Depois de uma noite passada junto à cratera de Darvaza, era tempo de acordar cedo, desmontar as tendas, arrumar tudo na burra, comer qualquer coisa e seguir viagem. Tínhamos pela frente a estrada de areia de acesso à cratera, muitos quilómetros de estrada turcomana em más condições, uma passagem de fronteira de duração imprevista e ainda uns bons 200km de estrada no Uzbequistão até chegarmos ao Mar Aral ou, pelo menos, a uma cidade que já esteve nas margens do Mar Aral, Moynaq.
Logo à partida, tentámos seguir um trilho diferente daquele que tínhamos seguido no dia anterior, para evitar troços com muita areia. No início correu bem, mas mais à frente ficámos novamente atolados. As pranchas e a força de braços salvaram-nos novamente, mas da segunda vez tivemos de pedir ajuda a um camião que passava. Puxou-nos para terreno mais firme e seguimos caminho. Dali para a frente conseguimos desviar-nos e ultrapassar os obstáculos até chegarmos à estrada principal.
Do cruzamento para Darvaza até à fronteira com o Uzbequistão, cruza-se o deserto de Karakum. Não há nenhuma localidade nesse percurso até se chegar perto da fronteira, por isso o objectivo era chegar lá o mais rapidamente possível. No entanto, as coisas não pareciam correr pelo melhor. Depois da passagem pela estrada de areia, e de uma pancada forte por baixo da burra, a quinta mudança não entrava. Não podendo ter assistência no percurso, não tínhamos alternativa em seguir em frente.
Mas os muitos buracos no asfalto e a inexistência de piso em certos troços atrasavam-nos. Quando, nos poucos troços com piso em melhores condições, se podia ir mais depressa, a falta da quinta mudança não o permitia! Sendo assim, estávamos obrigados a uma média que rondava os 60km/h, o que levaria a 5-6 horas de viagem até à fronteira. Os Carapaus Agostinho e Eduardo ainda inspeccionaram a burra para ver se conseguiam repará-la, mas repararam que um dos foles estava a largar massa. Outro problema! Uma ida ao mecânico parecia inevitável então, sendo a única hipótese a cidade de Nukus, já no Uzbequistão.
Seguimos em frente e chegámos finalmente à fronteira. O processo foi rápido do lado do Turquemenistão, e também, surpreendentemente, do lado do Uzbequistão. No lado turcomano, entregamos o aparelho de GPS e mostramos algumas fotos, mas foi tudo tranquilo. No lado do Uzbequistão, a revista das malas e do carro foi mais rigorosa, e por isso mais morosa, mas, ainda assim, o processo todo deverá ter demorado cerca de duas horas.
Enquanto estávamos na fronteira, o Carapau Eduardo aproveitou para testar a sua teoria de que a pancada na burra teria amolado a chapa de protecção do cárter e que esta estaria a impedir a entrada da quinta mudança. E não é que estava certo! Afinal temos mesmo mecânico… Ainda assim, tínhamos de passar por um profissional. Perto de Nukus, deixámos a burra a ser inspeccionada e confirmou-se o melhor: o fole só precisava de uma anilha e a protecção do cárter de umas pancadas para a endireitar. Tudo resolvido por 10USD e em pouco tempo! Maravilha…
Era tempo de almoçar num restaurante à beira da estrada, trocar algum dinheiro e seguir caminho. Ainda tínhamos ponderado a hipótese de não rumarmos a norte nesse dia, mas como os problemas da burra tinham sido resolvidos, o Mar Aral esperava por nós.
As estradas do Uzbequistão revelavam melhorias substanciais relativamente ao país vizinho e a estrada em direcção ao Cazaquistão foi feita a 100km/h. Depois do corte em direcção a Moynaq, a estrada piorou novamente, mas ainda assim permitiu que chegássemos em tempo útil. No entanto, tinha sido um dia comprido e cansativo. Era já noite cerrada quando chegámos a Moynaq e procurámos um acampamento de yurts que albergava visitantes.
A cidade, que sofreu muito com o retrocesso do Mar Aral e consequente desertificação da área e perda das indústrias pesqueiras e de conservas, parece agora em recuperação e com uma alma mais rejuvenescida do que aquela que tínhamos conhecido em 2013, quando visitámos Moynaq na nossa Rota da Seda.
No acampamento, conseguimos um bom negócio, com direito a duche (bem preciso) e pequeno-almoço. No entanto, demo-nos rapidamente conta que o duche era singular: numa terra desesperadamente sem água, o precioso líquido é racionado (pelo menos no nosso alojamento) e o duche foi feito com recurso a apenas um balde de água. Turismo sustentável…
Era tempo de jantar um peixe do rio e regressar à yurt e ter, finalmente, um merecido descanso.
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Estou a adorar a descrição das vossas peripécias e aventuras, ampliadas pelo facto de o fazerem numa “burra” de carga já com uns anitos. Que inveja não poder integrar a equipa!
Continuação de boas aventuras.
Paulo Fonseca
Obrigada, Paulo. Tem sido mesmo uma loucura. 😀