CARITA – JAVA | Visitar as aldeias dos arrozais da Indonésia

Íamos a caminho de Carita, em Java, Indonésia. Apaixonados como nós somos pelas manifestações da Mãe Natureza, era imperdoável estar em Java e não visitar o local de uma das maiores erupções vulcânicas registadas, o vulcão Cracatoa (Krakatoa). É este o nosso principal objectivo ao visitar a zona de Carita, a oeste de Java. Para lá chegar precisávamos de chegar à povoação de Carita.

Veja aqui os relatos da nossa viagem da Volta ao Mundo

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Como chegar de Jacarta a Carita a Oeste de Java

Levantámo-nos cedo, pois não sabíamos quanto tempo iríamos demorar no trânsito para sair de Jacarta e chegar a Carita. Embora os acessos à capital tenham sido melhorados nos últimos anos, o trânsito numa megalópole de 18 milhões de habitantes é sempre algo que não se pode subestimar. O nosso plano era apanhar dois autocarros da Transjakarta Busway para chegar ao terminal de Kalideres, de onde partem os autocarros com destino à parte oeste de Java e para Carita. O terminal fica a uns bons quilómetros do centro da cidade e não sabíamos quanto tempo demoraria a chegarmos lá.

Depois de tomado o pequeno-almoço no hotel, chá com pão de forma com compota, pusemos as mochilas às costas e saímos. A nossa experiência de viagem já nos permite saber que os primeiros dias não são fáceis a nível físico. O corpo ainda não está habituado ao novo ritmo e exigências, e o clima tropical húmido desta zona da Indonésia, a poucos graus sul da linha do equador, não ajuda ao corpo ajustar-se. O peso das nossas mochilas também não coopera! Nos primeiros dias das nossas viagens já sabemos que vamos sofrer até nos ajustarmos. Quando saímos, notámos que o trânsito no centro de Jacarta não parecia ser muito intenso. Era Domingo, e apesar de ser um país islâmico, isso talvez ajudasse. Encontrámos uns taxistas e, depois uma breve conversa, resolvemos arriscar ir de táxi até Kalideres. Foi uma boa aposta, pois libertou-nos um pouco o esforço de andar com as mochilas às costas, e apanhámos pouco trânsito, chegando ao terminal para Carita em cerca de 45 minutos.

Os terminais de autocarros são sempre um desafio em viagem, em particular em países em vias de desenvolvimento. No entanto, o terminal de Kalideres pareceu-nos bem organizado, e é inevitável aparecer alguém que nos direcciona para o autocarro certo para Carita (em troca de uma pequena comissão acordada com o motorista do autocarro, decerto). A comunicação é que não foi fácil. Ninguém à nossa volta falava inglês e não conseguíamos perceber quando estava prevista a saída do autocarro para Carita (se é que tinha hora prevista, pois muitos autocarros só saem quando cheios e este estava quase vazio…). Parecia que nos diziam que faltava pouco, mas… Com sorte, passou por nós um senhor mais velho que arranhava o inglês e nos conseguiu dissipar as dúvidas. O autocarro ia mesmo sair para Carita dali a 10 minutos!

Em viagem para Carita no oeste de Java

E não é que saiu mesmo!… Mas, na primeira hora de viagem para Carita, o ritmo foi muito lento, de pára, arranca constante. Não pelo trânsito, que continuava a portar-se muito bem, mas porque o autocarro parava constantemente para apanhar mais clientes. Só depois de deixarmos definitivamente Jacarta para trás é que começámos a andar a sério em direcção a Carita. De Jacarta, saímos em direcção à cidade de Serang, com ligação em auto-estrada, e depois em direcção a Labuan, já na costa oeste de Java. A partir de Serang, a estrada era “nacional”, com dois sentidos e muitas motos a ultrapassar por todos os lados. A viagem para Carita correu bem, apesar de só termos chegado a Labuan cerca das 14h00 (após 4 horas de viagem). Ainda faltava chegar a Carita.

Em Labuan, ou melhor, no terminal de autocarros de Labuan, não havia nenhum transporte para a cidade de Carita, o nosso destino do dia. Mas apareceram logo alguns jovens que se ofereceram para nos levar para Carita de moto. Ainda estranhámos, porque nos perguntámos a nós próprios como é que era possível levar-nos a nós e às nossas mochilas numa moto para Carita, mas a verdade é que é! Com a mochila grande à frente, aos pés do condutor, e nós atrás, com a mochila pequena às costas, estávamos prontos para uma rápida viagem de moto até Carita!

Como é habitual, o jovem ainda tentou levar-nos para um outro hostel em Carita (onde teria comissão), mas acabámos por ir para um que já tínhamos em mente.

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O QUE VER E FAZER EM CARITA EM JAVA

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1. Visitar a praia de Carita

Depois de alojados em Carita, era tempo de um almoço improvisado com massas chinesas trazidas do pequeno-almoço do hotel em Jacarta, e depois saímos para conhecer um pouco da pequena cidade de Carita. Esta espraia-se ao longo da costa do oeste de Java, com uma praia com um longo areal ali em Carita.

Esta praia de Carita não é, no entanto, bonita, com areia um pouco escura e suja. O vento também se fazia sentir em Carita, e alguma ondulação, mas os indonésios que tinham vindo à beira-mar não se deixavam demover.

2. Preparar a tour ao vulcão Cracatoa

Turistas ocidentais em Carita, é que nem vê-los. E isso não é bom sinal para conseguirmos uma tour para o Cracatoa a um bom preço… confirmou-se! A tour para o Cracatoa está bastante cara, principalmente se tivermos em conta que é uma saída de algumas horas em barco desde Carita. O mais barato que arranjamos era 4 000 000 de rupias, que daria cerca de 250€ para os dois. Se tivermos a sorte de arranjarmos alguém com quem dividir as despesas em Carita, sairá mais barato. Como temos um dia extra em Carita, decidimos esperar a ver se conseguimos isso. Senão, teremos de tentar regatear o melhor preço possível ali em Carita. Afinal foi para ver o Cracatoa que fizemos esta incursão a Carita e pelo oeste de Java… Combinámos com o senhor do hotel, Ahmid, que esperaríamos até ao final da tarde em Carita para ver se aparecia mais alguém com quem partilhássemos os custos da tour. Ao fim de um dia de espera em Carita conseguimos. Por isso, se for ver o Cracatoa esteja preparado para esperar ou para gastar mais dinheiro.

Veja aqui a nossa visita ao Krakatoa ou Cracatoa

3. Conhecer os sabores da Indonésia e perceber Carita

Depois de uma noite em Carita para retemperar energias, levantámo-nos um pouco mais tarde do que o habitual, e descemos para o pequeno-almoço. Estamos quase sozinhos no hotel em Carita, apenas com a companhia de uma família indonésia. Servem-nos o pequeno-almoço e… é uma taça de arroz frito, com um cheirinho a legumes e, de lado, umas “hóstias” de camarão típicas dos restaurantes chineses! Descoberta cultural em Carita…

Resolvemos dedicar a manhã em Carita a trabalhar. Há pastas para organizar, fotos para copiar, textos para escrever, posts para publicar. Arranjámos uma mesa junto à piscina e por lá ficámos em Carita até a passar da uma da tarde. Comemos umas massinhas chinesas instantâneas ao almoço, e depois resolvemos ir dar um passeio pelas redondezas de Carita.

4. Percorrer a marginal de Carita

Carita em si não tem muito para ver. As casas estendem-se ao longo da estrada que segue junto ao mar em Carita, e nota-se que Carita já teve um fluxo turístico considerável, pois há resorts virados para o mar. No entanto, parecem hoje abandonados. Nem estrangeiros (somos os únicos na cidade de Carita), nem indonésios, parecem escolher Carita como seu destino de férias. E a verdade é que a Indonésia tem milhares de praias muito mais bonitas do que a de Carita. Para além disso, é um dos efeitos colaterais da actividade do Cracatoa. As pessoas têm medo de fazer férias ali em Carita.

Actualmente, o único trunfo de Carita é também a sua maior ameaça. O vulcão Krakatoa, ao largo de Carita, a cerca de 65 km da costa, atrai os curiosos e amantes das forças da natureza, mas é também responsável por destruição e morte. A erupção mais recente foi em Dezembro do ano passado. Uma das ilhas explodiu, alterando por completo a sua forma, e criando um tsunami que matou centenas de pessoas na área de Carita. A natureza, que é tão pródiga na Indonésia, pode também ser uma mãe cruel e ali em Carita a memória não esquece.

5. Visitar os campos de arroz de Carita em Java

Estávamos em Carita na costa oeste de Java, e o dia era para esperar por uma “janela de oportunidade” em termos de preço da tour do Krakatoa resolvemos explorar os campos de arroz e aldeias da região. Os campos de arroz de Carita ao final do dia são mágicos e vale a pena perder-se nas ruas por trás da marginal em busca da herança rural de Carita.

6. Visitar as aldeias de Sindanglaut em Carita

De tarde, quisemos ir conhecer uma aldeia típica da região, apenas a dois quilómetros de Carita. Chama-se Sindanglaut, que significa “fim do mar”, pois foi ali em Carita que o tsunami da devastadora erupção do Krakatoa de 1883 terminou a sua marcha de destruição. Inicialmente, o terreno é plano e percorremos o caminho por entre inúmeros arrozais em Carita. As pessoas deslocam-se quase exclusivamente de moto em Carita, por vezes de bicicleta, e quando as cumprimentamos, respondem-nos imediatamente com um sorriso rasgado.

As casas aparentemente mais abastadas na zona de Carita têm telhados inclinados de telha, em vários patamares, e até as mesquitas têm esta estrutura que faz lembrar os pagodes chineses. Alguns agricultores em Carita regam as suas culturas, e para além do arroz parece reinar o feijão e tomate. À porta de uma escola os pais esperam as suas filhas. As meninas saem juntas, todas de uniforme, e todas usando o hijab. Pelo que temos visto na Indonésia, as meninas começam a usar o hijab muito cedo. Aliás, quase todas as mulheres o usam e são muito poucas as que não o fazem ali em Carita.

A parte mais alta desta aldeia de Carita já é em terreno mais inclinado, e terá sido por ali que o tsunami terá perdido força. Resolvemos descer e regressar a Carita por outro caminho, pelo meio da aldeia. Alguns miúdos mais curiosos seguem-nos e fazem-nos perguntas, mas a comunicação ali em Carita é muito difícil. Quase ninguém fala inglês em Carita.

Os arrozais em Carita voltam em força, e impressiona-nos a forma harmoniosa como aquelas pessoas parecem viver em comunhão com a natureza. Os pássaros chilreiam e voam por todo o lado em Carita, debicando à superfície da água nos arrozais. Todos nos cumprimentam e sorriem em Carita.

Mais à frente, passamos por dois campos improvisados de voleibol, onde quatro equipas exclusivamente femininas jogavam, aparentemente sendo uma delas a das mulheres com o cabelo destapado! Estava na hora de regressarmos à estrada principal para Carita. Tinha sido um passeio encantador, que nos encheu as medidas.

7. Conhecer a pesca artesanal em Carita

Ao regressarmos do nosso passeio pelas aldeias de Carita, resolvemos ir à zona do porto de Carita ver com mais atenção umas estruturas em que tínhamos reparado no dia anterior. São umas plataformas feitas em bambu, construídas em terra, mas depois deslocadas para ao largo da costa, a poucas dezenas de metros da praia de Carita.

Parecem umas mini plataformas petrolíferas ali em Carita, com uma planta quadrangular e uma espécie de casinha em cima. Mas não é petróleo a matéria-prima com que estas estruturas lidam… é o peixe! Os pescadores de Carita usam-nas como suporte de redes de pesca, que se encontram directamente por baixo das estruturas ali em Carita.

Como não queríamos nadar até uma, e não havia nenhum barco disponível em Carita, usámos o drone para nos aproximarmos e obter uma visão de diferentes ângulos. São construções muito curiosas e belas ali em Carita, que dão um encanto diferente a esta cidade de Carita. Mas estava na altura de regressar ao hotel em Carita e descansar um pouco.

Boas notícias para o Krakatoa?

No hotel em Carita, Ahmid esperava por nós. Confirmava-se… não havia mais ninguém para o Krakatoa. Tínhamos de levantar dinheiro numa ATM, e só em Labuan, a alguns quilómetros de Carita. Ahmid levou-me na moto até à ATM, mas quando estava a levantar o dinheiro, as boas notícias surgiram de Carita! Três franceses reservaram a tour pela internet e afinal no dia seguinte tínhamos companhia! WOW!

Esperar mais um dia em Carita e afinal compensou. E ainda fomos agraciados com uma incursão pela Indonésia rural ali em Carita, num vislumbre lindíssimo do que este país nos tem para mostrar. Estávamos preparados, agora sim, para o infame e, ao mesmo tempo, absolutamente fascinante, Krakatoa! Era hora de sair de Carita!

Este artigo foi realizado durante a nossa viagem de Volta ao Mundo em 2019/2020. DIA 19 – Em direcção a Carita no OESTE DE JAVA | Indonésia (Agosto 2019) e DIA 20 – Explorando CARITA e as aldeias dos arrozais de Java | Indonésia (Julho 2019)

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