NÃO USAMOS o AIRBNB ou a UBER – Deve ser socialmente sustentável

Porque NÃO USAMOS o AIRBNB ou a UBER | Se quer ser responsável, deve ter um turismo socialmente sustentável

Há muito que viajámos por este nosso planeta, o terceiro calhau a contar do sol, e há muito que opinámos sobre as mudanças que a indústria do turismo têm feito aos locais que vamos conhecendo e revisitando.  A Uber e a Airbnb têm sido algumas das mudanças que temos assistido.

Veja aqui 15 medidas para promover o Turismo Sustentável

Porque NÃO USAMOS o AIRBNB ou a UBER | Se quer ser responsável, deve ter um turismo socialmente sustentável

A revolução da internet

Quando começámos a viajar, as reservas dos alojamentos eram feitas por telefone mas a internet revolucionou completamente esse mundo. Surgiu o hostelbookers (a maioria de nós já nem se lembra dele) e o hostelworld (uma ferramenta que era um clássico nas nossas viagens). Tudo ficou mais fácil. Viajar pelo mundo era maravilhoso e as reservas eram super cómodas. As taxas cobradas não eram nada de especial e isso tornava o mercado justo para todos, viajantes e alojamentos.

O aparecimento e “desaparecimento” do Couchsurfing

Com o desenvolvimento da internet começaram a aparecer coisas diferentes, umas boas, outras menos boas. Uma das nossas preferidas foi o Couchsurfing. A ideia era que as pessoas disponibilizassem gratuitamente um quarto, uma cama ou até um pedaço de chão para alguém se alojar. Era baseado na confiança e num sistema de comentários que permitia aos anfitriões e visitantes confiarem uns nos outros. Os anfitriões abriam as portas de sua casa a perfeitos desconhecidos. Os viajantes entravam na casa de verdadeiros desconhecidos. Com o tempo, a rede foi crescendo. Usámo-la muitas vezes, especialmente no Irão, na Argentina, no Chile, na Finlândia ou nos países Bálticos. Só tivemos experiências maravilhosas. Recebemos pessoas em nossa casa em Guimarães e tudo correu de forma fantástica. Conhecemos pessoas maravilhosas, altruístas e que nos receberam de forma generosa.

Mas à medida que o Couchsurfing foi crescendo, começaram a aparecer situações menos boas, algumas até em Portugal. A desconfiança tornou-se generalizada e rapidamente começou a entrar em desuso. Não por causa da falta de procura, mas porque a rede começou a mudar e começou a permitir que pessoas desconhecidas “conhecessem” outras pessoalmente. Rapidamente começou a ter uma conotação menos boa.

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O aparecimento do Booking.com

Ainda o Couchsurfing estava no seu auge quando apareceu em força o Booking.com. Começou devagar no mercado mas tinha uma equipa de marketing visionária que, inteligentemente, criou um programa de afiliados com as plataformas digitais e que permitia dividir uma parte irrisória dos dividendos da agência com os donos dos sites. Rapidamente os sites se tornaram afiliados e o Booking.com passou a dominar o mercado do mundo do Turismo.

Com críticas de que as reservas através da plataforma digital eram mais caras do que directamente nos hotéis, a empresa começou a criar descontos e promoções nos alojamentos. As comissões das reservas eram pagas pelos hotéis à empresa. Era uma relação que beneficiava ambos. Com o crescimento do Booking.com, qualquer hotel que figurasse na sua lista estava numa montra. Era considerada publicidade. O Booking.com ganhava a comissão do hotel e dividia uma percentagem dessa comissão ao site afiliado.  Tornou-se o principal site de reservas de hotéis no mundo.

O aparecimento do Airbnb

Com o “desaparecimento” do Counchsurfing e o agigantar do Booking.com, surgiu uma plataforma online que prometia isenção de comissões.  Em nome da liberdade de escolha e de mercado no alojamento local, aceitava alojamentos particulares de todos os tipos. Quartos particulares em casas privadas, apartamentos desocupados e que podiam agora ter uma nova vida, tendas em parques de campismo, etc. E até quartos tradicionais de hotéis. Rapidamente se tornou uma referência para os viajantes. O segredo era preços mais baratos e localização geralmente central.

Esta era a oportunidade perfeita para fazer “dinheiro”, quando metade da Europa passava por uma recessão económica grave. Dava vantagens económicas quer para os anfitriões, quer para os viajantes. Mas, a par das vantagens económicas que eram apregoadas, eram destacadas as vantagens de ser recebido por um habitante local, hospitaleiro, que podia ajudar os visitantes com dicas pessoais. A rede foi ganhando popularidade e muitos sobreviveram aos anos da crise europeia graças a ela.

Mas havia alguns senãos. Para colocar um alojamento disponível no Airbnb não é preciso praticamente nada. Na maioria dos países, quem quiser alugar, basta fazer um registo online no site, e nada é pedido. A casa nem precisa de ser sua nem estar licenciada. Pode-se alugar uma tenda num quintal da casa, um quarto de arrumos ou até um quarto partilhado num apartamento.

Tudo isso começou a criar em nós uma certa “comixão” e resolvemos experimentar há alguns anos atrás, em 2014, um apartamento do Airbnb em Roma. Pesquisámos muito e lá escolhemos. Escolhemos um T0 no centro da cidade. Era bom e a experiência não foi negativa. Tínhamos a rapariga à porta, à noite, para nos entregar a chave. Para além do preço acordado na plataforma, pediu-nos 20€ para a limpeza do apartamento. Não gostámos mas pagámos. A quem íamos reclamar? Foi então que começamos a pesquisar um bocadinho mais.

Quem protege as pessoas que se alojam no Airbnb?

A verdade é que nada, nem ninguém as protege. Estão completamente à mercê da boa vontade e da confiança daqueles que são os anfitriões. Há um sistema de comentários no site, mas que também pode ser “mascarado” por comentários de amigos. Quando há casos muito graves, porque os há, o Airbnb pode proibir o usuário de registar aquele alojamento, mas ele pode registar outro, ou então criar um outro perfil com outro nome. Basta ter outro email ou outro perfil nas redes sociais.

É mesmo mais barato ficar no Airbnb? 

A verdade é que também pode não ser. Muitas vezes os preços são mais baratos, mas sobre eles acresce uma taxa de reserva através do site e uma taxa de limpeza. Quando se soma tudo o preço é igual, ou muitas vezes mais caro do que nos sites de aluguer de hotéis. Basta ver estes dois exemplos que encontrámos quando pesquisávamos sobre alojamento nas Maldivas. Aprendemos logo que Airbnb não era boa opção.

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Que casos graves podem acontecer?

Há histórias mirabolantes na internet sobre “coisas” que acontecem no Airbnb. Basta pesquisar no google. Homens e mulheres violados e assassinados, câmaras de filmar nos quartos para transmissão online de cenas de sexo, roubos, quartos alugados em bordéis, extorsão de dinheiro e bens, raptos, chantagens, etc. A lista é quase interminável. Se quiser conhecer algumas com mais pormenor veja este artigo.

Que impostos pagam ao Estado os anfitriões?

Para além dos visitantes estarem à mercê da sorte e da fé nos seus anfitriões, há algo que subverte completamente o mercado e a sustentabilidade económica, e até social, de todos nós. Na maioria dos países do mundo, ao contrários dos alojamentos do Booking.com ou dos sites dos hostels, para se registar no Airbnb não precisa de ter nenhum licenciamento, nem cumprir quaisquer regras de higiene (não ser que o Estado do país em questão o fiscalize, algo que nem sempre acontece). Como tal,  as queixas de sujidade e falta de higiene abundam. Para além disso, estes alojamentos concorrem com os hotéis clássicos licenciados, que têm vistorias periódicas da ASAE e das finanças. Em grande parte dos países do mundo, os anfitriões do Airbnb, se não quiserem, não pagam qualquer tipo de impostos. Os anfitriões, salvo se quiserem fazer descontos, podem ficar com a totalidade do valor obtido. Isto é válido para a maioria dos países do mundo.

Qual o problema dos anfitriões não pagarem impostos sobre os rendimentos?

Esta situação lesa-nos a todos nós, na medida em que nenhum Estado Social é sustentável (a não ser que tenha petróleo) se a sua população não pagar impostos. Todos nós, trabalhadores, pagámos impostos sobre o nosso trabalho, e ainda bem que o fazemos. São estes impostos que nos permitem ter um Sistema Nacional de Saúde que nos trata quando estamos doentes, que nos cura de doenças que nunca teríamos dinheiro para pagar, tais como o cancro através do IPO. São os nossos impostos que pagam a Escola Pública que todas as nossas crianças frequentam até ao 12º de escolaridade e que apoia alunos carenciados desde o infantário até ao Ensino Superior. É o Estado Social que que paga subsídios de desemprego, reformas e pensões por invalidez. O Estado Social que existe em Portugal deveria existir em todo o mundo. Se os habitantes dos países não pagarem impostos, nunca se caminhará para o desenvolvimento.

É este Estado Social que distingue os países desenvolvidos dos Estados Falhados em que o Estado não cuida nem trata da sua população. O pagamento de impostos é a base de um Estado Social de sucesso e, como tal, não devemos contribuir para uma sociedade que não se preocupa com a sustentabilidade social da sua população, seja em Portugal, na Índia, na Grécia ou no Brasil.

Na nossa última viagem aos Alpes alojámo-nos num Airbnb. Decidimos que foi a última vez que o fizemos. Sentimo-nos mal. Foi como se estivéssemos a ludibriar o sistema. A experiência, do ponto de vista do viajante, foi boa. A experiência, do ponto de vista do viajante responsável, foi má. Não conseguimos qualquer recibo do anfitrião, apesar de termos pedido. Significou que contribuímos para o empobrecimento do Estado Francês. Não gostámos.

Para além disso, o mercado do alojamento local desregulado subverte completamente o preço dos imóveis. O valor das casas e apartamentos disparam. Quem consegue competir com um apartamento de dois quartos em que cada um deles se aluga por 100€/noite no Airbnb? Um apartamento destes rende 200€/dia, 6000€/mês! Isto contribui para desalojar as populações dos centros das cidades. Idosos e jovens… deixam de ter dinheiro para alugar casas no centro da cidade. E com a subida dos preços na própria cidade. A cidade esvazia-se de população local e enche.se de turistas. As cidades deixam de ter vida e passam a ser “museus” ou “parque temáticos”. Cidades como Barcelona ou Lisboa ilustram bem esta situação.

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O caso da Uber

A Uber é o caso mais clássico da desregulamentação completa do mercado. É uma importação de um modelo comum nos países subdesenvolvidos, os Estados Falhados que falamos anteriormente, em que a economia informal e paralela é lei e permite a sobrevivência das populações. Não é este modelo que queremos para o nosso país, nem sequer para os outros, por isso, foi sempre ponto assente entre nós, que nunca recorreríamos à Uber. E nunca usámos.

A Uber é uma empresa licenciada nos EUA e leva o conceito de capitalismo selvagem à letra. A ideia é usar os carros particulares de pessoas que estão ligadas através de uma aplicação de telemóvel, e que possam “levar” outras do ponto A ao ponto B. Tal como no Airbnb, os condutores da Uber não precisam de estar certificados na maioria dos países do mundo. O pagamento de impostos pode ser feito, no entanto as taxas são diferentes das dos taxistas tradicionais. Os trabalhadores não estão protegidos, assim como os clientes. Tal como no Airbnb, também não faltam histórias de terror na internet. É só “perguntar ao Doutor Google”. Mas neste caso, o pior não é isso.

Quando se recorre à Uber contribuímos para a desregulamentação completa do mercado e dos seus trabalhadores. Os condutores da Uber não têm horários de trabalho fixo, não há direitos laborais e a empresa funciona num limbo “online” que permite viver desta desregulamentação nos países desenvolvidos, da mesma forma como nos países de Terceiro Mundo. Para além disso, é um “negócio da China”, já que os carros não são da empresa mas dos trabalhadores. No fundo, é o mesmo que apanharmos uma boleia na estrada só que recorrendo às novas tecnologias e pagando por isso.

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Todos nós já partilhamos táxis no Médio Oriente ou no Sudeste Asiático, e o modelo é o mesmo. O mundo desenvolvido importa estes modelos “de sucesso” que na realidade tornam os habitantes cada vez mais vulneráveis e especialmente precários. Para um mundo melhor não podemos compactuar com uma empresa que esmifra os seus trabalhadores, lhes nega direitos e uma qualidade de vida adequada.

Quando estávamos em Joanesburgo, na África do Sul, a senhora da nossa guesthouse queria chamar-nos um Uber para o aeroporto. Explicámos-lhe que não queríamos. Ela não percebeu. Teve dificuldade em compreender que preferíssemos pagar o dobro por um táxi. Explicámos-lhe que estávamos a fazer o melhor pelo seu país e pela sua população mas ela não entendia. Nunca tinha visto a Uber por esse prisma.

Nos países subdesenvolvidos usámos táxis, táxis partilhados, riquexós e até cicloriquexós. São esses transportes que dão “alimento” à população e que lhes permite sobreviver. Lá também há Uber. Aliás a Uber cresce especialmente nestes países já que não há controle nenhum nem qualquer regulamentação da economia.

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A nossa decisão

Nunca usámos a Uber (ou outras similares) e contámos nunca o fazer. Pensamos que usá-la é promover a precariedade dos trabalhadores, seja aqui, seja na China ou na Índia. Não podemos ser contra a servidão laboral e depois usar a Uber. Não podemos ser a favor do Estado Social e depois usar o Airbnb. Não podemos apregoar por um mundo melhor e depois, enquanto viajantes, ter um comportamento que promove o subdesenvolvimento e condenam à precariedade e pobreza milhares de pessoas no mundo. Não podemos contribuir para diminuição da qualidade de vida no mundo.

Não é por acaso que a Uber é proibida em vários países do mundo, nomeadamente em alguns que valorizam muito a sustentabilidade social da sua população. É o caso da Dinamarca ou da cidade de Vancouver, no Canadá. E também não é por acaso que o Airbnb é cada vez mais posto em causa nos países desenvolvidos. O futuro destas e doutras agências nos dirá que consequências trarão para o mundo moderno…  Sem a devida regulamentação, estas companhias promovem o subdesenvolvimento.

Enquanto viajantes não podemos fechar os olhos, pois não?

Obviamente que este é um artigo pessoal e baseia-se exclusivamente na nossa opinião.

Carla Mota

Geógrafa com uma enorme paixão pelas viagens e pelo mundo. Desde muito cedo que as viagens de exploração fazem parte da sua vida. A busca do conhecimento do mundo leva-a em direcção a culturas perdidas e ameaçadas, tentando percebe-las. Hoje é também líder de viagens de aventura na Nomad.

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26 Comentários

  1. Eu sou Host e traveler Airbnb. Os meus locais Airbnb estão legalizados, número de A.L., tenho livro de reclamações oficial e passo todos os recibos on-line no site das finbanças. Em todos os negócios há sempre que fuja aos impostos. Pergunto: sei que não devem ganhar muito mas vocês declaram o retorno dos anúncios deste blog (google ads, CJ Affiliate, Shareasale , Amazon etc) ?

    1. Carla Mota diz: Responder

      Sim, declaramos e pagamos 25%. E sim, se todos pagarmos, pagaremos todos menos.

  2. Diego diz: Responder

    Tenho um quarto disponível, quero alugar ele por 22 euros diária.
    30 dias do mês X = 660 euros (meio difícil alugar todos os dias. mas colocamos no máximo)
    666 euros x 12 meses = 7.920 euros
    vc acha legal essa pessoa, que ganha esse dinheiro por ano pra ter gente toda hora no seu apartamento, merece pagar um absurdo de imposto?
    Uber ou Airbnb venho com intuito de ajudar aquele com uma renda extra.
    Já pagamos impostos altíssimos em tudo que consumimos.
    Enquanto isso, aqueles que ganham milhões roubam e sonegam impostos.

    1. Carla Mota diz: Responder

      Diego, desculpa a sinceridade mas tem que pagar imposto sim. Se pagar imposto pode ter saúde pública boa, assim como educação e justiça. Se não pagar imposto não pode ter bons serviços públicos. Eu quero uma sociedade com excelentes serviços públicos por isso faço questão de pagar. Pago com todo o gosto porque pago para mim. Pago para ter bons hospitais, boas escolas e boas universidades. Para que o meu país seja um bom país. Se ganho 8 mil euros pago os impostos correspondentes, se ganho 50 mil euros, proporcional. Quanto mais ganha mais paga. O que não pode é querer não pagar nada. Se há gente que não paga, há que ter uma sociedade civil mais exigente. Imposto é o que permite as sociedades serem desenvolvidas e sustentáveis. Enquanto não perceber isso, não vai perceber nada.

  3. Ainda só li este artigo, o que mais me prendeu a atenção, e já deu para perceber porque é que ganharam o prêmio de melhor conteúdo. Parabéns pela atitude, pela forma de pensar, ser, estar e acima de tudo de viajar!

    1. Carla Mota diz: Responder

      Muito obrigada, Alexandra. Não é fácil ser uma voz dissidente mas nós vamos continuar a partilhar as nossas opiniões. 😀

  4. Olá Carla,

    Bem, este artigo já tem imensos comentários sobre o AIRBNB! Realmente, nessa parte do artigo denota-se alguma falta de informação, provável de quem não tem este tipo de actividade. Em Portugal, a legislação tem vindo a mudar muito: sim paga-se impostos e neste momento já não é possível realizar registo sem dados de registo do alojamento do local. Os alojamento do AIRBNB neste momento estão todos também no Booking! Podes pedir fatura porque tens direito e se tiveres algum problema o AIRBNB responsabiliza-se (já me aconteceu no México). O conceito inicial tem vindo a morrer, a filosofia de viver como um local e partilhar com eles o seu modo de vida não existe! Primeiro porque o anfitrião e hóspede quer cada vez mais a sua privacidade! A meu ver o único do lugar do mundo que realmente oferece alojamento local de forma global e bem regularizada é Cuba!

    Depois, a Uber surgiu porque os taxistas não evoluíram na sua actividade. A segurança e a simpatia de quem viaja com o Uber é notária em vários países do mundo. A actividade deve ser regularizada mas penso que não eliminada.

    Bem, a corrupção e a fuga do fisco é transversal em vários países do mundo e atinge quase todas as actividades económicas! Começa em nós e alonga-se até ao Estado.

    É difícil fazer boas decisões seja no turismo seja nas nossas vidas (na compra da comida, da roupa e da casa). E também temos de ser cidadãos mais exemplares denunciando os problemas que assistimos. Quem o faz? (dá muita chatice, deixa lá… continua tudo igual!)
    Bem, acho que a ideia deste artigo é boa mas é um tema delicado!

    1. Rui Pinto diz: Responder

      Olá Patrícia. Sim, o tema não é pacífico. É realmente delicado, especialmente porque a nossa opinião é como “utilizador” e não como “proprietário”. Talvez por isso, o que é normal, é que tenhamos uma visão exterior do Airbnb e não estejamos por dentro da legislação em Portugal. Mas, também não é isto que se pretende com o nosso artigo. É um artigo de opinião, não é um artigo cientifico. De qualquer forma, pensamos que também não isso que se pretende. A natureza deste artigo não é sobre a regulamentação ou não do Airbnb em Portugal. Isto porque para nós, enquanto viajantes o problema do Airbnb não está em Portugal ou na Suiça. O problema do Airbnb e da Uber está no mundo todo. Na forma como se aproveita dos Estados que são incompetentes, assim como dos seus governantes muitas vezes corruptos. Isto faz com que o ciclo de pobreza seja interminável e cada vez mais difícil de superar. Para além disso, cria desequilíbrios enormes na população dos países, especialmente naqueles que trabalham com turismo vs resto da população. A regulamentação será o caminho, mas estas empresas vivem da desregulamentação da economia e é por isto que não as usamos. Percebo que não compreendam a nossa posição, especialmente quem tem negócios, mas é uma questão muito pessoal e de principio.

  5. Olá Carla
    Excelente artigo e excelente opinião. Contudo, não concordo contigo em alguns pontos em que falas do Airbnb, que em termos de modelo de negócio é bem diferente da Uber. A Uber, sim, aproveita-se de um vazio legal. O Airbnb acredito que contribui mais para a economia local que a maioria das cadeias hoteleiras… Em relação a impostos, aproveitou-se de início de um vazio legal mas as coisas estão a mudar. Em Portugal já não se pode fazer registo de propriedades nem código AL (tanto no Airbnb como na Homeaway), por exemplo… ou seja a tua casa ou quarto tem se estar registada para Turismo e estas empresas enviam num final do ano um comprovativo para o anfitrião e para as finanças.
    Beijos

    PS: Não acredito que já dás o Couchsurfing por morto… Eu ainda uso e conheço muitos que ainda usam! ahah

    1. Rui Pinto diz: Responder

      Olá Diana. Sim, o tema não é pacífico. Mas o problema do Airbnb não está em Portugal ou na Suiça. O problema do Airbnb está no mundo todo. Na forma como se aproveita dos Estados que são incompetentes, assim como dos seus governantes. Isto faz com que o ciclo de pobreza seja interminável e cada vez mais difícil de superar. Para além disso cria desequilíbrios enormes na população dos países, especialmente naqueles que trabalham com turismo vs resto da população. Nós não damos o couchsurf como morto. Aliás ainda usamos, para ficar e para receber. Mas está meio moribundo mesmo. 😉

  6. V diz: Responder

    Olá!
    Por uma questão de coerência, talvez pudessem tirar o link para marcações no airbnb no quadrinho “programe a sua viagem” que aparece abaixo dos vossos posts (e deste em particular). Presumo que se não usarem também não vão ganhar nada, na verdade, mas ainda assim…
    Paralelamente, bem sei que é uma questão bem diferente, mas do ponto de vista da sustentabilidade a utilização das transportadoras aéreas low-cost deveria ser também bem poderada, do ponto de vista dos viajantes que se querem mais responsáveis.
    Obrigada pela partilha,
    V

    1. Carla Mota diz: Responder

      Olá Vera, concordo totalmente. Aliás, nós também raramente usamos as companhias Low Cost. O problema é praticamente o mesmo. Se leu o artigo, como acredito que sim, viu que nós já usamos o Airbnb. O que pode se pretende é apenas sensibilizar as pessoas para uma opção mais consciente. Podem usar ou deixar de usar, só devemos todos é pensar um bocadinho melhor nas nossas opções. Só isso.

  7. Não concordo nada com a parte do Airbnb. Não é verdade que não se paga impostos e não se legaliza, paga os impostos da lei do país, legaliza-se o quanto a lei exigir, os países é que têm obrigação de fiscalizar. Quanto ao recibo não vamos fingir que pelo Booking é tudo legal e que todos nos dão recibos. Utilizámos ambos numa viagem pela América do sul e pelo Booking ninguém nos deu recibo e aconteceram-nos as coisas mais mirabolantes possíveis até alteração de reservas depois da nossa saída para cobrarem mais. Estes sistemas funcionam bem ou mal consoante a honestidade de cada um. Obviamente a internet e estas plataformas vieram ajudar muito os desonestos e exploradores do próximo, mas também ajudaram muita gente a sair duma situação de desemprego.
    Há que ter cuidado com posições demasiado 8 ou 80, como se começam a ver em Portugal. Adoramos os prémios e reconhecimento que temos recebido enquanto destino turístico, mas depois quando temos uma fila para o elétrico 28 reclamamos que os turistas deviam ir todos para a terra deles e que nos estão a estragar a cidade.

    1. Carla Mota diz: Responder

      Raquel, daquilo que pudemos apurar é mesmo assim. O Airbnb, a não ser que o proprietário queira, não paga impostos. Não digo que não haja quem pague, mas pode-se não pagar. E, a maioria não paga. Depende de país para país? Não creio, mas é possível que sim, mas como referi, devido à crise económica europeia os governos deixaram que o Airbnb assegurasse o rendimento das populações. É polémico, verdade, mas foi uma forma de o Estado se desresponsabilizar pela crescente pobreza interna. É válido para Portugal, Grécia, Espanha, Itália, Alemanha, Polónia, França, Reino Unido, etc… O Booking não é perfeito, como nenhum site de reservas. A vantagem é que os alojamentos são licenciados. Nós também já tivemos experiências más no booking, então na Índia foi um fartote delas, mas não é isso que está em questão. A questão é que são alojamentos legais e que cumprem financeiramente com as regras dos países. Por exemplo, na Índia só há impostos há 6 meses, pelo que agora a maioria dos alojamentos então a sair do booking, para não terem que pagar ao Estado, e deslocar-se para o Airbnb. Enquanto cidadãos não podemos compactuar com isso. Essa, pelo menos, é a nossa opinião. Claro que muita gente saiu do desemprego, não nego isso. Mas não deveria ter saído do desemprego de uma forma legal e justa para a sociedade? É só isso que quero para o meu país e para os outros. Se pagarmos todos os impostos que devemos, todos podemos pagar menos e todos podemos viver melhor. Raquel, e não são os países que têm obrigação de fiscalizar, são os Estados. E o Estado somos todos nós.

      1. Carla,
        a legislação portuguesa já obriga a registo dos alojamentos no Turismo de Portugal. E a partir daí, estando registados, terão de pagar impostos.
        A legislação ainda não está estabilizada, e ainda vai alterar. Mas essa parte de pagar impostos já é uma realidade.

        1. Carla Mota diz: Responder

          Luísa, pelo que li, obriga sim, mas só para as unidades de Alojamento Local. Isso não se aplica ao meu apartamento a um quarto no meu apartamento. Eu simulei colocar o meu apartamento no Airbnb e no Booking. No Booking pediam-me registos. Não consegui finalizar o processo. No Airbnb só não o coloquei para arrendar porque no final fiz “cancel”. Quem depois me exigia que pagasse impostos sobre esse arrendamento? E na Índia? E na China? E na Grécia? E no Brasil? Não acho correcto para o mundo nem para os seus cidadãos.

      2. Miguel diz: Responder

        Bom dia Carla,
        Entendo a vossa opinião, mas apenas por falta de experiência como utilizadores… Desmistificando a base da vossa insustentada opinião:
        – A Airbnb e Uber pagam impostos tal como booking.com, hotéis ou taxis
        – Não apareceram para colmatar um vazio legal, apareceram para colmatar um vazio na oferta de alojamento /serviço (pela standardização e falta de evolução)
        – O facto do apartamento / quarto (no airbnb) e o carro (na Uber) serem próprios não vem empobrecer a economia ou as pessoas… Vem democratizar o acesso à riqueza!
        – É tão facil um Registo na booking.com como no airbnb…
        Claro que se defender um modelo em que 0,1% são patrões dos restantes 99,9% a vossa opinião entende-se… É uma forma de pessoas que não têm poder económico para fazer um hotel, trabalharem independentemente em alojamento/hotelaria. De micro investidores poderem ambicionar crescer financeiramente com estabilidade.
        De qualquer forma há pontos em que estamos de acordo:
        – Devemos obviamente pagar impostos e não contribuir para a evasão fiscal (pelo que disse e bem)
        – Devemos ter boa legislação nas várias áreas (e temos nas áreas em questão) mas deve investir-se em fiscalização! Sim porque além de saúde, educação, vias de comunicação e segurança eu também quero igualdade e respeito no cumprimento da lei… E é isto que falta em demasiadas situações, em demasiadas áreas e demasiados lugares no mundo.
        E é por isso que a Sra da Africa do Sul não vos soube responder no que diz respeito ao motorista da UBER (supondo que há lei relativa a estes serviços, o que acontece na maioria dos paises), devia ter respondido que não têm qualquer razão… Que o motorista faz descontos, que a plataforma faz descontos, que a atividade está licenciada, que pagam seguros e portanto o cliente pode sentir se seguro, etc etc…
        Os taxis em Portugal estavam obsoletos, os motoristas desatualizados e tendencialmente pouco educados e se a UBER teve sucesso em Portugal foi pela incapacidade dos taxistas se adaptarem aos novos tempos e tecnologia.
        De qualquer forma, a evolução dos modelos não é o problema… O problema é a regulação dessa evolução, sendo que com a velocidade da internet não podemos esperar regulação antes da implementação, acontecendo demasiadas vezes o contrário. E aí estamos todos a falhar…

        Quanto ao Turismo Sustentável, entendo e sou apologista, mas não posso apontar o dedo à evolução… Tenho que acusar a falta de regulação/fiscalização.
        No final… O turismo não é sustentável nem será, a partir do momento em que que está democratizado… Quando muito poderá ser um pouco mais sustentável… Ou queremos restringir o acesso ao turismo?

        1. Carla Mota diz: Responder

          Olá Miguel, concordo com quase tudo o que disse. A nossa visão do fenómeno é de fora, claro. Não conhecemos devidamente os trâmites internos porque não somos donos de nenhum destes negócios. Concordo plenamente que o problema reside essencialmente na regulamentação e fiscalização. 100% de acordo. Mas também reside na capacidade que a Sociedade Civil tem para exigir essa regulamentação. O nosso artigo foi escrito em 2017, e em Portugal muita coisa mudou, foi mudando ao longo dos tempos, assim como em muitos países europeus (felizmente, para melhor). Mas a verdade é que na maioria dos países em vias de desenvolvimento no mundo tal não aconteceu. Na Índia continua igual, sem regulamentação. No Bangladesh, nem imagina o caos! E não precisamos de ir para destinos tão desiguais, já por natureza. O mesmo acontece na Indonésia ou na Tailândia. Com base no que sei e acredito, não posso usar o Airbnb nestes países. Não me sinto bem, embora saiba que, possivelmente, contribuo mais ali para a economia local do que num hotel registado. O problema é que eu acredito que devo contribuir para um Estado Sustentável que proteja os seus cidadãos. E não posso acreditar numa coisa e participar outra. Espero que perceba.

  8. Olá! Primeiramente, gostaria de parabenizar o seu blog que me auxiliou muito para minha viagem a Guimarães. Passei a ser seguidora. Muito bom!
    Bem, cuidado com as opiniões extremas. Em muitos países, os taxis não são tão confiáveis assim e alugar alojamentos por onde passamos…tampouco. Acho que experiências boas e ruins há em qualquer facilidade de locomoção ou hospedagens, sejam elas quais forem. O importante é sempre tomar cuidado e estarmos pendentes pelo que está acontecendo e as medidas de seguranças necessárias por onde estivermos. Não estou defendendo Uber e nem Airbnb, o que digo, em termos de sustentabilidade econômica, como mencionastes, em país em desenvolvimento, cito como exemplo, o meu país como o Brasil, o Uber está viabilizando o pão de cada dia de alguns professores universitários, entre outros profissionais, que estão sem receber do estado, há um ano e meio. Portanto, vamos tentar não radicalizar as opiniões e apontar os dedos. Vale sempre alertar para os perigos, mas é perigoso dizer se é bom ou não ou sustentável ouo não. Tudo depende da conjuntura de cada país.
    É tempo de harmonia e equilíbrio.
    Namastê.

    1. Carla Mota diz: Responder

      Olá Marina. Sim é verdade, na maioria dos países em vias de desenvolvimento os táxis e alojamentos são pouco confiáveis, e às vezes até nos desenvolvidos, depende da fiscalização do Estado. E é uma das razões pelas quais os países são como são. Alguns têm graves problemas. Marina, o caso que mostrou do Brasil, mostra precisamente aquilo que falei. O Estado falhou! Compete ao Estado não falhar. É por isso que devemos ser mais conscientes e exigentes com o Estado. Sei que isso não é fácil em determinados países. Aliás, não se pode pedir à população de Somália que não use Uber ou Airbnb porque o Estado falha nas questões mais básicas como segurança, saúde, direitos humanos ou educação. O caso do Brasil, não sendo tão extremo, é também complexo. Não tentamos ser fundamentalistas, obviamente, a não ser nas nossas escolhas. Nós não usamos porque, pelas razões que falamos, achamos mal. Sabemos que a vida não é a preto e branco, a mancha cinzenta é muito grande, mas enquanto viajantes, devemos e podemos ser mais conscientes, especialmente com as questões da pobreza e desigualdades sociais que ocorrem no mundo. Só queremos alertar para isso. Está na hora dos viajantes serem mais conscientes e não deixar que a massificação do turismo estrague as sociedades.

  9. Artigo muito interessante. Realmente nunca tinha pensado nas coisas por esse prisma, e está muito bem pensado! Logo eu, que ando sempre a falar de sustentabilidade…
    Uber nunca usei, mas AirBnB sim. Gostei muito da experiências, pois fiquei alojada na casa de famílias locais, mas agora que penso nisso… Eles tinham todo um negócio montado, e se não pagam impostos, onde é que isto vai parar?
    É tão fácil detestar pagar impostos que muitas vezes nos esquecemos do quão importante isso é, em cada pormenor do dia-a-dia. Vivo na Noruega e isso aqui sente-se muito.
    Obrigada por esta partilha!

    1. Carla Mota diz: Responder

      Obrigada, Mia. O mundo é cada vez mais um lugar estranho e temos que estar bem atentos.

  10. As vossas opiniões são muito importantes! Realmente com o desenvolvimento da internet e dos próprios tempos, surgem coisas boas mas os perigos também são bastantes. É preciso ter sempre muita atenção para evitar esses perigos e sermos também burlados.

    1. Carla Mota diz: Responder

      Obrigada, Cátia e, acima de tudo, não deixar que as ambições individuais se sobreponham ao bem estar global.

  11. Snuns diz: Responder

    Olá
    Estava a passear virtualmente nesta longa noite, e não pude deixar de comentar este texto.
    Extremamente lúcida e cilivizada esta postura, bem haja que ainda existam pessoas sensatas neste país dominado por novos ricos e ganaciosos.
    Em poucas palavras demonstrou a falácia da globalização dos serviços, e do péssimo costume de não pagar impostos, os quais, mesmo sendo incompreensíveis algumas vezes, tem com certeza relação com a qualidade de vida que desfrutamos.
    Parabéns e felicidades em suas viagens,

    1. Carla Mota diz: Responder

      Obrigada. 😀 É pena que ás vezes as ambições individuais se sobreponham ao bem estar global.

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