Visitar Dili e Timor-Leste foi algo fora do comum para nós, e muito diferente daquilo que temos vivenciado nas nossas viagens, em particular durante a nossa volta ao mundo. Sentimos que não visitámos apenas Dili, mas que também acabámos por viver em Dili nem que tenha sido por poucos dias, como se fosse a nossa casa. Viver em Dili foi uma experiência mais pessoal e emocional do que os outros destinos que já visitámos por todo o mundo. Pela História, pelas pessoas, pela língua, pela comida, e pelo sentimento de pertença a uma comunidade.
A chegada
Logo que chegámos ao nosso alojamento em Dili, ouvimos falar Português e encontrámos uma pequena amostra da extensa comunidade portuguesa a trabalhar e viver em Dili. Ao jantar, conversámos em Português, falámos sobre Portugal e Timor-Leste, deliciámo-nos com a comidinha caseira com gosto familiar, e sentimo-nos transportados milhares de quilómetros. Estávamos a viver em Dili, mas tínhamos regressado a casa.
A História
A luta dos timorenses faz parte das nossas vidas e acontecimentos trágicos e traumatizantes como o massacre do cemitério de Santa Cruz, em 1991, e a violência e caos do pós-referendo de 1999 construíram parte do nosso imaginário sobre Timor-Leste, e fizeram-nos, mesmo à distância de milhares de quilómetros, partilhar das suas dores mas também dos seus anseios e esperanças.
Nos dias que passámos em Dili, percorremos alguns dos lugares com mais história do país, em particular relacionados com a presença portuguesa, ou com a luta de Timor-Leste pela independência, e sentimos de uma forma pessoal e intensa a energia que aqueles lugares transmitem, positiva e negativa.
A natureza
Em Dili e em seu redor, percorremos as praias de areia branca e negra, encantámo-nos com as enseadas do litoral recortado e vislumbrámos o interior montanhoso de uma nação para quem a natureza, a terra e os animais ainda têm um papel preponderante nas lendas, nas crenças e no quotidiano dos seus habitantes.
Fizemos snorkelling em águas transparentes, com o fundo do mar cheio de corais vivos, com uma variedade e qualidade do melhor que já vimos no mundo, e testemunhámos o enorme potencial turístico de Timor-Leste, e a importância que este com certeza terá para o futuro deste país.
As pessoas
Mas foram as pessoas que nos impressionaram mais ao visitar Dili e Timor-Leste. Falámos com jovens timorenses que trabalham para constituir um arquivo multimédia nacional, em colaboração com a Universidade de Coimbra, e conhecemos Max Stahl, o jornalista britânico cujas imagens gravadas a 12 de Novembro de 1991 fizeram mais do que muitas mil palavras ao acordar o mundo para o sofrimento e luta de um povo esquecido pelo mundo.
Visitámos a Universidade Nacional onde vimos uma juventude ansiosa por aprender, descobrimos um cantinho de Portugal no Oriente na Escola Portuguesa em Dili, e falámos com professores que lutam para que o Português continue a ser falado numa terra que nos viu chegar há cinco séculos, mas que nos viu partir sem honra nem glória há 45 anos.
Sentimos o pulso a uma população que sofreu muito, e cujas condições de vida continuam a ser muito difíceis, mas que escolheu dar preferência à construção de um futuro melhor em detrimento da estagnação em pensamentos e actos de retribuição ou vingança.
Os amigos
Fizemos amigos, entre os quais José, oficial da GNR que trabalha como consultor do governo timorense, João, um jovem que trabalha numa ONG na área dos serviços sociais, Amélia, professora que ensina História aos jovens timorenses na cidade de Baucau, Fernando, um empreendedor com ideais ecológicos que abriu um hostel em Dili e desenvolve projectos de agricultura sustentável, e Margarida, professora de Geografia na Escola Portuguesa em Dili.
Comemos, ao almoço, no mesmo restaurante todos os dias que estivemos em Díli, propriedade de um português que não deixou que os sabores nacionais se perdessem na memória dos timorenses, fazendo as delícias daqueles a viajar ou a viver em Díli, e já começávamos a reconhecer caras de um dia para outro.
Ao final do dia reencontrávamos algumas das pessoas com quem tínhamos tomado o pequeno-almoço, contávamos como tinha sido o nosso dia e ouvíamos as histórias do outro lado.
Viver em Dili
Partilhámos, enfim, um pouco do quotidiano daqueles que, trabalhando e vivendo tão longe de casa, ajudam a construir uma nação cujo território é metade de uma ilha do outro lado do mundo, e não pudemos deixar de pensar que estas pessoas constituem uma certa forma de Portugal se redimir do passado, longínquo e recente, quando, enquanto país, não fizemos tudo o que poderíamos ter feito por Timor-Leste.
E, no final daqueles dias a viver em Dili, ao deixarmos o porto e vermos a cidade ficar para trás, sentimos que um pedacinho de nós tinha ficado em Timor Lorosae. Talvez um dia voltemos, para conhecer melhor, e dar a conhecer a outros, este pedacinho do mundo, que já deixou de ser território português, mas que permanece no coração dos portugueses, estejam lá ou cá.
Este artigo foi realizado durante a nossa viagem de Volta ao Mundo em 2019/2020. DIAS 75 a 77 – Lugares obrigatórios e coisas a fazer quando visitar DILI | Timor Leste (Setembro 2019)
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Saber sobre Timor Leste e sentir um afago no coração. Obrigada pela partilha da vossa experiência.
Obrigado!