Uma das vantagens de festejar a Passagem de Ano em Quioto é poder celebrar esta hora simbólica da forma que os japoneses o fazem. Quando se viaja nesta altura do ano, é muito interessante comparar a forma como os diferentes povos se despedem do ano velho e dão as boas-vindas ao novo ano, e o Japão acabou por ser um dos destinos mais fascinantes nesse respeito.
Esta época é aquela em que os japoneses demonstram mais as suas crenças ancestrais e prestam, com mais fervor, homenagem aos seus antepassados e às divindades, agradecendo as coisas boas da vida, e fazendo votos por um bom ano que se avizinha. Para isso, viajam para diferentes sítios sagrados do Japão, como Nara, ou para grandes cidades históricas, como Quioto, ou então dirigem-se para os mais diferentes templos da sua cidade. O facto de estarmos no Japão nesta altura do ano tão especial permitiu-nos viver esta festa com os japoneses, juntar-nos às multidões e partilhar dos sentimentos da população.
Em particular, sabíamos que na noite da Passagem de Ano, eram muitos aqueles que se dirigiam a diferentes templos para lá fazer a contagem decrescente. Depois de fazermos alguma pesquisa, decidimo-nos pela cerimónia de Joya no Kane no Templo de Chion-in, um dos templos mais famosos de Quioto, no bairro de Chion-in. Fundado em 1234, é a sede da escola budista mais popular no Japão, a da “Terra Pura”, ou Jodo, e tem a maior porta de entrada, Sanmon, do Japão. Mas a 31 de Dezembro, a estrela da noite é o enorme sino, forjado em 1633 e pesando 70 toneladas.
Uma equipa de dezassete monges do templo tocam-no 108 vezes, número simbólico do budismo, referindo-se aos diferentes “vícios”, “pensamentos impuros”, ou “desejos mundanos” que são obstáculos no caminho para o nirvana. O som do sino permite, a quem o ouve de coração aberto, livrar-se desses maus elementos e purificar-se para a entrada do Ano Novo.
Convém sair de casa bem antes da meia-noite, pois as filas são longas para entrar no templo. O número de pessoas que ali se dirigem é tão grande que o recinto onde se encontra o sino é simplesmente demasiado pequeno. Assim, os responsáveis do templo orientam as pessoas para um movimento constante, de modo a passarem pelo recinto do sino de uma forma rotativa, de maneira que todos tenham a oportunidade de assistir a alguns toques do sino.
A custo de muito esforço e paciência, conseguimos manter-nos na linha da frente durante grande parte da cerimónia e pudemos apreciá-la de perto. Os monges fazem acompanhar com cânticos os movimentos das cordas que balançam o batente de madeira, e a cada pancada, gritam “Ee hitotsu” (“mais uma vez!) e “sore” (“agora!”), ouvindo-se em seguida o som imponente do sino a tocar. A repetição dos sons e movimentos torna a experiência, apesar da multidão e dos empurrões, estranhamente tranquila e hipnótica. De tal forma que nem demos pela passagem da meia-noite… Ouviu-se um burburinho entre a multidão e alguém da organização anunciou através de um megafone que estávamos em 2016!
Depois de sairmos do recinto do sino, começou a chover com alguma intensidade. As ruas estavam cheias de pessoas, de tal forma que o trânsito tinha sido cortado em todo o bairro, e a polícia tinha de controlar as multidões. Acabamos por decidir regressar ao hostel, pois o dia seguinte não ia ser de descanso para nós. Como os transportes públicos não funcionavam, resolvemos percorrer a pé a longa distância até ao hostel. A chuva caía cada vez mais forte, mas imbuídos do espírito da quadra, encaramos a chuva como um sinal de bem-aventurança para o ano que se iniciava.
No dia seguinte pudemos testemunhar a devoção dos japoneses durante a primeira visita do ano aos templos xintoístas, recebendo desta vez o ano do macaco.
明けましておめでとうございます!
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