Famadihana é uma cerimónia fúnebre de Madagáscar e que nos transporta para a cultura popular malgaxe e culto dos antepassados. Mais do que uma cerimónia religiosa, Famadihana é uma manifestação cultural em Madagáscar e foi em Antsirabe que fomos em busca de uma forma diferente de encarar a morte e a vida para além da morte. As cerimónias “Famadihana” são praticadas por vários grupos étnicos um pouco por todo o país, sobrevivendo à oposição de grupos religiosos e à pressão do mundo moderno, mas é em redor de Antsirabe, a terceira maior cidade de Madagáscar, onde será mais provável arranjar forma de assistir a um ritual famadihana.
A forma como uma sociedade encara a morte ensina-nos muito sobre como essa mesma sociedade encara a vida, e isso não é excepção em Madagáscar e nas cerimónias famadihana. Como humanos, distinguimo-nos dos outros animais pela consciência que temos da nossa própria morte, inevitável e sempre pendente, mas não só. Essa consciência leva-nos a resistir à ideia de finitude e a querer saber, ou imaginar, como será a vida para além da morte. Isso, aliado à saudade e respeito que sentimos pelos nossos antepassados, alimenta o fascínio que a morte, e o que se lhe porventura seguirá, exerce sobre nós. Este facto, comum a todos nós é, no entanto, encarado de formas muito distintas, em diferentes regiões e culturas do mundo. É esta diversidade que está na essência dos rituais famadihana.
CONTEÚDOS DO ARTIGO
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Assistir a uma cerimónia Famadihana
Tradicionalmente, o povo malgaxe é tido como tendo origem na mistura de povos que chegaram à ilha de Madagáscar em canoas vindos das ilhas do que é hoje a Indonésia e outros vindos da costa africana, do que é hoje Moçambique, sendo que existem actualmente dezoito grupos étnicos, naquela que é a terceira maior ilha do mundo. Famadihana, a tradição fúnebre que estávamos prestes a testemunhar, tinha várias semelhanças com outra que tínhamos assistido na nossa primeira volta ao mundo, em 2019, em Tana Toraja, na Indonésia, o que não seria coincidência pois pensa-se que estas tradições tenham a sua origem na Oceânia e no Sudeste Asiático.
FAMADIHANA E A TRADIÇÃO FÚNEBRE DE REVIRAR OS OSSOS EM ANTSIRABE
Em Antsirabe, tal como em Tana Toraja, crê-se que o espírito daqueles que morrem não se junta logo aos dos mortos, sendo necessário a completa decomposição dos corpos e uma série de rituais famadihana para que isso aconteça. A vida para além da morte é assim encarada como uma continuação natural da vida e é dada uma grande importância às condições fornecidas aos defuntos, como a roupa que têm vestida, e à ligação entre os vivos e os mortos.
Nas terras montanhosas de Madagáscar, como em Antsirabe, em Agosto, a meio da época mais fria e seca do ano, as temperaturas durante a noite caem até perto dos 10°C, e durante o dia não ultrapassam os 20°C. Tradicionalmente, o sinal de que a cerimónia famadihana deve realizar-se é dado quando um dos membros mais velhos da família sonha com um defunto, sendo que nesse sonho o morto pede mais roupa para aguentar o frio. O ritual fúnebre famadihana consiste então em “revirar os ossos” e vestir os corpos dos defuntos com roupas novas, para que estes possam continuar as suas “vidas”.
As famílias que praticam Famadihana gastam por vezes mais dinheiro no túmulo da família do que nas suas casas, uma vez que o túmulo será a casa da família na vida para além da morte. Os funerais e rituais fúnebres famadihana são ocasiões muito especiais, encarados como eventos festivos, em que se celebra a vida, e quando as famílias, normalmente separadas, se juntam e podem conviver. Cria-se assim uma tradição de eventos famadihana que se repetem em cada cinco, sete ou nove anos, sendo que os rituais fúnebres mantêm acesa a ligação entre os vivos, para além da ligação com os antepassados.
1. Preparativos para se assistir à cerimónia famadihana
Para podermos assistir a uma cerimónia fúnebre famadihana, precisávamos de um contacto local, alguém que nos pudesse permitir entrar nesse mundo privado, e que servisse de elo de ligação e de tradução. Felizmente, tivemos a ajuda de Patrick, um guia que nos encontrou logo que chegámos à estacção de autocarros Cotisse em Antsirabe, e que nos avisou que ia acontecer uma cerimómnia famadihana naquele dia. Prontamente dissemos que estávamos interessados e pusemo-nos a caminho, acompanhados de Pascal, um conhecido da família, que morava numa aldeia nos arredores de Antsirabe. Antes de lá chegarmos, passámos por uma loja onde se vendia rum local e comprámos uma garrafa, que iria servir, juntamente com algum dinheiro, como uma oferenda nossa para a família para podermos assistir à cerimónia famadihana.
2. A chegada dos convidados para a cerimónia famadihana
Quando chegámos à entrada da aldeia, ouvia-se já a música e sentia-se o ambiente de festa famadihana, pois víamos pessoas a chegar com as suas melhores roupas. Patrick pediu-nos para esperar no carro, e ele e Pascal dirigiram-se ao interior da aldeia. Passado pouco tempo, regressaram com o chefe da família, que nos recebeu com um sorriso, mas também um olhar curioso. Patrick pediu a sua permissão para nós assistirmos à cerimónia famadihana e, depois de fazermos a nossa oferenda, tudo foi acordado com um aperto de mãos.
Quando entrámos na aldeia, todos estavam congregados à volta da casa da família. A banda de música estava a tocar os últimos acordes antes do almoço. A família tinha-se reunido e tinha convocado toda a aldeia para se lhe juntar na homenagem famadihana aos antepassados. Todos os presentes fizeram a sua oferenda à família, numa filosofia de “dar e receber”, em Madagáscar conhecida como “aterkalao”, pois os que então eram visitantes serão mais tarde anfitriões numa cerimónia famadihana.
3. O almoço e o convívio na cerimónia famadihana
Em frente à casa da família, ultimavam-se os pormenores do almoço da cerimónia famadihana. Em grandes panelas sobre fogueiras cozinhava-se arroz, um dos produtos mais importantes de Madagáscar, e carne estufada. Das panelas, o arroz era colocado em grandes cestas, que depois eram levadas para a cozinha, onde as mulheres da família o distribuíam por pratos. O mesmo para a carne. Depois de o arroz ser tirado dos tachos, era acrescentada água do poço da família, sendo aí fervida, apanhando o gosto e nutrientes do arroz que tinha ficado colado nas paredes e fundo dos tachos. Era essa a bebida que acompanhava o almoço da cerimónia famadihana de várias dezenas de pessoas.
Depois de almoço, foi altura de confraternização. Os homens falavam uns com os outros, bebendo uma cerveja, e as mulheres arrumavam o recinto. As crianças corriam e brincavam de um lado para outro. Mas estava na altura da cerimónia famadihana continuar.
4. A procissão famadihana
A banda de música começou então a tocar, para quase nunca mais parar nas horas seguintes. As pessoas juntaram-se no pátio central da aldeia, em antecipação pelo que se seguiria na cerimónia famadihana, e alguns jovens apareceram a dançar, erguendo esteiras de palha bem alto nas suas mãos.
Começou então a formar-se uma procissão, que teria como destino o cemitério, onde teria lugar os acontecimentos seguintes do ritual famadihana. Os membros mais velhos da família seguiam à frente, seguidos pela banda de música e por todos os presentes, homens e mulheres, idosos, jovens e crianças, todos envolvidos pelo ambiente de festa.
5. A exumação dos corpos no ritual Famadihana
Um pouco afastado da aldeia, o túmulo da família consistia num monte de terra, em forma circular, com um pequeno corredor e uma porta em pedra, muito parecido com os túmulos pré-históricos que já vimos em muitos lugares, incluindo em Portugal, nomeadamente em Baião e Évora. Os membros mais jovens da família escavavam já a entrada do túmulo, retirando a terra e algumas pedras para o exterior, preparando o acontecimento mais importante do ritual famadihana.
Os mais pequeninos reuniam-se em volta do túmulo, à espera do que ia acontecer. Finalmente, a pedra tumular que servia de porta foi retirada, e o barulho e música no exterior extinguiram-se de repente. Os membros mais velhos da família fizeram um discurso do topo do túmulo, relembrando os entes queridos, e fez-se um minuto de silêncio, como que preparando o acontecimento principal da cerimónia famadihana.
Estava então na altura de retirar os corpos do túmulo e executar a cerimónia famadihana. O primeiro seria o corpo da pessoa que tinha morrido há menos tempo. Um caixão, carregado pelos jovens da família, foi trazido do túmulo e transportado para um descampado logo ao lado. Ali, os membros da família, acompanhados de quase toda a aldeia, abriram o caixão, pegaram no corpo e estenderam-no numa esteira de palha. O corpo estava envolto numa espécie de sudário composto por diferentes tecidos e era tratado com cuidado e respeito, apesar da confusão e barulho em volta, com dezenas de pessoas a quererem espreitar aquilo que estava a acontecer no ritual famadihana.
6. O embrulhar dos corpos no ritual Famadihana
Novos tecidos foram então trazidos para o local, incluindo seda, para envolver cuidadosamente de novo o corpo, sendo este atado com cuidado. De forma cíclica, foram sendo trazidos outros corpos do túmulo, mas todos os outros não estavam em caixões. De resto, os procedimentos eram os mesmos, sendo os corpos colocados lado a lado e sendo tratados um a seguir ao outro. Ao todo, foram retirados cerca de 10 corpos neste ritual famadihana.
Na cerimónia famadihana, sentia-se, ao mesmo tempo, alegria e tristeza. Tristeza de alguns dos membros mais próximos e mais velhos da família, alguns dos quais se sentavam junto dos corpos, a chorar e a rezar, parecendo falar com os seus familiares mortos. Ao mesmo tempo, alguns homens salpicavam o tecido por cima da boca dos corpos com algum rum e bebiam um copo de seguida, como que tomando uma última bebida com os seus entes queridos.
7. A celebração e o revirar dos ossos no ritual Famadihana
Mas a alegria era o sentimento dominante e contagiante no ritual famadihana. Toda a aldeia celebrava em volta dos corpos. O álcool corria livremente, a música não parava, as vozes entoavam alto e os corpos soltavam-se. Os mais jovens dançavam freneticamente, levantando uma enorme nuvem de poeira no recinto, que realçava ainda mais as cores do sol de final da tarde. Alguns ânimos exaltavam-se, e o nosso guia avisou-nos que muitas das festas famadihana acabavam, infelizmente, com algumas lutas entre homens mais embriagados.
A verdade é que, com o sol poente, a cerimónia famadihana estava prestes a terminar. Os corpos seriam devolvidos ao túmulo antes do pôr-do-sol, pois o sol é a fonte de energia da vida e a noite é considerada a portadora de más energias. Os corpos seriam colocados com os pés na direcção contrária à que tinham antes da cerimónia, concretizando finalmente o “revirar dos ossos”, e terminando assim a cerimónia famadihana.
8. A tradição Famadihana e o futuro
Os primeiros missionários cristãos desencorajaram a prática da tradição famadihana, assim como os actuais grupos evangélicos cristãos presentes em Madagáscar, mas, apesar do custo das cerimónias famadihana e do facto de alguns malgaxes mais jovens não se identificarem com a tradição, a verdade é que os rituais famadihana continuam a ser uma realidade todos os anos um pouco por todo Madagáscar, mas especialmente em Antsirabe.
A lembrança e respeito pelos antepassados mortos, a importância da reunião da família e a celebração da vida, antes e depois da morte, são aquilo que alimentaram a tradição famadihana ao longo dos tempos e continuarão a garantir a sua permanência na cultura malgaxe. E isso é intemporal, tal como a morte, que continua e continuará a fascinar-nos, quer estejamos a lidar com ela de perto, com o falecimento de alguém póximo, quer sejamos espectadores na dor ou celebração alheias.
DICAS PRÁTICAS PARA VISITAR ANTSIRABE E ASSISTIR A UMA CERIMÓNIA FAMADIHANA
Para poder desfrutar da sua viagem a Madagáscar e Antsirabe, e poder assistir a uma cerimónia famadihana, deve ultimar alguns pormenores antes de viajar e planear antecipadamente. Deixamos aqui algumas dicas práticas para visitar Antsirabe.
Consulte também o nosso artigo sobre viajar em Madagáscar.
1. Como chegar a Antsirabe
Antsirabe é a segunda maior cidade de Madagáscar e está ligada à capital, Antananarivo, pela principal estrada asfaltada do país, a RN-7. Sendo assim, a maneira mais barata e cómoda de chegar a Antsirabe é usar os mini-autocarros que ligam estas duas cidades, como os da companhia Cotisse Transport / Sonatra Plus ou Soatrans Plus, ou usar os táxis brousse, os transportes colectivos de Madagáscar.
2. Onde dormir em Antsirabe
Em Antsirabe, as opções de alojamento não são muito variadas, mas há algumas excelentes opções no centro da cidade.
- Na gama de preços mais razoáveis, pode escolher entre o Plumeria Hotel, o Antsirabe Hotel, e o Hotel H1 Antsirabe.
- Excelentes opções de gama média são a Eco Lodge Les Chambres Du Voyageur, o Couleur Café, e ainda o Lovasoa 4C.
3. Seguro de viagem para visitar Madagáscar
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