Depois de termos passado um dia em Nara, e a seguir à noite de passagem de ano, poder-se-ia pensar que estava na altura de descansarmos um pouco… Pensem de novo! O primeiro dia do ano, e nosso segundo dia na cidade, dedicado a um roteiro no centro de Quioto, iria ser, para variar, cheio de actividades e sempre em movimento. Ao final da tarde, iríamos de comboio para Tóquio, por isso tínhamos de aproveitar ao máximo. Logo de manhã cedo, apanhamos o autocarro 206, perto do nosso hostel, para a estação. A distância não era grande, mas estávamos carregados e não podíamos perder muito tempo. Já na estação, deixamos as mochilas grandes guardadas e comprámos o passe de um dia para os autocarros (500 ¥/pessoa), uma vez que íamos fazer várias viagens e claramente compensava.
1. Sanjusangen-do
Da estação, apanhámos o autocarro 206 para o templo Rengeo-ji, mais conhecido pelo nome do seu principal salão, Sanjusangen-do. Este salão, com 120 m de comprimento, tem 33 espaços entre as colunas, e o seu nome quer dizer isso mesmo. Mas não é a notável arquitectura do edifício a principal atracção do templo, mas sim o que o seu interior encerra, um Tesouro Nacional do Japão. E o que é? Nada mais, nada menos, do que 1001 estátuas da divindade budista Juichimen-senju-sengen Kanzeon (abreviadamente, “Kannon”), a principal representando o bodhisattva sentado, e as restantes, mais pequenas, representando a divindade em pé. 124 das estátuas datam do século XII, aquando da fundação do templo, e as restantes 876 datam do século XIII, aquando de uma grande renovação. Todas elas são feitas em madeira de cipreste, e o seu conjunto é verdadeiramente impressionante.
Infelizmente, não era permitido tirar fotos no interior do salão. Em cada extremo do salão estão as estátuas do Deus da Trovoada e do Deus do Vento, enquanto na fila da frente, como que protegendo as divindades, estão colocadas 28 estátuas de guardiões, algumas das quais têm a sua origem na Índia.
2. Kiyomizu-dera
Voltamos a apanhar o autocarro 206, e saímos perto do templo Kiyomizu-dera, no cimo de uma encosta, à qual os crentes sobem há mais de 1000 anos. E no início do ano novo, eram multidões as que se dirigiam ao templo.
A varanda do edifício principal é uma obra de carpintaria, não tendo sido usado qualquer prego na sua construção, e dela se têm óptimas vistas. Por baixo, há uma fonte sagrada, da qual as pessoas bebem para terem saúde e longevidade. No cimo das escadas, o santuário Jishu-jinja, é um santuário dedicado ao Amor, vendendo uma variedade de amuletos e tendo duas pedras salientes no chão. Diz-se que quem conseguir andar de uma à outra, de olhos fechados, e encontrar a pedra, encontrará o verdadeiro amor!
3. Passeio a pé por Higashiyama
Dali fomos a pé pelas ruas do bairro de Higashiyama, seguindo pela Sannen-zaka e Ninen-zaka. As ruas ladeadas de casas de madeira e a arquitectura característica desta parte da cidade tornam este passeio obrigatório. Foi nestas ruas que vimos mais mulheres de quimono e atá uma gueixa na entrada de um templo.
4. Yasaka-jinja
Fomos dar ao Parque Maruyama-koen, onde seguimos para o santuário Yasaka-jinja, e pudemos confirmar que este santuário é o preferido dos habitantes de Quioto para o hatsu-mode, a primeira visita do ano a um santuário.
Dali voltamos a subir o parque, mas não entramos no templo Chion-in, pois tínhamos estado lá na noite anterior. Continuamos em frente, passando em frente ao templo Shoren-in, em direcção à parte norte do bairro de Higashiyama, passando ao lado do Jardim Zoológico de Quioto, até chegarmos ao nosso destino, o templo Nanzen-ji.
5. Nanzen-ji
Nanzen-ji tem uma atmosfera tranquila, sem as multidões dos templos que já tínhamos visitado, com um aqueduto de tijolo vermelho do século XIX a dar um ar “exótico” ao exterior. No hojo (aposentos do abade), pode visitar-se jardins zen muito agradáveis e tranquilos.
6. Caminho do Filósofo
Um pouco a norte, no santuário Nyakuoji-jinja, tem início o Caminho do Filósofo, um trajecto a pé, celebrizado pelo facto de um professor de Filosofia da Universidade de Quioto, do início do século XX, caminhar frequentemente ao longo deste caminho, absorto em pensamentos. O caminho acompanha um canal de água e é ladeado por numerosas cerejeiras que, na Primavera, dão um ambiente único ao lugar.
Ao longo do caminho, podem visitar-se pequenos santuários atravessando pequenas pontes para leste, mas é uma boa ideia fazê-lo sem parar, absorto em pensamentos, ou não. Demora cerca de 30 minutos e, no final, chegamos ao templo Gingaku-ji, o Pavilhão Prateado.
7. Gingaku-ji
O nome do templo prateado deriva do facto do Xógum Yoshimasa, do século XIV, pretender cobrir de prata o seu pavilhão, em honra do seu avô, que tinha coberto Kinkaku-ji de ouro. No entanto, outras despesas impediram este sonho de se concretizar. Hoje é um templo bastante procurado, e famoso pela cerimónia do chá e pelos jardins circundantes. Os cones de areia meticulosamente preparados dão um toque único aos jardins.
Era tempo para um almoço tardio e descansar um pouco. Entramos num simpático restaurante, com uma atmosfera caseira, não sem antes escolher o que queríamos a partir das figuras em plástico, em exposição na montra, retratos fiéis das refeições. Optamos por noodles e não nos arrependemos.
8. Torre de Quioto – Quioto visto de cima
Dali apanhamos o autocarro 100 para o bairro de Gion, do qual falaremos num próximo post. Depois de um passeio no conhecido bairro, e como tínhamos comboio às cinco da tarde e não nos podíamos demorar muito, apanhámos o autocarro 206 para a estação, onde ainda assim tivemos tempo de subir à Torre de Quioto, que parece um foguete dirigido ao céu, junto à estação. Do salão panorâmico, têm-se vistas fabulosas sobre a cidade, podendo ter-se uma ideia da sua disposição e das montanhas que a rodeiam. Com o sol a pôr-se, mais uma razão para subir aos céus e ter uma perspectiva diferente desta singular cidade.
Estava na altura de, pela última vez nas nossas férias, andar de comboio no Japão. O serviço rápido shinkanzen, o famoso “comboio-bala”, levar-nos-ia até Tóquio, a maior metrópole do mundo. Mais uma vez utilizamos no nosso Japan Rail Pass.
Visitar o BAIRRO DE GION, um passeio pelo bairro mais tradicional de Quioto | Japão
Gion é o bairro de entretenimento mais famoso de Quioto, quer no sentido tradicional, quer no sentido moderno. As ruas congestionadas de trânsito, os sinais de néon, as lojas e os estabelecimentos de diversão nocturna, contrastam com as ruas ladeadas de casas de madeira, as casas de chá, e as ocasionais gueixas que se deixam vislumbrar. O bairro de Gion situa-se em Higashiyama sul, encravado entre o rio Kamogawa e o Parque Maruyama-koen, e pode ser incluído num roteiro que inclua o santuário Yasaka-jinja, e os templos Kiyomizu-dera e Chion-in.
A rua Shijo-dori, que começa em frente ao santuário Yasaka-jinja, divide Gion meio. Para norte temos ruas e vielas cheias de restaurantes e algumas ochaya, estabelecimentos de entretenimento de gueixas, sendo o cruzamento entre a Shijo-dori e a rua Hanami-koji o nervo central do bairro.
A secção a sul de Hanami-koji é particularmente bonita, com os restaurantes e casas de chá exclusivas ocupando edifícios do século XVII.
Para oeste, Shijo-dori segue em direcção ao rio, podendo cruzar-se para o outro lado, onde se pode percorrer uma das mais belas ruas de Quioto, a rua de Pontocho. É o local ideal para se ter uma ideia de como seria Quioto há 300 anos, especialmente à noite, quando as casas de madeira iluminadas pelas lanternas penduradas criam uma atmosfera única.
Daqui pode seguir-se mais para oeste, e fazer compras nas galerias (ruas cobertas) que ligam Sanjo-dori e Shijo-dori, e que têm lojas muito variadas e praticando bons preços.
Este é um dos bairros mais característicos do mundo e que é o retrato do Japão e da sua cultura milenar. Vale a pena visitá-lo e dedicar algum tempo a explorá-lo, quer de dia, quer de noite.
VISITAR QUIOTO, o que visitar em Quioto num dia (fora do centro) | Japão
Quioto é a cidade histórica mais importante do Japão, capital desde 794 a 1868, e há imensas coisas a fazer e lugares a visitar, tanto no centro da cidade, como nos seus arredores. Dependendo do tempo que se tem disponível, é quase inevitável fazer escolhas e deixar algumas coisas por fazer.
Procurámos assim aproveitar ao máximo os dias que tínhamos em Quioto, e por isso o tempo que passámos na cidade foi muito cansativo, mas também muito proveitoso. Resolvemos dividir os pontos de interesse naqueles que estão localizados dentro e fora do centro da cidade. Começámos pelos últimos. Ficámos alojados num hostel perto da estação ferroviária, o que foi uma boa opção pois a nova estação é o centro de diferentes opções de mobilidade dentro da cidade e também para ligações para fora da centro.
1. Kinkaku-ji
Na manhã do primeiro dia, apanhámos o autocarro 205 à frente da estação em direcção ao Templo Kinkaku-ji, conhecido pelo Pavilhão Dourado. Originalmente uma casa de campo de um senhor feudal do século XIV, foi transformado em templo budista após a sua morte, de seu nome Rokuon-ji. Chegámos lá ainda antes do templo abrir (só abre às 9:00h), e formámos fila com centenas de japoneses. Quando chegámos à margem do lago, ficamos boquiabertos com a beleza do templo, realçada pelo bonito céu azul e pela luz da manhã. Os dois andares superiores do edifício são cobertos em folha dourada, o que provoca um efeito hipnótico sobre os que para ele olham. Na realidade, o edifício que é hoje admirado é uma réplica fiel do original, destruído num fogo-posto em 1950. Mas esta réplica não deve ficar a dever nada ao original! Demos uma rápida volta pelos jardins do templo, mas rapidamente seguimos o nosso itinerário.
2. Daitoku-ji
Voltamos a apanhar o autocarro 205 e saímos um pouco mais à frente para visitar o complexo de templo Daitoku-ji, com uma atmosfera muito mais calma, com poucos visitantes àquela hora da manhã. Conhecido pelos seus jardins zen, este complexo tem vários templos no seu interior, podendo visitar-se apenas alguns. Optámos pelo templo Ryogen-in, fundado em 1502, tem quatro jardins de estilos diferentes, e o seu Hojo, o salão de meditação, é o mais antigo do Japão. O jardim principal representa o universo, com o musgo a representar o mar, e as pedras as montanhas. Tem também o jardim de pedra mais pequeno do Japão. Outra das atracções é a pintura de um dragão nas portas deslizantes de uma sala do templo.
3. Santuário Shimogamo
Dali seguimos a pé até ao santuário Shimogamo, dedicado à divindade da trovoada, data do século VI e tinha como função assegurar boas colheitas de arroz. Actualmente, as preocupações dos crentes estão mais viradas para o mundo dos negócios, e, para além disso, o fim de ano é uma altura propícia para se apresentar os desejos para o ano novo. O santuário estava cheio de japoneses que entusiasticamente prestavam homenagem às divindades, e escreviam os seus desejos. Saímos pela entrada principal e seguimos em direcção à estação de metro mais próxima, Demachiyanagi. Dali, seguimos para a estação de Fushimi Inari, para visitarmos o que é, provavelmente, o santuário xintoísta mais conhecido do Japão, e o principal de um conjunto de mais de trinta mil santuários Inari espalhados pelo país.
4. Santuário Fushimi-Inari Taisha
É um local de homenagem à divindade guardiã das colheitas (Inari Okami), negócios, prosperidade e bem familiar, desde que, no século VIII, as montanhas Hygashiyama, a sul de Quioto, foram escolhidas como lar da divindade. O símbolo por excelência deste santuário é o conjunto de milhares de toriis, oferecidos ao santuário por crentes de todo o país, de cor vermelha, que se diz simbolizar a força da vida e combater feitiços, e com mensagens escritas de desejos formulados e outros concretizados.
A figura guardiã do santuário é a raposa, que serve Inari Okami, e simboliza o espírito que transmite os desejos dos homens à divindade. As multidões eram enormes, traduzindo a devoção intensa dos japoneses e a curiosidade dos ocidentais. Era hora de almoço, mas foi um em andamento, no comboio de regresso a Quioto.
5. Floresta de bambu de Arashiyama
Mal chegamos à estação de Quioto, apanhámos um comboio em direcção ao nosso próximo destino, o distrito de Arashiyama. Mas enganámo-nos na estação, e acabámos por ter de voltar para trás, o que nos atrasou bastante e não nos deixou muito tempo para explorar esta zona da cidade. Acabámos por visitar de passagem o templo Tenryu-ji, um dos principais templos da escola Rinzai do budismo zen japonês, do século XIV, mas cujos edifícios actuais datam do século XIX.
No entanto, a zona florestada e jardins, por trás do salão principal, mantém a sua forma original, e foi a primeira Área Cénica Histórica designada pelo governo japonês, sendo, desde 1994, Património Cultural da UNESCO. Foi por esse jardim que atravessamos em direcção à floresta de bambu de Arashiyama, perto da entrada norte do templo, com uma atmosfera única, apesar dos milhares de pessoas que percorriam a estrada e tiravam fotografias. A luz já não era a melhor, pois o sol já se tinha escondido por trás das montanhas, mas, ainda assim, a sensação criada pelas árvores esguias e altas de bambu, que nos rodeavam, era hipnótico.
Regressámos à estação de Saga Arashiyama, e voltamos ao centro de Quioto. Mas o dia ainda não tinha terminado! Ainda fomos no autocarro 206, da estação de Quioto para o bairro de Gion, onde explorámos este bairro histórico e fizemos compras. Finalmente, terminámos este dia frenético jantando num restaurante próximo do nosso hostel cujo único prato é uma iguaria largamente apreciada, algo que se traduzia na fila de pessoas que todos os dias podíamos observar à porta do restaurante. Depois de nos deliciarmos com um “Kyoto style beef”, estava na hora de regressar ao hostel e finalmente descansar. No dia segunte, iríamos deixar Quioto por um dia para visitar a cidade histórica de Nara.
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Estou planejando minha viagem ao Japão (vou sozinha, estou com um pouco de medo!) e o blog de vocês tem sido muito útil. Obrigada!!
Obrigada, Gabriela. Boa viagem. Vai tudo correr super bem. O Japão é magnífico. 😀