Nara é uma das cidades mais fascinantes do Japão, e é fácil visitar os seus pontos principais de interesse numa incursão de um dia a partir de Quioto. No início do século VIII d.C., o Japão tinha implementado um sistema de governo centralizado, baseado na estrutura administrativa do Estado chinês. Nara foi escolhida como sede do poder, tendo sido declarada capital em 710. Não o foi durante muito tempo, pois em 794 Quioto tornava-se a capital, mas esse breve período foi extraordinariamente importante na história do Japão, tendo sido compilados textos fundamentais, e construídos edifícios emblemáticos, numa era clássica da escultura budista que ficou conhecido como o período histórico de Nara. Actualmente, muito do que se pode visitar em Nara derivam dessa idade de ouro da cidade.
Apanhamos o comboio cedo na estação central de Quioto, em direcção a Nara. Pouco mais de uma hora depois, chegávamos ao nosso destino. Era o último dia de 2015, e esperávamos grande afluência dos japoneses a esta cidade que é um destino turístico nacional. Da estação percorremos a pé a curta distância até à zona mais histórica da cidade, com o Parque Nara no centro, onde vagueiam mais de mil veados, considerados mensageiros dos deuses, e agraciados pelos turistas com ofertas de comida.
Começamos o nosso percurso no templo Kofuku-ji, construído originalmente em 726, mas ao longo dos séculos destruído pelo fogo e subsequentemente reconstruído nada mais do que cinco vezes. Mesmo assim, a estrutura actual data de 1415 e é considerado Tesouro Nacional do Japão. O Grande Salão Oriental foi construído ao mesmo tempo que o Pagode de Cinco Andares, que hoje ainda se mantém imponente, sendo o segundo mais alto do Japão. No Salão, admiramos uma colecção de estátuas notável, das quais se destacam quatro estátuas, em madeira, de reis divinos (Shitenno), que normalmente são colocadas nos quatro cantos de um templo budista, uma vez que são guardiões da Fé e protectores dos edifícios sagrados. Na Casa do Tesouro, ao lado, encontra-se uma das melhores colecções de arte budista do Japão, sendo as estrelas da companhia a estátua hipnotizadora de Senjo Kannon Bosatsu (Kannon de Mil Braços, o bodhisattva da compaixão) e as placas esculpidas com a figura dos Doze Generais, todas com expressões faciais e estilos diferentes.
Dali seguimos para o Parque Nara e subimos ao Grande Santuário Kasuga, onde nos deliciamos com as centenas de lanternas de pedra dispostas ao longo do caminho de subida para o santuário e outras tantas de bronze no seu interior. É um dos locais xintoístas mais conhecidos no Japão e a sua estrutura data apenas de fins do século dezanove, uma vez que as crenças xintoístas ditavam a destruição e reconstrução dos santuários de vinte em vinte anos.
O nosso percurso prosseguiu em direcção ao templo Todai-ji, a grande atracção da cidade. Dentro do recinto, passamos primeiro pelos edifícios de Sangatsu-do e Nigatsu-do. Da varanda do segundo, tem-se vistas espectaculares sobre o recinto e sobre Nara.
Descemos então em direcção ao Grande Salão (Daibutsu-den), onde se tem de pagar a entrada, mas que vale cada cêntimo. Diz que é o maior edifício em madeira do mundo, e alberga a maior imagem do mundo, em bronze, de Buda sentado, com 16 m de altura, originalmente de 752, mas refundida em 1692. As estátuas douradas que a ladeiam, de bodhisattvas, datam de 1709, são de uma beleza e detalhe incríveis. Mais atrás, dois enormes guardiões divinos fazem com que este conjunto de estátuas seja um dos mais impressionantes dos que já tivemos o privilégio de visitar. Os visitantes olham para cima com espanto, e os mais pequenos e magros divertem-se a passar num buraco num dos pilares do templo, o qual se diz que dá direito ao Nirvana.
Ao sair do complexo, fizemo-lo pela porta principal, a Nandaimon, com 19 metros de altura e duas enormes estátuas de reis guardiões, um de cada lado. As multidões eram muitas, mas Nara merece pois é um destino cheio de atracções e um óptimo itinerário de um dia a partir de Quioto. Mais longe do centro ainda existem outros templos, mas já não tínhamos tempo. Era altura de voltar a Quioto. Tínhamos ainda de descansar um pouco, fazer a ceia de véspera de Ano Novo no hostel e depois sair para a Passagem de Ano. Já tínhamos visto muito, e andado vários quilómetros, mas ainda estávamos a meio do último dia do Ano!
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