“Viajar no Irão durante o Nowruz pode ser um pesadelo”, era assim que o nosso guia de viagem descrevia a época do ano que escolhemos para visitar este país. O Nowruz é o ano novo persa e tem início no Equinócio da Primavera, que este ano se celebrou a 20 de Março. As comemorações iniciam-se na última quarta-feira do ano, quando os jovens saltam as fogueiras e se despedem do ano velho, livrando-se dos pecados cometidos. No dia do equinócio começam 13 dias de festividades e férias. Sabíamos que chegaríamos ao Irão a 30 de Março, o que significa que ainda íamos apanhar 3 dias de Nowruz. Para os turistas, o Nowruz tem o inconveniente de paralisar o país. Os bazares estão fechados (o que para o Rui foi um sonho tornado realidade), os autocarros e comboios estão cheios de gente, os restaurantes, lojas e serviços estão todos encerrados. No entanto, porque é nesta altura que os iranianos visitam os seus familiares espalhados pelo país, os monumentos estão abertos durante um período de tempo mais alargado. Durante os dois primeiros dias de Nowruz não sofremos muito. Estivemos em Teerão, na casa de um casal iraniano que nos abriu as portas do seu lar durante as festividades.
Chegamos Às 6h da manhã a sua casa e depois de um breve olá fomos dormir para um quarto vazio. De manhã, tomamos o pequeno-almoço com o Hamid e fomo-nos conhecendo um pouco. O Hamid sugeriu que visitássemos o Palácio de Sad’habad, fora do centro, já que o bazar estava fechado e, como era 6ª feira, era como se fosse duplo feriado! Assim fizemos.
O facto de ser Nowruz fez com que apanhássemos o palácio cheio de turistas nacionais que orgulhosamente visitavam o seu património. Filas e filas em todo o lado. Descobrimos porque “viajar no Nowruz pode ser um pesadelo”.
A caminho de casa do nosso anfitrião paramos numa bela mesquita e túmulo em Tairish. Como era 6ª feira, de Nowruz, os fiéis aglomeravam-se na entrada.
Quando chegamos a casa de Hamid e da Nazrin, encontramos a casa cheia de familiares. Era Nowruz e a família veio visitá-los. Tivemos um agradável jantar com a avó, sogros, irmãs e sobrinhas. A mesa estava coberta pelos símbolos das festividades: o peixe dourado, o corão e alguns objectos que começam pela letra “s”. Terminamos a noite a ver vídeos de noivado, pré-cerimónia, cerimónia, pós-cerimónia e todos os bailes relacionados com o casamento. Agora somos experts em casamentos iranianos.
Ao 13º dia de Nowruz, o último dia das festividades, comemora-se o Dia da Natureza. Como o número 13 é o número do azar, os iranianos acreditam que devem passar o dia em contacto com a natureza pois se ficarem dentro de casa isso lhes trará má sorte. Isto significa que tudo está fechado. Tinhamos chegado nessa noite a Esfahan e a nossa anfitriã de couchsurfing, Mahsa, recebeu-nos em sua casa às 7h da manhã. Aproveitamos para dormir um bocado e por volta das 10.30h saiamos com a Mahsa, a sua família e os seus amigos para a natureza.
Quando se fala em natureza imaginamos prados verdejantes, rios, quedas de água… NÃO! No meio do Irão, um país com 34% de deserto, a natureza é isso mesmo, uma área acastanhada, rochosa e sem vegetação ou grandes cursos de água.
Passamos uma tarde agradável a jogar como se fossemos crianças de novo. Jogamos às cartas, ao mata e inclusive às escondidas, de que fomos salvos porque o jantar estava pronto. Comemos deliciosas iguarias, nomeadamente frango com açafrão grelhado na brasa, conversamos e rimos muito.
O jogo que mais nos surpreendeu pela sua particularidade foi o “Máfia”. Pareceu-nos um jogo bastante apropriado para um país que tem um regime político ditatorial. O jogo consiste em um Deus, três Máfias, um Polícia e o resto dos jogadores são Cidadãos. O jogo começa com o Deus a dar as cartas a todos os jogadores. Quem tiver os reis serão os máfias, o às será o polícia. O Deus ordena que todos fechem os olhos. Depois, ordena que os máfias abram os olhos e voltem a fechá-los. De seguida, abre o polícia os olhos. Todos voltam a encerrá-los. Por fim, o Deus ordena que todos abram os olhos e começa-se a jogar. O objectivo é os máfias manterem-se completamente camuflados no meio dos cidadãos sem que sejam descobertos. Para tal, todos devem dizer de quem desconfiam e apresentar os seus argumentos. Os máfias, tal como os cidadãos, devem convencer todos de que são cidadãos normais. O objectivo é talvez aprender a mentir, passar despercebido e estar atento ao comportamento e reacções das outras pessoas. Não me deixa de impressionar este tipo de jogo neste contexto político. Será coincidência?
Os amigos da Mahsa são na sua maioria, jovens universitários e licenciados. O seu irmão e irmã são professores de Educação Física, e Mahsa é licenciada em estudos ingleses.
Ao final da tarde, resolvemos sair da redoma em que nos encontrávamos com a família que nos acolheu e caminhamos um pouco até junto a um ribeiro onde centenas de iranianos comemoravam o seu Dia da Natureza.
Percebemos claramente que até aqui tínhamos estado junto de famílias da classe média iraniana. Junto ao rio, estavam as pessoas mais pobres, sentadas em cobertas no chão. Foi aí que descobrimos a cultura popular deste país. Ao contrário do que o Rui queria, eu embrenhei-me no meio das pessoas e comecei a tirar fotografias. Rapidamente fomos convidados para nos sentarmos com uma família onde ninguém falava inglês, com excepção de uma menina com 13 anos, mas onde o sorriso e um gesto valem mais do que mil palavras.
O Darius, um dos homens, começou por nos receber a dançar, acompanhado por várias mulheres e crianças que cantavam e batiam palmas. Em pouco tempo até o Rui estava a dançar. Com chá, vários frutos secos e chocolates fomos conversando, nós em inglês, eles em farsi.
Eu juntei-me às mulheres, o Rui ficou com os homens. Sem saber falar farsi e elas sem saberem falar inglês, consegui perceber quem era casada com quem, quantos filhos tinham, que idade tinham e o mesmo a meu respeito. Foi um momento muito bonito. Tão genuíno que o guardarei para sempre no meu coração.
Quando vínhamos embora, o Darius encheu os bolsos do Rui com comida. São tão boas estas pessoas. Que generosidade. A dar-nos aquilo que não têm frequentemente mas que se recussa-se-mos seria uma ofensa. Despedimo-nos e voltamos para junto da “nossa” família. Terminamos a noite a comer Ashe Mast, a comida típica para comemorar o fim do Nowruz e depois regressarmos a casa.
Viajar no Nowruz pode, efectivamente, ser um pesadelo para aqueles que procuram nas viagens apenas lugares, monumentos ou compras. Para nós, que viajamos para conhecer a alma do país e as suas gentes, viajar no Nowruz foi um autêntico sonho.
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