A Babilónia foi um dos grandes impérios da Mesopotâmia. Durante centenas de anos, a cidade da Babilónia foi uma das mais importantes da Mesopotâmia, e capital de um império que foi o poder dominante do sul da Mesopotâmia, e competidor do império da Assíria. No seu auge, a Babilónia governou todo o Crescente Fértil, mas o seu coração encontrava-se na Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates, hoje território do Iraque. Ali, podem encontrar-se vários sítios arqueológicos relacionados com a história da Babilónia, sendo um privilégio visitá-los, podendo conhecer a história da Babilónia nos lugares onde essa história aconteceu. A Babilónia marcou profundamente o percurso histórico da Mesopotâmia, mas não só, ganhando uma aura mística e literária difícil de ultrapassar, sendo que a Babilónia está presente em obras bíblicas, clássicas, medievais e modernas.
CONTEÚDOS DO ARTIGO
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A Babilónia no Iraque
Na nossa viagem pelo Iraque, pudemos visitar a antiga capital da Babilónia, a cidade da Babilónia, uma das cidades mais antigas e enigmáticas da Mesopotâmia, com ocupação humana de milhares de anos. Há outros locais no Iraque relacionados com a história da Babilónia, mas as limitações de tempo que tínhamos fizeram com que tivéssemos de fazer escolhas. Ainda assim, além da cidade da Babilónia, pudemos visitar as ruínas de Dur-Kurigalzu e Borsippa, a primeira, capital da Babilónia durante um breve intervalo de tempo, e a segunda, uma cidade sob a alçada da cidade da Babilónia.
A HISTÓRIA DA BABILÓNIA
1. O começo da Babilónia
Há registos da existência da cidade da Babilónia no tempo do Império da Acádia, mas sem se destacar do conjunto de cidades governadas pelos acádios. Com a perda da influência dos acádios, os amoritas (vindos de terras a oeste do Eufrates) governaram o sul da Mesopotâmia, sendo que as cidades mais importantes eram Isin e Larsa. Uma dessas dinastias amoritas acabou por fundar um estado independente, por volta de 1900 a.C., com capital na cidade da Babilónia, iniciando a chamada Primeira Dinastia Babilónica, que governaria até 1600 a.C.
Neste primeiro período da Babilónia, destacou-se o Rei Hammurabi, que expandiu o império e governou com destreza durante quase 50 anos na primeira metade do século XVIII a.C., estabelecendo uma burocracia eficiente e um estado centralizado, e criando as famosas leis do Código de Hammurabi. Mas a vulnerabilidade geográfica do sul da Mesopotâmia, sem obstáculos naturais, fazia com que a Babilónia fosse fácil presa de impérios de além fronteiras.
A extensão da Babilónia no início e fim do reinado de Hammurabi
2. A Dinastia Cassita na Babilónia
Por volta de 1600 a.C., a cidade da Babilónia seria conquistada e saquedada pelos Hititas, mas estes não ficariam muito tempo, abrindo caminho para novos governantes da Babilónia, a Dinastia Cassita. Os cassitas, tal como o amoritas, não eram originários da Babilónia, sendo que vinham das Montanhas Zagros, do actual território do Irão. Esta dinastia babilónica duraria 576 anos, e seria a mais longa da história da Babilónia. No entanto, durante a dinastia Cassita, a Babilónia teria de lidar com constantes lutas com os Impérios da Assíria, a norte, e de Elam, a oriente, e com perda de parte do seu território.
A Babilónia acabaria por ser conquistada pelos Elamitas por volta de 1150 a.C., seguindo-se um breve período de reconquistas mas depois caos, com uma sucessão de vários Reis de diferentes impérios. Finalmente, a partir de 900 a.C., a Babilónia seria governada pelo Império Neo-Assírio, mas num período dominado por constantes lutas internas e guerras com o Império de Elam. A Babilónia sofreria assim várias destruições por parte dos Assírios (por exemplo, em 689 a.C.), sendo que só com o colapso do Império Neo-Assírio é que apareceram condições para um ressurgimento do Império da Babilónia.
3. O reinado de Nabucodonosor II, glória e queda da Babilónia
Foi com o chamado Império Neo-Babilónico que a Babilónia voltou, num período breve, aos seus tempos de glória, principalmente sob o reinado de Nabucodonosor II, quando a Babilónia governou toda a Mesopotâmia. É esta época em que a Babilóia está intimamente ligada à história do povo judeu e à narrativa da Bíblia, sendo que Babilónia passou a ser, nesses textos, sinónimo de opressão e decadência. No entanto, a História depende muito dos olhos que vêem, e por isso a Babilónia é também para muitos sinónimo de grandeza e beleza.
No entanto, a Babilónia acabaria por revelar-se insuficientemente poderosa para governar tão vasto território durante muito tempo. A Babilónia acabaria por cair definitivamente às mãos do nascente império persa, nunca mais recuperando a independência. A cidade da Babilónia continuaria a ser uma cidade importante, tendo sido onde Alexandre, o Grande, morreu, mas acabaria por desaparecer após a conquista islâmica da Mesopotâmia.
VISITAR A CIDADE DA BABILÓNIA NO IRAQUE
1. A localização da cidade da Babilónia
A cidade da Babilónia quase dispensa apresentações. Desde as histórias da Bíblia, passando pela Antiguidade Clássica, até aos dias de hoje, a Babilónia suscita imagens de grandeza, beleza, decadência, riqueza e destruição. Mas o que já foi a cidade mítica da Babilónia é agora um conjunto de ruínas no Iraque, a cerca de 85 km a sul de Bagdad, nos arredores da cidade de Hillah. Até Saddam Hussein se rendeu aos encantos da Babilónia e, para além de fazer um extenso restauro das ruínas, mandou construir um dos seus palácios numa das colinas sobranceiras às ruínas. De um palácio de Saddam vandalizado, olhámos para as ruínas de uma das cidades mais míticas do mundo, a Babilónia, nas margens do Eufrates.
2. As ruínas da Babilónia
Construída em ambas as margens do Eufrates, Babilónia foi a capital do império que governou a Mesopotâmia, cidade que encantou Alexandre, o Grande, e símbolo da decadência e imoralidade para os judeus que escreveram a Bíblia. Se as ruínas da Babilónia falassem, elas contariam a História do Mundo, pois grande parte dessa história passou por ali, com registos que vão até ao Império Acádio, até ao abandono da cidade da Babilónia por volta do século III d.C., correspondendo a dois mil anos de história.
As ruínas da Babilónia estão muito longe do que a cidade terá sido, mas para quem visita a Babilónia no século XXI, continua a ser uma maravilha do mundo antigo, um grito dos confins da História que nos move interiormente, um lugar onde realmente sentimos que a nossa história colectiva começou na Mesopotâmia.
3. A Porta de Ishtar na Babilónia
O tempo que passou entretanto não deu tréguas, mas ainda assim, quando a cidade da Babilónia foi escavada pela primeira vez, no início do século XIX, foram muitos os tesouros arqueológicos que foram recuperados. Muitos deles perder-se-iam na ganância e incompetência daqueles que viam na Babilónia apenas uma hipótese de negócio, mas no início do século XX era feita uma descoberta impressionante, na via processional que levava ao Templo de Marduk, na cidade da Babilónia.
A Porta de Ishtar foi uma descoberta surpreendente e bela. Surpreendente, porque resistiu a milénios de existência para chegar até nós, bela porque nos revelou a dimensão, o detalhe e a força da arte ao serviço da religião há mais de 2500 anos. A parte principal foi levada para o Museu do Próximo Oriente, em Berlim, mas o que hoje resta nas ruínas da Babilónia ainda é capaz de nos fazer ficar de boca aberta perante a magnificência daquilo que restou da mítica cidade.
O nosso guia na Babilónia era muito simpático e abriu-nos o portão que dava para a via processional, parcialmente em obras de restauro. Pudemos então admirar mais de perto as paredes repletas de figuras de mushkhushshu, o companheiro do Deus Marduk, um animal mitológico híbrido com patas de leão e de águia e cabeça de dragão.
4. O palácio de Nabucodonosor II na Babilónia
As ruínas da Babilónia dividem-se hoje em várias partes, nomeadamente o centro, onde se encontrava o Zigurate de Etemenanki, e o templo de Marduk e a via processional, mas também as zonas onde se encontravam os palácios de Nabucodonosor II, o local onde Alexandre, o Grande, terá morrido.
5. O Coliseu da Babilónia
Afastado do centro, encontra-se a área da Babilónia onde se encontram ainda os vestígios do período helenístico, com destaque para o Coliseu reconstruído, palco de um importante festival de música no Iraque.
VISITAR DUR-KURIGALZU, CIDADE BABILÓNICA
1. A história de Dur-Kurigalzu na Babilónia
O sítio arqueológico de Dur-Kurigalzu está localizado a cerca de 30 km de Bagdad e constitui as ruínas de uma cidade que foi fundada pelo rei da dinastia cassita da Babilónia, Kurigalzu I (daí o nome do sítio, sendo que “Dur” significa fortaleza), no início do século XIV a.C. Dur-Kurigalzu foi durante algum tempo capital da Babilónia e manteve-se durante muito tempo uma cidade babilónica importante, tanto do ponto de vista religioso como político.
2. O Zigurate de Dur-Kurigalzu
A cidade de Dur-Kurigalzu continha um complexo religioso, onde figurava um zigurate, dedicado ao deus Enlil, cuja parte inferior foi reconstruída no regime de Saddam Hussein, e cuja parte superior ainda se eleva a mais de 50 m de altura. Dur-Kurigalzu foi escavado em meados do século XX e encontraram-se muitas placas inscritas em escrita cuneiforme do período cassita.
O grau de erosão do zigurate pôs a nu algumas características interessantes da sua construção e que não são visíveis em nenhum outro local. Por exemplo, é notável a utilização de camadas de tapetes de junco, intercaladas entre os tijolos, de forma a estabilizar a estrutura e a protegê-la de sismos. A cidade acabaria por ser abandonada com a queda da dinastia cassita (por volta de 1200 a.C.), mas há registos que o centro religioso continuaria em funcionamento no período neo-babilónico.
3. O Palácio de Dur-Kurigalzu
Para além do centro religioso, Dur-Kurigalzu tinha um palácio real, cujas ruínas também podem ser hoje visitadas. Este complexo terá sido usado em diferentes épocas, e arquitectonicamente distingue-se pelos edifícios reunidos em torno de pátios interiores.
4. Dur-Kurigalzu hoje
O local sofreu estragos aquando da invasão dos EUA em 2003, sendo que foram vandalizados o centro administrativo, um pequeno museu e um restaurante, que existiam antes no local, sendo que era um destino para visitas escolares e piqueniques (por exemplo, na celebração do Nowruz). Actualmente, as autoridades locais, juntamente com o exército, tentam resguardar o local do avanço dos subúrbios de Bagdad e fazem um esforço para a requalificação de Dur-Kurigalzu. No entanto, a falta de apoio do governo central e de uma equipa de arqueológos são problemas que terão de ser resolvidos para que Dur-Kurigalzu continue a ser um local de educação para iraquianos e visitantes estrangeiros, e constituir também uma fonte de rendimentos para as populações locais.
VISITAR BORSIPPA E A TORRE DE BABEL
1. Borsippa e a Torre de Babel
Borsippa é um sítio arqueológico localizado a cerca de 15 km da cidade iraquiana de Hillah e a cerca de 25 km das ruínas da Babilónia. É um local da antiga Babilónia interessante de se visitar, uma vez que lá se encontram as ruínas de um zigurate que a tradição islâmica identifica com a famosa “Torre de Babel” bíblica associada .
“1 O mundo inteiro falava a mesma língua, com as mesmas palavras. 2 Ao emigrar do oriente, os homens encontraram uma planície no país de Senaar, e aí se estabeleceram. 3 E disseram uns aos outros: “Vamos fazer tijolos e cozê-los no fogo!” Utilizaram tijolos em vez de pedras, e piche no lugar de argamassa. 4 Disseram: “Vamos construir uma cidade e uma torre que chegue até o céu, para ficarmos famosos e não nos dispersarmos pela superfície da terra”. 5 Então Javé desceu para ver a cidade e a torre que os homens estavam construindo. 6 E Javé disse: “Eles são um povo só e falam uma só língua. Isso é apenas o começo de seus empreendimentos. Agora, nenhum projeto será irrealizável para eles. 7 Vamos descer e confundir a língua deles, para que um não entenda a língua do outro”. 8 Javé os espalhou daí por toda a superfície da terra, e eles pararam de construir a cidade. 9 Por isso, a cidade recebeu o nome de Babel, pois foi aí que Javé confundiu a língua de todos os habitantes da terra, e foi daí que ele os espalhou por toda a superfície da terra.” GÉNESIS 11, 1 – 9
Na realidade, Borsippa foi uma cidade que, historicamente, esteve sempre sob a alçada do poder político e religioso da cidade da Babilónia, embora haja registos de Borsippa em períodos anteriores à Primeira Dinastia Babilónica. De acordo com isso, o templo em Borsippa seria dedicado a Nabu, filho do deus Marduk, o deus adorado na cidade da Babilónia. A história bíblica foi, aliás, muito provavelmente inspirada pelo Zigurate Etemenanki, construído na cidade da Babilónia.
2. O Zigurate de Borsippa
Hoje, o que resta do Zigurate de Borsippa e da cidade ainda é impressionante, sendo que o monte constituído pelas ruínas do complexo religioso ainda se eleva consideravelmente sobre a planície circundante, e evoca uma imagem poderosa da antiga Babilónia. No cimo, uma torre ergue-se sozinha, testemunha de um passado glorioso e longínquo. De lá de cima, tem-se uma visão privilegiada sobre o que rodeia o complexo religioso, sendo que as ruínas da cidade se encontram claramente por baixo das inúmeras pequenas colinas que ponteiam a paisagem da antiga Babilónia.
Apesar de vassala da Babilónia, Borsippa era uma cidade importante, facto revelado pelas escavações feitas na segunda metade do século XIX e início do século XX, quando foram encontradas muitas inscrições, incluindo o registo de que o rei Nabucodonosor II da Babilónia teria restaurado o Zigurate de Borsippa, em sete andares, e coberto de tijolos revestidos a lápis-lazuli. Borsippa não resistiria, no entanto, à tomada da Babilónia pelos persas e às revoltas que se seguiram, sendo que o tempo de Nabu terá sido destruído em 484 a.C., numa revolta contra o rei aqueménida Xerxes.