Ao dormirmos em Souzga, tínhamos entrado na República do Altai, uma das regiões mais pequenas da Rússia, mas também uma das que atrai mais russos em busca do contacto com a natureza selvagem. O Altai destaca-se pelas suas montanhas, rios e lagos, e por uma população maioritariamente de etnia asiática. Fazendo fronteira com o Cazaquistão, a China, e a Mongólia, teríamos de o atravessar para passar a fronteira para a Mongólia.
A estrada que tínhamos seguido no dia anterior seguia o curso do rio Katun, e a beleza selvagem deste não deixou nenhum dos Carapaus indiferente. Sabíamos que o que nos esperava não lhe ia ficar atrás. Saímos de manhã cedo, e de Souzga até Ust-Sema a estrada continuou a serpentear junto ao rio. A água cristalina e de forte corrente atraem as atenções, mas a floresta densa e as falésias que rodeiam o rio são igualmente impressionantes.
A fauna ali é variada, e observámos várias aves de grande porte, nomeadamente águias, mas não é difícil imaginar que por aqueles bosques vagueiem ursos e lobos. Estamos no sul da Sibéria, e a natureza continua intacta, no seu estado bruto. Claro que a ocupação humana, ainda que escassa, se faz sentir. E o turismo, maioritariamente nacional, é bem activo, ainda que principalmente no Verão. Nas margens do rio são frequentes os acampamentos de cabanas, ou simplesmente sítios para acampar.
Junto à localidade de Barangol, parámos e decidimos cruzar uma ponte suspensa para a outra margem e fazer uma caminhada até uma queda de água. A caminhada foi muito relaxante, pois como ainda era cedo os turistas russos ainda não tinham chegado ao local. A paisagem verde encanta, e a queda de água tem um pequeno passadiço que permite chegar até perto do seu topo. Ao regressarmos, começámos a cruzar-nos com russos, e quando chegámos à ponte uma excursão de crianças e jovens preparava-se para entrar.
Prosseguimos em direcção à fronteira com a Mongólia. A estrada M52, denominada Chuysky Trakt, afasta-se do rio Katun, e entra numa paisagem montanhosa lindíssima. Passamos por dois passos de montanha, e no segundo um miradouro e barracas onde se vendia chapéus e artesanato constituíam um ponto de paragem quase obrigatória.
O nosso pequeno-almoço tinha sido volante e a hora de almoço já lá ia, por isso decidimos parar na pequena localidade de Inya para almoçar. Inya tem um ar de faroeste selvagem, rodeada de montanhas, e perante o frio que se fazia sentir, só podíamos imaginar como será o Altai no inverno. Apesar da beleza natural, a verdade é que o isolamento, o clima e a falta de infraestruturas são factores que dificultam a vida daqueles que se mantêm por ali.
O alcoolismo é um problema grave, tanto em homens como mulheres, e pudemos observar alguns casos de pessoas claramente embriagadas em plena tarde. O nosso almoço foi num restaurante de beira de estrada, onde mais uma vez nos dedicamos ao plov e ao laghman.
A partir dali, a estrada segue junto ao rio Chuya, e o que parecia difícil torna-se real, ou seja, a paisagem transforma-se em algo ainda mais grandioso. Montanhas com cumes gelados, acima dos 4000m, aparecem no horizonte, e os vales sucedem-se majestosamente. Em particular, depois da localidade de Aktash, as exclamações de surpresa e encanto dentro da Burra sucediam-se à velocidade que a estrada permitia. Apesar de ser uma estrada de montanha, de curvas e contracurvas, o piso é de boa qualidade e não distrai as atenções daquilo que nos rodeia.
Ao aproximarmo-nos da localidade de Kosh-Agach, onde iríamos dormir, a paisagem começou a alterar-se, sendo que a vegetação desaparece gradualmente e entramos numa zona mais alta e a fazer lembrar as montanhas Pamir. Foi um dos dias que mais apreciámos na viagem, em parte porque foi inesperado o que a República do Altai nos tinha para mostrar.
Chegámos finalmente a Kosh-Agach, uma localidade perto da fronteira com a Mongólia. Tínhamos já feito uma reserva aquando do pedido de visto para a Rússia, por isso dirigimo-nos para a pequena casa de hóspedes. Ali, aproveitámos para comer um jantar “caseiro”, com massas instantâneas acompanhadas de tostas com ovas de peixe e um vinho espanhol. Luxos!
Era tempo de descansar, pois no dia seguinte entraríamos na Mongólia, o país que dá nome ao Rally Mongol, e em relação ao qual temos muitas expectativas quanto à paisagem e gentes, mas também muitas dúvidas quanto às suas estradas, ou ausência delas! Veremos…
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Paisagens fantásticas!
E a Burra sem sinais de cansaço!
A Burra é uma máquina! 😀