Nos dias de hoje, é muito difícil imaginar a imensidão do Império Romano, e o que essa grandeza significava nesses tempos áureos. As principais cidades do império foram destruídas, muitas completamente arrasadas, e os quase dois mil anos que passaram fizeram o resto. Hoje, só podemos contemplar ruínas e resta-nos usar a imaginação para conseguir visualizar o que foi outrora esse grande império. No entanto, neste respeito, fazer parte da fronteira do império acabou por ser uma vantagem. Longe, muito longe de Roma, as pequenas cidades nas partes mais longínquas do império teriam talvez mais hipóteses de escapar à destruição em grande escala. E isso aconteceu em Dougga, uma pequena cidade no limite do império, no norte de África, fazendo fronteira com o reino berbere da Numídia. Hoje, passados dois mil anos, Dougga constitui uma das ruínas romanas mais bem preservadas do mundo e é uma visita obrigatória na Tunísia, sendo considerado pela Unesco como Património da Humanidade.
Após a destruição de Cartago, em 146 a.C., a República Romana fundou uma província no norte da África, Africa Vetus, a primeira fora de Itália, escolhendo como capital a cidade de Útica, situada a cerca de 40 km noroeste de Cartago, e que se tinha unido aos romanos na terceira guerra púnica. África foi sempre uma das províncias mais importantes, principalmente devido à exportação de produtos agrícolas para Roma, e esta riqueza, aliada à posição estratégica, levaram ao estabelecimento de grandes cidades na costa, como Cartago, Thysdrus (hoje El Jem), Hadrumetum (hoje Sousse) e Leptis Magna (na costa actual da Líbia), mas também pequenas cidades no interior, como Dougga, que serviam de centros de produção agrícola e de trocas comerciais com reinos dependentes do império.
Na realidade, Dougga estava fora dos limites da primeira província romana, passando a fazer parte de Africa Nova, resultante da expansão em 46 a.C. Desde 27 a.C., quando a República se transformou em Império, Dougga passou a fazer parte de Africa Proconsularis, entre as províncias de Mauretania Caesariensis (a oeste) e Cyrenaica (a leste), e o gradual processo de romanização culminou na época de ouro da cidade entre os séculos II e IV. A cidade nunca foi abandonada na sua história, mas começou a perder a sua importância com a derrocada do império romano e entrou em declínio completo com a invasão árabe. Hoje, o bom estado de conservação das ruínas oferece-nos uma visão invulgarmente clara do planeamento de uma cidade romana.
A organização da cidade é, no entanto, invulgar, não sendo muralhada nem tendo um traçado regular, talvez devido a uma adaptação ao terreno, uma vez que Dougga se situa no alto de uma colina, sobranceira a um belo vale, e foi construída sobre as fundações de uma cidade numídica, de traçado irregular. Na parte mais alta da cidade, encontram-se o Fórum, construído entre 14 e 34 d.C., e a Praça da Rosa-dos-Ventos, cuja designação se refere aos nomes de doze ventos romanos no pavimento.
No centro desse espaço, encontra-se o maior monumento da cidade, o impressionante Capitólio (166 d.C.), com paredes de 10 m de altura e seis enormes colunas a suportar o frontão triangular, com uma estátua de Antonino Pio, e uma inscrição dedicando o templo aos deuses Júpiter, Juno e Minerva, sendo que três estátuas correspondentes ocupariam o seu lugar em três nichos no santuário do templo.
Mais abaixo, existe um outro complexo de templos, e, ao lado, as espectaculares Termas Licinianas (ou de Caracalla, 260 d.C.), onde as paredes do frigidarium se encontram quase intactas, podendo ainda percorrer-se os túneis que outrora foram percorridos pelos escravos que serviam os senhores romanos.
A oeste do fórum, encontram-se o Arco do Triunfo de Alexandre Severo, belo e num muito bom estado de conservação, as Cisternas de Ain el-Hammam, que forneciam água à cidade, e, no meio de olivais, o que resta de um templo que deve ter sido lindíssimo, o Templo de Juno Caelestis, a aculturação romana de uma deusa cartaginesa.
A nordeste do fórum, outra divindade púnica, Baal Hammon, foi substituído pelo homólogo romano, sendo que o Templo de Saturno dominava a encosta norte da cidade, mas do qual hoje só restam seis colunas incompletas. Antes de lá chegar, logo à entrada actual das ruínas, encontra-se o magnífico anfiteatro, com uma capacidade para 3500 pessoas e com uma vista privilegiada sobre a cidade e o vale.
Na parte mais baixa da cidade, pode admirar-se as ruínas residenciais das villas romanas, ao longo de uma estrada pavimentada, onde também se podem visitar as ruínas do que se pensa que terá sido o bordel da cidade, e ainda os banhos públicos, onde resta uma fila (em forma de U) de 12 latrinas (uma comunhão de espaço privado!).
Mais a sudeste, o Arco de Septímio Severo pode ser ainda admirado, apesar de muito danificado, e marcava a passagem na estrada que ligava Cartago a Théveste (Tébessa, na actual Argélia, perto da fronteira com a Tunísia).
Mais a sul, encontra-se o único testemunho do passado mais longínquo da cidade, um enigmático mausoléu líbio-púnico (reconstruído por arqueólogos franceses no início do século XX), com três andares e encimado por uma pirâmide.
A apenas 8 km da cidade de Teboursouk, e facilmente acessível numa visita de um dia a partir de Tunes, Dougga constitui assim uma das principais atracções da Tunísia e temos a certeza que, quando o país recuperar da crise actual na indústria do turismo, Dougga assumirá o papel relevante que merece e voltará a fazer parte das principais rotas turísticas mundiais.
PODE VER AQUI AS NOSSAS DICAS PARA VIAJAR NA TUNÍSIA
MARQUE AQUI OS SEUS TOURS E PASSEIOS
Se vai viajar para a Tunísia, estes são alguns dos nossos artigos que lhe podem interessar
- VIAJAR NA TUNÍSIA – Um artigo com lugares a visitar na Tunísia e que devem fazer parte de qualquer roteiro, com muitas dicas práticas para viajar no país. Tudo o que precisa de saber para viajar na Tunísia está neste artigo, cheio de dicas práticas sobre transportes, alojamento e vistos.
- VISITAR TUNES – Tudo o que precisa de saber para visitar a capital da Tunísia, Tunes, está neste artigo.
- VISITAR DOUGGA – Um artigo cheio de dicas para visitar uma das melhores ruínas romanas no norte de África, Dougga, na Tunísia.
- VISITAR CARTAGO – Tudo o que precisa de saber para visitar Cartago, na Tunísia, está neste artigo de viagem.
- VISITAR SIDI BOU SAID – Um artigo com as melhores dicas para aproveitar e visitar Sidi Bou Said na Tunísia.
- VISITAR KAIROUAN – Um artigo cheio de histórias e experiência sobre a nossa visita a Kairouan, na Tunísia, no nosso caso, em plena passagem de ano.
- VISITAR MATMATA – Tudo o que precisa de saber para visitar um dos lugares mais incríveis da Tunísia e que deu origem a vários cenários de filmes de Hollywood.
- VISITAR CHEMINI – Um artigo com a nossa experiência na aldeia bérbere de Chemini, mais um lugar extraordinário a visitar na Tunísia.
- VISITAR TATAOUINE – Tudo o que precisa de saber para visitar a aldeia Tataouine, mais um cenário cinematográfico numa aldeia fabulosa na Tunísia.
- VISITAR KSAR GHILANE E O DESERTO DA TUNÍSIA – Tudo o que precisa de saber para visitar o deserto da Tunísia, desde Ksar Ghilane, a porta de entrada para o grande deserto do Sahara tunisino.
- VISITAR DOUZ – Tudo o que precisa de saber para visitar Douz e o mercado de gado na aldeia, incluindo alguns locais de interesse nos arredores da povoação.
- VISITAR ONG JEMAL – Um artigo sobre o que poderá encontrar no deserto rochoso da Tunísia em Ong Jemal.
- VISITAR MIDÈS – Tudo o que precisa de saber para visitar a aldeia e canhão fluvial de Midès na Tunísia.
- VISITAR TAMERZA – Um artigo sobre uma das aldeias oásis mais bonitas do deserto rochoso da Tunísia, a aldeia de Tamerza.
- VISITAR O OÁSIS DE CHEBIKA – Tudo o que precisa de saber para explorar o maravilhoso oásis de Chebika, os seus trilhos e aldeia tunisina.
- VISITAR TOZEUR – Um artigo com tudo o que precisa de saber para visitar Tozeur e arredores da povoação, com visita aos oásis e preparar uma viagem para cruzar o deserto em direcção a Ksar Ghilane.
- VISITAR EL JEM – Tudo o que precisa de saber para visitar a povoação de El Jem, o seu teatro romano e os maravilhosos museus da cidade.
- VISITAR SOUSSE – Um artigo cheio de dicas e sugestões para explorar a cidade de Sousse, uma das principais cidades da Tunísia.
- ROTEIRO PARA VIAJAR NA TUNÍSIA – Um artigo com o nosso roteiro a viajar na Túnisia de forma independente.