O Djibouti estará, seguramente, na lista dos países menos visitados do mundo. O Djibouti não figura nos desejos de viagem de quase ninguém e o Djibouti está longe de ser um destino de viagem apetecível para a maioria das pessoas. Mas porquê? Talvez porque o Djibouti ainda não descobriu a importância do marketing turístico, talvez porque o Djibouti não tenha interesse em desenvolver o seu turismo ou talvez porque não haja nada para ver ou fazer no Djibouti. Nada mais errado do que esta última premissa! O Djibouti há-de ser um dos destinos mais fabulosos do mundo mas… ainda é um segredo! Um segredo bem guardado.
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CONTEÚDOS DO ARTIGO
GUIA DE VIAGEM DA GRANDE SOMÁLIA
Se procura um guia em pdf, prático e sintético, para viajar para a Somália, Somalilândia e Djibouti, este é o melhor que vai encontrar em português para levar consigo na sua viagem. A Grande Somália é a maior região do Corno de África e é uma zona maravilhosa para quem procura África tradicional e a cultura somali, com aldeias típicas, ruínas misteriosas e um quotidiano nada tocado pelo turismo, mas também tem sol e mar, com algumas belas praias, e vai encontrar neste guia todas as dicas que necessita para aproveitar o melhor da região. Um guia de viagem com a qualidade do Viajar entre Viagens. Estas páginas vão dar-lhe condições para viajar da Somália de forma independente.
COISAS A FAZER QUANDO VIAJAR NO DJIBOUTI
VISITAR O LAGO ABBE NA DEPRESSÃO DE AFAR NO DJIBOUTI
A região de Afar é dividida pela Etiópia, Djibouti e Eritreia, e para além de ser habitada por povos nómadas afares, tem uma geografia muito peculiar.
A depressão de Afar, também conhecida por depressão de Danakil na Etiópia, constitui um triângulo abatido no contacto de três placas tectónicas, a arábica, a africana (Núbia) e a africana (Somália). Esta geografia, em pleno vale de rift, faz com que aqui se construa e destrua, ao mesmo tempo, este planeta.
O lago Abbe no Djibouti é uma das paisagens que marca esta geografia, com chaminés vulcânicas gigantes, muitas ainda a deitar fumo do interior da terra. Outrora estas geoformas encontravam-se no lago e esta paisagem seria ainda mais avassaladora.
Hoje é possível percorrer esta paisagem de jipe ou a pé no Djibouti, embora o calor que se faça sentir, mesmo no inverno, seja abrasador. Contemplamos um pôr do sol magistral no meio da depressão e, de seguida, rumámos para o nosso acampamento da noite. Vamos ficar a dormir num acampamento tradicional com cabanas em estilo Afar ali no Djibouti.
Alguns minutos depois de chegar, apareceu um grupo de pessoas que começaram a cantar e dançar, aproveitamos para aprender a dançar com eles. O jantar foi espartano, mas a experiência de ali estar foi memorável.
No dia seguinte, pelo nascer do sol, o som das hienas e chacais entoava na zona. Era impossível ficar indiferente. Depois de uma caminhada, era hora de nos aproximarmos do lago para ver as fumadoras e os flamingos que chamam este lugar de casa.
Ainda só estávamos há 24 horas no Djibouti mas a experiência já estava a ser verdadeiramente avassaladora.
VISITAR O LAGO ASSAL E O PONTO MAIS BAIXO DE ÁFRICA
O lago Assal no Djibouti detém dois recordes, um deles mundial. Este é o lago mais salgado do mundo, e para além disso, é o ponto mais baixo de África, atingindo aqui -155 metros, e o segundo mais baixo do mundo.
O lago Assal é tão salgado que as formações de sal rodeiam as suas margens e o sal atinge mais de quatro metros de espessura ali no Djibouti.
Há muitos séculos que as caravanas de sal percorrem a região de Afar, em busca do sal que vai temperar as suas comidas e conservar as carnes dos povos nómadas que aqui habitam. Encontrámos na margem do lago um ancião Afar, que vive na Etiópia e que, juntamente com os seus dois netos, percorrem as montanhas e desertos durante uma semana para ali chegar ao Djibouti.
Com pás e picaretas, tentam partir o sal em pedaços para poderem carregar os camelos. Estão a trabalhar há vários dias para poderem sair, no dia seguinte, de regresso à Etiópia. O ancião mostra aos netos a arte de extração do sal, assim como tenta valorizar a importância da preservação cultural desta actividade.
Mas para os mais jovens esta vida não tem o glamour do passado. É dura, muito dura, e duas ou três semanas de caravanas de camelo dão muito pouco sustento. Na verdade, o sal que aqui extraem não é para venda. Será para trocar por farinhas e milho com outras famílias. A sua economia é muito elementar e baseada ainda na troca directa.
Enquanto os camelos percorrem a superfície salgada de sal do lago Assal, não pude deixar de pensar o quanto somos privilegiados por ali estar. O quanto o mundo nos abençoou por podermos ver ao vivo algo que sabemos tem os dias contados.
O mundo ruma em direcção a uma mudança homogénea pelos padrões ocidentais, com tudo o que isso tem de bom e de mau, e estes modos de vida tradicionais perder-se-ão para sempre. Um dia, olharemos para este momento e saberemos o quanto somos especiais por aqui estar hoje e agora. E não há nada que pague isso no mundo.
VISITAR O PONTO ONDE ÁFRICA SE ESTÁ A PARTIR NO VALE DE RIFT
Depois de explorar o lago Assal rumámos a Tajoura, a segunda cidade do Djibouti. Para lá chegar atravessamos uma das paisagens mais incríveis que já vimos no mundo, o vale de rift.
Esta paisagem vulcânica e tectónica, lado a lado, só encontra paralelo na Islândia, onde podemos ver a Terra a crescer e a destruir-se ao mesmo tempo. E aqui no Djibouti é também isso que acontece.
O vale de Rift atravessa a África Oriental e está a partir este continente. O chamado Corno de África afasta-se cerca de dois centímetros por ano nestas fracturas gigantescas que quase permitem olhar para dentro da Terra. A tectónica é tão activa que os vales de fractura são canhões virgens gigantescos, que penetram na Terra e nos fazem sentir dentro do livro do Júlio Verne.
Mas o vulcanismo também é activo por aqui. Há esvoadas de lava que escorrem dos cones vulcânicos, completamente perfeitos, lembrando que ainda há poucas dezenas de anos os vulcões cuspiram fogo do interior da Terra.
Estar aqui no Djibouti, mais uma vez, é um privilégio. O privilégio de ver ao vivo aquilo que aprendemos nos livros de geografia e geologia. O privilégio de testemunhar a mudança de um planeta que há escala humana parece imutável. E, o privilégio de perceber o quanto os seres humanos são insignificantes nesta dinâmica planetária.
O conhecimento do mundo dá-nos perspectiva e muda a forma como o vemos. Permite-nos relativizar o dia à dia, o que sentimos e o que se passa em nosso redor.
O mundo é praticamente imutável aos nossos olhos e, no entanto, nós humanos, achamos que estamos a viver tempos de mudança extremas. Não estamos. Estamos a viver mudanças que o planeta há muito se habituou a desprezar, até porque, na realidade, quem muda são os humanos, o planeta vai continuar praticamente imutável à escala humana.
NADAR COM TUBARÕES BALEIA NO DJIBOUTI
Hoje era o nosso último dia de viagem e guardamos para o fim aquela que nos parecia vir a ser a maior experiência desta viagem no Djibouti, nadar com tubarões baleia.
O Djibouti é um dos poucos lugares do mundo onde se pode nadar com tubarões baleia de forma totalmente sustentável. Os animais só aqui estão cerca de três meses por ano, precisamente nesta altura, quando atravessam o Índico para se virem alimentar do plancton que se acumula neste vale de rift submarino. Os ventos trazem o plancton, o plancton trás os tubarões baleia. E nós estávamos ali no Djibouti para os ver.
Sabíamos que era caro, porque teríamos de pagar um barco a um pescador e andar com ele à procura. Aqui não há turismo organizado e os tubarões não são monitorizados. Durante uma hora o nosso barco percorreu o mar e não conseguimos ver nada. Absolutamente nada. Regressamos a costa frustrados. Mas mais frustrados ficamos quando descobrimos que um outro barco de pescadores tinha conseguido ver dois tubarões baleia.
Confesso que fico fora de mim quando isto acontece e sou obstinada demais para atingir os meus objectivos. Conseguimos negociar com os pescadores para voltar ao mar, levando connosco o pescador que tinha conseguido ver os tubarões baleia. Durante mais de duas horas patrulhamos as águas do Índico, em busca de uma barbatana que nos mostra-se que a vida gigante e magistral está lá por baixo. Mas não aconteceu.
Terminámos o dia com a pele toda queimada pelo sol. Foram mais de quatro horas em busca destes animais, quase sempre dentro de água. Dizem que foi do dia de calor que esteve. Dizem que os animais com tanto calor não sobem à superfície e que isso não nos permitiu vê-los. Na realidade não sei o que foi, mas sei que eles estavam lá. Que nadavam por baixo do barco. Que estes seres magistrais estavam ali ao meu alcance e eu, de tão insignificante que sou, não consegui ve-los. No final do dia só me apetecia chorar. O Rui lida muito melhor com a frustração. Aceita e segue.
“Aceita, que dói menos”, diz-me tantas vezes. Mas eu não consigo aceitar. Foi o nosso último dia no Djibouti e não podíamos repetir a experiência, o nosso voo de regresso era essa noite. Mas nessa voo prometi a mim mesma, não vou desistir. Vou voltar ao Djibouti e vou nadar com os tubarões baleia como estava previsto. Não sou de aceitar a derrota, ainda que me doa menos.
DIZER ADEUS AO DJIBOUTI E À GRANDE SOMÁLIA
Antes de viajar aqui nunca tínhamos tido a percepção do que era a Grande Somália. Para nós, a Somália era apenas um país marcado pela guerra das últimas dezenas de anos, pelas acções dos grupos fundantalistas islâmicos e com uma geografia marcada pela tectónica. Contudo, por trás de tudo isso, ergue-se uma região que um dia sonhou em ser grande, a Grande Somália.
A Grande Somália é uma região dividida entre a Somália, Somalilândia, Djibouti, Quénia e Etiópia. Esta região, como outras tantas em África, foi cortada pelos europeus, mas a sua identidade continua intacta. Os somálios vivem espalhados por todos estes países e sentem-se parte de um lugar só, a Grande Somália. Este sentimento sente-se e vê-se todos os dias, nas manifestações culturais, nos hábitos e modos de vida, na religião e na música.
“I’m Somalian, I’m african” “we need a Life in peace, we don’t need more wars, we don’t need more guns”. Esta era a música preferida de um dos nossos guias e, tornou-se também uma das nossas. Ninguém precisa de mais guerras, mais armas. Mas todos precisamos de mais paz.
E, no entanto, se algo que aqui aprendemos é que quem faz a guerra são os que mais apregoam fazê-la em nome da paz. Trazem as armas, criam bases militares nestas terras e daqui partem para fazer as guerras nas terras vizinhas. Marcham com os seus exércitos hoje como nos tempos das colónias.
África é um continente delapidado, armado e pobre. África é o resultado de um jogo de interesses planetários que subjuga os mais fracos e pobres aos desígnios dos mais ricos e poderosos. Neste planeta imutável, também a natureza humana permanece igual, selvagem, animalesca e ambiciosa. O mundo pouco mudou, quer à escala geológica, quer à escala humana, o que mudou foi a percepção que temos dele.
Outrora ninguém achava que a guerra era o caminho para a paz. Hoje, metade da população mundial aceita essa permissa. E aceita porque a guerra faz-se lá longe, vê-se na tv ou na internet, do conforto do sofá e do ar condicionado.
Se os olhos desse mundo pudessem ver um pouco do que os nossos já viram; se os corações desse mundo pudessem sentir um pouco do que os nossos já sentiram; se os nossos filhos e pais tivessem que viver o que este continente vive, há muito que todos saberíamos que o caminho para a paz não se faz com armas nem com guerra.
Pobres daqueles que já não vêem com o coração; Perderam a capacidade de amar, da compaixão e da honestidade intelectual. Pobres somos todos nós que contribuímos mais para o armamento do mundo do que para a educação do nosso país. A pobreza tem muitas faces… e esta é apenas uma delas.