Por vezes, aqueles locais que não são muito conhecidos e dos quais vimos pouca coisa, são aqueles que nos surpreendem e agradam mais. Um desses exemplos foi Maiji Shan, a ” Montanha da Meda de Milho“.
A cerca de 45 km da cidade de Tian Shui, num cenário de floresta húmida verdejante salpicada de montes calcários, Maiji Shan é um dos principais locais para se apreciarem esculturas budistas na China, e provavelmente aquele com o enquadramento mais espectacular.
Tal como outros montes nas redondezas, Maiji Shan ergue-se da floresta quase na vertical e foi nas paredes desse monte que monges e artesãos budistas construíram um complexo de grutas com esculturas, sendo que as primeiras datam do século IV d.C., mas a maior parte pertencendo ao período Qing (a última dinastia imperial da China, reinante entre o século XVII e o início do século XX).
Ainda hoje as técnicas de construção que permitiram trabalhar nas paredes quase verticais são um mistério, mas a técnica de construção das esculturas é igual às das grutas de Mogao: uma estrutura de madeira coberta de barro que permite uma maior riqueza de detalhes (embora seja menos resistente ao passar dos séculos do que as esculturas esculpidas na rocha…)
Chegamos à estação de caminhos-de-ferro de Tian Shui de madrugada, e tivemos de esperar um pouco pelo nascer do dia. Guardamos as mochilas grandes na estação e apanhamos o primeiro autocarro do dia que se dirigia para Maiji Shan (sai da frente da estação). Depois de cerca de uma hora de viagem, ficamos agradavelmente surpreendidos quando o autocarro nos deixou mesmo à porta do complexo, junto à bilheteira. Aí tivemos mais uma vez de esperar, pois ainda não eram oito da manhã e os funcionários estavam a chegar a conta-gotas.
Depois de comprarmos os bilhetes (incluindo o transporte de carro até perto do monte), fizemos rapidamente o percurso em asfalto até às proximidades do monte Maiji Shan. Daí, é um pequeno mas íngreme caminho por estrada até ao complexo. Pelo caminho, as barraquinhas que vendem chinesices ladeiam a estrada de princípio ao fim, mas uma das vantagens de vir tão cedo é que os vendedores ainda não chegaram… A outra é que há pouquíssimos visitantes!
O nevoeiro matinal estava bastante cerrado, e só conseguíamos vislumbrar algumas partes da montanha, mas o que víamos indicava-nos que esta atracção iria ser uma aposta ganha. De perto, começámos a ter uma ideia da vastidão do complexo (com cerca de 200 grutas) e do conjunto de escadarias e varandas que permitem aos turistas aprecia-lo. Tínhamos comido muito pouco de manhã, por isso penso que foi do estômago vazio, mas quando pus o pé no primeiro degrau, comecei logo a sentir vertigens (que me acompanharam durante a visita toda)… Só em poucas ocasiões tive vertigens, mas a verticalidade do local não é de se desprezar! O nevoeiro não permitia as vistas espectaculares da zona envolvente que as varandas penduradas nas paredes nos ofereciam, mas também acrescentava uma certa aura ao local…
Logo de início foi uma sucessão de conjuntos de esculturas, o seguinte conseguindo ser mais espectacular e bonito do que o anterior. O trabalho de restauro foi bem conseguido e, ao contrário de Mogao, a maior parte das grutas está acessível, sendo que mesmo naquelas que estão fechadas é possível observar o seu interior com um frontal ou lanterna (uma vez que são pequenas).
Os chamados “budas colossais”, um conjunto de três enormes esculturas, destacam-se pelo seu tamanho mas também pela sua graciosidade. Tanto nas próprias esculturas, como nas paredes, vêem-se imensos orifícios, que se pensam terem sustentado uma estrutura protectora.
Logo à frente, para mim o conjunto mais bonito: os “sete budas do meio”, um corredor onde se se encontram estátuas de sete budas ladeados por bodhisatvas. As estátuas são lindíssimas e têm um pormenor nas feições e vestes espectacular.
Mais acima, e depois de passarmos pelo “corredor dos mil budas”, com pequenas estátuas de budas sentados, temos a “galeria superior dos sete budas “, mais um conjunto impressionante e que se encontra actualmente parcialmente em restauro.
A partir daqui, começámos a mover-nos para o outro lado da parede e a descer. As estátuas não eram tão espectaculares aqui, mas continuava a ser extremamente interessante ver os pormenores nem que fosse das grutas mais pequenas e fechadas. Cada uma parecia ter um segredo que nos revelava à medida que caminhávamos e espreitávamos.
Durante a descida, passamos ainda por um buda colossal (de 16 m de altura), ladeado por dois bodhisatvas da compaixão, as segundas maiores estátuas do complexo. Eram cerca das dez da manhã, a nossa visita a Maiji Shan estava a chegar ao fim, e começavam-se a ouvir os megafones dos grupos de turistas chineses que chegavam ao complexo. Estava na altura de vir embora… E apesar de termos lido alguma coisa sobre o local e termos visto algumas fotos, sentimos que Maiji Shan tinha sido uma óptima surpresa, ultrapassando em muito as nossas expectativas, e que tinha sido um término perfeito para o nosso périplo pelo budismo na China e na Rota da Seda. A nossa grande viagem estava a terminar… Só faltava chegar a Xian!
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