Viajar em São Tomé e Príncipe é maravilhoso. O país é constituído por duas ilhas povoadas e vários ilhéus. São Tomé é a maior ilha do país e onde se localiza a capital, de seu nome também cidade de São Tomé. Viajar em São Tomé e Príncipe é excelente porque apesar de ser um país africano, é o país mais seguro de África, onde se fala português e onde a generosidade e hospitalidade das suas gentes não encontra paralelo em África. Visitar São Tomé e Príncipe vai ser uma aventura, mas será uma aventura que nunca mais se vai esquecer. Acredite!
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CONTEÚDOS DO ARTIGO
GUIA DE VIAGEM DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE
Se procura um Guia de viagem de São Tomé e Príncipe em pdf, prático e sintético, sobre viajar em São Tomé e Príncipe este é o melhor que vai encontrar em português para levar consigo na sua viagem a São Tomé e ao Príncipe. São Tomé é uma ilha maravilhosa para viajar, e se juntar o Príncipe, ainda será melhor, e vai encontrar aqui todas as dicas que necessita para aproveitar o melhor deste país. Um Guia de viagem de São Tomé e Príncipe com a qualidade do Viajar entre Viagens. Estas páginas vão dar-lhe condições para viajar em São Tomé e Príncipe de forma independente e em segurança.
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CHEGAR A SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE
Este ano é o ano de África e, por isso, não é de estranhar que nesta aventura pelo continente houvesse lugar a São Tomé e Príncipe.
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Há muito que São Tomé e Príncipe estava nos nossos planos mas, face ao preço exorbitante dos bilhetes de avião, fomos sempre adiando. A verdade é que os preços dos voos para São Tomé e Príncipe estão proibitivos e para quem viaja, e este é um factor importante a ter em consideração. Contudo, porque isto não está para melhorar, decidimos voar agora. Vamos deixar os preços todos depois no guia de viagem de São Tomé e Príncipe.
As companhias de aviação para São Tomé e Príncipe praticam preços cada vez mais altos e, acredita, aqueles truques para comprar voos baratos que vês na internet não funcionam! Os vídeos funcionam para quem os faz (porque se tornam virais), a tua ingenuidade também funciona (porque queres acreditar que é verdade), mas os preços não baixam! Sabias que uma notícia falsa vitaliza 6 vezes mais rápido do que uma verdadeira? É por isso que estas “receitas milagrosas” são virais. Porque as pessoas querem acreditar!
O que as pessoas não querem acreditar é que para se viajar de forma sustentável é preciso gastar dinheiro, trabalhar e fazer escolhas. Mas isso não é romântico. Não é “viral” e não é inovador. MAS É VERDADEIRO!
Viajar para São Tomé e Príncipe na Páscoa não foi barato, especialmente pelos voos, mas foi muito bom.
PORQUÊ? Porque São Tomé e Príncipe é bom demais!
ESTA VIAGEM A SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE MEXEU MUITO CONNOSCO
Acreditamos no poder do turismo sustentável e na opção de contribuir para melhorar da economia dos países que visitamos, e sabemos que nunca há impacto zero. São Tomé e Príncipe não seria excepção.
Por isso, acreditamos que o nosso impacto deve ser minimizado e muito consciente. Não viemos para São Tomé e Príncipe fazer voluntariado, caridade ou dar coisas. Não acreditamos nisso, faz muito tempo. Acreditamos que isso faz muito mais pelas pessoas que dão do pelas que recebem em São Tomé e Príncipe. Pode fazer sentido para muita gente, mas para nós, não faz.
Viemos para São Tomé e Príncipe pagar preços justos pelo trabalho dos santomenses, contribuir para as economias familiares alojando-nos em alojamentos locais e comendo em restaurantes locais de São Tomé e Príncipe.
Viemos comprar comida aos agricultores de São Tomé e Príncipe. Viemos pagar pelos voos para São Tomé e Príncipe, pelo aluguer do carro, pelos pequenos alojamentos locais que competem com os resorts de luxo estrangeiros em São Tomé e Príncipe, onde um quarto custa mais numa noite do que a empregada santomense ganha por mês (e em alguns casos por ano)… E que pagam a influenciadores para lá ficarem e “promoverem o turismo em São Tomé e Príncipe”.
Isso é tudo menos sustentável! E muito menos socialmente responsável.
Viemos mostrar-te que se quiseres ajudar São Tomé e Príncipe e África, não precisas de fazer voluntariado, dar esmolas ou roupas em fim de linha que quase só servem para ir para o lixo. Podes simplesmente pagar o preço justo por aquilo que compras em São Tomé e Príncipe… podes dinamizar a economia local, podes gerar empregos formais e informais, podes ensinar o que sabes aqui em São Tomé e Príncipe.
Não precisar de dar nada. A não se beijos e abraços, que são gratuitos. MAS DEVES PAGAR PELO TRABALHO! Essa é a única forma de ajudar São Tomé e Príncipe. O resto é perpetuar um sistema de dependência que nunca ajudou ninguém. Pagar pelo trabalho parece que está fora de moda, mas não está. O trabalho de todos deve ser pago em São Tomé e Príncipe ou noutra parte qualquer do mundo.
VISITAR O MUNDO DAS ROÇAS DE CAFÉ DE SÃO TOMÉ
Quando chegamos a São Tomé e Príncipe já era noite e alojamo-nos numa antiga roça de café familiar da ilha de São Tomé transformada para receber visitantes. Só tem cinco cabanas mas emprega mais de 10 pessoas, todas de São Tomé e Príncipe.
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Esta é apenas uma das roças da ilha de São Tomé, mas há dezenas. Experimentamos café fresco logo nessa noite e sentimos o aroma do café quando acordamos pela manhã. Nenhum de nós bebe café, mas apreciamos o cheiro, e a verdade é que o aroma do café faz parte desta ilha de São Tomé e é parte da sua história.
A história de São Tomé e Príncipe, infelizmente, é negra e pouco romântica, apesar das tentativas de abrilhantar o seu passado. São Tomé e Príncipe eram ilhas despovoadas quando foram colonizadas por Portugal. Quando Portugal perdeu o Brasil e as plantações de café que tinha (devido à independência do Brasil), resolveu transformar São Tomé e Príncipe numa área de plantação de café (e cacau) para continuar a abastecer o mercado.
São Tomé e Príncipe não tinha população, então foram trazidos escravos de Angola, Cabo Verde e Moçambique (outras colónias portuguesas) para trabalharem em São Tomé e Príncipe. Os santomenses de hoje são os descendentes desses escravos e são provenientes de diferentes países africanos, daí que haja muitos santomenses que têm hábitos e culturas diferentes.
São Tomé e Príncipe é uma mescla, entre descendentes de escravos africanos, portugueses brancos, e servos africanos que ali chegaram depois da abolição da escravatura para trabalharem nas plantações.
O café faz parte destas ilhas de São Tomé e Príncipe, o seu cheiro é o aroma natural dos campos, mas o legado esclavagista sente-se também ainda hoje, num sistema perpétuo de dependência.
É cada vez mais urgente olharmos para o mundo com olhos de ver, com humanismo, como iguais. E acima de tudo, com espírito crítico, com conhecimento e respeito, por nós mas também pelos outros.
A maioria das pessoas do mundo não precisa de ajuda. A maioria das pessoas do mundo precisa de respeito. E em São Tomé e Príncipe é exactamente igual, dentro e fora das roças. Ontem, tal como hoje.
ROTEIRO DE QUATRO DIAS NA ILHA DO PRÍNCIPE
NA ROÇA COM OS TACHOS EM SÃO TOMÉ
Chegamos a São Tomé para nos embrenharmos a fundo na cultura africana deste país. O Príncipe é lindíssimo mas falta-lhe um toque de África. A beleza do Príncipe reside na sua pouca densidade populacional, nas praias desertas, na tranquilidade. Isso tudo só é possível porque toda a ilha tem apenas cerca de 7 mil habitantes.
São Tomé, pelo contrário, tem cerca de 200 mil habitantes, numa ilha com o dobro do tamanho. São Tomé é mais África e era em busca dessa África mais cultural que queríamos ir.
Passamos a noite anterior e a manhã na capital de São Tomé e Príncipe, sentindo o pulso à única metrópole, com o exagero que as palavras nos merecem, do país. E adorámos!
Há vida em São Tomé, de dia e de noite. Há música nas ruas, gargalhadas e alegria. Há sorrisos malandros, olhares marotos e algum atrevimento. A tranquilidade, pacatez e ingenuidade do Príncipe ficariam para trás.
Em São Tomé vamos fazer um roteiro pela ilha, ficar a dormir em alojamentos locais, antigas roças recuperadas, mas nada de grupos económicos internacionais. Cada noite será um lugar distinto em São Tomé.
E nesta primeira noite em São Tomé sentámo-nos à mesa com os tachos negros, amassados e mal lavados. O jantar serviu de elixir para um dia que começou com caipirinha de maracujá de manhã, caril e cachupa de marisco ao almoço e caipirinha ao pôr do sol, numa das praias selvagens mais belas de São Tomé.
Os tachos do jantar em São Tomé e Príncipe são gourmet mas a roça é crua e autêntica. Pertence a um santomense, caso muito raro por estas terras. Linda demais, mas com o calor e humidade, e sem ar condicionado, sofremos como os portugueses que vinham da metrópole no século XIX para estas latitudes. A noite seria difícil, mas o amanhecer do dia seguinte em São Tomé seria memorável.
VISITAR AS PRAIAS DO SUL DE SÃO TOMÉ
Vamos rumo ao sul de São Tomé e Príncipe. Conduzir nestas estradas é, por si só, uma aventura. Uma viagem, dentro da viagem. O sul de São Tomé é mais cru ainda do que o resto do território. É remoto, inóspito e poucos são os santomenses que vivem abaixo de São João dos Angolares. Como tal, as estradas não são uma prioridade, não fossem as plantações de palma que têm crescido recentemente no país e destroem a floresta equatorial nativa de São Tomé e Príncipe.
A monocultura não é uma floresta. São plantas sim, até podem ser autóctones mas nunca serão uma floresta. As florestas são feitas de diversidade, de árvores, arbustos e ervas. São habitat de inúmeras espécies animais, quer porque lhe servem de lar, abrigo, refúgio ou, simplesmente de suporte. É com tristeza que vemos as plantações de palma crescerem neste país, destruindo uma das suas maiores riquezas, a floresta equatorial. E mais tristeza ainda que vemos que pertencem a empresas estrangeiras delapidadoras de recursos naturais. A negra história de exploração de África continua.
Pelo caminho o calor e humidade apertam ainda mais em São Tomé e Príncipe. Está impossível. Com manobras e mais manobras, conseguimos sobreviver às estradas do sul de São Tomé. Quando chegamos a Porto Alegre escorríamos água pelo corpo. Corremos para o mar e mergulhamos na primeira praia que encontramos, debaixo dos olhares admirados da população de São Tomé e Príncipe.
Depois de um polvo estufado com banana frita comido com os pés quase na água, fomos explorar as praias do sul de São Tomé e apaixonamo-nos por uma que dividimos com duas crianças locais. Ao contrário do Príncipe, aqui as praias não estão desertas, mas nós preferimos assim. Aqui as praias têm santomenses. As praias são deles, tal como o país é deles. E foi muito bom ver isso em São Tomé e Príncipe.
Terminámos o dia numa cabana junto ao mar em São Tomé, a comer a pior refeição que fizemos no país, mas muito contentes. Foi cozinhada por um grupo de rapazes santomenses na casa dos 20 anos que criaram um alojamento local e fazem tudo. Cozinhar não é o seu forte, mas a simpatia é. E toda a gente consegue aprender a cozinhar. São Tomé ainda está a começar.
VISITAR O ILHÉU DAS ROLAS! E RAQUIEL ESTAVA LÁ
Chegamos à praia às 8h da manhã para embarcar para o ilhéu das Rolas. Raquiel disse-nos “vocês vão comigo”. Rimos e pensamos “que querido” e que ele era o filho do barqueiro que nos levaria ao ilhéu das Rolas. Afinal não, Raquiel era o nosso guia e nós não sabíamos. Só descobriríamos no fim do dia em São Tomé.
São Tomé é terra de gentes sofridas e de vidas duras. Nada muito diferente do resto do continente africano. A grande diferença é que aqui se fala português e nós escutamos na língua de Camões os gritos da pobreza, os sons da dor e da luta diária. Raquiel é testemunha disso.
A nossa visita ao ilhéu das Rolas foi marcada com um barqueiro no dia anterior. Combinamos uma hora e um preço e lá estávamos, nós e ele. Mas nessa manhã bem cedo apareceu Raquiel, um menino de 9 anos que trocou a escola pela vida. Entrou no nosso barco e andou connosco o dia todo no ilhéu das Rolas. Ficou triste quando demos gorjeta ao guia do ilhéu. Queria ter sido ele o guia. Nós rimos e dissemos-lhe “Que querido, aproveita para aprenderes e quando cresceres poderás ser guia em São Tomé e Príncipe”.
Esperou por nós nas praias, entre muitos mergulhos a três. Quase nunca falou connosco. Seguia os nossos passos. Como que tomava conta de nós. Ao final do dia, quando regressamos a São Tomé, olhou-nos com tristeza. Não percebemos.
Já estávamos num almoço bem tardio, num boteco local, quando o seu olhar negro e vazio ao longe nos incomodou e nos fez cair a ficha. O barco tinha ido embora com o barqueiro. Raquiel continuava ali. Quem seria aquele menino que andou connosco durante o dia em São Tomé?
Fui chamá-lo para se sentar connosco no restaurante. O emprego ia trazer-lhe um prato de arroz e banana. Dissemos-lhe para ele escolher o que queria comer e beber. Escolheu um prato de peixe, um sumo de manga e almoçou connosco. Foi ali que descobrimos que Raquiel nos tinha escolhido para ser o nosso guia durante aquele dia.
Ele esteve o dia todo a trabalhar como guia, nós vimos ali apenas uma criança que andava no nosso barco em São Tomé. No final do almoço levou comida para casa, para o irmão que tem 5 anos. Demos-lhe boleia e deixamo-lo em casa.
O nosso coração estava partido e nós estávamos tão envergonhados. Durante todo o dia aquela criança esteve a trabalhar para nós em São Tomé e, ainda assim, era invisível. Não o víamos como ele nos viu a nós.
Raquiel é uma daquelas crianças que perdeu a infância e que, mesmo debaixo dos nossos olhos, nós tivemos muita dificuldade em o ver. E no fim do dia sentimo-nos super culpados por o não ter visto. Quantas destas crianças já deixamos de ver? Quantos seres humanos são invisíveis aos nossos olhos?
O MILAGRE DA VIDA SÃO AS MULHERES E VER AS TARTATUGAS
Depois de visitar o ilhéu das Rolas conduzimos em direcção ao norte de São Tomé. Para trás ficou a linha do Equador e metade do mundo. Para a frente ficaria uma nova etapa da viagem em São Tomé. Na noite anterior ficamos alojados numa outra roça, desta vez de uma família de portugueses, bem mais luxuosa, com direito a piscina, que fez as minhas delícias, e a arroz de marisco e polvo lagareiro, que fez as delícias do Rui.
Mas hoje era dia de explorar as praias e roças do norte de São Tomé. Começamos pelas roças de cacau, uma a laborar em pleno e onde um grupo de mulheres recebe os forasteiros para lhes mostrar todo o processo. Foi a mais bela que vistamos. Outra já ao abandono mas que outrora foi a maior e mais importante da ilha de São Tomé.
Dali rumámos às praias do norte de São Tomé para dar uns mergulhos antes de um almoço com vista fabulosa sobre as praias e a costa.
Mas o cacau tomou conta do nosso dia em São Tomé. Mais uma visita a um dos maiores produtores de cacau de São Tomé e Príncipe e mais conceituados do mundo. O aroma a cacau inundaria o resto do dia na ilha de São Tomé.
Mas o que marcou pela diferença neste dia foi a possibilidade de ver a libertação de jovens tartarugas no mar, monitorizadas por uma ONG que tenta educar para a preservação desta espécie num país onde macacos e tartarugas ainda fazem parte da ementa.
E que privilégio poder num único dia ver e sentir desta maneira a ilha de São Tomé. Sentir o cheiro do cacau misturar-se com o salitre do mar em São Tomé e Príncipe. Sentir o riso das crianças encantadas com as pegadas inocentes de uma tartaruga acabada de eclodir. Sentir que há mulheres que se unem para se empoderarem e criarem uma vida melhor neste país cheio de feridas abertas.
São Tomé é uma ilha muito crua, pouco polida, selvagem, mas ao mesmo tempo com povos outrora domados. Sentir que este país luta todos os dias para se empoderar, de forma sustentável e sem ajudas interessadas, foi para nós a melhor alegria do dia.
TEMPESTADE NO NOROESTE DE SÃO TOMÉ
Era o nosso último dia em São Tomé e Príncipe mas ainda queríamos ver e fazer muita coisa. Como sempre, as nossas viagens são curtas demais para as nossas ambições. Mais alguém assim?
O dia começou bem cedo, mas neste dia o tempo em São Tomé e Príncipe estava bipolar. O sol e calor pela manhã fez-nos acreditar que iria ser assim o dia todo. Estávamos enganados. O bom tempo só nos acompanhou no trajecto maravilhoso até Santa Catarina, onde descobrimos uma das comunidades mais empobrecidas de São Tomé mas ao mesmo tempo tão rica na arte da pesca. 🎣
Numa das roças mais conhecidas de São Tomé fomos guiamos pelas mãos de duas belas crianças, inocentes e puras, que de forma completamente ingénua nos contaram como ainda hoje se vive e trabalha nas roças de São Tomé.
Aline perdeu os pais para a emigração. Vivem os dois em Lisboa. Ela vive na roça com a avó e desespera por uma visita dos pais. Sente falta do amor e carinho. Os pais enviam dinheiro todos os meses mas os beijos e abraços físicos não viajam nas cartas.
No tempo que lá estivemos, Alina não largou a minha mão. Dizia “Carla, quando vais?” “Não podes vir aqui outra vez?”.
Não há um dia nesta viagem que não sinta que estas pessoas estão abandonadas. Abandonadas pelo mundo, por nós e pela vida. Claro que a enchi de beijos e abraços, que são gratuitos. Sorrisos partilhados e gargalhadas. Não alimentam a barriga nem combatem a fome, mas podem mudar o mundo. Seja o mundo de alguém ou o nosso próprio.
Mas uma tempestade abateu-se sobre São Tomé, obrigando-nos a correr e procurar refúgio entre santolas no prato. A digestão foi feita já com sol, numa lagoa azul, mas num país como este, cheio de bipolaridade, terminaríamos em mais uma roça histórica, a reler os relatórios do início do século XX, que davam conta das condições de vida e da escravatura por terras de São Tomé e Príncipe.
ADEUS SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE
Foi um prazer conhecer-te, explorar um pouco dos teus segredos, conhecer a tua superficialidade mas ao mesmo tempo a tua essência. São Tomé e Príncipe são duas jóias em bruto, ilhas que se complementam e que juntas formam um relicário.
O Príncipe é fabuloso, com praias lindíssimas e gente encantadora e maravilhosa. Mas falta-lhe África, falta-lhe sal. As praias são demasiado desertas e exclusivas, o turismo está demasiado armadilhado. O Príncipe precisa de um grito do Ipiranga, daqueles que permitem virar a vida ao contrário. Dificilmente vai acontecer porque as populações estão demasiado sequestradas por algo muito mais poderoso do que elas. Cabe, portanto, a cada um de nós tentar promover um turismo mais sustentável, mais responsável, mais respeitador pelos direitos humanos e pela dignidade humana.
São Tomé tem a bravura de África, a garra de um povo mais aguerrido, menos submisso e conformado. Mas faltam-lhe os recursos humanos capazes de transformar um dos mais belos e promissores países africanos num caso de sucesso. São Tomé é do melhor que África tem. Tem gente sofrida mas de sorriso meigo e coração generoso. Tem praias maravilhosas, únicas e quase sem turistas. Tem um património cultural e histórico avassalador, com roças maravilhosas que são a alma deste país (para o bem e para o mal), tem uma cultura e religião tribal escondida e ainda hoje praticada a medo por causa da igreja. Tem cascatas que regam plantações de cacau e café, algumas geridas por cooperativas de trabalhadores que são descendentes dos antigos escravos. São Tomé é como um grito que ecoa do Atlântico. Um grito de bravura.
São Tomé e Príncipe tem das florestas equatoriais mais ricas do mundo, onde ainda habitam macacos e outros animais. Tem um mar cheio de baleias e golfinhos. Tem um recife de coral ao largo e todo um mundo subaquático para descobrir.
São Tomé e Príncipe é muito mais do que duas ilhas à deriva no Atlântico, como se de uma jangada de pedra se tratasse. São Tomé e Príncipe é um dos últimos redutos da pureza africana, da candura das suas gentes à impenetrabilidade da sua floresta; da simplicidade da vida, à força brutal da natureza.
Obrigada São Tomé e Príncipe por teres sido tão belo e generosa connosco ❤️