Xian, a capital da província de Shaanxi, foi a capital de 11 dinastias ao longo de mais de 4000 anos. A cidade marca o extremo oriental da mítica Rota da Seda e foi nesta altura que atingiu o seu apogeu (dinastia Tang). Face à sua posição, converteu-se numa metrópole atraindo mercadores de diversas religiões e transformando-se num “melting pot” de cristãos, muçulmanos, zoroastrianos e budistas.
Mesmo depois do declínio político da cidade, ela tornou-se um importante destino turístico na China e, depois de Pequim, é o principal local visitado. Isto deve-se a diversos factores, mas principalmente ao facto de ser a partir daqui que se visita o Exército de Terracota.
As muralhas de Xian, ao contrário da maioria das cidades chinesas, continuam intactas e cercam, ao longo de 14 km, o centro da cidade.
A Torre do Tambor e a Torre do Sino, no centro de Xian, são edifícios de madeira e assentam em plataformas de tijolo. A primeira marca o limite do Bairro Muçulmano, a alma actual da cidade. Este bairro foi durante séculos a morada da étnia Hui, um grupo minoritário chinês, que conta hoje com 30 000 indivíduos. No coração do bairro muçulmano situa-se a Grande Mesquita, uma das maiores da China. Esta, em estilo chinês, nada se assemelha às mesquitas árabes e, não fosse o facto de estar repleta de muçulmanos em período de Ramadão, poderíamos facilmente esquecermo-nos que era um local de oração do Islamismo. Todo o Bairro Muçulmano é um local “delicioso”. Num emaranhado de ruelas, ruas sinuosas, becos sem saída, casas baixas e vielas exibe-se uma cozinha étnica dominada pelas frutas secas e cristalizadas. Uma dádiva para o olfacto e para a vista (e um presente para a minha máquina fotográfica).
Um dos atractivos turísticos da cidade é o Grande Pagode do Ganso, um pagode da dinastia Tang. Os pagodes são considerados, por muitos, um dos elementos típicos da arquitectura chinesa, no entanto, a sua origem é indiana. Os monges que viajaram para a Índia terão trazido este conceito de forma derivado da Stupa budista. Ao longo dos séculos, o estilo foi-se adaptando e tornaram-se exclusivamente chineses com vários andares, normalmente de forma ortogonal, construídos de pedra, tijolo ou madeira.
ONDE DORMIR EM XIAN
Xian foi uma paragem bastante agradável na nossa viagem pelo centro da China. Tivemos a sorte de ficar alojados num hostel fenomenal, ao lado da porta sul da muralha, e por a módica quantia de 1,5€ por pessoa no dormitório! O ambiente era muito agradável com muitos mochileiros e viajantes de todo o mundo. Um lugar que marcou a nossa estadia.
Visitar XIAN, a cidade legado milenar da Rota da Seda na China
Eram nove horas da noite quando chegamos a Xian. Tínhamos imaginado uma entrada triunfante na cidade, com foguetes e banda de música (estou a brincar) e um sentimento de dever cumprido como se tivéssemos conquistado o mundo. Os foguetes foram substituídos pelas centenas de neons e a banda de música pelo barulho das urbes chinesas carregadas de pessoas. É verdade que sentimos que o dever estava cumprido, que tínhamos alcançado o nosso objectivo e que tínhamos conquistado algo. No entanto, não sentimos que conquistamos o mundo. Pelo contrário, sentíamo-nos vazios e tristes. A viagem, esta magnífica travessia de várias semanas ao longo da Rota da Seda, chegara ao fim…
Chegar a Xian foi uma satisfação mas ao mesmo tempo uma tristeza. Significava que a viagem tinha acabado. É certo que estávamos cansados, é impossível negá-lo, mas é igualmente verdadeiro que queríamos continuar. Queríamos ver mais, conhecer mais, aprender mais…
Se tivéssemos tempo (e meios) teríamos feito as várias rotas da seda, com todos os seus desvios e ramificações. Mas não tínhamos. Fizemos uma opção e resolvemos seguir a rota que consideramos ser a mais emblemática e que mais nos poderia ensinar. Agora, tanto tempo volvido, sentíamos que tínhamos seguido o caminho certo. Conhecemos tanto, mas ao mesmo tempo tão pouco. Vivemos e vivencíamos tanto, mas ao mesmo tempo tão pouco. Este era o sentimento que nos assolava.
Por estranho que pareça quando chegamos a Xian não comemoramos, nenhum de nós fez questão de falar ou dizer algo. Ficamos em silêncio.
O Rui estava mal disposto e com diarreia. Tinha dores no estômago e nem sequer jantou. Eu, estava cabisbaixa. No hotel, depois de começar a gravar as fotografias descubro que perdi o cartão de memória com as fotografias dos últimos dois dias. Fiquei devastada. Chorei, chorei sem parar. O Rui estava doente mas tentava consolar-me. Estava inconsolável, eram as fotografias de alguns mosteiros budistas tibetanos e de Masji Shan, a montanha de esculturas budistas. O que deveria ter sido uma noite de alegria e festa, foi uma noite triste e dominada por sentimentos de frustração.
No dia seguinte, resolvemos parar para pensar. Sentamo-nos com calma, depois de um mega pequeno-almoço, e vasculhamos as mochilas. Dizem que de estômago cheio se pensa muito melhor. O cartão das fotografias apareceu e com ele a boa disposição e a alegria. Festejamos aí. Aí, só aí, sentimos que o dever estava cumprido e que a viagem acabara aqui.
Era a nossa segunda vez na cidade de Xian. Já aqui tínhamos estado em 2009 quando cruzamos a Europa e a Ásia a bordo do Transmongol, entre São Petersburgo e Hong Kong, no entanto ainda haviam muitas coisas para ver e rever. Xian foi capital da China durante 4000 anos por isso há imensas coisas para ver e sempre razões para voltar. Queríamos muito ver alguns túmulos que não conseguimos visitar da primeira viagem, nomeadamente o túmulo do Imperador Jingdi, onde 21 locais de escavação expõem figuras de terracota. Estas figuras não têm a imponência e tamanho das do túmulo do primeiro imperador chinês (o famoso Exército de Terracota), mas retractam cenas da vida rural dos chineses, com representações de homens e mulheres trabalhadores, animais e seus instrumentos agrícolas. É, provavelmente, depois do Exército de Terracota, o local mais interessante próximo de Xian.
Deambulamos pela cidade de Xian durante dois dias, explorando os seus mercados e bazares,templos, muralhas, e assistindo ao maior espectáculo de todos: a vida urbana de uma cidade chinesa. Os chineses movimentam-se pelas ruas apinhadas da cidade agarrados aos telemóveis de última geração e parecem indiferentes ao mundo que os rodeia.
Aproveitamos ainda para ver um espectáculo de marionetas de sombras numa casa da nobreza imperial chinesa. Foi muito interessante, especialmente porque estas marionetas são exactamente iguais às que vimos em Bursa, na Turquia, no início da nossa viagem. Viríamos aqui a descobrir que as marionetas que compramos em Bursa eram, também elas, um legado da Rota da Seda. Afinal, a Rota ainda está viva.
Mas, estávamos no final da Rota da Seda e não há melhor lugar para terminar esta viagem do que o bazar nocturno do bairro muçulmano. Reencontrar aqui as especiarias e chás que vimos na Turquia, o açafrão e as tâmaras do Irão, os melões e frutas do Turquemenistão e Uzbequistão, juntamente com os inúmeros tecidos de seda e algodão, e os magníficos cavalos quirguizes, produziu em mim o sentimento de dever cumprido. Desta vez, olhei para Xian e vi, no bazar nocturno da cidade, o legado da Rota da Seda. Esta rota pode ter caído em desuso, os cavalos e camelos podem ter deixado de cruzar os desertos e as montanhas, mas a rota não morreu. A rota ainda está viva e fervilha; só é preciso estar atento e percorrê-la.
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- TAOÍSMO – Tudo o que precisa de saber sobre uma das religiões mais importantes da China, o Taoísmo.
- VISITAR HUA SHAN – Um artigo com tudo o que precisa de saber para visitar Hua Shan desde a cidade de Xian, na China.
Olá Carla e Rui. A mensagem que envio não tem directamente a ver com o conteúdo do artigo mas li recentemente o vosso livro “Viagem pela Rota da Seda” e, claro está, adorei 🙂
Ainda tenho de ler os artigos para complementar a leitura do livro.
Mas a razão pela qual escrevo é diferente: reparei que o livro não consta no GoodReads (passe a publicidade, espero que não se importem). Vi que existem dois outros livros vossos que estão lá “indexados” mas não é o caso deste. Posto isto, pergunto: costumam colocar lá os livros que lançam? Se não, pensam fazê-lo no futuro?
Cumprimentos,
Pedro Silva