Os Mundari são a tribo mais característica e emblemática de todo o Sudão o Sul. Quando saímos de Juba rumámos a norte, seguindo as águas do Nilo Branco, um dos braços do rio Nilo e que se encontra com o Nilo Azul, vindo da Etiópia, na cidade de Cartum, no Sudão. O Nilo ali é a principal fonte de vida e, à semelhança do Sudão ou do Egipto, a maioria das populações organizam-se nas suas margens ou nas margens dos seus afluentes. É ali que estão as cidades, as aldeias e os povoados. E é por isso que os Mundari também ali estão.
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AS TRIBOS MUNDARI DO SUDÃO DO SUL
Os Mundari não são excepção. Vivem nas margens do Nilo Branco, na zona de Terekeka, desenvolvendo os seus modos de vida ancestrais nas planícies aluviais inundadas pelas cheias periódicas do Nilo, e tendo por base a criação de gado.
O gado é a maior riqueza dos Mundari, o seu maior orgulho. Mas só têm gado branco, com cornos muito grandes e afiados, que são arranjados e tratados todos os dias para serem os mais belos da região. São cobertos por cinzas ao final do dia para serem protegidos das mordidelas dos insectos e, de manhã bem cedo, tomam o mesmo banho de cinzas para completar a sua higiene. O seu valor é tal que não os vendem. É um símbolo de status social dos Mundari.
Já os Mundari são o oposto do seu gado. O seu tom de pele é tão negro e intenso que brilha, mesmo quando coberto de pó e cinzas. Os lábios negros como a pele, carnudos, contrastam com o branco dos dentes dos Mundari que parecem marfim acabado de polir.
Os corpos dos Mundari estão cheios de pó e cinzas e a forma de se lavarem é tomarem banhos com a urina das vacas, directamente no acto de urinar do animal. Lavam a cabeça e a cara, assim como os braços e pernas, enquanto a urina escorre em repuxo. A água é um recurso demasiado precioso e escasso para ser gasto com banhos nos Mundari. Isso seria um luxo.
Os hábitos e rituais dos Mundari são dos mais complexos do mundo. Para produzirem leite em vacas que já não dão, estimulam o animal soprando-lhes na vagina. Uma prática ancestral dos Mundari e ainda hoje usada.
Os Mundari são um povo único no mundo e que vive apenas nestas planícies aluviais do Sudão do Sul. São um tratado de antropologia de África, que aqui ficou preservado no tempo. São o símbolo da resiliência, da luta contra à natureza e contra o próprio homem. Os Mundari sobrevivem enquanto indivíduos num país assolado pela pobreza extrema, e sobrevivem enquanto grupo étnico num país fustigado por guerras tribais.
E nós, contra tudo e contra todos, estávamos ali para os ver, aprender com eles, respeitar e, acima de tudo, mostrar ao mundo que a vida é valiosa em todos os lugares da Terra. E no Sudão do Sul não é excepção. Estas culturas são o nosso mundo. Estes podíamos ser nós. Mas são os Mundari.
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