Dirigimo-nos de carrinha até ao extremo sul de Longyearbyen, onde nos equipamos com crampons e bastões, e guardamos os capacetes e lanternas nas mochilas para mais tarde. A previsão do tempo não era muito boa. O dia começava cinzento, e o vento ameaçava atingir valores incomodativos, especialmente em montanha. Mas a verdade é que, apesar do sol não aparecer, o vento também não se fazia sentir, e o dia era o mais quente desde que tínhamos chegado: uns impressionantes – 5 °C!
O Mirko é italiano, muito simpático e entusiasta das montanhas, e rapidamente encetamos uma animada conversa. O nosso destino é o glaciar Lars, um dos dois localizados nas redondezas de Longyearbyen. Depois de atravessarmos o leito do rio, que no verão escorre a água do degelo do glaciar mas que agora está completamente gelado e coberto de neve, iniciamos a subida da montanha. A neve está fofa, mas por vezes passamos por zonas em que a superfície é gelo duro. A subida é um pouco íngreme, mas o Mirko faz algumas paragens de descanso e continua sempre na conversa. Quando, mais acima, nos disse que já estávamos em cima do glaciar, ficamos surpreendidos, pois a neve cobria completamente qualquer vestígio da superfície gelada do glaciar.
A partir daqui, o relevo tinha um declive bastante mais acentuado, acompanhando o perfil inclinado do glaciar e especial para os trilhos invernais. Paramos um pouco para tomar uma bebida quente e, quando avistamos os sinais que marcavam a entrada da gruta, o vento já se fazia sentir, e o Mirko teve de escavar um pouco para retirar a neve fresca que cobria a entrada. Equipamo-nos com o capacete e a lanterna frontal e descemos, deslizando por um túnel de cerca de dez metros até uma pequena antecâmara, que é o início da gruta. BRUTAL!
Na realidade, o que estamos a visitar não é uma gruta de gelo, mas sim um canal de escorrência da água do degelo do glaciar. No Verão, a água escava uma rede de túneis no interior do glaciar, que no inverno estão secos e podem ser explorados. O interior é assim um túnel ladeado por paredes de gelo, com sedimentos de diferentes dimensões.
O tecto do túnel nunca está a mais do que 4-5 metros de altura, e por vezes podem admirar-se formações de estalactites de gelo. A descida é por vezes de declive acentuado, sendo necessária a ajuda de cordas ou escadas, o que denuncia a trajectória seguida pela água em direcção à frente do glaciar, muito mais abaixo no vale.
Por vezes o túnel estreita bastante, e numa das descidas é praticamente da largura dos nossos ombros. Acho que deveríamos ter feito dieta antes desta tour! O Mirko vai dando pormenores relativos ao glaciar, mas como temos uma especialista connosco, ele e eu aproveitamos para aprender com a Carla um pouco mais acerca da formação destes túneis e da dinâmica dos glaciares.
O “fim” do túnel é um buraco quase na vertical e, por razões de segurança, a visita não pode ir mais além. Voltamos para trás. A escuridão seria completa, se não fossem as lâmpadas dos nossos capacetes, assumindo o gelo diferentes tonalidades quando iluminado.
Até então, a gruta tinha sido só para nós. Na subida, cruzamo-nos com um grupo grande que iniciava a descida, e à saída, enquanto os nossos olhos se habituavam à claridade da neve e gelo circundantes, chegava mais um grupo. O vento estava forte e a neve levantava e atingia-nos na cara.
Começamos a descer, a favor do vento. O sol dava um ar da sua graça e o céu mostrava alguns tons de azul. Em cerca de uma hora, estávamos de volta à carrinha e era tempo de regressar à cidade. Apesar de um pouco cansados, sentíamo-nos perfeitamente satisfeitos, tendo o tour estado à altura das nossas expectativas. Para aqueles que amam as montanhas, neve e gelo, esta aventura de num trilhos invernais é altamente recomendável.
ONDE DORMIR
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