Desde que viajo que me lembro de encher a minha mochila com lápis de cor, marcadores, livros de pintar e brinquedos para oferecer às crianças que se cruzam comigo. Se na Mongólia os presentes eram autênticos desbloqueadores de “conversa”, na Bolívia não eram bem encarados e na China eram simplesmente desprezados. A cultura de cada povo explica a forma como estas oferendas são encaradas mas, a situação económica das pessoas é ainda mais determinante.
Kibera é o maior bairro de lata de África e residência de aproximadamente 1 milhão de pessoas. Com uma densidade populacional de cerca 20 000 hab/km2 é fácil perceber a forte concentração da população e as condições precárias de habitação e convivência. A maioria da população vive com menos de um dólar por dia, em condições de pobreza extrema, convivendo paredes meias com a fome, o lixo, a promiscuidade, a violência, a violação, a sida e a morte.
Porque ver apenas para contar, se podemos fazer alguma coisa para mudar? Foi isto que pensei quando esbarrei de frente com o projecto “Há ir e Voltar” que a Diana criou no facebook. Partilhei o projecto com os meus alunos de Geografia, do 12º ano, e juntos achamos que podíamos ajudar a Diana a mudar um bocadinho mais este mundo. Munidos de uma generosidade sonhadora, que só os jovens conseguem compreender, as doações foram chegando e a minha mochila foi-se enchendo de materiais para a escola: lápis, canetas, marcadores, livros, estojos, tintas, guaches, roupas, escovas, pastas dos dentes, etc. A mochila tornava-se cada vez mais pequena para acolher a vontade dos meus alunos mimarem aquelas crianças.
Com as mochilas a abarrotarem, a chegada a Nairobi era urgente. Uma vez em Kibera, a teacher Benta esperava-me por baixo de um edifício decrépito. A Diana foi passar o Natal a Portugal mas deixou tudo tratado para eu conhecer a professora da escola e alguns dos meninos que estão aqui. Felizmente não estão muitos, já que apenas ficam com a professora aqueles que não têm família com quem possam passar o Natal. Mas, por muito poucas crianças que aqui estejam, serão sempre muitas.
Desde a Índia que já não me lembrava de entregar presentes e receber em troca um sorriso tão rasgado e sincero. Sabe tão bem. São sorrisos genuínos, rasgados de felicidade e de alegria. São sorrisos que enchem o coração e preenchem a alma.
A professora Benta é a outra heroína desta estória. Benta é uma menina que há 41 anos nasceu na favela de Kibera e decidiu estudar e educar crianças. A professora Benta não tira ordenado ao final do mês, apenas faz algum dinheiro vendendo artesanato para conseguir viver e continuar a ensinar. A “teacher” Benta continua a viver em Kibera e tem hoje 6 filhos, mas acolhe na sua humilde casa outros tantos meninos órfãos que alimenta diariamente. Luta pela vida todos os dias, já que é seropositiva.
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