ALDEIAS SOS – A magia e alegria que 338 pessoas nos ajudaram a espalhar pelo mundo | RALLY MONGOL

ALDEIAS SOS - A magia e alegria que 338 pessoas nos ajudaram a espalhar pelo mundo | RALLY MONGOL

Em época natalícia era tempo de pegar na nossa história de Verão e de a contar. Os relatos do Rally Mongol já os fomos contando aqui, e neles fizemos questão de vos mostrar os dias que foram passados com as crianças das Aldeias SOS que visitámos. No entanto, era imperioso fazermos o balanço destas visitas e contar-vos como tudo se procedeu, como usamos o dinheiro, que destino lhe demos e que resultados tivemos.

O CROWDFUNDING

Tudo começou com a ideia maluca de 5 sonhadores que acharam que fazer o Rally Mongol era pouco. Porque não aproveitar a viagem para tentar espalhar a mensagem de que podemos mudar o mundo? E da teoria rapidamente passou à prática. Tínhamos muitas ideias, umas melhores outras piores, umas mais exequíveis outras menos. No entanto, arregaçamos as mangas e decidimos pô-las em prática. Queríamos levar material escolar para equipar escolas mas o facto de a nossa viagem ser nas férias de Verão deixou-nos sem possibilidade de entregar o material directamente nas escolas e aos miúdos. Assim, decidimos apoiar Aldeias SOS. Para tal precisávamos de mais dinheiro do que o que tínhamos. Tínhamos dinheiro para a viagem mas não tínhamos dinheiro suficiente para concretizar este sonho. Mas, como alguém um dia disse, “o sonho comanda a vida”, e decidimos fazer um crowdfunding para arranjar dinheiro para dar às Aldeias SOS mas também para comprar material escolar e didáctico para dar às famílias das aldeias. Graças à generosidade de amigos, famílias e desconhecidos, conseguimos recolher 7554€. Nem queríamos acreditar! No início não foi fácil e o primeiro dinheiro foi “dado” por nós, para começar a dinamizar. No entanto, todos os carapaus se empenharam ao máximo e conseguiram chatear todos aqueles que estavam próximos. A tortura de amigos e familiares foi tanta que o dinheiro começou a crescer. O João Leitão, um amigo viajante, do Marrocos.com foi o nosso maior apoiante, com 500€, deixando-nos a todos incrédulos. Desde contribuições de 1€, de alunos e ex-alunos, até outras maiores, 338 pessoas incríveis confiaram em nós e deram-nos dinheiro para nós mudarmos o mundo.

ONDE INVESTIMOS O DINHEIRO

Do total de dinheiro que angariamos tivemos que pagar 7,5% + IVA para o PPL, a plataforma que usamos para o crowdfunding. Cerca de 700€ ficaram no PPL. Do restante dinheiro tivemos várias pessoas que nos pediram recibo. Nessas pessoas fizemos um apoio directo nas Aldeias SOS em seu nome e enviamos o recibo para as pessoas correspondentes. Na prática, nestas pessoas perdemos 7,5% + IVA. O que significa que depois disto ficamos com bastante menos dinheiro do que o que pensávamos. Mesmo assim, era possível sonhar e executar os nossos sonhos. A ideia inicial que tínhamos era dar dinheiro às Aldeias SOS através da sua sucursal em Portugal. Foi isso que fizemos. Fizemos um donativo inicial de 500€, valor que nos era exigido pela organização, e que posteriormente foi enviado para as 4 Aldeias. Fizemos um donativo do mesmo valor à Cool Earth, ONG ambientalista que também apoiamos. Em conversa com a representante das Aldeias SOS em Portugal percebemos que as aldeias tinham necessidades diferentes. Umas tinham muitos patrocínios e as crianças tinham mais recursos, outras tinham menos, e as famílias passavam mais dificuldades. Achamos por bem levar o restante dinheiro connosco para fazer donativos nas Aldeias SOS e para comprar o material escolar. E foi isso que fizemos.

PORQUÊ AS ALDEIAS SOS

As Aldeias SOS são aldeias criadas para crianças provenientes de famílias disfuncionais, entregues a uma “mãe”. Esta mãe é uma funcionária da Aldeia SOS que tem como emprego “ser mãe” e dar o seu amor a um conjunto de crianças que precisam de ser amadas e criadas. No fundo faz o que todas as mães fazem com os seus próprios filhos. Porém estas mães abdicam de uma vida familiar própria e criam uma família que não era delas. São pagas, mas é um emprego para a vida, 24 horas por dia, 7 dias por semana, 365 dias por ano. Dão amor, carinho, educação, raspanetes, berros, abraços e tudo o que as mães dão. Criam entre 5 a 8 crianças, e quando umas crianças atingem 18 anos e saem de casa, recebem outras.

Estas aldeias têm em média cerca de 30 habitações, construídas numa área residencial das cidades, e são cercadas. Recebem em média 100 crianças e o que acontece no seio da Aldeia SOS depende da boa vontade das contribuições que a ONG recebe. As mães, geralmente, são pagas pelos governos dos países mas tudo o resto depende das doações. Quando há patrocínios as crianças frequentam campos de férias, participam em actividades no exterior, saem e viajam. Quando as Aldeias SOS têm mais dificuldades, cumpre-se apenas o básico para que as crianças vivam bem, cresçam saudáveis e sejam o mais felizes possível.

COMO APOIAMOS AS ALDEIAS SOS

Antes de começar a viagem entramos em contacto com todas as Aldeias SOS que queríamos apoiar. Escolhemos 4 aldeias que ficavam no nosso itinerário:

  • Samarcanda (Uzbequistão)
  • Bishkek (Quirguistão)
  • Almaty (Cazaquistão)
  • Ulan Bator (Mongólia)

Nesses contactos tentamos perceber qual a realidade das Aldeias SOS, que dificuldades tinham, quantas crianças tinham, como funcionavam, o que precisavam, etc. A responsável de cada uma das aldeias enviou-nos um email com a lista de material que podíamos comprar, umas mais extensas (que até nos assustamos, outras mais realistas). A maioria pediam-nos material escolar para as crianças, cadernos, livros, canetas, tintas, etc. Levar o material de Portugal era impraticável, a Burrinha já ia carregada com 5 carapaus de corrida e as suas tralhas. O melhor seria comprar o material no país da aldeia. Discutimos e isso pareceu-nos socialmente muito mais sustentável. Para além de comprarmos material que era familiar para as crianças, estaria na sua língua materna, e dinamizaríamos a economia local. Inicialmente tínhamos pensado dividir o dinheiro equitativamente pelas três aldeias mas uma vez no terreno decidimos não o fazer. Gastamos mais na Mongólia e em Bishkek e menos em Samarcanda e em Almaty. A aldeia de Almaty tem uma directora super dinâmica e as crianças têm tudo o que necessitam. O seu trabalho é tão louvável que parecia que em todas as casas ela era uma madrinha e “segunda mãe”. A Aldeia de Samarcanda acabou por ter direito à média porque como foi a primeira a ser visitada não tínhamos padrão de comparação nenhum. No entanto, hoje, olhando para trás, parece-nos que a distribuição foi bem feita e justa.

COMO DINAMIZAMOS A ECONOMIA LOCAL

Mais importante do que dar dinheiro às Aldeias SOS, que nunca sabemos como vai ser aplicado, decidimos pelo caminho que íamos transformar todo esse dinheiro em material escolar. Na primeira Aldeia SOS, em Samarcanda, foi isso que fizemos. Fomos a uma livraria/papelaria local, fora do centro da cidade, num bairro desfavorecido e compramos quase todo o material escolar que o senhor tinha lá dentro. O homem ficou radiante. Fez provavelmente o negócio do ano e ganhou mais naquela manhã do que provavelmente no ano todo. Compramos:

  • cadernos
  • livros
  • tabelas periódicas
  • atlas
  • enciclopédias
  • plasticinas
  • aguarelas
  • afias
  • borrachas
  • lápis de cor
  • marcadores
  • fita-cola
  • colas
  • réguas
  • esquadros
  • compassos
  • mapas
  • dicionários
  • livros de exercícios

Agradeceu-nos muito e nós agradecemos-lhe também. Até nos fez uns descontos o que nos permitiu trazer um quadro táctil. Dali fomos para a Aldeia SOS e distribuímos o material (podem ler o relato desse dia neste artigo). Como sabíamos quantas crianças as aldeias tinham, o material era comprado em função do número de crianças existentes, por exemplo 108 cadernos de linhas, 108 cadernos quadriculados, 108 estojos, etc. No contacto com essa aldeia ficamos com a sensação que as crianças não tinham muitas carências mas que, tal como todas as crianças, ficavam radiantes por receber presentes.

Porém, algo que reparamos foi que apesar de terem material escolar, os seus quartos eram muito espartanos. Faltavam livros e brinquedos. Se calhar nada de muito grave mas cada menina tinha apenas uma boneca, e os rapazes um boneco ou um carrinho. Isso fez-me alguma confusão, especialmente quando comparei com o quarto da minha sobrinha, a abarrotar de brinquedos, livros e bonecas, claramente privilegiada quando comparada com estes miúdos. Assim, nas visitas seguintes, decidimos comprar também brinquedos simples para as crianças, tais como bolas de futebol ou frisbies que pudessem ser usados por vários miúdos ao mesmo tempo e pudessem ser uma prenda para uma casa da Aldeia.

O material para a Aldeia SOS de Bishkek foi comprado no bazar de Osh, a maioria numa só tenda, que ganhou para o mês, mas depois decidimos que íamos comprar também noutras, de forma a deixar o nosso (vosso) dinheiro espalhado por várias famílias e comerciantes. Foi isso que fizemos. Compramos mais estojos, cadernos, mapas e enciclopédias noutras tendas e espalhamos alegria com muito mais gente. Se quiser ler ou reler o relato desse dia das compras está aqui. O relato do dia da nossa visita à Aldeia SOS de Bishkek está aqui.

A Aldeia SOS de Almaty era a que tinha menos necessidades e também aquela que nós tínhamos menos tempo para comprar material. Visitávamos a aldeia na tarde do dia em que entrávamos no Cazaquistão e como não íamos ter tempo para fazer as compras em Almaty, decidimos assim abastecer em Bishkek, num supermercado estilo “russo”, pois como a língua oficial da escola era o russo, o material era semelhante ou mesmo igual. Apostamos mais uma vez em material escolar mas também em brinquedos. Depois, quando lá chegámos, vimos que a Aldeia SOS efectivamente estava bem e decidimos ficar com alguns dos brinquedos que tínhamos levado para dar às crianças que se cruzassem connosco dali para a frente nas estradas da Mongólia. Não realidade não démos menos a esta Aldeia do que tínhamos dado às outras, pelo menos em termos de material, mas demos menos em termos de dinheiro, porque como as coisas foram mais baratas no supermercado, resolvemos usar “o lucro”  para fazer outras crianças felizes. Podem ler o relato desse dia aqui.

Na Mongólia démos algumas das bolas que nos sobraram e lembro-me especialmente da que oferecemos ao Bat, um miúdo cinco estrelas que nos recebeu na sua yurt durante a nossa viagem a cruzar as estepes mongóis. Ainda o carro não tinha partido e já o Bat brincava com a bola vazia. Explicamos-lhe que tinha que pedir a um motorista para lhe encher a bola. Penso que percebeu, só que, como qualquer criança, ficou tão contente que resolveu estreá-la mesmo assim. Para a Aldeia SOS de Ulan Bator abastecemos na capital mongol, numa papelaria maior e depois compramos os livros e enciclopédias em pequenas lojas/livrarias das ruas secundárias. O leque de material era sempre o mesmo (podem ler o relato desse dia aqui). Aqui pecamos um bocado no tipo de material que compramos. Em todas as aldeias que tínhamos visitado até então, a maioria das crianças tinha entre 8 e 16 anos. No entanto, em Ulan Bator a maioria das crianças era muito pequenina, possivelmente entre 3 e 10 anos, alguns até bebés. Como não sabíamos, não fomos tão bem preparados em termos de brinquedos. Foi pena, no entanto a visita foi uma das mais emocionantes de todas. Podem ler o relato desse dia aqui.

COMO SE PROCESSAVAM AS VISITAS

Durante a viagem estivemos sempre em contacto com as responsáveis pelas Aldeias SOS e elas sabiam onde íamos e quando era previsto chegarmos.  Com dia e hora marcados, tudo batia certo, no nosso itinerário e na vida das Aldeias. Só na Aldeia SOS de Bishkek tivemos um bocado de azar, a maioria das crianças estava de férias numa estância de verão do lago Issyk Kul, viagem oferecida por um magnata russo. Assim, fomos apenas recebidos pela equipa social da aldeia e por uma mãe e dois dos seus filhos pequenos que tinham ficado em casa. Em todas as outras aldeias éramos recebidos pela responsável e depois as crianças iam aparecendo, às dezenas. Nunca dispensávamos um mapa mundi gigante, daqueles de parede, para juntar a criançada à nossa volta, no chão ou numa mesa, e falarmos um bocadinho sobre o que estávamos a fazer e sobre Portugal. Uma espécie de aula de Geografia informal, sob a forma de perguntas e respostas. Eles aprendiam português, nós a sua língua. Eles partilhavam a sua cultura, nós a nossa. Depois desse quebrar do gelo, dávamos as nossas “prendas” às crianças e a excitação tomava conta da sala. Umas aldeias no início, outras no final, mas todas nos convidaram para conhecermos uma família, com a mãe e alguns dos seu filhos e mostrar-nos a casa, igual a tantas outras e os quartos das crianças. Frequentemente ofereciam-nos um lanche e conversávamos à mesa sobre a aldeia, o país e as famílias. E por incrível que pareça, até sobre geopolítica da Ásia Central. No final da visita convidávamos a criançada para assinar a Burrinha e era o êxtase total!

BALANÇO DA NOSSA AJUDA

Houve momentos em que falamos uns com os outros e achamos que se calhar tínhamos feito mais diferença se em vez de ajudarmos aquelas aldeias tivessemos ajudado pessoas incógnitas, tantas com quem nos cruzamos na estrada. No entanto, a questão da logística não era fácil. As escolas que encontramos pelo caminho estavam todas fechadas, e não sabíamos como conciliar a nossa “sensação” com o ritmo da viagem. Resolvemos manter o plano inicial e não nos arrependemos, até porque fomos ajudando alguns miúdos na Mongólia com os brinquedos que nos sobraram em Almaty. Ainda que as crianças que estão nas Aldeias SOS sejam retiradas às famílias e tenham ali vindo parar cheias de problemas, a verdade é que hoje têm um lar e podem dormir de noite numa cama quente, ir à escola, ter um abraço de boa noite e um beijo de bom dia. Isso deixou-nos muito contentes. O trabalho feito nas Aldeias SOS pareceu-nos genial mas para que continue assim precisam de apoio. Pensar que ajudamos um bocadinho o mundo destas crianças é muito bom e deixou-nos muito contentes.

Obrigada a todos os 338  que acreditaram em nós e que nos ajudaram a tornar o mundo destas crianças um bocadinho melhor. Juntos mudamos um bocadinho o mundo e tornamo-lo mais solidário. Nós acreditamos que as sementes que plantamos hoje serão colhidas amanhã. Por isso, muito obrigada em nome de todos os Carapaus de Corrida.

Podem ver os vídeos da nossa aventura aqui no youtube.

Carla Mota

Geógrafa com uma enorme paixão pelas viagens e pelo mundo. Desde muito cedo que as viagens de exploração fazem parte da sua vida. A busca do conhecimento do mundo leva-a em direcção a culturas perdidas e ameaçadas, tentando percebe-las. Hoje é também líder de viagens de aventura na Nomad.

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2 Comentários

  1. Lusa Pinto diz: Responder

    Obrigada aos Carapaus. Mensageiros de 338 souberam cumprir e bem a tarefa a que se propuseram. Continuem na obtenção de felicidade.

    1. Carla Mota diz: Responder

      Obrigada, Lusa.

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