Para o primeiro dia do ano de 2014 reservamos uma visita ao que é, provavelmente, a grande atracção turística do Senegal em termos de vida selvagem, o Parque Nacional de Pássaros de Djoudj. Este santuário de aves é o terceiro mais importante do mundo, com uma área de 160 quilómetros quadrados, e situa-se nas margens do rio Senegal, a cerca de 60 km nordeste de Saint Louis.
Estabelecido como Património Mundial da UNESCO em 1981, este parque é o destino preferido de férias (leia-se migrações) de centenas de espécies de pássaros que, fugindo do frio da Europa de leste e atravessando o deserto do Sahara, procuram aqui um refúgio natural.
Embora se possam observar inúmeras espécies no parque (o condutor fazia-se acompanhar de um volumoso livro ilustrado sobre pássaros de África Ocidental), a verdade é que este é mais conhecido pelos pelicanos e flamingos. Cedo ficamos a saber que não íamos ter o privilégio de vermos os segundos, pois a altura não é a certa, eles não se concentram no mesmo sítio, só se tivermos sorte de os vermos em voo… Adeus flamingos, só se fosse em Fevereiro! Quanto aos pelicanos, estava prometido que não nos falhariam…
Cerca de 30 km antes da entrada do parque, entra-se na zona das margens do rio Senegal, nesta altura do ano seca, mas que na época das chuvas fica completamente alagada. A estrada de terra batida segue quase em linha recta, vendo-se algumas aldeias e alguns exemplares de pássaros exóticos, tais como o grou-coroado. Na entrada do parque, onde pudemos assistir a uma concentração espantosa de pássaros pretos (a ornitologia nunca foi o meu forte!), o condutor foi pagar os bilhetes e seguimos viagem em direcção ao local onde iríamos apanhar o barco que nos levaria por duas horas pelo rio Djoudj, um afluente do rio Senegal.
Na realidade, no parque não vivem só pássaros, e a verdade é que vimos mais javalis no percurso de carro de ida e volta, da entrada do parque até ao cais de embarque, do que aqueles que vimos no parque de Niokolo Koba! Além disso, pudemos observar dois exemplares semi-escondidos de anacondas, assim como um crocodilo que se banhava ao sol e não se deixava perturbar pelos gritos dos italianos que nos acompanhavam no barco! Mas as estrelas da companhia foram realmente os pelicanos…
Na realidade, são tão estrelas que já apareceram inúmeras vezes em fotos e filmes dedicados à vida selvagem. Veja-se o caso da “Terra vista do Céu” de Yann Arthus-Bertrand. E não é para menos, pois a visão de uma ilha completamente coberta de pelicanos adultos, jovens e bebés é realmente impressionante. Quando lá chegamos, dezenas de pelicanos chegavam em voo rasante, carregados de comida para os seus filhotes. Um miúdo ainda perguntou como é que os pelicanos distinguiam os seus filhos no meio daquela confusão! Segredos da natureza…
Fotografia de Yann Arthus Berthand – A Terra vista do Espaço |
Nessa altura, o nosso condutor, que estava sempre bem disposto, contou uma piada que me fez inicialmente rir à gargalhada, mas que depois me fez pensar na situação deste país e de todos os seus vizinhos… “Então porque é que os pelicanos são pretos à nascença, cinzentos enquanto crescem e brancos quando adultos? Para que, quando partirem rumo à Europa, não lhes peçam visto!”
Regressamos ao hotel satisfeitos, mesmo não tendo visto flamingos, tendo o Djoudj confirmado a sua importância como santuário de milhões de pássaros que voam para aqui, sem ter em conta fronteiras e políticas, ou ainda cores de pele humana, mas apenas buscando um local quente com vegetação e água em abundância, após a a travessia das areias amarelas e áridas do deserto. Enquanto umas espécies voam para cá, outras, por outras razões, tentam fazer o percurso inverso por mar, também em busca de refúgio para os seus… Mas isso são outras histórias.
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