Mashhad é a cidade mais santa do Irão, devido à localização do mausoléu de um dos líderes do Islão shiita (a esmagadora maioria da população iraniana professa este ramo do Islão), o Imam Reza, assassinado há 1200 anos. Uma visita a este local é tão importante para os muçulmanos shiitas que, de forma semelhante aos peregrinos que viajam até Meca poderem acrescentar haji ao seu nome, quem o faça a Mashhad pode acrescentar o prefixo mashti ao seu nome. Não podíamos deixar passar a oportunidade de visitar esta cidade, nem que fosse uma visita-relâmpago (que foi o que aconteceu, no mesmo dia que atravessaríamos a fronteira para o Turquemenistão).
Pessoalmente não tinha esperança de ver muito, uma vez que no guia da Lonely Planet dizia que os pátios interiores (onde se encontra o mausoléu propriamente dito) são interditos a não-muçulmanos. Como ainda não nos convertemos (embora a Carla já tenha ponderado isso só para poder visitar Medina e Meca, as cidades santas na Arábia Saudita!), as expectativas não eram muitas.
Chegámos a Mashhad, vindos de comboio de Kerman, por volta das seis da manhã. Apanhámos imediatamente um táxi que nos levou à rotunda em frente ao mausoléu. Ingenuamente pensávamos que, por ser tão cedo, o mausoléu tivesse poucos visitantes. Esquecemo-nos da 1ª hora de oração do dia… Conforme nos dirigíamos ao mausoléu, passavam por nós centenas de pessoas vindas de lá, sendo que as mulheres estavam completamente cobertas de negro (muitas mesmo tapando integralmente a cara), e algumas em cadeira de rodas. Provavelmente isto parecia-nos de um mundo tão diferente quanto nós, de mochilas às costas e de máquina fotográfica em mãos, lhes parecíamos a elas! Choque de culturas…
Depois de deixarmos as mochilas a guardar, assim como as máquinas fotográficas (para desgosto máximo da Carla, não são permitidas dentro do complexo), e após a Carla vestir o seu chador branco (manto que só deixa a descoberto a cara, mãos e pés), lá entramos no complexo, apalpando o terreno. A Carla, completamente tapada, passava despercebida, mas eu, com a minha roupa desportiva, não…
Depois de passearmos um pouco pelo pátio exterior, entramos pela mesquita e avançamos no complexo. Na mesquita o número de pessoas não era muito grande, mas no pátio seguinte, já era considerável. Rodeadas por edifícios belíssimos, decorados com azulejos coloridos e cúpulas de azul turquesa, as pessoas sentam-se cá fora em tapetes e conversam umas com ou as outras ou então rezam. Por uma porta dourada de um edifício encimado por uma cúpula também ela dourada, entram e saem centenas de mulheres. A Carla aventura-se primeiro e demora-se algum tempo. Quando sai, confirma que é ali o túmulo do Imam Reza e vem um pouco chocada pelas demonstrações esfuziantes de desgosto demonstradas lá dentro, com choro, gritos e mãos a bater no peito.
A seguir fui eu, pela porta dos homens, claro. Seguindo um longo corredor e vários salões decorados com milhares de espelhos e vidros coloridos, encontro a sala do túmulo. Os homens, ainda que sendo muito mais contidos do que as mulheres (que se podem observar do outro lado de uma divisória), acotovelam-se para chegar perto do gradeamento prateado das janelas do túmulo e beijá-las, ou passar as mãos que depois levam à cara. Outros simplesmente mantêm-se em pé, virados para o túmulo, a rezar. Depois de algum tempo a observar, saí.
Continuamos a circular mais um pouco dentro do complexo, mas pouco depois saímos. O principal objectivo, contra todas as expectativas, tinha sido cumprido!
Não sou muçulmano, mas sinto-me privilegiado por ter visitado este local, tão querido para milhões de pessoas, e por ter presenciado a maneira como as pessoas que o visitam se manifestam. Não sei se foi por passarmos despercebidos ou se os regulamentos mudaram quanto à proibição da entrada de não-muçulmanos, mas espero que tenha sido esta última que nos permitiu visitar este monumento, para bem da compreensão mútua das religiões e da convivência de povos com culturas diferentes. Insh´Allah…
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