Apesar do budismo ser a religião que, oriunda da Índia e chegada ao Japão pela China e Coreia, acabou por se tornar dominante, a verdade é que teve de conviver com a religião nativa do Japão, o Xintoísmo, da qual assimilou alguns elementos. No período de 1870 a 1940, o xintoísmo foi mesmo a religião oficial do Estado, sendo a reverência ao Imperador um aspecto fundamental.
A palavra shinto quer dizer a “via dos deuses”, e a crença principal do xintoísmo é a de que todos os fenómenos na natureza são regulados por divindades, kami, que partilham o mundo com os seres humanos e são veneradas a nível privado ou público. No âmbito público, são os santuários, jinja, que congregam os crentes, principalmente nas festas mais populares, tais como o Ano Novo. As divindades podem reger os fenómenos naturais e atmosféricos, mas também os diferentes aspectos da vida humana. Os espíritos dos antepassados tutelam a vida familiar e mesmo nacional e são objecto também de grande reverência.
Os torii são o portal de entrada dos santuários, com duas traves no topo, e são normalmente de madeira pintada de vermelho. Segue-se uma sala de orações, haiden, para os fiéis, onde eles dirigem as suas preces à kami. À entrada está uma grande caixa de madeira, para depositar moedas, e um sino, ligado a uma corda, que serve para advertir a kami da presença do crente. As pessoas curvam-se em respeito, batem palmas duas vezes. Fazem as suas preces e voltam a curvar-se. Uma sala mais pequena e interior, honden, nunca visitada, é a morada física da kami, e onde estão depositados objectos simbólicos, shintai.
Os amuletos, onamori, são uma peça fundamental neste sistema de crenças. São vendidos nos santuários e pode ser um pedaço de papel, ou de madeira, escrito e guardado num saco de pano, que pode ser usado junto ao corpo ou colocado em algum lugar específico. As orações e os desejos dos crentes, particularmente no início do Ano Novo, são escritos em pequenas placas de madeira, ema, e penduradas no santuário. No passado a colheita dos cereais e a fertilidade eram temas populares, sendo hoje o sucesso nos negócios e a saúde aqueles que captam mais as atenções dos crentes.
Outra das peculiaridades dos santuários xintoístas é o facto de produtores de saqué, o famoso vinho de arroz, oferecerem barris (de madeira de cedro), onde um tipo de saqué, conhecido como taruzake, amadurece. O efeito visual de dezenas de barris expostos é muito bonito e impressionante.
Estando nós no início de Ano Novo, é uma época especial para os japoneses. Mais do que em qualquer outra altura do ano, é possível notar que, mais do que os templos budistas, são os santuários xintoístas que atraem as multidões. Enquanto o budismo e os seus rituais ditam a forma como os japoneses olham para a morte, o karma e o renascimento, o xintoísmo e as crenças ancestrais parecem estar mais perto do coração dos japoneses, e na sua essência reflectem a forma como eles encaram a vida e o seu quotidiano, os familiares e pessoas amadas, e o seu próprio país.
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