Quando se fala em Jigokudani Yaen Koen a maioria das pessoas não associa nada a essas palavras. Mas quando vêem uma imagem deste local a reacção é frequentemente de estupefacção. Foi precisamente porque há alguns anos vi imagens com macacos da neve japoneses a banharem-se nas águas quentes das montanhas que decidi que este era um dos lugares que queria conhecer.
Numa viagem pelo Japão em apenas 10 dias não há tempo para muito, mas há que fazer escolhas e, conhecer Jigokudani Yaen Koen foi desde o início uma prioridade. Ficava próximo de Nagano, uma das maiores cidades do Japão, o que tornava o local acessível. Comecei por pesquisar sobre as condições de vida dos macacos da neve, já que não me apetecia nada visitar um lugar criado artificialmente com animais em cativeiro para os turistas tirarem fotografias. Rapidamente descobri que os macacos vivem em estado selvagem, no seu habitat natural, a floresta Jigokudani, e utilizam as águas das nascentes termais para se banharem.
O dia começou bem quando, pela manhã, descobrimos que tinha nevado durante a noite. Saímos da cidade, num autocarro que nos levou directamente ao local. Durante uma hora, percorremos as montanhas nevadas, e a queda de neve começou a ser cada vez mais intensa. À medida que nos dirigíamos para Jigokudani, os campos agrícolas exibiam-se completamente cobertos de neve e era impossível ver o que estava cultivado. Parámos em Kanbayashi Onsen. Aí começava o acesso às florestas de Jigokudani e devíamos começar a caminhar. Ainda não tinha parado de nevar. Mal sai do autocarro escorreguei e caí logo na neve. Pronto, agora que estava coberta de neve, já não havia mais nada a temer. Como havia muita neve e gelo no caminho, no início asfaltado, caminhar em segurança tinha que ser feito de forma lenta. Devemos ter chegado bastante cedo porque passamos por uma pequena loja no caminho que vendia crampons e botas de neve mas ainda estava fechada. Aí, começa um trilho pelo bosque.
O percurso pela floresta foi maravilhoso. Apesar da amplitude da paisagem visualizada ser reduzida devido à densidade de árvores, como tinham as ramificações e os cumes cobertos de neve, parecia que estávamos num cenário de Narnia. Caminhamos cerca de 40 minutos, desde a paragem até à entrada no parque. A neve teimava em cair e, em alguns momentos, de forma tão intensa e com vento, que percorrer aquele trilho era uma autêntica aventura.
Ainda não tínhamos chegado à entrada do parque, Jigokudani Monkey Park, e já havia macacos da neve a brincar próximo das linhas de água. Logo na entrada existe um guiché de venda de bilhetes, pelo qual pagamos 500 Y/pessoa.
Há várias nascentes termais na área e há inclusive ribeiros onde a água que escorre é quente. Apesar dos macacos também usarem estes ribeiros para tomarem banho, eles adoram uma pequena piscina de pedra, construída pelo homem, para estarem imersos nas águas quentes. Fazem fila para usarem a piscina, aguardando pacificamente que os seus companheiros terminem a higiene diária.
A população de macacos da neve nas florestas de Jigokudani ronda os 270 indivíduos. Apesar de não estarem todos nestas nascentes termais do parque, a maioria vem para esta área, essencialmente no Inverno, em que as águas quentes lhes permitem estar num ambiente mais confortável. O vapor das águas permite que algumas rochas estejam livres de neve e gelo e até a queda de neve parece ser menor sobre a piscina termal. O vapor das águas derrete a neve antes dela cair sobre os macacos que estão a banhar-se na piscina.
Vale a pena perder algum tempo contemplando os hábitos sociais dos macacos. Normalmente estão em família, um macho, uma fêmea e as crias. O macho lava a fêmea e tira-lhe os parasitas que se escondem no meio do pêlo. A fêmea relaxa descontraidamente nas águas. De seguida, mudam de posição. Entretanto as crias vão brincando nas águas, entrando e saindo da piscina, mas nunca se separando muito dos progenitores. Um macho alfa parece tomar conta dos restantes, sentado na borda da piscina.
Os macacos da neve parecem bastante habituados à presença humana já que nos ignoram completamente e mesmo quando se aproximam, ou nós nos aproximamos um pouco mais, não se assustam. Aproveitam a margem da piscina para se estenderem na água, apoiando a cabeça na parede. Parecem humanos, é incontornável pensar-se.
Há vários macacos que brincam na neve da floresta, geralmente juvenis, e alguns procuram bagas selvagens entre as ervas cobertas de branco. Outros protegem-se do vento, da neve e do frio, encostados às rochas, tremendo. É extremamente interessante observá-los.
Ao fim de duas horas resolvemos regressar. Nevava cada vez mais e o frio apertava. Pelo caminho cruzamo-nos com centenas de pessoas, especialmente turistas nacionais mas também bastantes estrangeiros. Ainda bem que tínhamos saído de Nagano tão cedo. Seria uma pena ter visitado o local cheio de multidões.
Enquanto esperávamos pelo transporte de regresso a Nagano, aproveitamos para almoçar num restaurante moderno, onde experimentamos comida de fusão japonesa com italiana. Mais uma experiência interessante, especialmente quando nos trouxeram coca-cola com uma bola de gelado de baunilha.
Dicas de viagem
Apesar do parque estar aberto durante todo o ano, é particularmente interessante visitar os macacos da neve no Inverno, em que a piscina está rodeada de neve. Normalmente existe neve entre Dezembro e Março/Abril. Nesta altura, tudo está coberto de neve e é particularmente difícil caminhar. Numa pequena loja, antes de iniciar o percurso pelo trilho, pode alugar-se botas de neve. Pode ainda comprar crampons de borracha, passíveis de serem utilizados em qualquer calçado. Não são especialmente caros (1500 Y) e podem ser uma boa opção porque poderá usa-los novamente sempre que necessitar. Nós acabamos por comprar dois pares quando já vínhamos a descer.
Não vale a pena ficar alojado perto do parque. Este é um bonito passeio para se fazer num dia ou em meio dia a partir de Nagano. Poderá ficar alojado em Nagano.
Como ir
Há várias possibilidades de transporte para chegar ao local. A mais prática é utilizar o Express Bus que sai da paragem 23 e 24, da parte leste da estação de comboio de Nagano. A viagem é directa e demora menos de uma hora. O primeiro autocarro a sair é às 9:05h mas convém estar lá um bocadinho antes. Nós fomos às 8.15h, um horário especial para a semana do Natal, e a essa hora apanhamos pouca gente no parque. O transporte custa 2800 Y/pessoa (ida e volta).
Outra possibilidade é combinar o comboio e o autocarro público. Poderá apanhar o comboio que sai de Nagano para Yudanaka e aí apanhar um autocarro para o Jigokudani Monkey Park, saindo na Kanbayashi Onsen bus stop. Esta opção é mais morosa e necessita de quase duas horas, sendo que o tempo exacto da viagem depende do tempo que necessitará de esperar na ligação do comboio ao autocarro. O comboio custa 1160 Y/pessoa e o autocarro 310 Y/pessoa, por trajecto. O que significa que ida e volta, o percurso fica por 2940 Y/pessoa. O Japan Rail Pass não funciona nesta linha de comboio.
Para quem vai de carro próprio, há um parque de estacionamento próximo de Shibu Onsen, uma povoação antes de chegar a Kanbayashi Onsen, onde poderá estacionar o carro. Daí há que caminhar cerca de 10 a 15 minutos. No entanto, a estrada que permite aceder a este parque está fechada no Inverno, deixando apenas possíveis para esta altura do ano as opções anteriores, a partir de Kanbayashi Onsen.
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