Comemos o pequeno-almoço no quarto com algumas coisas que o Mohamed nos tinha arranjado no dia anterior, ou seja, um croissant de pacote e algumas bolachas. Os sudaneses tomam o pequeno-almoço tarde, mas nós não nos podíamos desleixar nas horas pois tínhamos um longo dia pela frente. Assim, já com o estômago arranjado, começamos o dia e seguimos em direcção a Velha Dongola.
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Cruzámos o rio Nilo e dirigimo-nos ao nosso primeiro destino. Muito perto de Ed Debba, fica a “Velha Dongola”, as ruínas da antiga capital de um reino medieval cristão que prosperou nas margens do rio Nilo entre os séculos VII e XIV.
VELHA DONGOLA
À entrada de Velha Dongola encontram-se túmulos islâmicos em forma cónica feitos de adobe, rodeados de campas rasas decoradas com pedras basálticas. Sobre as campas, seixos de quarto brilhante enfeitam as sepulturas, bordeados pelos basáltos negros. Os túmulos mais antigos estão abandonados e hoje são os morcegos os Reis e senhores destes edifícios.
Um pouco à frente, as fundações de habitações e igrejas pontilham a paisagem e perdem a batalha com as areias do deserto. A cidade de Velha Dongola ocupa uma grande extensão, mas após a tomada pelo sultanato do Cairo, e a consequente destruição, nunca mais recuperou. Hoje o sítio é escavado por uma equipa internacional de arqueólogos, mas ainda há muito por fazer em Velha Dongola.
O único edifício que resistiu em Velha Dongola é chamado de “Sala do Trono”, e situa-se num ponto alto sobranceiro à cidade. Transformado numa mesquita, na realidade não se sabe qual seria a sua função original, mas no segundo andar ainda se podem observar resquícios de frescos nas paredes representando Cristo.
Saiba tudo sobre Velha Dongola com o nosso vídeo. O Rui explica-lhe tudo o que gostaria de saber. Apostamos que vai adorar!
KERMA
Dirigimo-nos para norte, em direcção à cidade de Kerma. O deserto domina a paisagem, umas vezes com areia ondulante que vai ameaçando a estrada, outras vezes com paisagem pedregosa que parece não ter fim. Naquele que já foi o maior país de África, as extensões de terreno impressionam e o horizonte parece não ter fim.
Depois de almoçarmos à beira da estrada, o mesmo que ontem, ou seja, feijões, farinha, pão e salada, continuámos caminho. Perto de Kerma, a paisagem altera-se e entramos num oásis, com agricultura alimentada por canais que desviam a água do Nilo.
Aí visitámos outro legado de uma antiga civilização do Sudão, desta vez muito mais antiga, contemporânea dos antigos egípcios. Mais uma vez, o grau de destruição é muito, restando dois edifícios de tijolos de lama, chamados “deffufa”, separados por alguns quilómetros.
A maior Deffufa tem uma estrutura impressionante com paredes que resistiram a longos séculos de história. À volta, espalham-se as fundações do que teria sido uma cidade. Ao lado, um pequeno museu exibe alguns achados e conta a história dos reinos da Núbia e da sua relação com o Antigo Egipto.
Percorrendo alguns quilómetros pelos oásis visitámos ainda uma segunda Deffufa, um edifício mais pequeno, com uma extensão protegida à volta, mas sem sinais de escavações.
À volta encontra-se o que resta dos antigos cemitérios da Civilização de Kerma. Trata-se de um cemitério real onde foram encontradas centenas de sepulturas e onde foram desenterrados milhares de caveiras de animais. Estes montes funerários, em forma circular, continuam preservados no recinto mas só se consegue ter verdadeiramente noção do seu aspecto do topo da Deffufa.
TOMBOS
Dali, seguimos para uma pequena aldeia, Tombos, onde a paisagem é dominada pelos granitos. Ali, os antigos egípcios vinham cortar a rocha que utilizavam para as suas estátuas e ainda se pode ver uma estátua deitada, como que esquecida por tudo e todos. No meio dos campos, Mohamed leva-nos até ao local onde sobreviveu uma inscrição com hieróglifos numa rocha.
CATARATAS DO NILO
O sol estava a baixar e voltámos à estrada. Perto, fomos admirar a Terceira Catarata do rio Nilo. Cinco das seis cataratas do Nilo encontram-se no Sudão, mas duas foram submersas pelos lagos criados pela construção de barragens. Na realidade, não são cataratas, mas sim rápidos que tornam a navegação no rio muito difícil, especialmente nos tempos antigos. Acabámos por ver o pôr-do-sol junto às águas do Nilo, ouvindo o rugir da água. Uma paisagem deslumbrante!
CRUZANDO O NILO
Queríamos acabar o dia chegando a Soleb, mas ainda faltava muito caminho. Para encurtar um pouco, juntámo-nos a alguns sudaneses e atravessámos de ferry o Nilo para a margem ocidental.
A noite não tardou a cair e prosseguimos por estrada de terra em direcção a norte. Depois de retomarmos a estrada asfaltada, ainda parámos para jantar à beira da estrada. Alguns velhotes viam um programa da National Geographic (em árabe). Desta vez só havia batatas e feijão. Lá terá que ser!
Dali estávamos a pouco tempo de Soleb, onde iríamos passar a noite na casa de uma família núbia que nos cedeu um quarto com paredes de adobe, piso de terra e telhado de folha de palma, e apenas com duas simples camas.
Mas também não precisamos de mais. O mais importante é descansar, para no dia seguinte continuarmos a nossa aventura no Sudão.
Leia aqui as crónicas diárias da nossa aventura a viajar no Sudão:
- DIA 1 – Welcome to Sudan!
- DIA 2 – Rumo ao norte – De Cartum a Ed Debba
- DIA 3 – VELHA DONGOLA, KERMA e TOMBOS, um périplo pela história longínqua do Sudão
- DIA 4 – NÚBIA, a região que é senhora do deserto
- DIA 5 – As pirâmides do Império KUSH em KARIMA (Jebel Barkal, El Kurru e Nuri)
- DIA 6 – O milagre da Vida e as PIRÂMIDES DE MEROÉ
- DIA 7 – O esplendor dos faraós em Naqa e Musarawwat es Sufra e os Derviches africanos de Cartum
- DIA 8 – Os segredos escondidos de CARTUM e OMDURMAN