Num dos dias que passámos em Tromso decidimos abraçar a cultura do norte da Noruega e, como estávamos na Lapónia norueguesa, visitar uma pequena comunidade Sámi. Os Sámi, também conhecidos por Lapões, não gostam nada de serem apelidados assim já que a palavra está relacionada com a forma como se vestem, sendo originalmente empregada como termo pejorativo, uma vez que os Sámi usavam restos de roupas feitas de peles de animais, que colocavam em camadas, para se vestirem. Vítimas de fortes descriminações e inclusive perseguições, até pelo governo norueguês na década de 20 do século passado, os Sámi preservaram a sua cultura ao longo dos tempos, muitas vezes na clandestinidade. Porém os tempos mudaram e os Sámi hoje são uma das comunidades mais protegidas na Noruega.
Actualmente, as roupas coloridas dos Sámi fascinam visitantes e locais, contrastando com a brancura da neve do Inverno nestas regiões do globo. Continuam a vestir-se com diversas camadas, muito coloridas e ornamentadas, com símbolos que representam as famílias e a região a que pertencem. Têm um idioma próprio embora com vários dialectos, muitas vezes incompreendidos mesmo entre eles.
A Lapónia constituí uma região natural acima do Circulo Polar Árctico que se divide pelos territórios da Noruega, Suécia, Finlândia e Rússia. Originalmente nómadas, os Sámi vivem hoje como qualquer família norueguesa, embora muitos continuem a manter as suas tradições ancestrais. Outrora caçadores de renas, alces, raposas, coelhos, baleias, morsas e focas, hoje raramente recorrem a estas actividades. Os tempos mudaram e as famílias descobriram outras formas de vida. A maioria vive como qualquer habitante urbano e a sua identidade cultural passa completamente despercebida. No entanto, de acordo com a lei da Noruega, os Sámi são os únicos que podem ser criadores e caçadores de renas, bem como caçadores de baleia (o que só acontece nas ilhas Lofoten). O nomadismo acabou. Os Sámi são obrigados a ter uma habitação fixa e as suas crianças a frequentar a escola, como qualquer norueguês.
Dizem que os antepassados Sámi chegaram à Lapónia pouco depois do final da última idade do gelo, há cerca de dez mil anos, e desde essa altura que o povo se foi adaptando a estas condições naturais adversas, aprendendo a conviver de forma harmoniosa com a natureza e ao seu ritmo. O degelo do Árctico terá permitido o aparecimento das plantas e dos animais e por conseguinte a fixação do homem. Estas condições naturais são determinantes na vida dos Sámi ainda hoje e, no seu idioma, existem mais de cem formas de caracterizar a neve e o gelo, bem como mais de cinquenta para se referirem às renas.
A família que visitámos próximo de Tromso era criadora de renas. Durante os meses de Verão, as renas andam livremente pelos bosques e montanhas, seguindo o ritmo da tundra e procurando o alimento abundante. Seguem uma espécie de migração em busca dos pastos mais verdejantes. No Inverno, uma camada de neve e gelo cobre a tundra e a busca de alimento é difícil. Algumas conseguem encontrar musgos e sobreviver em estado selvagem mas muitas renas procuram as comunidades sámi em busca de alimento mais fácil. É uma espécie de relação de simbiose. As renas procuram alimento junto dos Sámi, estes utilizam-nas para a sua sobrevivência, domesticando algumas delas, recolhendo o leite e hastes, e sacrificando aquelas que precisam para a sua sobrevivência de forma a terem peles e poderem consumir a sua carne.
Hoje a cultura Sámi está a ganhar força e as famílias são cada vez mais orgulhosas do seu passado e legado cultural. O turismo tem constituído um importante factor de afirmação na medida em que é cada vez mais valorizada a diversidade cultural e os Sámi encontraram novas formas de gerar receitas sem terem de abandonar as suas terras e tradições.
Visitámos uma comunidade Sámi através da agência Tromso Arctic Reindeer. Quando fomos recebidos pela família sámi numa tenda enorme, uma das senhoras explicou-nos a cultura Sámi e cantou-nos um yoik, uma melodia doce e sem letra que funciona como oração.
Seguimos depois para a zona onde recebem as renas pela manhã. Algumas descem todos os anos dos bosques e das montanhas em busca de alimento. Juntámo-nos à família e pegámos num balde para alimentar as renas mais audazes e que se chegavam a nós. Outras preferiram ir buscar o seu alimento às manjedouras instaladas. Foi uma experiência fabulosa e incrível.
Os Sámi usavam também as renas como auxílio para se moverem na neve, criando trenós de renas. Hoje estas já não são usadas para isso, já que as motas de neve e os carros são agora os trenós dos tempos modernos. No entanto, esta realidade ainda é recriada na comunidade e os visitantes podem experimentar um pequeno passeio pelo bosque e fiorde próximo. As renas oferecem alguma resistência para serem amarradas ao trenó já que são selvagens e não gostam nada de andar presas. Quando se trata de correr, aí, a conversa já é outra. Partem com grande força e correm pela tundra gelada como se não houvesse amanhã. O passeio é pequeno mas a experiência vale sobretudo por ver recriar a montagem dos trenós e a forma como os Sámi lidam com as renas.
No final do passeio, comemos um delicioso estufado de rena, cozinhado ainda em forno de lenha, dentro da tenda sámi. Estes estufados de rena são a base da alimentação destas comunidades no Inverno. As bagas de frutos silvestres preenchem as suas escolhas gastronómicas no Verão.
O almoço foi acompanhado por uma explicação da matriarca da família sobre curiosidades e tradições das famílias sámi, que até teve direito a mais um yoik. Para os mais aventureiros ainda é possível experimentar algumas técnicas de caça sámi, nomeadamente o lançamento do laço usado para apanhar renas nos bosques.
Actualmente as comunidades sámi constituem cerca de 70 mil habitante distribuídos pela Lapónia, cerca de 35 mil dos quais habitam a Noruega. As coisas estão a mudar e os Sámi estão agora mais organizados e em Karasjok, ali na Noruega, já têm o seu próprio parlamento, um centro de artistas e um parque cultural destinados à preservação da sua cultura e tradições. O Árctico tem centenas de razões para ser visitado e, embora as Auroras Boreais sejam a sua imagem de marca, há imensa cultura para descobrir nesta região do globo.
Dormir em Tromso
Há muitas opções de alojamento na cidade de Tromso, embora a maioria sejam com preços que rondam os 200€/noite. Os melhores alojamentos para ficar na cidade são:
- Smarthotel Tromsø
- Enter Backpack Hotel
- Enter Amalie Hotel
- Enter City Hotel
- Scandic Grand Tromsø
- Enter Viking Hotel
- Comfort Hotel Xpress Tromsø
Com alguma pesquisa conseguimos descobrir um hotel/aparthotel com quartos por 80€/noite, e com wc privado e cozinha comum. Escolhemos logo o ABC Hotel. É um lugar calmo e os quartos são muito bons e aquecidos. Tem inclusive vistas fantásticas sobre o fiorde. Em termos de localização, é brutal pois fica mesmo no centro de Tromso. Outros apartamentos são:
Outra boa opção é o camping:
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É por posts como estes que dá gosto seguir-vos 😊. Só pelas fotos, já dá para perceber que foi espectacular!! Já vai para a lista de desejos.
Obrigada, Marisa. 😀