Estávamos no ponto mais ocidental da Europa, na ilha das Flores, virados para o Atlântico, o oceano que banha os Açores. A neblina do dia tinha-se dissipado e o sol aquecia os nossos rostos. Antecipávamos um belo pôr-do-sol. Tínhamos passado o dia a explorar a pequena ilha, mas cheia de lugares fantásticos e paisagens fabulosas, e descansávamos então, no jardim em frente da nossa casa, petiscando um queijo das Flores e bebendo um vinho do Pico. Os pássaros esvoaçavam por perto e aventuravam-se a debicar as migalhas. Uma casa de pedra, recuperada, mantendo a traça rural, era o nosso lar por aqueles dias, num planalto sobranceiro, virado para o mar. Sem internet, sem televisão; só nós, o Atlântico e as Flores. Estávamos no paraíso. Estávamos na Aldeia da Cuada.
Nos Açores
Os Açores são um paraíso natural ainda pouco tocado pelo desenvolvimento e tudo o que daí advém, tanto positivo como negativo. Para as populações que aí vivem, o isolamento e as infraestruturas limitadas tornam a vida às vezes difícil. Para os turistas que por ali se aventuram, no entanto, é uma oportunidade ímpar de visitar sítios que retêm um carácter único, com uma cultura muito própria e uma natureza num estado quase primordial.
Apesar do progresso das últimas décadas, e do crescimento do turismo internacional nos últimos anos, as nove ilhas dos Açores continuam a ser terreno quase imaculado, pronto para ser desbravado. Se é daqueles que procuram lugares genuínos e puros, com uma população local autêntica e hospitaleira, e uma natureza no seu estado bruto, não procure mais; os Açores são o seu destino.
Nas Flores
A ilha das Flores é o expoente da pureza dos Açores. Com apenas cerca de 140 km2, as Flores exibem um terreno montanhoso, fruto das suas origens vulcânicas, e uma paisagem deslumbrante dominada pela floresta húmida subtropical de Laurissilva, lagoas e quedas de água. É um paraíso verde no meio do Atlântico, com percursos pedestres onde sentimos que pouco terá mudado desde que no século XV se iniciou o difícil povoamento da ilha. É explorando a ilha, de preferência a pé, que comungamos com a maravilhosa natureza cujo poder esculpiu as belezas que se nos deparam.
O passado da Aldeia da Cuada
Na costa ocidental da ilha das Flores, entre a Fajã Grande e a Fajãzinha, encontra-se uma aldeia cujas origens remontam ao século XVII. Os seus habitantes levavam uma vida dura, residindo em casas de pedra com pouco conforto. A agricultura era quase a única fonte de subsistência, e os contactos com o exterior muito difíceis. Nos anos 60 do século passado, o desejo de uma vida melhor levou os últimos habitantes a partir em busca do sonho americano. A Aldeia da Cuada ficava então abandonada. No entanto, a vida tem as sua voltas curiosas, e a aldeia renasceu às mãos de um casal que quis fazer a ponte entre o passado e o futuro, que soube ver que a Cuada tinha ainda muito a dar. Recuperando as casas e transformando-as em verdadeiros lares, Teotónia e Carlos Silva conseguiram insuflar uma nova vida na Aldeia da Cuada.
O presente da Aldeia da Cuada
Hoje, vêm turistas de todo o mundo para a visitar. Porquê? Porque, paradoxalmente, aquilo que afugentou os seus últimos habitantes, é o mesmo que atrai os novos inquilinos. A simplicidade das casas, apesar do seu conforto, faz-nos reviver tempos passados. A ausência de televisão ou de internet (apenas acessível na recepção) faz-nos relembrar os tempos em que os adultos falavam entre si e as crianças brincavam correndo pelos campos ou pelas ruelas estreitas e empedradas.
Uma equipa acolhedora que nos faz sentir em casa, e os poucos vizinhos do lado com quem trocamos cumprimentos ao passar junto da sua porta, transmitem um sentimento de pertença a uma comunidade, algo que nos parece cada vez mais longínquo nas grandes cidades. A paisagem circundante, essa, convida-nos à contemplação de uma ilha que parece saída de um período jurássico.
O futuro da Aldeia da Cuada
Agora que o negócio é gerido pela filha e genro, Teotónia e Carlos podem descansar mais um pouco. Mas Carlos ainda faz questão de dar as boas-vindas a quem chega e contar um pouco da história única desta aldeia. Cada casa tem a sua narrativa, simbolizada pelo nome do seu antigo residente, e cada uma parece ter uma alma própria.
Na Aldeia da Cuada, há casas para pessoas sozinhas, casais e famílias, um restaurante a servir comida típica, saborosa e feita de produtos locais, um pequeno-almoço fabuloso, com o queijo da ilha e o bolo levedo a fazer as delícias de todos, e um serviço esmerado e atencioso, tudo rematado pela hospitalidade e simpatia dos proprietários e trabalhadores.
O futuro parece, assim, garantido. Mas os insulares sabem melhor do que isso. Sabem que o futuro se constrói agora, com esforço e dedicação. Sabem que as Flores não são terreno fácil, mas também sabem que é isso que as torna um destino de sonho. Aventure-se e conheça este pedacinho de céu. E tudo deve começar com uma reserva feita com bastante antecedência, porque são cada vez mais aqueles que se deixam encantar pela Aldeia da Cuada e pela ilha das Flores.
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