A Assíria foi o primeiro grande império guerreiro da Mesopotâmia. Durante centenas de anos, a Assíria foi o poder dominante de uma extensa região abrangendo o Próximo Oriente e o Médio Oriente, mas o coração da Assíria encontrava-se na Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates, hoje território do Iraque. Ali, podem encontrar-se vários sítios arqueológicos relacionados com a história da Assíria, sendo um privilégio visitá-los e conhecer a história da Assíria e impérios antagónicos, como a Babilónia, nos lugares onde essa história aconteceu. A Assíria marcou profundamente o percurso da Mesopotâmia e definiu em muito o que se seguiria nessa região do mundo.
CONTEÚDOS DO ARTIGO
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A Assíria no Iraque
Na nossa viagem pelo Iraque, pudemos visitar a antiga capital da Assíria, Nínive, uma das cidades mais antigas e enigmáticas da Mesopotâmia, com ocupação humana de milhares de anos. Há outros locais no Iraque relacionados com a história da Assíria, mas as limitações de tempo que tínhamos fizeram com que tivéssemos de fazer escolhas. As ruínas de antigas cidades como Assur, Nimrud e Dur-Sharrukin tiveram de ficar para uma próxima oportunidade.
Consulte o nosso artigo sobre viajar no Iraque e descubra a Assíria.
A HISTÓRIA DA ASSÍRIA
1. O nascimento da Assíria
Pensa-se que a origem da Assíria terá sido resultante da mistura de povos vindos dos territórios actuais de Israel e Palestina com povos do norte da Mesopotâmia. A lenda diz que os assírios serão descendentes de Assur, filho de Sem e neto de Noé. Após o fim do Império Acádio, no Período de Ur III, são fundadas várias cidades assírias administradas por Ur, incluindo as que viriam a ser capitais da Assíria, Assur, e Nínive. Os assírios ganharam a sua independência por volta de 2000 a.C., expandindo-se e unificando as cidades, naquele que é chamado o Antigo Império Assírio. Assur era também o nome do principal Deus do panteão da Assíria, e era o equivalente na Assíria do Deus Enlil, o Deus do vento, das tempestades, e da terra, líder dos deuses da Suméria, adorado no templo da cidade de Nippur.
Consulte o nosso artigo sobre a civilização da Suméria, a primeira da Mesopotâmia.
Foi só a partir de 1400 a.C., depois de terem estado cerca de 100 anos sob o poder do império Mitani, que a Assíria reconquistou a independência (com o Egipto faraónico como aliado) e recomeçou a conquistar novos territórios. Neste período, Assur retomou o seu papel de capital da Assíria, e foi fundada a cidade de Nimrud, que também viria a ser capital da Assíria durante um breve período.
2. Assíria, o império guerreiro da Mesopotâmia
O período áureo da Assíria foi o Império Neo-Assírio, quando a Assíria foi o império mais poderoso do mundo, e quando o seu território se estendia desde o Egipto, passando pelo norte da Arábia, parte da Anatólia e toda a Mesopotâmia. Neste período, as cidades assírias de Nimrud e Nínive foram também capitais do império. A língua falada no império da Assíria era o aramaico, a língua falada por Jesus Cristo.
O Império da Assíria na sua maior extensão
Mas as guerras internas entre regiões da Assíria, assim como as incursões de impérios concorrentes, levou à queda da Assíria. No final do século VII a.C., as capitais da Assíria, Assur e Niníve, seriam conquistadas e saqueadas pelos impérios Medo e da Babilónia.
A CIDADE DE NÍNIVE
1. O começo de Nínive
Nínive é, simplesmente, uma das cidades mais míticas da Mesopotâmia e uma das mais importantes da Assíria. Com registos que remontam ao Período de Uruque, Nínive era uma cidade que marcava o limite de navegabilidade do rio Tigre e era um importante entreposto comercial sob a alçada da cidade de Uruque. Foi com o surgimento da Assíria que Nínive começou a crescer em tamanho e importância, mantendo-se um dos centros provinciais de poder durante o Antigo e Médio Impérios Assírios, sendo que era um centro de culto à deusa Ishtar.
Localizada no que é agora os arredores da cidade iraquiana de Mossul, Nínive atravessou diferentes épocas e impérios, e rodeou-se de uma aura que sobreviveu até aos tempos modernos, quando as escavações começaram e encontraram verdadeiros tesouros que se encontram espalhados pelos melhores museus do mundo. No entanto, essa retirada de valores para outros países, o avanço urbano de Mossul, e por fim a destruição levada a cabo pelo Estado Islâmico (que ocupou a cidade de Mossul entre 2014 e 2017) levaram a que hoje, da antiga glória da capital da Assíria, só restem as colinas que escondem as ruínas das muralhas de Nínive. As ruínas de Nimrud também foram arrasadas pelo Estado Islâmico, mas não tivemos oportunidade de visitar esse local.
2. Nínive, capital da Assíria
Foi no império neo-assírio, última fase da Assíria, que Nínive sofreu uma grande expansão arquitectónica, com um complexo religioso dedicado a vários deuses, mas em particular durante o reinado de Sennacherib (705–681 a.C.), famoso pela destruição assíria da cidade da Babilónia, em 689 a.C., e pela transferência da capital da Assíria para Nínive (após o rei Sargão II ter estabelecido como capital da Assíria Dur-Sharrukin, moderna Khorsabad, a norte de Nínive), assim como pela sua campanha militar no Levante, descrita na Bíblia, quando a Assíria tomou o Reino de Judá.
Sennacherib remodelou a sua capital da Assíria, Nínive, construindo palácios, jardins (que se diz terem sido os verdadeiros “Jardins Suspensos da Babilónia“) e imponentes muralhas. Foi durante este período que Nínive foi a maior cidade da Assíria e do mundo, causando admiração em todos que a visitavam e origem de lendas para todos aqueles que ouviam falar dela.
São também deste período áureo que pertencem os tesouros que foram escavados e transladados para o Louvre ou o British Museum, em particular as imponentes e belas figuras de lamassu, uma criatura híbrida, com cabeça humana, corpo de touro e com asas, algumas das quais não sobreviveram à destruição pelo Estado Islâmico do património histórico da Assíria, por exemplo no Museu de Mossul.
3. As glórias de Nínive
As famosas portas de entrada de Nínive também são uma das imagens de marca da cidade e da Assíria. Das 15 portas originais, as ruínas de cinco sobreviveram até aos nossos dias, tendo sido alvo de obras de reconstrução em meados do século XX. No entanto, todas foram alvo de destruição por parte do Estado Islâmico, especialmente as portas Nergal, Mashki e Adad, constituindo uma machadada no património histórico da Assíria. Nós visitámos a Porta de Adad, onde já não existe efectivamente a porta, sendo apenas visível uma parte reconstruída da muralha de pedra e as colinas por trás. São visíveis também colinas no alinhamento das muralhas exteriores da cidade de Nínive, onde se esconderão as bases das muralhas da antiga capital da Assíria.
Incrivelmente, o legado mais importante para a História de Nínive talvez tenham sido livros (de argila)! O último grande rei da Assíria, Assurbanípal (669–631 a.C.), criou a grande Biblioteca de Nínive, talvez a primeira da História, uma grande colecção de obras em escrita cuneiforme, que se pensa poderia ter atingido mais de 10.000 documentos em argila cozida. Descoberta no século XIX por arqueólogos ingleses, e apesar de incidentes e incompetências que baralharam e impossibilitaram uma catalogação precisa dos objectos, a Biblioteca de Assurbanípal constitui hoje um património de valor inestimável, pertencente ao British Museum, mas também à Humanidade.
4. O fim de Nínive e da Assíria
Mas a glória de Nínive durou pouco, pois estava perto o fim da Assíria. Após a morte de Assurbanípal, a Assíria entrou numa fase de decadência por guerras internas, e a pressão da Babilónia e do império Medo fez-se sentir. A cidade de Nínive acabaria por ser saqueada, parcialmente destruída e abandonada em 612 a.C., e a Assíria acabaria oficialmente em 609 a.C., dando lugar ao novo império emergente da Mesopotâmia, a Babilónia, que disputaria com o Egipto faraónico a predominância no Crescente Fértil.
Nínive continuou a ser habitada no milénio seguinte, mas nunca recuperando a sua glória passada. Finalmente, com a conquista islâmica da Mesopotâmia, Nínive tornou-se um subúrbio cristão da cidade nova que nasceu na outra margem do rio e gradualmente foi sendo abandonada e esquecida, até às escavações do século XIX. Chegava ao fim uma das mais gloriosas cidades da Assíria, o grande império da Mesopotâmia.
GUIA DE VIAGEM DO IRAQUE
Este é o Guia de Viagem do Iraque versão pdf dos nossos artigos publicados aqui no blogue sobre o Iraque e a Assíria.
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Olá, Carla e Ruy! Eu sou Marta Oliveira, do Brasil. Foi uma grande satisfação ler esse artigo sobre Assiria, e tambem outros artigos! Parabéns! Eu sempre tive vontade e curiosidade de conhecer essas localidades tão antigas e bíblicas, e o vosso relato, rico de detalhes, me encantou do principio ao fim. Espero um dia poder visitar esses locais. Muito sucesso para voces!