Aquele era o nosso último dia a viajar em Omã. Tínhamos perdido o nosso primeiro dia devido ao overbooking do nosso voo (ganhando a oportunidade de visitar Zurique), e por isso a exploração de Mascate (ou Muscate), a capital de Omã, ficou para o último dia. Até lá, passámos várias noites na cidade, mas sempre em trânsito para outra região, por exemplo, quando iniciámos o nosso périplo pelo norte de Omã e a região montanhosa de Nizwa, e a nossa exploração da região de Dhofar e a cidade de Salalah.
Mascate é uma cidade com uma longa história, mas a parte mais recente, e aquela que tem directa influência na construção do próprio Sultanato de Omã, tem, como protagonistas antagónicos, os portugueses. E isso nota-se na própria estrutura da cidade, que foi evoluindo ao longo dos séculos, sendo que a malha urbana foi engolindo diversos núcleos menores, culminando na forma actual, em que as diferentes zonas da cidade distam entre si vários quilómetros.
Mascate propriamente dita era a cidade muralhada dos portugueses, onde se localizam agora os palácios reais, circundada ainda por uma reconstrução das muralhas (demolido o que restava das originais em 1983); Mutrah (ou Matrah), era originalmente uma pequena vila de pescadores, e é onde se localiza o labiríntico “Mutrah Souq”; e Ruwi é agora o centro comercial e diplomático da cidade.
Para além destas, existem várias outras zonas na zona metropolitana de Mascate. Esta estrutura pode causar inconvenientes aos seus visitantes, dadas as distâncias envolvidas, nomeadamente no que toca à escolha do alojamento. Nós acabámos por escolher ficar na zona de Mutrah, no Mutrah Hotel, com acesso fácil ao souq, e não demasiado longe da velha Mascate, revelando-se uma escolha acertada.
Começámos o nosso dia pelo Mercado de Peixe, que visitámos antes da chegada de alguns turistas, e que revela a importância que a pesca ainda tem no modo de vida tradicional omanita.
A seguir, decidimos visitar a Grande Mesquita do Sultão Qaboos, e, aí sim, onde tivemos o nosso primeiro e único “banho de multidões de turistas”. Para lá chegar, foi indispensável o táxi, embora fosse possível ir de autocarro, mas que nos consumiria mais tempo (que não tínhamos).
Para além da arquitectura moderna impressionante, fizemos uma visita muito interessante ao Centro Islâmico da mesquita, onde tivemos uma conversa bastante esclarecedora com um estudioso do Islão, nomeadamente sobre a aplicação da lei Shaaria nos países islâmicos.
Regressados a Mutrah, decidimos percorrer a marginal (cornija) em direcção à Velha Mascate. É aqui que o legado português começa a ser incontornável. A localização estratégica do Golfo de Omã, ligação entre o Mar Arábico e o Golfo Pérsico, tornou Mascate desde sempre um território cobiçado por diversos impérios.
Os portugueses chegaram em 1507, capitaneados por Afonso de Albuquerque, um homem com uma visão megalómana de um domínio português do Médio Oriente, África e Ásia. Tomada a cidade a ferro e fogo, os portugueses mantiveram o controlo de Mascate até 1650.
O porto abrigado da cidade, rodeado em três lados por montanhas, tornou-se o centro do domínio português, que se traduziu na construção de um complexo defensivo, uma série impressionante de fortificações e muralhas, que defendiam a cidade dos ataques de persas e turcos, e que ficou conhecida como Fortaleza de Mascate. Após a queda do Forte de Nossa Senhora da Conceição de Ormuz, em 1622, a sua guarnição e população portuguesa, vieram para Mascate, que se tornou a base militar portuguesa mais importante no Oriente.
Finalmente, em 1650, os portugueses seriam derrotados, naquele que é considerado o início da independência do país. Também pertencente ao sistema de defensivo de Ormuz, Khasab (Caçapo), na península de Musandam (hoje território de Omã), era fundamental para o controlo do estreito de Ormuz. O seu abandono, em 1656, marca o fim da presença portuguesa no Golfo Pérsico. Os omanitas continuariam a ser dos principais rivais dos portugueses no século seguinte, destronando a presença portuguesa de Zanzibar e de toda a costa oriental africana até Moçambique.
No nosso percurso pela marginal, a presença portuguesa era omnipresente. Do outro lado da marginal, em linha recta em frente ao mercado de peixe, encontra-se imponente o Forte de Mutrah, hoje ocupado pela polícia, e fechado a visitantes.
Seguindo a Al Bahri Road, chega-se a uma ponta de terra onde se encontra uma torre de guarda (portuguesa), de onde se tem vistas fabulosas sobre o porto.
Em frente, chegamos às muralhas da Velha Mascate. Ali começámos por visitar o Bayt al Zubair, uma residência apalaçada renovada, onde se encontra um pequeno museu etnográfico sobre a cidade e Omã. Perto dali aproveitámos para almoçar e beber muitos líquidos, pois o calor era difícil de suportar.
Dali dirigimo-nos à zona do Palácio do Sultão, residência oficial do Sultão Qaboos. Mas os edifícios mais imponentes continuam a ser os fortes gémeos portugueses, de um e outro lado do palácio.
Como fazem parte do complexo palacial, estão fechados a visitantes, embora ainda tenhamos contactado o Ministério do Turismo de Omã no sentido de os visitarmos por dentro, não obtendo qualquer tipo de resposta. São eles o Forte de Al Mirani (antigo Forte do Almirante), e o Forte Al Jalali (antigo Forte de São João), tendo este último um carácter inexpugnável, já que se encontra num promontório rochoso e é apenas acessível por uma série de degraus escavados na rocha.
Ambos os fortes datam de 1588, altura em que os portugueses reforçaram o complexo defensivo de Mascate, após uma ofensiva dos turcos.
Apanhámos um táxi de volta ao porto e à zona de Mutrah. Ali terminámos o dia fazendo compras no souq de Mutrah, jantando e descansando na cornija, e fazendo o balanço da nossa viagem. Tal como os nossos antepassados séculos atrás, estava na hora de dizer adeus a Omã e à Península Arábica.
Voltaremos, no entanto, quando houver oportunidade, pois temos curiosidade em visitar outros países do Golfo, nomeadamente a Arábia Saudita e o Iémen. O primeiro não permite a entrada a não-muçulmanos nas cidades sagradas, e o segundo está envolvido numa guerra civil. O panorama não se afigura favorável, mas há que ter esperança! Até lá, dizemos adeus às terras das arábias.
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fuquei fascinada!! mas nesta altura do camponato já só poss viajar em cruzeiros..
domage!!
Talvez um dia destes ganhe coragem e vai visitar Omã e Muscate.