O calendário Maia – Tudo o que precisa de saber sobre o lendário mistério do calendário

O calendário Maia - Tudo o que precisa de saber sobre o lendário mistério do calendário

Os povos da mesoamérica, vivendo em comunhão com os ciclos da natureza tal como todos os povos antigos, foram construindo calendários cada vez mais aperfeiçoados, sendo o calendário maia o ponto mais alto dessa evolução e que, ainda hoje, nos fascina pela sua complexidade e relevância histórica, cultural e matemática.

A observação das influências externas periódicas na vida do planeta e dos seres vivos terá sido um factor fundamental na construção de uma religião e mitologia que, à semelhança dos longínquos povos orientais, tem como papel central a ideia do tempo dividido em ciclos. Quando a configuração do calendário se repete, não é apenas uma questão matemática, tal como quando passamos de 1999 para 2000 d.C.; Também se repetem as posições das estrelas no céu, as influências dos deuses no humor dos homens, a disposição da Terra em ajudar o Homem a evoluir. E esta noção de ciclos reflecte-se também nos mitos de criação: não há uma só criação e um só mundo; existiram antes de nós outros mundos, povoados por outros seres (humanos ou não), criados por diferentes deuses, cada um com o seu ciclo de crescimento, auge e declínio.

O fim de um ciclo, mais ou menos extenso, e o começo de outro foi sempre festejado com obras e oferendas, a sua ocorrência devidamente registada em pedra e encarado sempre como um período de tensão, como se os deuses decidissem se o novo ciclo deveria realmente surgir. O calendário Maia - Tudo o que precisa de saber sobre o lendário mistério do calendário

Os Maias tinham um calendário “anual” de 260 dias, chamado tzolkin, sendo desconhecida a razão, ou razões, para a escolha deste número. As teorias abundam, desde a matemática e astronomia, até às datas de colheitas, mas é provavelmente impossível saber qual a verdade. O que se sabe é que se baseava num ciclo de 20 dias (cada um com o seu nome), repetido 13 vezes.

Igualmente misteriosa é a questão do momento zero do calendário maia. Através do estudo de documentos e achados arqueológicos, a questão da correlação (isto é, a correspondência entre a data maia e o nosso calendário) foi aparentemente esclarecida nos anos 30 do séc. XX, sendo estabelecido que o dia zero maia corresponde a 11 de Agosto de 3114 a.C. Ninguém conhece, porém, o porquê da escolha desta data.

O tzolkin era usado para determinar o momento de eventos religiosos e cerimoniais, assim como para divinação mas, sendo observadores cuidadosos dos céus, os maias tinham também um calendário solar, chamado Haab’, composto de 18 meses (cada um com o seu nome e hieróglifo) de 20 dias, com 5 dias sem nome no final do calendário (que se acreditavam serem perigosos), totalizando os já esperados 365 dias. A combinação de uma data Haab’ com uma data tzolkin permitia distinguir uma série de 18.980 dias, equivalente a cerca de 52 anos solares, ou seja, cerca de uma vida humana. Para poderem datar acontecimentos que se estendiam mais no tempo, foi criado um terceiro calendário de contagem longa.

O calendário Maia - Tudo o que precisa de saber sobre o lendário mistério do calendário

A hierarquia das unidades usadas é a seguinte: o nome maia para dia era kin e 20 dias era conhecido como um uinal; 18 uinals fazem um tun; 20 tun são conhecidos como katun e 20 katun fazem um baktun.

O calendário da contagem longa identifica uma data contando o número de dias desde a criação maia, usando um esquema de base 20 ligeiramente modificado (uma vez que a unidade uinal reinicia ao chegar aos 18). Assim, 0.0.0.1.5 é igual a 25, e 0.0.0.2.0 é igual a 40, mas 0.0.1.0.0 representa 360 dias, em vez de 400, que seria no caso de uma contagem de base 20 pura.

A correspondência entre as unidades maias e os anos solares é dada na tabela seguinte:

Tabela de unidades da contagem longa
DiasPeríodo da contagem longaPeríodo da contagem longaAnos solares aproximados
1= 1 K’in  
20= 20 K’in= 1 Winal0,055
360= 18 Winal= 1 Tun1
7,200= 20 Tun= 1 K’atun19,7
144,000= 20 K’atun= 1 B’ak’tun394,3 
 

Existem também quatro ciclos de ordem superior raramente usados: piktun, kalabtun, kinchiltun e alautun.

No endereço https://www.fourmilab.ch/documents/calendar/, podem encontrar um conversor entre os principais calendários usados ao longo da história ou ainda em uso (como o hebraico e o islâmico).

 Assim, o dia de hoje (13 de Junho de 2012 d.C.) corresponde, no calendário maia, a 12.19.19.8.9!
O calendário Maia - Tudo o que precisa de saber sobre o lendário mistério do calendário

Calendário Maia no Codex de Dresden

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2012: Profecia maia - Tudo o que precisa saber sobre a maior profecia do mundo
2012: Profecia maia – Tudo o que precisa saber sobre a maior profecia do mundo

2012 – Profecia maia – Tudo o que precisa saber sobre a maior profecia do mundo

En seguida fueron aniquilados, destruidos y deshechos los muñecos de palo y recibieron la muerte.”

Popol Vuh

2012 – Profecia maia – Tudo o que precisa saber sobre a maior profecia do mundo

O fenómeno da profecia maia para 2012 envolve um conjunto de crenças e teorias que prevêem a ocorrência de acontecimentos cataclísmicos, ou de transformação física, psíquica e espiritual da humanidade, tendo como ponto fulcral o dia 21 de Dezembro de 2012. As ideias existem nas mais diversas e numerosas formas, das quais se pode ter uma pequena ideia fazendo uma pesquisa na web. Desde a colisão da Terra com um objecto celeste, ou uma erupção solar de magnitude nunca vista, até à descoberta da primeira civilização extraterrestre, tudo parece valer nesta tentativa de adivinhar o futuro próximo.

2012 - Profecia maia - Tudo o que precisa saber sobre a maior profecia do mundo

A medida que a data se aproxima, o interesse do publico em geral e a quase obsessão de inúmeros autores de livros New Age tem aumentado ate níveis nunca vistos. Prova disto, ate Hollywood ja se rendeu as evidencias, lançando em 2009 o blockbuster de bilheteira, ´´2012´´.

Durante a nossa Rota dos Maias, iremos desenvolver esta temática, sendo que a nossa perspectiva não será discutir as diferentes teorias, recusando-nos apoiá-las ou nega-las, mas sim perceber até que ponto este fenómeno tem fundamentação histórica e arqueológica, e de que modo se enquadra na cultura mesoamerica pre-hispânica. Tentaremos perceber o porque das profecias, distinguindo aquilo que vem de fontes maias daquilo que foi acrescentados nos nossos dias.

2012 - Profecia maia - Tudo o que precisa saber sobre a maior profecia do mundo

Talvez a primeira pergunta que surge a qualquer pessoa que tenha conhecimento de uma profecia para um tempo especifico (sendo neste caso um dia especifico) seja o porque dessa data, quais as razoes pelas quais essa data e especial. Assim, podemos perguntar “Porquê 21 de Dezembro de 2012?”. No nosso post “O calendário maia”, vimos que no calendário maia de contagem longa a unidade baktun equivale a 20x18x20x20=144000 dias e, usando o conversor disponibilizado no nosso post, podemos verificar que o dia 20 de Dezembro será, na contagem maia, dado por 12.19.19.17.19, enquanto o dia 21 de Dezembro é 13.0.0.0.0. Assim, aceitando como a data de criação maia o dia 11 de Agosto de 3114 a.C., o dia 21 de Dezembro de 2012 coincide com o fim do décimo terceiro baktun desta era. Estas “viragens” no calendário tinham uma grande importância ritual na sociedade maia, sendo acompanhados por cerimónias e erecção de monumentos que testemunhavam a passagem do período temporal em causa.

2012 - Profecia maia - Tudo o que precisa saber sobre a maior profecia do mundo

Mas pode ser esta viragem de 2012 considerada um fim? Entre os peritos, existem defensores de ambas as alternativas. Por um lado, existem achados arqueológicos que referem datas posteriores ao décimo terceiro baktun, assim como existem, no calendário de contagem longa, unidades de tempo mais extensa, como o piktun, que e equivalente a 20 baktun. O tempo, assim, não deveria acabar na passagem de um baktun para outro, apenas se deveria entrar num novo ciclo, dentro de ciclos maiores.

Por outro lado, a visão do cosmos da mesoamerica era apoiada na mitologia de tempos ancestrais, que testemunhava a criação e destruicao de mundos e civilizações anteriores a nossa, sendo que alguns vestígios dessas tradições chegaram ao nossos tempos quase milagrosamente. Disto falaremos nos nossos próximos posts, mas não só… E que existem referencias directas aos nossos dias em pedras que sobreviveram a séculos de destruicao e abandono para nos contarem a sua historia…Temos e de conseguir decifra-la!

2012 - Profecia maia - Tudo o que precisa saber sobre a maior profecia do mundo
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Profecia Maia 2012 – B’olon Yokte’ K’uh – O mistério dos Maias e o tempo

“Should we not lament in our suffering, grieving for the loss of our maize and the destruction of our teachings concerning the universe of the earth and the universe of the heavens? We are agitated by these sharp blows. We are moved to sorrow, sending up our pleas to Ah Bolon Yocte of the Nine Paths, and to Ah Bolon Kanan, of the Nine Precious Gifts… 

[…] The Nine shall arise in sorrow, alas… And when over the dark sea I shall be lifted in a chalice of fire, to that generation there will come the day of the withered fruit. There will be rain. The face of the sun shall be extinguished because of the great tempest. Then finally the ornaments shall descend in heaps. There will be good gifts for one and all, as well as lands, from the Great Spirit, wherever they shall settle down.

Book of Chilam Balam of Tizimin

Imaginem que daqui a 1000 anos, os arqueólogos do futuro desenterram as ruínas de uma qualquer igreja católica e descobrem treze representações de divindades que se julgam terem sido importantes na já desaparecida religião cristã. Não havendo inscrições que tenham sobrevivido que descrevessem o nome e características destas figuras, decidem nomeá-las pelas letras do alfabeto. Foi exactamente isso que Paul Schellhas fez em 1904 em relação a uma série de divindades maias, algumas das quais foram entretanto reconhecidas, mas outras continuando sem tradução até hoje.

Uma dessas divindades, o chamado deus L, de aparência anciã, é uma figura proeminente na iconografia do Período Clássico Maia, com os seus ornamentos de jaguar, o seu cigarro característico e o seu chapéu largo. Identificado como sendo o Senhor do Inframundo, o seu nome original iludiu até agora os estudiosos.  Investigações recentes de textos em cerâmica, e de representações em Palenque e Cacaxtla, sugerem que esta divindade seja associada a B’olon Yokte’ K’uh, a mesma que é referida no monumento 6 de Tortuguero, numa inscrição acerca do fim do 13º baktun.  É também identificado como estando representado no “Vaso dos Sete Deuses“.

O nome B’olon y-Ok pode ser traduzido como “Nove são os seus passos” ou “Nove são os seus pés” e B’olon Yokte’ K’uh é muitas vezes encarado como um nome colectivo, referindo-se a um grupo de 9 divindades, que seriam os Senhores que governam os 9 níveis do Inframundo, grupo este que é comunmente referido nos textos proféticos de Chilam Balam e associado à prática da guerra e do sacrifício. No Códice de Dresden, aparece a atacar com uma faca o desarmado deus N.

O deus L é também interpretado como sendo a némesis do deus do milho (ressuscitado na primavera) e aquele que governa a parte mais negra do ano, dedicada a trocas comerciais de longa distância, conquistas militares e a colheita de cacau de inverno e foi representado por vezes como um escorpião negro, com as mãos erguidas para o céu como as garras do escorpião.

B’olon Yokte’ K’uh é assim uma figura essencial no mito da criação do mundo, sendo que o seu culto parece ter sobrevivido até hoje na figura em madeira de Maximon, adorado por exemplo em Santiago de Atitlán e que, no Período Pós-Clássico, se acreditava ser aquele que presidia aos cinco dias finais do ano (Wayeb) e o qual era ritualmente morto, desmembrado e amarrado no final desse período, de modo a permitir a entrada do Ano Novo.

Profecia Maia 2012 - B'olon Yokte' K'uh - O mistério dos Maias e o tempo

Estará aqui a chave de uma possível interpretação da inscrição no monumento 6 de Tortuguero? Será este deus uma encarnação da eterna luta entre as trevas e a luz, que está sempre presente, mas que será mais evidente nas transições entre grandes ciclos do universo? Será o fim do baktun uma reencenação a grande escala daquilo que acontece todos os anos na Terra e que permite que a Humanidade continue a viver com base no que essa mesma Terra, regenerada e ressuscitada, lhe fornece?

Ou, dado o carácter declaradamente negro desta divindade, teremos nós algo a temer da sua manifestação no dealbar desta nova época que se iniciará a 21 de Dezembro de 2012? Mesmo acreditando neste caso, o certo é que, se há alguma mensagem da religião maia que sobreviveu até aos nossos dias, é que a Natureza e o Homem vivem em ciclos de criação, destruição e renascimento. E tal como podemos ler no excerto do livro de Chilam Balam de Tizimin que apresentamos no início da nossa crónica, mesmo no meio da tormenta nunca esmorece a esperança de um novo dia, de um futuro melhor.

O fascínio que milhões de pessoas têm pelas profecias maias parece mostrar que muitos anseiam por um novo início, uma época de regeneração. Será isso possível sem destruição? Será possível a luz ser reconhecida sem antes terem sido as trevas a dominar a face da Terra? Tal como toda a mãe bem o sabe, não há nascimento sem dor. E sem sacrifício, não há obra… B’olon Yokte’ K’uh!

Profecia Maia 2012 - B'olon Yokte' K'uh - O mistério dos Maias e o tempo

Chegamos ao fim da nossa série de crónicas acerca da profecia maia de 2012, neste caso sobre B’olon Yokte’ K’uh, com muitas mais questões do que respostas. Será que um dia o sentido da profecia será revelado? Pela sua própria natureza, uma profecia é escrita e transmitida de forma velada, encriptada e enigmática. Talvez cada um de nós encontrará em si mesmo o sentido e a importância que quer dar à profecia. E cada um de nós encontrará a sua resposta, na medida do que procurou. Pois tal como outro Profeta o disse, dirigindo-se aos seus discípulos:

“Por isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não vêem; e, ouvindo, não ouvem nem compreendem. E neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz: Ouvindo, ouvíreis, mas não compreendereis; e, vendo, vereis, mas não percebereis. Porque o coração deste povo está endurecido, e ouviram de mau grado com os seus ouvidos, e fecharam os seus olhos; para que não vejam com os seus olhos, e ouçam com os ouvidos, e compreendam com o coração, e se convertam, e eu os cure. Mas, bem-aventurados os vossos olhos, porque vêem, e os vossos ouvidos, porque ouvem. Porque em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes, e não o viram; e ouvir o que vós ouvis, e não o ouviram.”

Profecia Maia 2012 - MONUMENTO TORTUGUERO 6
Profecia Maia 2012 – MONUMENTO TORTUGUERO 6

MONUMENTO TORTUGUERO 6 – Profecia Maia 2012

“The prophecies are a solemn trust from ancient times. They are the first news of events, and a valuable warning. […]The prophecies of the katun shall be fulfilled!”

Book of Chilam Balam of Tizimin

El Tortuguero é um sítio arqueológico situado na região de Tabasco, no México. Actualmente, não apresenta grande atracção para os turistas (incluindo nós, que não o visitamos!), mas é conhecido essencialmente por ser de lá um dos únicos monumentos em pedra com uma inscrição que refere o fim do 13º baktun. A grande maioria das referências a fins de ciclo em inscrições maias referem-se a fins de Tuns e Katuns (tanto de uma forma retrospectiva como prospectiva) mas os fins de Baktuns são muito raros. Um altar de Naranjo e um tijolo de Comalcalco são as únicas inscrições conhecidas que se referem ao fim de um baktun que se encontrava ainda no futuro aquando da execução da inscrição, mas o mais conhecido e estudado é o famoso monumento 6 de Tortuguero, actualmente no museu Carlos Pellicer, em Villahermosa, capital do estado de Tabasco. Tendo sido alvo de estudo por parte de arqueólogos de todo o mundo (especialmente agora que a data inscrita se aproxima a passos largos), é o painel direito do monumento que concentra as atenções, mais especificamente. Nos últimos anos, a tradução com mais credibilidade foi feita por Sven Gronemeyer e Barbara MacLeod, sendo o estudo destes que nós seguiremos ao longo desta crónica. Na foto acima, vê-se que nesse museu só se encontra parte do painel direito, mas a conjugação de diferentes fotos permitiu o desenho rigoroso do monumento inteiro e do painel direito (respectivamente, abaixo representados).

MONUMENTO TORTUGUERO 6 - Profecia Maia 2012

A dificuldade na tradução de antigas inscrições maias é bem atestada pelo facto da tradução deste pequeno painel não ser ainda hoje consensual, ainda para mais sendo que parte dele está fortemente erodido. Os 2 arqueólogos acima referidos apresentam a seguinte tradução (interpretação?):

“It will be completed the thirteenth Bak’tun

It is 4 Ajaw 3 K’ank’in

it will happen; the witnessing of 

the adornments of B’olon-Yokte’

in the great investiture “

Algo que poderíamos traduzir como:

“Será completado o 13º baktun

Em 4 Ajaw 3 Kankin

acontecerá; o presenciamento

dos adornos de Bolon-Yokte

numa grande investidura.”

O busílis da questão recai, claro, sobre como interpretar esta inscrição. Aparentemente, a inscrição parece referir-se à manifestação, literal ou metafórica, de um deus ou conjunto de deuses aquando do fim deste ciclo. Mas também pode ser a associação de uma dada divindade (e suas características) a uma época histórica específica. Ou pode não ser mais do que uma referência habitual no contexto da sociedade maia pois, tal como alguns estudos revelam, Bolon Yokte é uma divindade muito associada ao final de ciclos e à reencenação dos momentos de criação do Mundo. Ou ainda que, muito simplesmente, no final do baktun seria feita uma edificação comemorativa de um monumento ou edifício em honra daquela divindade.

É neste ponto que a História começa a perder pé e a especulação impera… Gronemeyer e MacLeod acabam o seu artigo escrevendo de uma forma sincera (e científica): “Não compreendemos a religião Maia Clássica suficientemente bem para termos a certeza absoluta acerca do que os maias de Tortuguero profetizaram para o fim do 13º baktun”.

Poderíamos ficar por aqui, mas a referência específica a esta divindade leva-nos a debruçar-nos um pouco mais na sua caracterização. É isso que faremos na nossa próxima, e última, crónica acerca da “Profecia Maia 2012“.

PROFECIA MAIA 2012 - Fontes históricas textuais
PROFECIA MAIA 2012 – Fontes históricas textuais

PROFECIA MAIA 2012 – Fontes históricas textuais

“Buena es la palabra de arriba, Padre. Entra su reino, entra en nuestras almas el verdadero Dios, pero abren allí sus lazos, Padre, los grandes cachorros que se beben a los hermanos esclavos de la tierra. Marchita está la vida y muerto el corazón de sus flores, y los que meten su jícara hasta el fondo, lo que lo estiran todo hasta romperlo, danan e chupan las flores de los otros. Falsos son sus reyes, tiranos en sus tronos, avarientos de sus flores. De gente nueva es su lengua, nuevas sus sillas, sus jícaras, sus sombreros; golpeadores de día, afrentadores de noche, magulladores del mundo! Torcida es su garganta, entrecerrados sus ojos; floja es la boca del rey de su tierra, Padre, el que ahora ya se hace sentir. No hay verdad en las palabras de los extranjeros. Los hijos de las grandes casas desiertas, los hijos de los grandes hombres de las casas despobladas, dirán que es cierto que vinieron ellos aquí, Padre. Qué profeta, qué sacerdote, será el que rectamente interprete las palabras de estas Escrituras?”

Libro de Chilam Balam de Chumayel

Nesta crónica sobre a Profecia Maia 2012, e na próxima, será nosso objectivo libertar-nos de toda a carga mediática e popular associada ao “Fim do Mundo” em 2012 e analisar  até que ponto este fenómeno tem fundamento nos registos históricos maias. A partir da análise destes, é seguro afirmar que a previsão de acontecimentos futuros (ou pelo menos das tendências que se manifestariam) fazia parte da imagem do mundo que ao maias revelavam nos seus registos. No entanto, é surpreendente a escassez de registos que mencionem directamente a data de 21 de Dezembro de 2012 e o seu significado para a civilização Maia.

A primeira pergunta que se impõe é: “Porquê uma Profecia Maia 2012?”. Será que os maias tinham como costume fazer previsões para um futuro longínquo, e poderemos nós testemunha-lo com vestígios que tenham sobrevivido ao passar dos séculos? Infelizmente, os registos escritos em papel e em pedra que chegaram aos nossos dias são muitíssimo poucos mas, entre eles, são vários aqueles em que constam previsões ou profecias.

PROFECIA MAIA 2012 - Fontes históricas textuais

Existem apenas três códices sobreviventes, textos redigidos em papel antes da conquista espanhola, hoje denominados pelo nome das cidades onde se encontram: o códice de Dresden, o códice de Madrid e o códice de Paris. Em todos eles, são representadas divindades que eram veneradas pelo seu papel nas mudanças de ciclo e cenas que eram revividas para que o Cosmos pudesse seguir em frente.

Além destes, existem textos já escritos depois da conquista espanhola (na língua nativa mas já usando o alfabeto latino), tal como o Popol Vuh e os livros de Chilam Balam (“Sacerdote-Jaguar”). O primeiro relata essencialmente os mitos de criação maias, enquanto os segundos têm um pendor fortemente profético, sendo um testemunho pungente da destruição de uma civilização e de um povo. Quanto a estes últimos, existem vários exemplares, cujo nome indica a cidade onde foram encontrados. Os mais conhecidos são os livros de Chilam Balam de Chumayel e o de Chilam Balam de Tizimin. Nestes textos, são famosos certos fragmentos de literatura mística chamados “profecias”, que eram mais propriamente vaticínios e horóscopos proclamados por certos sacerdotes, no início de cada katun, diante do soberano ou do sumo-sacerdote (daí a evocação “Padre” no final das frases).

Do primeiro é conhecida a famosa profecia de Chilam Balam, que era cantor (“oráculo”) na antiga Maní. Será a Profecia Maia 2012?

Segundo uma das relações dos conquistadores, Chilam Balam disse (ou cantou) a sua profecia diante do senhor de Maní, poucos anos antes da chegada dos espanhóis, tendo até mostrado uma figura de uma cruz e uma manta de algodão, explicando como tal manta haveria de ser o tributo que se pagaria aos novos senhores do país. Ao contrário de outras profecias referentes a katuns posteriores, nomeadamente aquelas escritas já depois da chegada dos espanhóis e que estavam cheias de previsões de destruição, morte e sofrimento (tal como o texto citado no início desta crónica), este texto é enigmaticamente benévolo em relação aos estrangeiros que chegariam, comparando-os a “irmãos” e parecendo que se seguiria uma nova época gloriosa para o povo maia e seus deuses.

Seguem-se alguns excertos:

En senal del único Dios de lo alto, llegará el árbol sagrado, manifestándose a todos para que sea iluminado el mundo, Padre. 

Despertará la tierra por el Norte y por el Poniente. Itzám despertará. 

Muy cerca viene nuestro Padre, itzás, viene nuestro hermano.

Recibid a vuestros huéspedes que tienen barba y son de las tierras del Oriente, conductores de la senal de Dios, Padre. 

Tú eres el único Dios que nos creaste: así será la bondadosa palabra de Dios, Padre, el maestro de nuestras almas. El que la recibiere con toda su fe, al cielo tras él irá. 

Pero es el principio de los hombres del segundo tiempo. 

Cuando levanten su senal en alto, cuando la levanten con el árbol de vida, todo cambiará de un golpe. Y aparecerá el sucessor del primer árbol de la tierra, y será manifiesto el cambio para todos. 

 Amanecerá para aquellos que crean, dentro del katun que sigue, Padre. 

Y ya entra en la noche mi palabra, que soy Chilam Balam, he explicado la palabra de Dios sobre el mundo, para que la oiga toda la gran comarca de esta tierra, Padre. Es la palabra de Dios, senor del cielo y de la tierra.”

Aqui aparece uma característica comum aos textos proféticos: ao mesmo tempo que os novos tempos acarretam novos perigos, também trazem uma nova esperança e oportunidade de um novo renascer.

No livro de Chilam Balam de Tizimin, traduzido em 1951 pela linguista e astrónoma, Maud Makemson,  encontra-se a primeira referência directa ao fim do baktun 13 a chegar ao grande público. Envolta ainda hoje em controvérsia, esta tradução é acusada de ser uma interpretação abusiva do texto original, mas o certo é que nesta é referida explicitamente a época do fim do 13º baktun, ou seja, o katun 4 Ahau, correspondente aos anos 1993-2012 . Seguem-se alguns excertos:

“Presently Baktun 13 shall come sailing, figuratively speaking, bringing the ornaments which i have spoken from your ancestors. Then the god will come to visit his little ones. Perhaps ‘After Death’ will be the subject of his discourse… 

in the final days of misfortune, in the final days of the tying up of the bundle of the thirteen katuns on 4 Ahau, then the end of the world shall come and the katun of our fathers will ascend on high.

These valleys of the earth shall come to an end. For those katuns there shall be no priests, and no one who believes in his government without having doubts. They are broken, the omens, because of the katun of dishonor. This is due to the fact that the days foretell events through visions, whether in the daytime or in the night-time. Pay heed to the truth which I present to you in the katun of dishonor. Shall my intercession, my pelading, be in vain? 

I speak to you! I, Chilam Balam, the priest of the Jaguar! I recount to you the words of the true gods, when they shall come… Then it will come to pass that afflictions will consume our sons… Am I not a priest and a prophet?


Na próxima crónica, iremos explorar a referência mais directa à data de 21 de Dezembro de 2012 nos registos históricos maias, desta vez inscrita em pedra, e que tem semelhanças enigmáticas com a profecia do livro de Chilam Balam de Tizimin.

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Os dias e meses do CALENDÁRIO MAIA - representação e significado
Os dias e meses do CALENDÁRIO MAIA – representação e significado

Os dias e meses do CALENDÁRIO MAIA – representação e significado

“Could there come a time when the magic drawing of the days should cease?The sacred Long Count shall be kept in order by magic enduring to the end!”

Book of Chilam Balam of Tizimin

Os dias e meses do CALENDÁRIO MAIA – representação e significado

Como vimos na nossa crónica O calendário Maia, a civilização Maia tinha um calendário “anual” de 260 dias, chamado tzolkin, que se baseava num ciclo de 20 dias (cada um com o seu nome), repetido 13 vezes.

A hierarquia das unidades usadas era a seguinte: o nome maia para dia era kin e 20 dias era conhecido como um uinal; 18 uinals fazem um tun; 20 tun são conhecidos como katun e 20 katun fazem um baktun.

Na figura abaixo apresentamos os hieróglifos e respectivos nomes dos 20 dias do uinal do calendário maia.

O tzolkin era usado para determinar o momento de eventos religiosos e cerimoniais, assim como para divinação mas, sendo observadores cuidadosos dos céus, os maias tinham também um calendário solar, chamado Haab’, composto de 18 meses (cada um com o seu nome e hieróglifo) de 20 dias, com 5 dias sem nome no final do calendário (que se acreditavam serem perigosos), totalizando os já esperados 365 dias.

Na figura abaixo, estão representados os hieróglifos e respectivos nomes dos 18 uinals.

A combinação de uma data Haab’ com uma data tzolkin permitia distinguir uma série de 18.980 dias, equivalente a cerca de 52 anos solares, ou seja, cerca de uma vida humana. Para poderem datar acontecimentos que se estendiam mais no tempo, foi criado um terceiro calendário de contagem longa, do qual já falamos na nossa crónica já citada.

Para além da sua dimensão prática, associada à sucessão das diferentes épocas anuais e respectivas tarefas agrícolas e religiosas, o calendário maia tinha inegavelmente uma dimensão mística, associada ao interior do Homem e ao seu desenvolvimento e relacionamento com o Cosmos. A lista ordenada dos vinte dias maias constitui uma súmula do sistema de crenças religiosas daquele povo, no que concerne à evolução do espírito do homem, desde a sua encarnação até à sua reintegração na essência divina. O número 20 é o número sagrado que simboliza o Homem pela soma do número dos dedos das mãos e pés, e em maia se dizia kal, que significa coisas fechada, completa. É quase seguro que esta série constituía algo semelhante a uma oração, ensinada ao povo para ser repetida de geração em geração, mas cujo significado mais íntimo era apenas acessível aos iniciados nos Mistérios.

A raiz de cada um dos nomes perde-se na noite dos tempos, mas quase todos eles exprimem uma acção que, de forma sintética, é uma exteriorização fonética do hieróglifo correspondente. Abaixo, apresentamos uma tabela que resume a raiz do nome de cada um dos dias e respectivo significado.

Nome do diaRaiz directaSignificado
ImixImSeio, matriz, origem
IkIkEspírito
AkbalAaktalSer fresco, verde, recente
KanKan; kantalEstar de maneira oportuna, matura
ChicchanChchic ChaanTomar o que se tem visto
CimiCimilMorrer
ManikMan, manzahPassar, trespassar
LamatLamtalSubmergir-se em coisa mole e espessa
MulucMul MulchahalRecolher-se; fazer um monte de uma coisa
OcOc; ocolEntrar; penetrar
ChuenChúhArder sem chama
EbEbEscada
BenBeentahProceder pouco a pouco
HixHixLixar, polir
MenMenObrar, construir
CibCibVela, candeia, incenso
CabanHabanDesfazer a fogueira, consumir o que ardeu
EznabEdzahAssentar uma base
CauacCá uacTirar, pela segunda vez, uma coisa metida dentro de outra
AhauAhauDeus

Bibliografia: Maud W. Makemson, “The Maya calendar

                        Antonio Mediz Bolio, “Libro de Chilam Balam de Chumayel

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  • VISITAR SAN CRISTOBAL DE LAS CASAS – O nosso artigo sobre a visita a San Cristobal de las Casas, com as dicas de viagem e tudo o que não pode perder no México.
  • CASCATA HIERVA EL ÁGUA – Um artigo cheio de dicas para visitar o Vale de Tlacolula, perto de Oaxaca, onde se pode visitar imensas maravilhas naturais e arquitectónicas.
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  • VISITAR TEOTIHUACAN – Um artigo cheio de dias para visitar as ruínas de Teotihuacan desde a Cidade do México.
  • VISITAR PUERTO ESCONDIDO – Um artigo cheio de dicas para visitar Puerto Escondido, uma meca do surf no México e uma das praias mais famosas do Pacífico.
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  • VISITAR HUASCA DEL CAMPO – Um artigo com tudo o que precisa de saber para visitar os prismas basálticos de Huasca del Campo, no México.
  • VISITAR TULA – Um artigo cheio de dias para visitar as ruínas de Tula desde a Cidade do México.
  • VISITAR A CIDADE DO MÉXICO – Tudo o que precisa de saber para visitar a Cidade do México. Segurança, museus, transportes e a realidade que ninguém lhe conta sobre a cidade.
  • VISITAR AS CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS – Tudo o que precisa de saber visitar o México e conhecer os lugares mais emblemáticos das civilizações pré-colombianas, como os Maias, Aztecas, Olmecas, Toltecas, etc.
  • CALENDÁRIO MAIA – Tudo o que precisa de saber sobre o calendário Maia e a profecia Maia do fim do mundo no ano de 2012.

Carla Mota

Geógrafa com uma enorme paixão pelas viagens e pelo mundo. Desde muito cedo que as viagens de exploração fazem parte da sua vida. A busca do conhecimento do mundo leva-a em direcção a culturas perdidas e ameaçadas, tentando percebe-las. Hoje é também líder de viagens de aventura na Nomad.

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