O lago Malawi, também conhecido por lago Niasa (em Moçambique e na Tanzânia) é um dos maiores lagos africanos, divido entre três países: Moçambique, Malawi e Tanzânia. O lago tem uma extensão de 560 km de comprimento e chega a atingir 80 km de largura, fazendo com que sempre que o observamos tenhamos a sensação de estar de frente para o mar. A massa de água do lago é verdadeiramente impressionante já que, graças ao facto deste se localizar no Grande Vale de Rift, o lago atinge uma profundidade de cerca de 750 metros.
Uma vez chegados a Nkhata Bay e instalados no Mayokas Village, era hora de preparar as aventuras para os próximos dias. Tínhamos imensos planos mas pouco tempo. Decidimos passar um dia a explorar a povoação de Nkhata Bay e o Lago Malawi, aproveitando as canoas e paddle boards que existiam ao dispor dos hóspedes do Mayokas Village. O outro dia seria dedicado a um trekking pelas aldeias e praias da região.
No primeiro dia fizemos o trekking e pudemos conhecer um bocadinho melhor a cultura e hábitos da população. No segundo dia decidimos descansar um pouco e desfrutar do Lago Malawi. Porém o dia foi tudo menos descansado…
Decidimos aproveitar um tour gratuito em canoa pelo Lago Malawi para visitar um spot de snorkelling. O tour devia ter começado às 10h mas como o guia não apareceu, foi adiado para a parte da tarde. Aproveitámos a manhã livre para passear pela povoação de Nkhata Bay, explorando o mercado de peixe e a zona do porto. Queríamos comprar alguma comida para levar connosco, já que nessa noite íamos apanhar um autocarro para a Tanzânia. Um dos maiores obstáculos em viajar no Malawi é a falta de mercearias ou supermercados onde se possa comprar comida. Descobrimos uma loja com algumas bolachas e abastecemos. Aproveitámos que estávamos na vila para comer num pequeno restaurante com uma varanda no primeiro andar. Tinha vista sobre o mercado e podia-se apreciar o bulício das transacções comerciais e humanas que aconteciam mesmo à nossa frente.
O mercado de peixe é o retrato de Nkhata Bay. Como o lago reúne mais de 400 espécies distintas de peixe, nomeadamente ciclídeos, uma família de peixes de água doce, há uma grande diversidade de peixe à venda. A maioria são usitas, um peixe pequenino e muito fino, uma das muitas espécies únicas no lago. O lago Malawi reúne 30% dos ciclídeos conhecidos no mundo. Os vendedores exibem os peixes com orgulho. Esta é a base da alimentação da população local. Chamam-lhe usita e são vendidos em baldes por todo o lado. Os pescadores trazem-nos para Nkhata Bay de piroga, as tradicionais canoas de madeira, e depois vendem-nos por todo o lado. As mulheres carregam os baldes cheios à cabeça até às suas casas. É a vida nas margens do lago Malawi.
De regresso ao Mayokas Village, aguardámos a chegada do guia que… não chegou. Optámos por pegar numa canoa e explorar o lago sozinhos. Levámos o material de snorkel do hostel e lançámo-nos à aventura. E foi mesmo uma aventura. Pouco depois de começarmos a remar, a canoa começou a encher de água na parte traseira. O lugar onde o Rui ia sentado (atrás) começou a afundar-se e quando demos por nós já estávamos a ficar completamente cheios de água. Não tivemos tempo de reagir porque a canoa afundou-se. Havaianas, pagaias, material de snorkel, GoPro, tudo ficou espalhado no Lago Malawi. Conseguimos agarrar a GoPro, as pagaias e as havaianas do Rui e tentámos tirar a água da canoa. Tarefa infrutífera, agravada pelo facto de estarmos sem pé. Comecei a sentir-me muito aflita e disse ao Rui que não aguentava mais, tínhamos que nadar para a margem. Tentámos a muito custo puxar a canoa. Conseguimos trazê-la para uma zona onde tínhamos pé. As minhas havaianas dirigiam-se agora para o interior do lago. Decidi que estava muito cansada para as ir buscar, abdicaria delas. Poderiam ser úteis para alguém! O material de snorkel estava agora afundado no lago.
Estava tensa e tremia. Só me apetecia chorar. Não era de frio mas sim porque tenho fobia a água, especialmente quando estou em situações desconfortáveis. Tento combater esta fobia mas estas situações deixam-me em choque. Sentei-me na margem, enquanto o Rui (sem óculos de ver) tentava encontrar o material perdido. O problema é que sem óculos o Rui vê mal!
Quando retirámos a canoa do Lago Malawi, apareceu uma rapariga e um rapaz estrangeiros que estavam numa esplanada de um alojamento local, e dois rapazes malawis. Os rapazes ofereceram-se logo para mergulhar no lago e tentar descobrir o material de snorkel. O rapaz estrangeiro, munido de óculos de snorkel, encontrou quase logo a primeira máscara e, um pouco depois, o outro rapaz malawi encontrou a segunda.
Quando pegámos na canoa descobrimos que tinha dois buracos por onde a água entrava e não saia. Assim, de cada vez que a água entrava na canoa, enchia-a por dentro e tornava-a demasiado pesada para flutuar. Afinal era tudo uma questão de física! Era por isso que não conseguimos tirar a água da canoa quando ela virou. Era impossível remar de volta para o hostel, pelo que a rapariga estrangeira telefonou para a recepção e pediu para eles enviarem alguém para vir buscar a canoa. Em cerca de 15 minutos apareceu logo um rapaz. Trouxe-nos outra canoa e explicou-nos que aquela estava furada. Pediu-nos desculpa por não terem reparado que tínhamos pegado na canoa errada. Agora não havia nada a fazer.
Optámos por usar a nova canoa para regressar pelo lago até ao Mayokas. Mas não estávamos com vontade de remar e explorar o Lago Malawi. Eu estava nervosa e não me apetecia fazer snorkel naquelas condições. Desistimos da ideia e regressámos ao hostel. Optámos por nos sentar a apreciar a beleza do lago. Depois de estabilizar o ritmo cardíaco, optámos por explorar o lago com a paddle board.
Terminaríamos o dia no Lago Malawi com um pôr-do-sol maravilhoso e um mojito na mão, contemplando o sol a esconder-se por trás das águas, as mesmas onde nessa tarde quase me senti afogar.
O sol escondeu-se mas o dia e as aventuras no Lago Malawi não terminariam por aí. A pior viagem de autocarro que já tivemos, ainda viria nessa noite.
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LAGO MALAWI – Explorar a margem do lago no trilho de Nkhata Bay a Lusungwi
O nosso primeiro dia no Lago Malawi foi escolhido para conhecer as pessoas e a cultura das aldeias que circundam a povoação de Nkhata Bay. Depois do pequeno-almoço, saímos de Nkhata Bay para o trekking até à praia Lusungwi. O caminho não está marcado mas no Mayokas Village havia um esboço, desenhado numa folha de papel e sem escala, que serviu perfeitamente. O caminho segue a estrada que liga o Mayokas à aldeia de Bwelero. Juntámo-nos às dezenas de mulheres e crianças que subiam por uma estrada de terra batida e enlameada até alcançar a aldeia.
Pelo caminho havia várias habitações, onde as mulheres preparavam sementes, escolhiam os cereais ou cuidavam das crianças. Estas corriam na nossa direcção quando nos viam. Foi o dia ideal para eu trazer a minha polaróide e alguns balões. Não era muito mas pelo menos distribuíam-se alguns sorrisos. Os mais novos ficavam encantados com os balões e os mais velhos com as fotografias. Soltavam-se sorrisos e gargalhadas.
Antes de chegar à aldeia passámos por uma casa onde uma criança, talvez com cerca de 14 anos, deficiente mental, se encontrava amarrado a uma caixa de plástico junto à estrada. Ficámos petrificados. Não sabíamos o que havíamos de fazer. Resolvemos não fazer nada, já que no fundo, não podíamos fazer mesmo nada. Chocou-me muito. Era demasiado forte.
Seguimos caminho em direcção à praia, que depois da aldeia de Bwelero era sempre a descer por um trilho no meio dos campos agrícolas. Parámos várias vezes pelo caminho, junto a poços de água comunitários e até com uma família que nos ensinou a moer os cereais com um pilão construído com um tronco de madeira escavado. O pilão é um utensílio essencial na cozinha africana e as mulheres passam horas a esmagar a farinha de milho, o alimento base do Malawi.
Juntámo-nos a uma menina, que juntamente com a sua avó, se abrigavam do calor debaixo das árvores a moer o milho. Depois de uma ou duas fotografias com a polaróide, acabámos por conhecer toda a família e privar um bocadinho com os miúdos e as mulheres.
Quando começámos a ver a praia de Lusungwi ficámos deslumbrados. As águas transparentes e a areia amarela clara convidavam a um mergulho. Estivemos quase a fazê-lo mas antes olhámos em volta. Na praia havia várias pirogas, canoas tradicionais de madeira, organizadas e viradas para o lago. Duas mulheres e três crianças estavam deitadas debaixo das redes de pesca estendidas em estacas na praia.
Na outra extremidade da praia, a cerca de 200 metros, estavam vários pescadores sentados. Um aproximou-se rapidamente. Começou a meter conversa connosco e aproveitámos para lhe perguntar se seria possível alguém nos levar de barco até Nkhata Bay. Esta parecia-nos a melhor opção porque o trekking de volta seguia o mesmo caminho que tínhamos feito e se apanhássemos um barco, poderíamos aproveitar e ver o lago noutra perspectiva. Tentámos negociar um preço mas de repente aproximaram-se outros homens. Estavam visivelmente embriagados e começou a ficar um ambiente estranho, já que alguns mostravam sinais de hostilidade. Antes que se tornassem violentos, porque não conseguíamos chegar a um acordo (eles queriam demasiado dinheiro e nós não estávamos interessados em pagar muito nem sequer em entrar num barco com homens embriagados), resolvemos desistir da ideia de apanhar o barco de volta.
Optámos por regressar a pé pelo mesmo caminho. Tentámos ficar sozinhos na praia mas não conseguimos. Havia sempre algum pescador bêbado a chegar-se a nós e a ideia de ir a banhos estava agora fora de questão. Optámos por regressar a Bwelero, tendo sempre por companhia um jovem embriagado que só a muito custo nos deixou. O rapaz tresandava e estava sempre a pedir-nos dinheiro para comprar sabão para lavar a roupa. Era mesmo uma necessidade pública! 😉
Como ainda tínhamos tempo, resolvemos caminhar até Chikale Beach, a praia mais conhecida de Nkhata Bay. A praia estava cheia de africanos que dançavam e comiam. Era domingo à tarde e havia pessoas a fazer piqueniques e braais, os tradicionais grelhados africanos, nas areias da praia. O bar em frente ao lago, com um ar completamente decrépito, vendia cervejas e estava cheio de jovens a jogar snooker. Poucos turistas se viam por aqui, apenas alguns chineses e indianos.
Era hora de regressar ao Mayokas Village, em Nkhata Bay, para aproveitar a pizza night e o pôr-do-sol da varanda sobre o lago. Tinha sido um dia bem passado mas o lago ainda tinha muito mais para nos mostrar.
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