A ilha de Ataúro é um diamante em bruto, cheia de potencial turístico, com corais de renome mundial, aldeias tradicionais, aldeias desertas, e montanhas prontas a ser exploradas a pé. Tudo isto, mesmo às portas de Díli, a capital de Timor-Leste.
É uma ilha praticamente no estado selvagem (Ataúro significa “cabra” no dialeto insular local) e muito seca nesta altura do ano, sofrendo de carência de água potável, especialmente na época seca. Aliás, diz-se que o facto de não ter cursos de água doce é o que explica não existirem crocodilos na sua costa.
Recentemente, biólogos da Conservation International revelaram que a ilha de Ataúro abriga a maior diversidade média de peixe a nível mundial, com uma média de 253 espécies de peixes, e os seus corais estão a atrair a atenção de turistas e profissionais. Pensa-se que Ataúro poderá vir a ser classificada como área protegida.
Por todas estas razões, a ilha de Ataúro era um dos locais a não perder no nosso breve itinerário por Timor-Leste. Embora se possa fazer tours de um dia a partir de Díli, resolvemos passar lá uma noite, para poder explorar um pouco, e sentir o ritmo de vida dos seus habitantes.
Geografia da ilha de Ataúro
A ilha de Ataúro fica aproximadamente a 25km a norte de Díli, no estreito de Wetar, e faz parte, administrativamente, do município de Díli. Em termos de distância, Ataúro fica mais perto de território indonésio do que de Timor-Leste, uma vez que, cerca de 15km a nordeste, ficam as ilhas de Liran e Wetar, que pertencem à Indonésia (e a ilha indonésia de Alor fica cerca de 35km a leste).
Ataúro é uma ilha com cerca de 117 km2, com 25km de comprimento e 9km de largura. As principais localidades encontram-se na costa sudoeste, sendo a capital a localidade de Vila (antiga Maumeta). O seu interior é montanhoso, sendo que o seu ponto mais alto (Manukoko) atinge 995m de altitude. Existem trilhos que atravessam o interior da ilha, mas infelizmente não tivemos tempo para explorá-los.
O estreito de Wetar, que separa Ataúro de Díli é, por si só, um marco geográfico, uma vez que é um dos estreitos mais profundos do mundo, e uma verdadeira “auto-estrada” para baleias e golfinhos. Apesar de a época de observação começar em Outubro, nós não tivemos essa sorte.
História da ilha de Ataúro
Recentemente, uma equipa de arqueólogos descobriu evidências de ocupação humana na ilha de Ataúro de há, pelo menos, 18 mil anos, incluindo gravuras rupestres e vestígios de aldeias habitadas, tanto no seu interior, como na costa.
No entanto, historicamente, foi só a partir da chegada dos portugueses, por volta de 1520, que a ilha começou a ter uma ocupação permanente. A ilha de Ataúro era, no entanto, bastante agreste e os portugueses começaram a usá-la como local de uma prisão, não desenvolvendo em nada as infra-estruturas da ilha.
Quando, em 1975, se deu um golpe de estado em Díli, as forças portuguesas, sem o apoio de Portugal, que vivia o “Verão Quente” do PREC, refugiaram-se em Ataúro e foi daí que o último governador português do Timor assistiu à invasão indonésia em Dezembro desse ano. Os indonésios acabariam por utilizar também Ataúro como ilha-prisão até ao ano de 1986.
A ilha de Ataúro tornou-se parte da República Democrática de Timor-Leste em 2002, ano da independência tão esperada.
Como chegar à ilha de Ataúro
Pode chegar-se à ilha de Ataúro de barco, atravessando o estreito de Wetar, a partir do porto de Díli. O ferry Nakroma parte de Díli em direcção a Ataúro aos Sábados, às oito da manhã, e regressa às três da tarde. A viagem demora cerca de três horas. Com o mesmo horário, o ferry Success faz o mesmo percurso às Quintas-Feiras. O bilhete custa 10USD por pessoa.
O mar no estreito de Wetar é conhecido pela sua agitação, mas quando nós atravessámos (de ambas as vezes para Ataúro, mas também para Oecusse), o mar estava bastante calmo. Nós viajámos no ferry Success, na viagem de regresso de Ataúro. No dia anterior, tínhamos ido para Ataúro num barco de uma empresa de actividades subaquáticas que contactámos em Díli. Nós pagámos a tour de snorkelling (com almoço incluído), fizemos dois mergulhos de snorkelling, e à tarde ficámos no porto de Beloi. Também existe a opção de pagar apenas a viagem de barco, e o preço seria 45 USD por pessoa.
Em casos de emergência, a ilha de Ataúro tem uma pequena pista de aterragem, servida pela MAF (Mission Aviation Fellowship) Timor-Leste, uma organização cristã internacional, que faz a ligação entre Díli e Ataúro em avioneta.
Como deslocar-se na ilha de Ataúro
A ilha de Ataúro tem apenas cerca de 10 quilómetros de estrada de terra batida, que liga Vila à localidade de Bikeli-Pala, passando por Beloi, onde se encontra o cais de embarque do ferry que faz a ligação com Díli. Nessa estrada, principalmente entre Vila e Beloi, é possível arranjar transporte em tuk-tuks ou camiões de caixa aberta que vão passando e recolhendo passageiros. Fora deste percurso, na ilha de Ataúro, só há trilhos acessíveis a viaturas 4X4 (que não vimos nenhuma) ou apenas a pé.
Onde ficar a dormir na ilha de Ataúro
Como Ataúro ainda está muito pouco desenvolvido em termos turísticos, as opções não são muitas, e concentram-se na costa sudoeste, junto às principais localidades.
Nós ficámos alojados no Atauro Dive Resort, e gostámos muito. O nosso bungalow de bambu era mesmo junto à água e era muito giro. Pode jantar lá por 8 USD por pessoa.
Outras opções são o alojamento da companhia com quem fizemos a tour de snorkelling, o Compass Atauro Eco-Camp, e também o Atauro Dive Resort Backpackers Hostel.
Dicas práticas para a ilha de Ataúro
- Na ilha de Ataúro não há ATMs, por isso deve levar dinheiro suficiente.
- Deve usar repelente de insectos, pois é uma área com risco de malária.
- Há rede de telemóvel nacional, e pode ter conexão à internet se usar um cartão SIM de Timor-Leste com dados móveis.
- Não se esqueça de fazer um seguro de viagens quando visitar Timor-Leste.
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LUGARES E EXPERIÊNCIAS A NÃO PERDER NA ILHA DE ATAÚRO
Na nossa incursão pela ilha de Ataúro, sabíamos que não íamos ter tempo para muito, pois só íamos passar lá uma noite. Sendo assim, o nosso itinerário na ilha é muito limitado. No entanto, deu para saborearmos o ambiente da ilha, explorar os seus corais e conhecer algumas localidades. Aqui ficam as nossas sugestões.
1. Beloi
Beloi é o ponto de entrada e saída da ilha de Ataúro por excelência. É aí que se encontra o cais de embarque dos ferries que fazem a ligação com Díli. Nos dias em que o ferry atraca, há um mercado que se instala junto ao cais, muito genuíno, de locais a vender peixe seco, algas, e comida. Em Beloi existem também um ou dois mini-mercados, um com bebidas frescas!
2. Vila
A capital da ilha de Ataúro é também a localidade mais populosa, mas isso não quer dizer muito quando a população da ilha inteira não ultrapassa as 10.000 pessoas (mas parecem muito menos!). Ali, pode observar-se o ritmo do dia-a-dia da ilha, com as crianças a sair da escola, e as mulheres a saírem para o mercado de Beloi. Na Vila, pode admirar-se as ruínas da prisão construída pelos portugueses.
3. Ajude a comunidade local
Na localidade de Vila, existem duas organizações que produzem artesanato com base no trabalho das mulheres locais, e o dinheiro das vendas é inteiramente para essas comunidades. Uma chama-se “Bonecas de Ataúro” e (como o próprionome indica) vende bonecas de pano. Outra chama-se Biajoia de Ataúro e vende joalharia feita com materiais locais e estátuas.
4. Makili
Este foi o único percurso pedestre que tivemos tempo de fazer e foi uma óptima caminhada. Makili é uma localidade a leste de Vila e, embora haja um trilho para viaturas 4X4 a ligar as duas localidades, quase todos os locais fazem este percurso a pé, mesmo junto ao mar.
É um percurso muito bonito, mas quase sem sombra, por isso ponha protector solar e certifique-se que a maré está suficientemente baixa para poder fazer o percurso todo junto ao mar. Quando nós o fizemos, parte do percurso foi um pouco mais para dentro, implicando uma subida e descida íngreme até à aldeia de Makili. Demorámos cerca de uma hora e meia para cada lado.
A aldeia é surreal e quase nos imaginámos como os portugueses quando chegaram ali há 500 anos. O estilo de vida é totalmente rural, com a população a dedicar-se à pesca e à agricultura. Os habitantes de Makili são exímios fabricantes de armadilhas de pesca feitas em bambu, as quais se podem admirar à porta dos artesãos. As crianças regressam da escola, que frequentam na Vila, pelo mesmo caminho que fizemos.
5. Fazer snorkelling
Fazer snorkelling nas águas da ilha de Ataúro é obrigatório. Muitos até só fazem isso! Os recifes de coral em Ataúro são em franja, os mais comuns na zona intertropical. Desenvolvem-se perto da linha de costa, à volta da ilha, e são separados desta por águas estreitas e rasas azuis turquesa devido às areias de coral. Também se desenvolvem em profundidade, acompanhando a descida abrupta do fundo do mar, mas isso não explorámos uma vez que não fizemos mergulho.
Saímos cedo de Díli, e fizemos snorkelling em dois lugares, um de manhã e outro de tarde. De manhã, as condições de visibilidade eram óptimas e os corais são realmente espectaculares, tanto os corais duros, como os moles, muito coloridos e vivos, que é uma coisa que já não se vê muito devido à sobreexploração turística dos locais de snorkelling por esse mundo fora. Mas não vimos muita variedade de peixes. De tarde, mergulhámos mais junto à zona de rebentação e a água estava mais turva. Foi, no entanto, uma experiência fabulosa.
Existem várias opções de empresas a contratar em Díli. Nós usámos os serviços da Compass Diving. Optámos por não passar a noite no alojamento deles na ilha de Ataúro, e regressar no dia seguinte usando o ferry, por isso pagámos apenas a tour de snorkelling mais a viagem de ida. Outras opções de empresas que fazem mergulho e snorkelling a operar em Timor-Leste são Atauro Dive Resort, Aquatica Dive Resort e Dive Timor Lorosae.
6. Adormecer com o barulho do mar
Faz parte da experiência inesquecível de ficar a dormir na ilha de Ataúro relaxar numa cama de rede, apreciar o nascer-do-sol, comer o jantar acompanhado de um bom vinho e adormecer com o barulho das ondas. Para quê mais palavras?… Fabuloso!
Este artigo foi realizado durante a nossa viagem de Volta ao Mundo em 2019/2020. DIAS 78 e 79 – ILHA DE ATAÚRO, um tesouro escondido | Timor-Leste (Setembro 2019)
Se vai viajar para Timor Leste, estes são alguns artigos do nosso blogue que lhe podem interessar
- VIAJAR EM TIMOR LESTE – Um artigo cheio de dicas práticas para viajar em Timor Leste, com tudo o que precisa de saber para explorar o país.
- VISITAR OECUSSE – Um artigo com tudo o que precisa de saber para visitar Oecusse, em Timor Leste, desde Dili ou da Indonésia.
- VISITAR A ILHA DE ATAÚRO – Tudo o que precisa de saber para visitar a ilha de Ataúro, em Timor Leste, está neste artigo aqui no blogue.
- VISITAR DILI – Tudo o que precisa de saber para visitar Dili, a capital de Timor Leste, está neste artigo aqui no blogue.
- VIVER EM DILI – Um artigo em forma de crónica de viagem sobre a nossa experiência em Dili durante a nossa viagem de Volta ao Mundo.
Olá Rui Pinto.
O meu nome é Avelino, sou timorense e faço o meu estudo no Brasil. Atualmente eu abordo o meu trabalho de conlusão do curso ou monografia sobre o turismo na Ilha de Atuaro. O titulo é “Ilha de Ataúro: potencialidades e desafios para o estabelecimento do turismo sustentável em Timor-Leste”. Gostria de pedir a sua permissão, se é possivel utlizar sua materia de sitios turistico na ilha de atauro, e fotos, citará o senhor como autor.
Obrigado pela Atenção e agurdo o retorno
Abraço
Olá Avelino, se for para fins académicos, sempre com referência ao autor pode usar. Não pode é ser utilizado para fins comerciais.