Era manhã bem cedo quando saímos do motel onde dormimos para nos dirigirmos a Bishkek. A estrada, sempre em montanha e nas Jailoos, os planaltos frescos e irrigados quirguizes, pintaram as janelas da nossa burrinha, ponteandos por yurts, as habitações típicas quirguizes.
Com dois passos de montanha superiores a três mil metros e quase 400 km para percorrer o dia previa-se longo, ainda mais com uma visita à Aldeia SOS de Bishkek agendada para o final do dia.
As Jailoos quirguizes são maravilhosas, verdejantes, rodeadas de montanhas, algumas com cumes nevados e onde as populações quirguizes, outrora nómadas, montam agora as suas yurts durante o Verão. O nomadismo já praticamente não existe no Quirguistão, mas os hábitos mantêm-se.
No Inverno, os quiguizes vivem nas cidades, em apartamentos de betão, em estilo soviético, herdados de um passado recente. Mas no Verão, quando as cidades atingem temperaturas muito elevadas, as populações pega no gado e levam-no para os planaltos de montanha, mais frescos, irrigados e cheios de espaço para correr, pastar e viver em harmonia com a natureza.
É por isto que nas Jailoos do Quirguistão vemos as crianças correrem na beira da estrada, seguindo os rebanhos de cabras e ovelhas. Montados em cavalos ou em burros, as crianças e jovens quirguizes começam muito cedo a cuidar do gado. As yurts servem-lhes de casa de verão, que escolhem montar num local fértil e cheio de pastagens para o gado poder alimentar-se durante o verão. Ao lado da yurt está um vagão de camião, reutilizado e que agora serve de cozinha. É assim a vida semi-nómada do povo quirguize.
À chegada a Bishkek o trânsito intensificou-se mas conseguimos cumprir o nosso propósito, chegar a tempo à Aldeia SOS. Não tivemos tempo de almoçar, mas Nazira, a quirguize que nos recebeu, assistente social da Aldeia SOS, convidou-nos para visitar uma família.
A maioria das crianças que habitam na aldeia, cerca de 100, estavam para o lago Issy Kul em férias, uma actividade financiada por um patrocinador da instituição. Em vez de entregarmos o material aos miúdos, deixámos todo o material escolar na secretaria da escola. Infelizmente, perdemos uma das partes que mais nos atrai nesta nossa missão, o contacto com as crianças. Assim, restou-nos conhecer os filhos da família que conhecemos e que nos recebeu. Svetnia abriu-nos a porta de casa, com uma mesa farta de comida, preparada para nós. Não sabiam que não tínhamos almoçado, e nós, timidamente, fomos comendo sem dar muito nas vistas. A parte boa da hospitalidade da Ásia Central é que é expectável que os visitantes comam muito, desta forma mostrando aos anfitriões que a comida está muito boa. Geralmente sentimo-nos um pouco acanhados para o fazer mas com a fome que estávamos às 17 h não havia tempo para frescuras!
Passamos um bom bocado a conversar com a família e a perceber melhor o funcionamento das Aldeias SOS mas era hora de seguirmos. Estava a ficar noite, e ainda precisávamos de arranjar alojamento para essa noite. Alojámo-nos num hostel no centro da cidade, onde descansamos e nos preparámos para a parte mais difícil da viagem. Ainda conseguimos encontrar um centro comercial, onde abastecemos novamente em material escolar para oferecer no dia seguinte em Almaty.
No dia seguinte iríamos para Almaty, no Cazaquistão, e a viagem iria tornar-se mais exigente em termos de tempo a conduzir. Temos ainda muitos quilómetros pela frente e o tempo é cada vez menos.
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Os artigos no nosso blogue sobre o Quirguistão ao longo da nossa viagem do Rally Mongol pode consultar aqui
- RALLY MONGOL – ATRAVESSAR O VALE DE FERGANA – Um artigo em forma de crónica de viagem sobre a nossa passagem por Osh e travessia do Vale de Fergana.
- RALLY MONGOL – VISITAR A ALDEIA SOS DE BISHKEK – Um artigo em forma de crónica de viagem sobre a nossa passagem por Bishkek e a visita às aldeias SOS.
Essas paisagens fazem lembrar a “minha” Mongólia… 🙂
Estou a gostar muito de vos seguir. Power aí!
Obrigada, Filipe. Foi magnífico.