando chegámos ao refúgio do Toubkal. Descansámos um pouco, até porque foram quase quatro horas para cima e duas para baixo no Toubkal, seis horas no total. O Ibrahim tinha-nos arranjado um Tajine fantástico e nos devoramos tudo. Mas… o pior foi depois!
Havia que descer do Toubkal para Imlil. Mais quatro horas de trekking no trilho do Toubkal! Isto foi extremamente cansativo e desgastante. As pernas ja não respondiam. Os joelhos acusavam esforço e a concentração também não ajudava. Foi a muito custo que alcançámos a povoação de Imlil.
Valeu a pena subir o Toubal
Para trás deixamos paisagens montanhosas belíssimas e mais um cume, o Toubkal. Este foi um dia EXTREMAMENTE desgastante. Subimos dos 3200 m até aos 4167 m e depois descemos daí até aos 1740 m, onde apanhámos um táxi para Marrakech. Caminhámos 10 horas seguidas sem parar! Mas sim, valeu bem a pena subir o Toubkal!
Tínhamos saído no dia anterior da nossa riad em Marrakech e dissemos a Francesca, nossa host em Marrakech, que íamos até as montanhas, no dia seguinte chegámos e ela perguntou «Were in the montains did you go?» quando lhe respondemos «To the summit of Toubkal» ela ficou incrédula!
A nossa experiência com o guia de montanha no Toubkal
Queríamos escalar o Toubkal, cume mais alto do Norte de África, com 4167 m de altitude e como não tínhamos experiência em Marrocos nem no terreno contratamos um guia para o Toubkal. O Toubkal no Inverno é tarefa só possível para alpinistas profissionais; no Verão é acessível a qualquer pessoa com boa preparação física; na Primavera (com ainda alguma neve na montanha) o Toubkal é acessível a alpinistas amadores… Como nós! Foi por isso que contratámos um guia no Toubkal e aconselhamos também a fazê-lo. O nosso guia do Toubkal era um rapaz (de nome Omar) de 20 aninhos, que tinha tirado o curso de guia de montanha no ano anterior. No primeiro dia fizemos um trilho de 6 horas entre a aldeia de Imlil e o refúgio de montanha no Toubkal, já a 3200 m de altitude. O guia teimava em ir sempre bem a nossa frente. Talvez seja tímido, pensamos! Nunca falou connosco.
No refúgio do Toubkal, o cozinheiro Ibrahim esmerava-se (a sério) com o nosso jantar no Toubkal. Então, em resposta a uma pergunta da Carla (sempre curiosa) ficamos a saber que o nosso guia Omar tinha estado UMA VEZ no cume do Toubkal. Começámos a ficar preocupados! A seguir era hora de experimentar os crampons para o Toubkal (acessórios que se põem na sola das botas, INDISPENSÁVEIS na progressão em neve), pois a montanha tinha muita neve, muito mais do que esperávamos. Queríamos ajuda a ajustá-los e pedimoa a Omar, e não é que o guia vai chamar o cozinheiro! Aqui ficamos mesmo preocupados…
Dia D, ataque ao cume do Toubkal. O Rui aperto os meus crampons, o cozinheiro apertou os da Carla e os do guia do Toubkal! Verdade! Começámos a subir, e quando a inclinação era maior, lá ia o guia por ali acima e nós ficávamos para trás, caminhando ao nosso ritmo. O guia parava, bebia a sua água, descansava e quando nós estávamos quase a chegar a ele… Recomeçava a subir! Às vezes a dezenas de metros dele, outras sem contacto visual, assim foi a ajuda do nosso guia numa subida extenuante e, por natureza da alta montanha, sempre potencialmente perigosa.
Com o nosso guia, o conceito de distância de segurança em montanha adquiriu um novo significado: se nos acontecesse alguma coisa, de certeza que a ele não o afectaria! Na parte superior da subida, em rocha e sem neve, ninguém ousou tirar os crampons pois o cozinheiro tinha ficado no refúgio! Mas lá chegamos ao topo. Na descida, o guia só não ia mais à frente porque começou a ter problemas com os crampons… Nas últimas centenas de metros, os crampons desapertaram-se por completo e, pura e simplesmente, tirou-os e veio a escorregar pela vertente, enfiando as botas na neve e encharcando-as completamente! Inacreditável! Salvou-se o cozinheiro, que para além de preparar refeições saborosas e de nos permitir subir a montanha (impossível sem crampons), recebeu-nos com um abraço (e com mais alegria do que o guia) quando lhe dissemos que tínhamos conseguido!
Conclusão: quando quiserem um guia em Marrocos, dirijam-se a cozinha mais próxima! Mas atenção, não suba à montanha de Inverno sem guia. Melhor um mau que nenhum. Depois disto tiramos um curso de alpinismo para ter autonomia em Alta Montanha.
Fizemos esta viagem na Páscoa de 2010.
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