O maior oásis de montanha da Tunísia, a 65 km de Tozeur, não deixa ninguém indiferente e nós não fomos excepção. A actual povoação de Tamerza já não é a Tamerza que deslumbrou centenas de pessoas até à década de 70. Essa povoação desapareceu e está hoje em ruínas. Foi abandonada depois de ter sido quase completamente destruída com as cheias que devastaram a Tunísia, em 1969, colocando 80% do país debaixo de água (veja este nosso texto para saber um bocadinho mais sobre estas cheias). A nova povoação está agora a alguns quilómetros de distância, e é o único oásis de montanha com transporte público regular, quer desde Tunes como de Tozeur.
Da velha Tamerza tudo ficou em ruínas. Ruínas que são tão mágicas e enigmáticas que parecem ainda ter a alma das suas gentes. As ruínas encontram-se nas margens de um leito completamente seco que, esporadicamente, as chuvas enchem de água, inundando de vida e cor o deserto. O pó de tom castanho carregado, misturado com as areias finas que sopram do deserto, não deixam esquecer a aridez do local. Este cenário inóspito deslumbrou viajantes e até cineastas. Anthony Mingela veio ali filmar o Paciente Inglês, e rendeu-se à beleza da Tunísia.
As ruínas da antiga Tamerza são deslumbrantes. Com ruas estreitas e sinuosas, edíficios construídos em adobe e até um pequeno mausoléu. A estes, na Tunísia, chamam-lhes Marabutos, túmulos de homens santos no Magrebe, que para além de líderes espirituais, muitas vezes lideravam a resistência aos europeus. O marabuto identifica-se bem nas ruínas pois está completamente caiado de branco. Não tivemos tempo de explorar a região (porque não contávamos que fosse tão deslumbrante) mas se fosse agora, teríamos ficado ali um dia para caminhar pelo vale e explorar as ruínas.
Tamerza é uma varanda sobre o Sahara, sobre o deserto, a vida (ou falta dela) e sobre a luta que o homem empreende para sobreviver em lugares inóspitos. Para testemunhar tudo isto, foi construído um hotel fabuloso em Tamerza, com vista magnífica sobre o vale, as montanhas e as ruínas, o Tamerza Palace. Mas a queda do turismo desde 2010, levou ao encerramento do hotel. Hoje, aguarda que o tempo lhe reserve o mesmo destino que as ruínas em frente.
Aquilo que nos levou a Tamerza não foram as ruínas da povoação (embora depois de visitar o local considerámos que é o mais extraordinário), mas sim, a existência de uma queda de água no deserto mesmo à entrada da cidade quando se vem de Chebika.
A queda de água é pequena mas a sua importância não reside no seu tamanho, mas sim no facto de se localizar no deserto, estando associada a um conjunto de nascentes naturais que permitem o oásis de Tamerza exibir um belo e fértil palmeiral. Próximo da queda de água, é possível fazer um percurso pedestre num canhão fluvial, talhado pelas águas torrenciais que esporadicamente percorrem estes vales. Foi o que fizemos.
Era hora de seguirmos viagem, deixando para trás os belíssimos oásis de Chebika, Midès e Tamerza. O deserto esperava-nos para ser explorado, íamos agora em direcção a Ong Jemal.
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