Quando planeámos a visita à Papua Nova Guiné (PNG), sabíamos que iríamos entrar pela fronteira terrestre com a Indonésia e que queríamos fazer uma expedição de descida do rio Sepik, nomeadamente o Alto Sepik.
Depois de muitos meses de planificação e conversação online, conhecemos o nosso guia local, Joseph Kone, em Vanimo e, depois de alguns dias de preparação no terreno, estávamos prontos para a grande aventura no Alto Sepik.
Veja aqui como foi a preparação da nossa expedição no rio Sepik.
DESCENDO O ALTO SEPIK
A primeira parte da nossa expedição tinha como objectivo partir de Vanimo, perto da fronteira com a Indonésia, na província de Sundaun (ou Sepik Oeste), ir por terra até Green River, e daí descer pelo rio, primeiro um afluente e depois o Sepik, até chegar a Ambunti, totalizando quase 400 km de percurso de barco.
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Dia 1: Vanimo – Green River
O caminho entre Vanimo e Green River é feito numa estrada de terra batida, construída pelas companhias madeireiras que operam na região e que não aparece na totalidade no Google Maps (que só mostra uma estrada entre Vanimo e uma localidade chamada Bewani), numa extensão de cerca de 150 km. Entre Vanimo e Green River há uma série de pequenas localidades, e os locais deslocam-se em carrinhas de caixa aberta (como nós) ou em camiões. As pessoas com quem nos cruzamos olham-nos com surpresa e curiosidade. O resto do (pouco) tráfego são camiões das companhias madeireiras que carregam maquinaria pesada.
Paramos com alguma frequência pois o nosso motorista parecia cansado, e numa das ocasiões chegou a fechar os olhos enquanto conduzia! Felizmente, o seu ajudante (na parte de trás da carrinha) estava atento e avisou-o que estava a dirigir-se para a berma… Para bem deles e nosso, começámos a meter conversa e o motorista, que até ali parecia carrancudo, revelou-se bem simpático e comunicativo. O problema é que já não dorme há duas noites, a fazer o percurso Vanimo – Green River e retorno!
O calor é muito e vamos bebendo alguma da água que trouxemos e aproveitamos as paragens para esticar as pernas. A paisagem é dominada por árvores de grande porte, que se destacam na luta em altura pela luz solar numa floresta densa que se estende até à estrada. Passamos por vários riachos e rios, com pontes provisórias do tipo militar. Conforme íamos progredindo, a estrada ia ficando progressivamente mais estreita e com um piso mais poeirento e solto.
A dada altura, entramos numa zona de vale aberto em que, em quase toda a sua extensão, a floresta foi deitada abaixo, tendo sido substituída por plantações de palma cujo produto cobiçado é o óleo de palma, omnipresente na indústria alimentar, de cosméticos, de produtos de limpeza e outros. É verdadeiramente impressionante ver a floresta desaparecer nesta extensão e rapidez, numa nação com uma das maiores florestas do mundo, e cujos governantes permitem que companhias da Malásia e China vão delapidando irremediavelmente a sua riqueza natural.
O sol estava a pôr-se e sabíamos que ainda tínhamos um longo caminho pela frente. Quando a noite se instalou, começámos a ver um fabuloso céu pleno de estrelas. Finalmente, por volta das 20.30h, chegámos ao nosso destino, não sem antes atravessar um rio de largura considerável. Mas, afinal, não estávamos em Green River. O troço final da estrada até Green River não estava em condições de ser percorrido, e por isso terminámos a nossa jornada numa casa ao lado de uma aldeia chamada Amini.
Já era tarde, e mais tarde ficou depois de termos descarregado tudo e termos transportado tudo para dentro de casa. O motorista e ajudante iam voltar para Vanimo nessa mesma noite! Acabámos por não jantar nessa noite, pois estávamos cansados e queríamos deitar e dormir. Connosco, estavam na mesma casa Joseph, o seu filho Jeremy, e mais 5 homens. O dia seguinte era o início da descida do rio Sepik.
Dia 2: De Amini – Baio ao longo do rio Dio
Levantámo-nos cedo, pois a partir dali o nosso ritmo era ditado pelo sol. Ninguém à nossa volta usava relógio, de tal forma que não tínhamos a certeza da hora e se (como pensávamos) a hora na PNG era adiantada em relação à Papua Indonésia.
Tomámos o pequeno-almoço à volta de uma pequena fogueira, onde foi aquecida água para o chá. Fomos de seguida com o Joseph visitar a aldeia vizinha de Amini. O mercado da aldeia, essencialmente algumas pessoas sentadas no chão a vender produtos agrícolas, peixe ou até umas pequenas tartarugas (ou cágados?)! As pessoas ficavam admiradas por nos ver e curiosas em saber como tínhamos chegado ali. Algumas (poucas) pessoas falam algumas palavras de inglês, incluindo o responsável pela escola da aldeia, com o qual fazemos conversa.
Mas estava na hora de regressar. Tínhamos dormido nas margens do rio Dio, um afluente do Sepik, e seria ali que iniciaríamos a descida do rio. Joseph pensou em usar uma canoa (escavada em tronco) com um pequeno motor, como costuma fazer no Médio Sepik, mas as distâncias envolvidas nesta expedição, aliadas à baixa profundidade da água no rio Dio, tornavam a canoa uma opção instável e não confiável. Sendo assim, iríamos viajar num barco mais largo e com um motor mais potente. O barco estava pronto e já estava a ser carregado quando lá chegámos, mas ainda tivemos de esperar mais algum tempo antes de partir.
Finalmente, partimos. O calor já se fazia sentir com intensidade e o sol queimava a nossa pele. Íamos sentados no meio do barco. Atrás de nós ficava Joseph, e Andi, o seu primo. Ao leme e controle do motor estava Jeremy e, ao seu lado, Joel. À frente, Joe-Joe ia na proa do barco, com Jackson e Russell, um de cada lado. Porquê tanta gente? Porque Novembro coincide com o final da época seca, e o nível da água no rio Dio é muito baixo, e é necessário navegar com cuidado para evitar bancos de areia e troncos de árvores no fundo.
Em muitos momentos, o barco fica preso e o motor tem de ser desligado. Quatro ou cinco dos nossos companheiros saltam para a água e empurram o barco para uma zona onde, cm a ajuda de remos, nos levam para onde a água é mais profunda e a corrente nos leva rio abaixo.
O rio Dio tem uma largura de cerca de 20 m e a floresta equatorial intocada é densa até à linha de água, não deixando ver nada para além disso. Para ver mais longe, lançamos o drone e temos uma perspectiva da floresta e do percurso do rio. Comemos em andamento, e quase não paramos, e passamos por vezes por locais que atravessam o rio a pé. O calor é abrasador, e a Carla, à semelhança dos nossos companheiros, não resiste à tentação de se refrescar nas águas do rio.
Após cerca de seis horas de viagem, chegamos à desembocadura do rio Dio no rio Sepik e temos uma noção da grandeza deste último. A largura do rio Sepik é ali cerca de 100m e o volume de água é impressionante, mesmo em época seca. A partir dali, a nossa progressão é muito mais rápida, sendo o motor desligado poucas vezes. O dia estava perto do fim, e precisávamos de chegar ao nosso destino do dia antes de anoitecer. A aldeia onde iríamos ficar alojados era Baio, na margem direita do Sepik.
À chegada, tivemos a sensação de estar a pôr o pé num mundo extraterrestre. O piso era só lama negra, e tínhamos de caminhar com cuidado para não nos afundarmos, por vezes com a ajuda de troncos no chão. A aldeia tem algumas casas em madeira e os seus habitantes parecem saídos de um filme, com pouca ou nenhuma roupa e olhar fixo sobre nós. O facto de estarmos com Joseph e os nossos companheiros ajudou, claro, ao encontro. As crianças exibem barrigas proeminentes, provavelmente fruto de um parasita na água que consomem directamente do rio, onde também tomam banho e fazem as suas necessidades fisiológicas.
O povo desta aldeia pertence à tribo de Green River, e as pessoas foram muito simpáticas, embora houvesse uma barreira linguística (e cultural) entre nós e eles. Somos instantaneamente rodeados de crianças curiosas, que tocam no cabelo da Carla. Trocamos algumas palavras com uma adolescente que fala um pouco de inglês e eu converso um pouco com o professor da escola da aldeia (que é na outra margem do rio, em frente, e serve várias aldeias das redondezas).
Depois de Joseph negociar a nossa estadia, ficámos todos alojados na mesma casa, só para nós. As casas são construídas sobre estacas, de forma a escapar às cheias do rio na época das chuvas. Mesmo na época seca, no entanto, a chuva normalmente dá o ar da sua graça ao final do dia nas zonas equatoriais. O calor do dia provoca chuvadas intensas, mas curtas, ao final da tarde ou durante a noite, muitas vezes acompanhadas de tempestades eléctricas. Na nossa primeira noite no Sepik, foi isso que testemunhámos.
Os clarões dos relâmpagos iluminavam a aldeia, de outra forma completamente às escuras. A chuva alagou por completo o terreno tonando-o um autêntico pântano. Mas nós também não precisávamos de sair; o Joseph estava noutra casa a preparar-nos o jantar, enquanto os nossos companheiros comiam piranha do Sepik (menos vorazes do que as do Amazonas) frita, acompanhado de sagu, uma farinha obtida da palmeira. Nós acabámos por comer um prato de noodles e ficámos a pensar como seria o sabor da piranha…
Durante a noite, ainda apanhámos um susto pois ouvimos barulhos por baixo da casa e pareceu-nos que iam entrar dentro da cabana (sem porta que fechasse devidamente), mas acabámos por dormir confortavelmente nos nossos colchões no chão e protegidos por uma rede mosquiteira.
Dia 3: Descendo a Alto Sepik de Baio até Iniok
Logo de manha, ainda o sol não se tinha erguido, começou-se a ouvir um burburinho. Joseph e os nossos companheiros já estavam de pé quando nos levantámos e disseram-nos que a aldeia estava em peso à espera que saíssemos da cabana. Lá fora, parecia que era uma visita papal ou da Rainha de Inglaterra… Mas éramos nós o alvo de curiosidade. E parecia que as pessoas sabiam que os brancos tinham um aparelho que voava… Até o pastor se chateou porque ninguém queria ir à missa!
Mesmo antes do pequeno-almoço foi hora, então, de voar o drone. Foi o delírio de crianças (e não só) e deu para termos uma perspectiva lindíssima do Sepik, das suas margens florestadas, e dos seus meandros característicos. Depois fomos comer o pequeno-almoço à cabana em frente da nossa, e conversámos (com a ajuda do Joseph) com o dono da casa onde tínhamos dormido. Mas estava na hora de partir, pois tínhamos uma longa jornada pela frente.
A partida da aldeia foi tão surreal como a chegada. Toda a gente se reuniu junto à margem para se despedir de nós. E foi ali que presenciámos uma cena que não esqueceremos, quando duas miúdas descem a margem, aproximam-se da água e bebem do rio. Mas bebem directamente do rio, não com as mãos, mas curvando-se e levando a boca à água. Uma cena impressionante que é o retrato fiel do que é a vida nas margens do Alto Sepik.
Descemos então o rio Sepik, andando sempre às curvas, seguindo o trajecto em meandros, característicos de um rio que corre em terreno tropical. É comum também a existências de ilhas, principalmente na época seca. Por vezes, e para poupar algum combustível, Joseph e os nossos companheiros decidem ir por atalhos, ou seja, partes do rio mais curtas, mas estas têm menos água e é necessário ir mais devagar e por vezes parar o motor e empurrar o barco. Poupa-se o combustível, mas gasta-se mais tempo e energia…
Ainda de manhã, paramos numa aldeia chamada Aukon, onde vive o povo da tribo Edwagi e onde fazemos uma caminhada ao longo do rio. É uma aldeia já mais evoluída do que Baio, com um campo de futebol onde as mulheres jogam, e um mercado onde se vendem vegetais e cocos. O Joseph aproveita para fazer umas compras para o jantar e nós bebemos água de coco, pois o calor aperta.
Os miúdos continuavam a ser aqueles que demonstravam mais curiosidade por nós… e vice-versa! Muitos andam totalmente nus, enquanto outros vestem roupa ocidental muito, mas muito gasta, a maior parte das vezes rasgada ou furada.
Curiosamente, muitas miúdas usam uma t-shirt de adulto como saia, sendo que o buraco do pescoço na cinta e as mangas viradas para dentro. Nova moda! Nesta aldeia, os rapazes divertiam-se com arcos e flechas (algo que já tínhamos visto em adultos, inclusive na estrada entre Vanimo e Green River), num jogo cujo objectivo era destruir as setas dos outros usando as suas próprias setas.
Voltámos ao barco e passado pouco tempo parámos para almoço, embora a tripulação tenha comido rato na aldeia anterior, num ponto do rio onde se encontra uma estação de uma companhia madeireira. Aproveitámos uma sombra e comemos umas sanduíches.
Mas a visão dos camiões a chegar, carregados de enormes troncos, tira o apetite a qualquer um. Quando passámos junto a um camião, o cheiro da seiva fresca a escorregar dos troncos fez-me lembrar o sangue dos búfalos sacrificados em Tana Toraja e toda a floresta me pareceu um ser vivo lentamente a ser sacrificado em nome do lucro e do conforto de alguns. Uma visão muito triste mas que poderá ser muito pior nos próximos anos se o ímpeto devorador das multinacionais madeireiras pela floresta da PNG não for controlado.
De tarde, o sol era difícil de aguentar. Eu tapava-me todo com um lenço, sofrendo com mais calor, mas protegendo-me de queimaduras solares nos braços e pescoço. Finalmente, começava a ficar menos calor com o aproximar do final do dia.
A viagem decorria normalmente, até que Joseph começou a discutir com os seus companheiros de viagem. Aos berros, disse-lhes que era ele o responsável pela expedição e ele é que decidia o que fazer. O problema é que alguns estavam convencidos que chegaríamos a Ambunti nesse dia, mas Joseph sabia que não podíamos navegar durante a noite. Demos volta ao barco, e dirigimo-nos um pouco para montante para perguntar numa aldeia a ver se podíamos passar lá a noite. Nessa aldeia, não havia casa onde pudéssemos ficar, mas aconselharam-nos tentar uma aldeia na outra margem, logo acima. Assim fizemos.
A aldeia de Iniok, habitada pelo povo de May River, recebeu-nos de braços abertos. Ali, os rapazes com mais de doze anos de idade vivem todos na mesma casa até casarem e estabelecerem família própria. Ali ficaram alojados os nossos companheiros. Nós, um casal, fomos alojados numa casa de uma família, com uma menina de dois anos e um menino de sete anos.
A escada para entrar na casa era um tronco de palmeira esculpido em degraus e era preciso alguma ginástica para subir e descer com as mochilas às costas. No centro da casa, uma fogueira permitiu que o Joseph fizesse ali o nosso jantar, que partilhámos com a família.
Pouco depois de nos instalarmos, começou uma tempestade e chuva forte. Parte do telhado deixava entrar água, por isso tivemos de nos posicionar estrategicamente na já exígua sala. Ao lado, o nosso “quarto” era apenas um canto da casa onde montámos a nossa cama e encostámos as nossas mochilas. Antes de dormir, fomos à casa de banho, exterior à casa, não mais do que uma pequena cabana com 4 paredes e telhado e um buraco lá dentro, mas um luxo que tínhamos pela primeira vez no Alto Sepik.
Durante a noite, um dos cachorros que viviam debaixo da casa não parava de ladrar e ganir, até que o dono da casa se levantou, foi lá baixo, e silenciou o cão. Não sabemos como, mas também não perguntámos. A vida no Alto Sepik é assim; dura e crua.
Dia 4: Descendo a Alto Sepik de Iniok até Ambunti
De manhã, tomámos o pequeno-almoço e partimos de barco. Tínhamos ainda um longo caminho pela frente se queríamos chegar a Ambunti nesse dia. Pelo caminho, visitámos a aldeia onde a mulher de Joseph nasceu, Kubkai. Junto ao rio, as mulheres lavavam e espremiam o sagu, e os homens construíam o esqueleto em madeira de uma nova casa.
Fomos convidados a entrar na casa da família da mulher de Joseph, onde estavam os sogros de Joseph. Curiosamente, é tradição do povo daquela zona do Alto Sepik que o homem e a mulher não possam entrar em casa pela mesma porta, por isso as casas têm sempre duas entradas e duas escadas.
Mas estava na altura de regressar ao barco e ao rio Sepik. De novo nos meandros do rio, e de novo navegando com cuidado para evitar os baixios, comuns na época seca. Depois de navegarmos por um labirinto de estreitos meandros do rio Sepik, chegámos à nossa paragem seguinte, a aldeia de Swagup, já na região de Ambunti. Ali vive o povo-insecto, pois os deuses que adoravam pertenciam ao reino dos insectos, por exemplo o louva-a-deus.
Logo que desembarcámos, pudemos assistir a um grupo de homens a trabalhar numa canoa, sendo que a proa das canoas é trabalhada, normalmente representando a cabeça de uma serpente ou de um crocodilo.
A biodiversidade do rio Sepik é aliás lendária, incluindo crocodilos de água doce e de água salgada, mais de 50 espécies de lagartos e mais de 40 espécies de sapos. A caça aos crocodilos foi sempre praticada no rio Sepik, em particular no Alto Sepik, mas de uma forma sustentável, sendo a sua carne consumida pelas populações locais, e a sua pele vendida nos mercados (para depois ser exportada).
Não existem ainda estudos, mas estima-se que o aumento das actividades mineira e madeireira no Sepik tenham tido, nos últimos anos, efeitos nefastos sobre a população de crocodilos. Nós não vimos nenhum durante a nossa descida do rio, nem no Alto Sepik, nem no Médio Sepik. Pelo menos vivo… Na aldeia de Swagup, havia vários crânios de crocodilos espalhados pelas casas, alguns impressionantes pelo seu tamanho (e no caminho para lá vimos um enorme lagarto, tipo iguana, a esconder-se nas margens do meandro).
Em Swagup, estivemos também na nossa primeira haus tambaran, a casa dos espíritos, que ali também funcionava como casa dos rapazes (não casados). Ali pudemos admirar umas belas estátuas de madeira representando o deus louva-a-deus, e enormes tambores de forma cilíndrica, ocos, e trabalhados nas suas extremidades.
Depois de deixarmos Swagup, fizemos uma paragem técnica numa pequena aldeia só para comprarmos combustível, um bem raro e caro no Sepik. Depois dirigimo-nos para a aldeia de Pruknawi, a aldeia onde Joseph nasceu, e onde vive o povo Yetma. Aí a paragem foi rápida, porque o dia estava a chegar ao fim e ainda tínhamos de chegar a Ambunti. No entanto, ainda pudemos ver os homens a trabalhar numa canoa, usando arbustos a arder no seu interior para suavizar a superfície. Ao lado, uma pele de crocodilo ainda suja de sangue e rodeada de moscas, secava ao sol, e disseram-nos que o crocodilo tinha sido caçado na noite anterior.
Mas tínhamos de prosseguir, para chegar a Ambunti, a principal cidade do Médio e Alto Sepik, mas que não é muito maior do que algumas aldeias onde estivemos. Quando chegámos, o sol poente já iluminava os céus de tonalidades laranja. A família do Joseph recebeu-nos com um sorriso e muita hospitalidade. O neto de Joseph (com o mesmo nome, mas abreviado para JK) estava com saudades do pai e saltou para os braços de Jeremy.
As casas de Joseph e da família eram muito semelhantes às de outras aldeias onde passámos e ficámos, sendo que a única diferença notória é que, nessa noite, havia um gerador a funcionar e pudemos carregar as baterias das máquinas fotográficas e do telemóvel. Quanto ao resto, foi muito parecido. Ficámos na casa de Jeremy e da sua mulher, Rachel. Joseph fez o jantar, mas antes ainda fomos presenteados com a oferta de umas pulseiras e, para a Carla, uma fita do cabelo e uns brincos. Nós retribuímos com dois postais assinados do Portugal e de Guimarães.
À noite descansámos um pouco melhor, pois tínhamos já cumprido a parte mais difícil da nossa expedição pelo Alto Sepik. Mandámos mensagens sms para casa, pois já não dizíamos nada desde que tínhamos saído de Vanimo, e preparámo-nos para o dia seguinte. Estava na hora de explorar o Médio Sepik.
Este artigo foi realizado durante a nossa viagem de Volta ao Mundo em 2019/2020. Dias 137 a 140 – ALTO SEPIK, a descida do rio Sepik (de Vanimo a Ambunti) | Papua Nova Guiné (Novembro 2019)
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Parabéns Rui e Carla! A vossa viagem está a ser incrível. E percorrer o Sepik, conhecer as várias tribos e aldeias é sem dúvida um privilégio. Acredito que o choque cultural e as condições simples que encontraram não devem ter sido fáceis. E, por tal, obrigada por partilharem esta vossa experiência. Parece que estamos no barco convosco!
Muito obrigada, Marlene. Esta aventura foi o resultado de um momento de inspiração e depois de muita garra para a levar a cabo. Tivemos muitas dúvidas no processo mas depois de terminar, só tenho recordações positivas. Foi a aventura de uma vida.