“Homo homini lupus est”
Plautus
Mas um dos grandes paradoxos da vida humana é que há sempre o outro lado da moeda. Não existe o mal ou bem absolutos, com avaliação igual para todos que o olham. Alguém escreveu que o desenvolvimento de um povo se dá sempre à custa do subdesenvolvimento de outro(s). A relação entre os continentes europeu e africano são o exemplo mais flagrante disso. A exploração das gentes africanas (e sul-americanas), e das suas terras, foi o alicerce em que se baseou o crescimento da Europa ocidental, ditando o lado para onde pesou a balança do poder mundial durante séculos.
Na parte mais alta da Ilha de Gorée, pode também visitar-se os restos de um bunker da segunda guerra mundial, ao qual se chega passando pelos mais variados “estabelecimentos comerciais” de artistas locais que vendem o seu artesanato. Claramente, a ilha vive hoje essencialmente do turismo.
O símbolo maior da Ilha de Gorée e da sua história é a “Mansão dos Escravos”, uma casa holandesa conservada da época (construída em 1776), cuja estrutura reflecte a maior fonte de riqueza da época: no piso térreo, por baixo dos aposentos da família, podemos ver as divisões destinadas a homens, mulheres e crianças, que aqui esperavam para ser transportadas para barcos ao largo da costa. Famílias inteiras eram aqui separadas, sendo cada elemento mandado para sítios tão longínquos e afastados entre si, como os EUA, Brasil ou Cuba. Das primeiras casas, construídas pelos portugueses a partir de 1536, já não restam vestígios… Mas a memória perdura. As divisões são pequenas, tal como a casa, mas por aqui estavam sempre em trânsito cerca de 200 pessoas. Os corredores escuros e a porta da casa que dá directamente para o mar, e para a “viagem da qual nunca ninguém regressou”, constituem uma visão fortíssima daquele passado. Cheia de simbolismos, foi desta mesma porta que o Papa João Paulo II, em visita em 1992, pediu perdão a África. Classificada como Património da Humanidade em 1978, pode fazer-se uma visita virtual desta evocativa mansão no sítio da UNESCO.
E depois de almoçarmos junto ao cais, regressamos a Dakar. Do passado, saltamos para o presente. Para uma cidade onde convivem lado a lado os grandes hotéis e restaurantes e a delinquência e pobreza. E de repente senti que o tempo passa, mas no essencial tudo se mantém. Porque a verdade é que o negócio mudou, mas os negociantes permaneceram. Após o fim do comércio de escravos, tanto ingleses (na Gâmbia) como franceses (no Senegal) reorientaram os seus negócios para a exploração de terras e seus recursos, muitas vezes apoiados numa política agressiva de expansão territorial. As companhias comerciais renovaram caras e nomes, e procuraram novas fontes de rendimento. África tinha e continua a ter muito por onde escolher…
E, ainda hoje, se podem encontrar no Senegal os mesmos interesses, os mesmos protagonistas. As grandes empresas, antes coloniais, hoje multinacionais, mudam ao longo dos anos de pensamento estratégico, adaptam-se, mas mantêm-se sempre na vanguarda do comércio. Desde a agro-indústria até à madeira, passando pelo incontornável petróleo, reinventam-se e expandem-se para novos territórios. Para mal das suas gentes, África continua a ser terra de riquezas e de grilhetas.
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