O deserto da Tunísia integra o enigmático Grande Erg Oriental do Sahara, um extenso mar de areia partilhado com a Argélia. O calor e aridez do deserto tunisino não é diferente dos restantes, e as fontes de água são determinantes para o aparecimento e fixação de vida. Durante os períodos em que as caravanas de camelos percorriam o Sahara, os mercadores e viajantes usavam os oásis como ponto de paragem nas suas grandes travessias, muitas levando os seus produtos à mítica Rota da Seda.
Hoje as caravanas de camelos foram substituídas por jipes e automóveis franceses decrépitos mas, os oásis continuam lá. As maiores nascentes de água deram origem a cidades oásis, tais com Tozeur, Nefta, Kebili ou Douz, todas elas com extensos palmeirais onde se pratica agricultura de oásis. No entanto, nas imediações destas cidades, persistem pequenos oásis, fontes de água que brotam do deserto, fontes termais cujas águas quentes continuam a ser usadas pelas populações nómadas, quedas de água que atraem rebanhos e linhas de água que talharam vales profundos e encaixados no deserto. Estes oásis cresceram, dando origem a pequenas povoações que, tal como as linhas de água, muitas vezes também são efémeras. As nascentes naturais abastecem os oásis do deserto tunisino e os seus habitantes aprenderam a construir poços para extrair a água fóssil que se torna cada vez mais escassa. Qualquer nómada do deserto sabe onde estão os poços e fontes de água natural, e são eles que permitem a vida da sua comunidade.
TOZEUR
A cidade de Tozeur é uma das mais belas cidades oásis da Tunísia. Importante centro nas rotas turísticas até ao ano 2010, hoje as principais cadeias de hotéis da zona turística estão esquecidas pelo tempo, com os antigos edíficios abandonados e alguns até vandalizados e decrépitos. O turismo de massa desapareceu mas a autenticidade do lugar mantém-se. A população que abraçou o turismo como se abraça a vida, teve que mudar de actividade, ser proactiva e voltar a procurar nos oásis uma forma de sobreviver.
Os turistas que tinham incentivado a produção de tapetes berberes devido ao aumento da procura, deixaram de aparecer para comprar, e o trabalho de muitas mulheres tunisinas perdeu importância na economia local. A mulher regressou aos seus trabalhos domésticos no lar, cuidando dos filhos e das parcelas agrícolas dos oásis. A escola profissional de hotelaria que abriu no centro de Tozeur tem as portas fechadas e está agora vazia. Os hotéis e restaurantes também. As agências que vendem excursões ao deserto são cada vez menos e sobrevivem dos poucos turistas asiáticos que ainda ali chegam.
Os viajantes independentes vão aparecendo mas são muito poucos. O turismo deixou de ser a “mina” que se apregoou durante tanto tempo. As rotas turísticas mudaram, agora em direcção a outros destinos, tais como Portugal.
Contudo, Tozeur preserva o seu carisma e encantos. Com um palmeiral extraordinário, decidimos explorá-lo na companhia de Mohamed, sentados numa carroça puxada por um burro. O seu francês é muito limitado mas Mohamed esforça-se por nos contar, de forma humilde, que é um bom muçulmano e não tem culpa do que outros fazem em nome da sua religião. Diz-nos que precisa de trabalhar, de ganhar dinheiro. Conta-nos que há alguns anos, os turistas acotovelavam-se no palmeiral.
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Hoje são meia dúzia os turistas que se cruzam connosco, e todos chineses ou japoneses. Mohamed pára a carroça e mostra-nos como funcionam os oásis e os palmeirais. Conta-nos que as terras são divididas em pequenas parcelas, uma para cada família, e que cada parcela tem direito a uma hora de água proveniente do sistema de irrigação duas vezes por semana. Esta irrigação permite a plantação de palmeiras cheias de tâmaras, bananeiras, figueiras, romanseiras, tomate, pepino, alface, cenouras ou cuzcuz, que faz parte da dieta diária dos tunisinos.
As tâmaras de Tozeur são o ex-libris das culturas do oásis. Nutritivas e deliciosas, são a base da alimentação durante o Ramadão, e fazem da Tunísia o nono maior produtor de tâmaras mundial, com uma produção de cerca de 180 mil toneladas por ano (2011). Há várias variedades de tâmaras na Tunísia mas as deglet nour de Tozeur são as mais doces e suculentas. No bazar de Tozeur comprámos duas caixas de um quilo, uma para nos fazer companhia durante a nossa epopeia pela Tunísia, outra para levarmos para Portugal.
A irrigação dos oásis como em Tozeur, Nefta e Douz, não permite apenas a produção agrícola. Uma das funções mais importantes do elaborado sistema de irrigação, que recolhe água proveniente de várias fontes, é a criação de gado que fornece a carne essencial e de extrema importância para alimentação tunisina. Os dromedários são os animais mais valorizados, pois para além de carne, fornecem leite e transporte na região. No entanto, as ovelhas, cabras, burros e cavalos são também essenciais para a sobrevivência da população.
A alma do oásis de Tozeur é o bairro antigo, construído em adobe e magnificamente preservado, o Ouled el-Hadef. Os edifícios são feitos com pequenos cubos de adobe encaixados uns nos outros de maneira a formarem padrões geométricos e florais e, em alguns casos, versos do Corão. Explorámos esta parte da cidade a pé, conversando com a população local. Foi ali que subimos ao terraço de uma casa de tapetes onde funciona uma casa de chá com vistas deslumbrantes sobre o palmeiral e a cidade de adobe.
Passámos dois dias maravilhosos na cidade oásis de Tozeur, a partir de onde aproveitámos para conhecer a povoação mas também as suas imediações mais próximas. Mas, os verdadeiros oásis, descobrimo-los nas montanhas, onde as fontes de água naturais criaram quedas de água, como em Tamerza, palmeirais no meio de casas de adobe, como em Chebika, e canhões fluviais, como em Midès.
O hotel Dar Saida Beya foi o nosso lar nestes dias. Um pequeno boutique hotel construído numa casa tradicional de Tozeur, a dois minutos a pé do centro da cidade. Foi o local ideal para relaxar ao final do dia, próximo do magnífico restaurante Dar Deda, onde descobrimos os encantos da comida tunisina.
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