As ilhas Quirimbas são um arquipélago em Cabo Delgado no norte de Moçambique. Chegar lá não seria fácil, estar lá também não, mas foi muito bom e, com certeza um dos pontos altos da nossa viagem em Moçambique. Era quatro da manhã quando saímos da ilha de Moçambique para apanhar um carro que nos levaria até à estrada principal e depois um autocarro até Pemba, a capital de Cabo Delgado. Ali tínhamos um transfer combinado para atravessar território disputado por insurgentes e militares moçambicanos. Quase 5 horas em estradas de terra batida para fazer 100 km, onde check points nos obrigam a parar, e milhares de deslocados vivem em tendas criadas pela ONU e habitações precárias. Tudo isto para chegar às ilhas Quirimbas.
Ao fim do dia, chegamos ao molhe onde apanhamos o barco final que nos levou até uma das ilhas Quirimbas, outrora a capital da província de Cabo Delgado.
Visitar as ilhas Quirimbas
Visitar as ilhas Quirimbas, neste contexto, foi como visitar os rescaldos de um cenário de guerra, com as populações locais dividirem as Quirimbas com milhares de deslocados, que perderam tudo para não perder a vida.
O turismo já não aparece nas Quirimbas desde 2020 e, nos dias que ali estivemos não havia estrangeiros nas ilhas, até as instituições governamentais e ONGs cancelaram a ajuda humanitária devido à instabilidade em Moçambique.
Encontramos um lar no único alojamento aberto nas Quirimbas, que recebe missões humanitárias e todos os forasteiros que passam por ali.
Nos dias que passamos nas ilhas Quirimbas exploramos o passado colonial português na companhia de um ancião local, descobrimos a casa da família de um amigo da Carla, nadamos em barcos afundados e bancos de areia e, depois de atravessar o mangal a pé durante 3 horas, encontramos a praia mais bela de Moçambique na ilha Quirimba.
Ali nas Quirimbas vivem deslocados e população das ilhas, que partilham os peixes que vivem no mar e que saciam a fome de milhares de pessoas. Foram esses mesmos pescadores que nos preparam o peixe do almoço, nas ruínas de um local queimado e destruído pelos insurgentes há cerca de 6 meses.
A vida ali nas Quirimbas nunca foi fácil, apesar das ilhas serem o cartão postal do paraíso. Contudo, a falta de água doce, a escassez cada vez maior de peixe e o aumento da população tem levado a um esgotamento cada vez maior dos recursos naturais.
O mar dá cada vez menos peixe e a falta de educação e orientação, associado à escassez de alimento, agrava a situação nas Quirimbas. Os pescadores usam redes mosquiteiras para pescar e tiram o peixe do mar com cerca de um ou dois centímetros, impedindo o seu crescimento. A necessidade de alimento não nos dá margem para sequer fazer grandes julgamentos. As crianças estão desnutridas, os adultos muito magros e ali nas Quirimbas falta quase tudo.
Mas há vida e onde já vida há esperança! E ali nas Quirimbas, mesmo as populações mais cansadas carregam esperança no coração e muita vontade de regressar às suas machambas em terra firme, devolvendo aos ilhéus as suas ilhas e a sua vida recatada. Até lá, a esperança comanda as suas vidas.
ENTRAMOS E SAIMOS EM SEGURANÇA DE CABO DELGADO
Cabo Delgado é, nos últimos anos, um dos lugares mais instáveis de Moçambique.
Desde 2017 que as notícias dão conta de uma infiltração de radicais islâmicos na província e instabilidade nas ilhas Quirimbas. As notícias em relação à região são muito contraditórias, quer em termos de segurança, do modo operandos dos chamados insurgentes ou do que se passa ali.
Cabo Delgado é uma das regiões mais ricas de África e do mundo. Com grandes reservas de gás natural e pedras preciosas, como diamantes e rubis, é fácil de perceber que os interesses em jogo ali são muitos.
Todos querem deitar a mão num quinhão deste território e a insegurança da região ajuda a impunidade e ao saque dos recursos naturais. É assim por toda a África.
Por Cabo Delgado dizem-nos que os chamados insurgentes são jovens e crianças das aldeias que foram armadas para servir os interesses de alguns. Muitas nem conseguem segurar as próprias armas que transportam. São estes os relatos que escutamos nas ilhas Quirimbas.
Nos primeiros anos, os actos de terror eram comuns e muitas foram as populações que fugiram do interior da província para as ilhas Quirimbas. As suas terras ficaram livres e onde outrora existiam machambas (campos agrícolas) hoje estão minas e futuros locais de extração confeccionados aos donos disto tudo.
As populações foram obrigadas a fugir, deixando para trás todo o pouco que tinham para salvar a sua vida, e procuram refúgio em Pemba e nas ilhas Quirimbas.
O resultado foi um aumento dos deslocados nas ilhas da província. Os hotéis de luxo foram transformados em bases militares, e praias que outrora estavam repletas de turistas nas ilhas Quirimbas, estão ocupadas por populações deslocadas aos milhares.
As populações das ilhas Quirimbas aumentaram e hoje o peixe já não chega para todos. Por aqui pesca-se com rede mosquiteira, apanhando peixe com cerca de um ou dois centímetros para matar a fome.
A sede mata-se na ilha do Ibo, a única com água doce, ou com as águas recolhidas da chuva. Nas notícias internacionais dizem que os insurgentes espalham o terror, por aqui nas ilhas Quirimbas dizem que vêm à procura comida, bebida e abrigo.
Serão igualmente desgraçados nas mãos de alguém que como é habitual neste continente, vive do outro lado do mundo, janta nos melhores restaurantes, bebe dos melhores vinhos e vive em grandes mansões.
A história de África é negra como a cor das suas gentes, mas em muitas regiões deste continente, é regada com sangue dos inocentes.
Inocentes aos quais a uns são dadas armas para matar. E outros que são mortos. Os primeiros ficarão para a história e serão conhecidos como culpados.
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