Visitar KSAR GHILANE e descobrir os encantos do magnífico deserto (com dormida num campo no deserto)

Um dos pontos altos do nosso périplo pelo sul da Tunísia e pela região tunisina do Sahara era chegar ao oásis de Ksar Ghilane.

Situado na orla do mar de dunas do Grande Erg Oriental (maioritariamente em território argelino), é um dos pontos de contacto entre o mundo dos homens e o mundo onde a natureza é rainha e senhora absoluta, o maior deserto quente do mundo. Ali sente-se um sentimento de posto fronteiriço. Para lá, imperam as areias quentes do deserto, uma geografia árida e implacável. Historicamente, para lá de Ksar Ghilane, era também o mundo dos povos berberes, nómadas e difíceis de conquistar ou controlar.

Entretanto, aprenda aqui a preparar-se para ir para o deserto.

Há dois mil anos, os romanos decidiram proteger as suas cidades costeiras (hoje na costa da Tunísia e Líbia) construindo uma séria de fortificações que dissuadissem os raides berberes, constituindo a chamada linha defensiva Limes Tripolitanus. O forte romano de Tisavar, construído em 184 d.C., e cujas ruínas se podem ainda hoje admirar a cerca de dois quilómetros do oásis de Ksar Ghilane, são o testemunho da fronteira que até o poderoso império romano respeitava.

Quando chegámos a Ksar Ghilane, depois de um longo dia de jornada desde Tozeur, e passando por Douz, a primeira coisa que quisemos fazer foi um passeio de camelo até às ruínas do forte romano. O sol do fim da tarde iluminava as dunas, emprestando-lhes tons alaranjados e avermelhados.

As dunas não são tão grandes como outras que já visitámos no Sahara, nomeadamente em Siwa, no Egipto, e no Erg Chebbi, em Marrocos, mas a imensidão do deserto é sempre estarrecedora e arrebatadora. Sentimo-nos tão pequenos e impotentes perante a magnificência da natureza!

Os camelos percorreram a distância até ao forte em cerca de uma hora. O forte parecia logo ali, mas a deslocação pelas areias não é fácil; tudo leva o seu tempo, e o ritmo do Sahara é que manda. Lá, as vistas eram ainda mais espectaculares, vendo-se de cima as dunas e o oásis ao longe. Ali, sentimo-nos efectivamente numa fronteira real, palpável, e não numa linha desenhada por interesses políticos.

De volta ao oásis, tínhamos à nossa espera uma pequena lagoa alimentada por águas de uma nascente termal, mas acabámos por não tomar banho pois o frio começava já a sentir-se e a água não nos pareceu assim tão quente. Recolhemos à nossa tenda berbere, tradicional, mas com algumas comodidades modernas, nomeadamente um ar condicionado que nos aconchegou durante a fria noite do deserto.

Jantámos com o nosso guia, e depois demos uma volta pelo acampamento, subindo à torre de observação para olhar para o firmamento e para a escuridão do deserto. E, por mais vezes que o visitemos, sentimos sempre o apelo do deserto, aquela vontade de conhecer mais, de ir mais longe, de olhar mais além. No deserto à nossa frente, e no céu por cima de nós, tudo parece estar na sua devida posição, nada parece fora do sítio. A beleza da natureza em todo o seu esplendor. O deserto enche os nossos corações e chama-nos para mais aventuras. Quem sabe, responderemos ao seu apelo em breve.

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Rui Pinto

Físico de formação mas interessado em todos os aspectos da cultura e história da humanidade. As viagens são o meio privilegiado para um aprofundamento do conhecimento do mundo, das suas gentes e do nosso papel na vida.