Mesmo quem nunca tenha visitado a Rússia tem a ideia que a “verdadeira” Rússia não é São Petersburgo e Moscovo. Há uma outra Rússia, ou várias, que se encontram mais escondidas no seu amplo território e, mais ainda, nos corações e mentes das suas gentes. Foi um breve vislumbre desta Rússia que pudemos ter com a nossa passagem pelo “Anel Dourado”, a região à volta de Moscovo, que contém algumas antigas capitais imperiais anteriores ao domínio da actual.
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Suzdal tem uma população de aproximadamente 12 000 habitantes mas parece uma pequena aldeia que, tal como está escrito no guia que levamos, “parece ter mais igrejas do que pessoas”. Sendo a capital de um reino, no séc. XII, foi anexada por Moscovo em 1392 e, a partir daí tornou-se um rico centro monástico, com igrejas custeadas por imperadores e mercadores ricos.
A impressão que nos invade à chegada a Suzdal (e desde logo confirmada) é que, tal como em algumas localidades da América do Sul, éramos os únicos “gringos in town“, ou melhor dizendo, os únicos “amerikansky“, como ouvimos uma rapariga apelidar-nos. Por um lado, é um sentimento esquisito, pois somos elementos estranhos e todas as pessoas olham para nós, umas com desconfiança, outras com curiosidade. Por outro lado é muito bom.
Outro aspecto difícil de lidar é o facto que ninguém, repito, ninguém, falar uma palavra de Inglês! Como comunicar? Por gestos? Às vezes é o que chega, mas como comprar um bilhete de autocarro? Aqui temos de nos desinibir, pegar num guia de conversação e aprender a balbuciar algumas coisas essenciais (para um viajante) em russo. E eles lá vão compreendendo qualquer coisa. O grande problema é quando eles começam a falar para nós como se nós os entendêssemos! Peripécias que acontecem quando estamos numa terra em que somos únicos na diferença…
Suzdal é assim uma região “pura” que (inclusive por decisão governamental) não registou o desenvolvimento verificado por exemplo em Vladimir, mantendo assim um espírito caracteristicamente rural. Não fossem os carros e autocarros modernos (ainda que decrépitos remanescentes dos tempos soviéticos) a percorrer as ruas, quase se poderia dizer que estávamos na Primavera de um ano qualquer do séc. XIX. A condizer com este sentimento, ficamos hospedados num hotel cujo edifício era um antigo mosteiro.
Na tarde em que chegamos a Suzdal, ainda fomos tentar ver o máximo possível desta pequena vila. Os dois grandes pontos de interesse eram o Kremlin (fortaleza) e o mosteiro de Santo Euthymius.
A 200 km de Moscovo, o clima é mais frio do que em São Petersburgo, fica Suzdal, a vila e arredores estão cobertas de neve e gelo que lentamente derrete e a superfície do rio que passa perto do Mosteiro está completamente gelada. O Complexo do Mosteiro, rodeado por uma muralha, estava fechado (era Segunda-Feira, fizemos mal as contas) e decidimos deixá-lo para o dia seguinte e seguir para o Kremlin.
Queríamos seguir por uma estrada que passava pelo centro histórico mas também tínhamos de passar pelo rio e a ponte estava caída… Seguimos pela rua principal, passando por um mercado local de Suzdal. A Carla comprou uma bebida alcoólica local muito famosa (que nenhum de nós irá beber) e um homem faz cara feia à lata de Coca-Cola que eu tinha comprado. Pouco depois chegamos ao Kremlin. Aqui distingue-se a Catedral da Natividade da Virgem, com as suas cúpulas azuis com estrelas douradas. O seu interior está em restauro e não deu para lá irmos. Mas o ambiente exterior e a paisagem idílica que nos rodeava foram mais do que suficientes para fazer valer a pena este passeio. Foi pena o céu nublado…
Estávamos cansados de um dia extenuante e recolhemos ao Hotel-Mosteiro bastante cedo, onde recuperamos algumas energias. No dia seguinte em Suzdal, levantamo-nos relativamente tarde. Só tínhamos o Mosteiro para ver (que abria as 10.00h) antes de seguir viagem. Quando chegamos ao complexo, vimos que cada edifício tinha um preço de entrada a somar ao preço de entrada no complexo (e a uma taxa para poder tirar fotos). Decidimos só pagar a entrada na Catedral e acertamos em cheio! De ontem para hoje, o degelo intensificou-se bastante, mas os terrenos dentro do mosteiro continuam cobertos de neve. Tanto eu como a Carla estamos convencidos que algum do encanto destes lugares tem a ver com este elemento, omnipresente durante o Inverno mas agora prestes a desaparecer. Neste sentido, tivemos sorte. O frio que se sente já não é o do Inverno Russo, aguentando-se bem e, claro, já não há quantidades enormes de neve, que é bom porque nos podemos deslocar sem problemas. No entanto, ainda há neve suficiente para construir um ambiente especial e para contrastar com as cores dos edifícios e com o azul do céu, que hoje temos o privilégio de poder ver. Mas o que nos aguardava no interior da catedral era de uma beleza grandiosa e inesperada… Todo o interior estava decorado com frescos (restaurados ou em restauração) retratando cenas da vida de Cristo. ESPECTACULAR! Mais um local de devoção que, pelo trabalho de artistas ao longo de muitos anos, faz até qualquer ateu mais empedernido ficar a olhar para cima de boca aberta…
Deixamos assim Suzdal, com um sentimento que estávamos a deixar para trás a “verdadeira” Rússia e, após uma viagem de autocarro de 4 horas, embrenhavamo-nos nas ruas (e estações e túneis de Metro) da sua maior metrópole. Coincidência, ou talvez não, Moscovo recebeu-nos sem neve…
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