Schistosomose – O dia em que as viagens me levaram ao internamento hospitalar

Schistosomose - O dia em que as viagens me levaram ao internamento hospitalarSchistosomose - O dia em que as viagens me levaram ao internamento hospitalar

Numa altura em que se discute tanto se os viajantes devem ou não fazer a consulta do viajante, achei por bem partilhar a minha mais recente experiência. No verão de 2016 viajei para África de forma independente, numa viagem que pretendia seguir os passos dos escravos na parte oriental do continente. Como ia estar três semanas na Zâmbia, Zimbábue, Malawi e Tanzânia fiz a Consulta do Viajante. Não consegui vaga no Porto por isso fui a Viana do Castelo. A consulta foi feita de forma profissional e gostei bastante do atendimento.

Tal como a médica especialista em Medicina Tropical me aconselhou, fiz profilaxia para a Malária com @Menphaquin (já que nunca tive problema com este medicamento) e cumpri escrupulosamente a dosagem, inclusive quatro semanas depois de regressar de África. Durante a viagem tive os cuidados habituais. Não bebo água sem ser engarrafada. Evito gelo. Não como legumes sem cozinhar, etc. Faço-o porque prezo muito a minha saúde, já que é a coisa mais valiosa que levo comigo.

Mas nem sempre acontece aquilo que está programado. Tinha lido que o lago Malawi era um local onde existem parasitas que se infiltram na pele e podem contaminar o sistema digestivo e urinário, provocando uma doença chamada Schistosomose (ou esquistossomose ou ainda bilharzíase). Estes parasitas vivem nas águas do lago Malawi, especialmente na zona de Nkhota Khota, e são o resultado da falta de saneamento básico. Os vermes existentes nas águas resultam da descarga de fezes nas águas do lago, contaminando-as. Estes schistosomas vivem nas águas doces, e são libertados por moluscos. Estes vermes conseguem penetrar na pele dos humanos mesmo não havendo feridas e conseguem invadir o sistema circulatório de forma misturar-se com o sangue. Através do sistema circulatório circulam pelo organismo humano até se alojarem no fígado, onde se reproduzem. Depois de se infiltrarem no organismo humano, colocam ovos e as larvas ao eclodirem transformam-se em vermes e podem viver nos vasos sanguíneos durante anos. Os ovos dos vermes são expelidos pelo organismo nas fezes e, se estas contaminarem as águas e o parasita encontrar novo hospedeiro, o ciclo completa-se.

Quando em Nkhota khota tentámos apanhar o ferry para Nkhata Bay deparámo-nos com o porto destruído e tivemos que tirar as botas para entrar na água do lago. Apesar de ter estado em contacto com a água cerca de um minuto, este tempo poderia ter sido suficiente para ser infectada.

 Schistosomose - O dia em que as viagens me levaram ao internamento hospitalar

 Schistosomose - O dia em que as viagens me levaram ao internamento hospitalar

 Schistosomose - O dia em que as viagens me levaram ao internamento hospitalar

Em Nkhata Bay, onde o risco é manifestamente inferior, também estivemos em contacto com a água, quando a nossa canoa afundou no lago. Ali, estivemos cerca de 10 minutos na água mas como estava aflita, devo ter ingerido alguma água pela boca, aumentando o risco de Schistosomose.

Quando cheguei a Portugal, algumas semanas depois, apareceu-me sangue na urina e tinha as fezes verde escuras. Comecei a sentir uma sensação estranha na zona do fígado e dos rins. Inicialmente desvalorizei, mas o sangue na urina não me deixava descansada. Fui ao hospital de Santo António, no Porto, e depois de fazer várias ecografias pélvicas e análises ao sangue e à urina, internaram-me nos serviços de doenças infecto-contagiosas com suspeita de Schistosomose. Havia a possibilidade de ter sido infectada. Era uma realidade.

Foi ai que surgiram as questões.

– Fez profilaxia para a malária?

– Sim e cumpri na totalidade o plano.

– Óptimo. Isso reduz as possibilidades. Teve cuidados com a água e com comidas cruas?

– Sim, sempre que possível.

Foi aí que expliquei a situação de contacto no lago Malawi.

Fiquei internada no hospital 6 dias, fazendo recolha de sangue, de fezes e de urina. O facto de ter feito consulta do viajante foi muito importante porque os médicos perceberam que tinha tido todos os cuidados. Os testes iniciais ao sangue e à urina deram todos negativos. Os testes foram repetidos. Testes à urina em esforço. Testes ao sangue recolhidos em dias diferentes. Voltaram a dar negativos. Os exames microbiológicos das fezes demoram mais tempo. Ainda não tenho os resultados destes testes finais de Schistosomose. Só em Novembro os terei. Entretanto, vivo na dúvida, aguardando os resultados. Quando estes saírem, vou repetir novamente as análises ao sangue e à urina.

Nesta altura ainda não sei se estou contaminada pelos schistosomas, mas sei que em África fiz tudo o que estava ao meu alcance para que tal não acontecesse. No entanto, imprevistos acontecem, e quando acontecem temos que anotar e lembrar-nos que aconteceram. Foi isso que fiz. Por isso, quando falei com os médicos no hospital, sabia exactamente o dia em que as coisas aconteceram e aproximadamente o tempo que estive em contacto com a água.

Os dias em que estive internada fizeram-me pensar muito sobre a questão da Consulta do Viajante e da Schistosomose. Faço sempre a consulta, mas agora fá-la-ei com atenção redobrada. Cumpro à risca todas as indicações e, apesar dos conselhos dos “super-heróis” viajantes, recomendo-a a toda a gente.  Não pretendo com este post nada de especial, pretendo apenas partilhar a minha experiência pessoal e alertar todos aqueles que viajam, que acidentes e imprevistos acontecem em todo o lado, mas nas viagens estamos expostos a muito mais situações de risco e algumas das quais são totalmente desconhecidas.

UPDATE – Os meus últimos resultados ao shistosoma deram negativos. 😀 Obrigada a todos.

Carla Mota

Geógrafa com uma enorme paixão pelas viagens e pelo mundo. Desde muito cedo que as viagens de exploração fazem parte da sua vida. A busca do conhecimento do mundo leva-a em direcção a culturas perdidas e ameaçadas, tentando percebe-las. Hoje é também líder de viagens de aventura na Nomad.

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12 Comentários

  1. Bem… espero que fiques bem rapidamente. Como referiste os ‘super-heróis’ que se gabam de não precisarem das consultas do viajante, relembro esses ‘super-heróis’ que, para além dos mais óbvios cuidados de saúde, mesmo acerca das doenças tropicais, há detalhes muito importantes muito específicos de algumas regiões que estes médicos sabem e mantêm-se actualizados e que podem fazer a diferença na prevenção das diversas doenças.
    Eu, sempre que a viagem o exige, faço esta consulta.
    As melhoras rápidas.

    1. Carla Mota diz: Responder

      Obrigada pelo comentário, Alberto.

  2. Lurdes diz: Responder

    Estou … aqui a pensar…. de facto… os imprevistos acontecem mesmo, também eu fui à consulta do Viajante e porque tu .. mandaste, se não fosses tu… se calhar não tinha ido, o certo é agora fiquei preocupada contigo, espero bem que não seja nada, apenas alarme falso !! Mas tal como dizes e muito bem, cada vez vou mais estar mais atenta, nas consultas e mesmo em tudo! Agora uma questão, se sabias que o lago podia potenciar essa doença, era mesmo imprescindível atravessa-lo ? Andar de fato de banho? Se era imperiosa a passagem por lá, e se sabiam que era perigoso, porque não usaram um fato de mergulho? Não houve por aí, alguma negligência, não estou a censurar, eu penso sempre que não me acontece nada, e às vezes.. facilito. Bem… vou torcer muito por ti, espero sinceramente que não seja nada! Beijinho e força!!! Obrigada pela partilha!!

    1. Carla Mota diz: Responder

      Lurdes, em África (neste contexto) não há fatos de mergulho. É preciso conhecer os riscos e estar atentos. A probabilidade de apanhar estas doenças é minima. Nós todos sabemos que podemos ser atropelados a atravessar a estrada. Será negligência tentar passar para o outro lado? Não me parece. Temos é que estar atentos. Conhecer os riscos e atuar. Deixar de viver não é solução para evitar sermos atropelados. 😉

      1. Lurdes Simões diz: Responder

        Pois é Carla, tens toda a razão, a nossa vida é um risco diário… basta escorregar na banheira e bater com a cabeça 🙂 Desculpa o temo “negligência”, eu empreguei-o em sentido lato, e não sabia que não dá para usar fatos de mergulho, e muito menos que o risco era tão baixo! São os tais imprevistos que não controlamos, e temos que aprender a lidar com eles. Mas ser logo a ti, foi azar, pois bem sei que vocês são supercuidadosos, e estudam tudo ao pormenor !! Tens razão, a vida é para ser vivida, ainda que saibamos de antemão que desafiamos riscos, mas sem adrenalina …. não é definitivamente a mesma coisa 🙂 Bem amiga espero sinceramente que tudo não passe de um susto, tu és não só forte, como se calhar até já estás imune 🙂 Vamos acreditar que não é nada.
        Desejo-to rápidas melhoras, que tudo se resolva depressa ! Grande beijinho e acredita que torço por ti … e muito !!

        1. Carla Mota diz: Responder

          É isso, Lurdes. bjinhos GRANDES e obrigada. 🙂

  3. Nossa, que pena. Espero que te recuperes bem para as próximas viagens. Abraço!

    1. Carla Mota diz: Responder

      Obrigada :*

  4. Auch!! Amiga, espero que já TUDO sobre rodas e pronta para a próxima 😉 Beijinho e obrigado pela partilha!

    1. Carla Mota diz: Responder

      Ainda não tenho os resultados e como já estou em casa já me sinto mais animada. Mas, a verdade é que isto das viagens tem os seus riscos e temos que andar sempre de olhos abertos.

      1. Helena Silva diz: Responder

        Espero que fique tudo ok rapidamente. Grande beijinho Carla!

        1. Carla Mota diz: Responder

          Obrigada :*

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