Chegamos a Dunhuang, outra das cidades oásis do deserto de Taklamakan, vindos de Turpan numa viagem nocturna de autocarro. A viagem foi longa e cansativa e por isso decidimos passar a manhã a dormitar no quarto de hotel. Se soubéssemos o que rodeava a cidade oásis não teríamos dormido um único minuto!
Dunhuang é mais uma cidade oásis na orla do deserto de Taklamakan, mas que teve a particularidade de ser o local onde se encontravam (ou separavam, depende do sentido) as rotas norte e sul da Rota da Seda. Aqui terminam (ou começam) as dunas de areia do deserto.
Com o declínio da Rota da Seda, a cidade de Dunhuang sofreu fortes alterações mas nos últimos anos conseguiu encontrar no turismo o caminho para o desenvolvimento e transformou-se na “capital” da Rota da Seda na China. Há imensos hotéis, restaurantes, lojas de artesanato e até comida ocidental. Para nós, que atravessamos já toda a Ásia Central, Dunhuang é um paraíso. O nosso hotel é maravilhoso, mesmo no centro da cidade e na alma do bairro muçulmano, junto à mesquita e aos bazares nocturnos. Aproveitamos para aqui ficar dois dias. Foi pouco mas a viagem tinha que prosseguir.
Exploramos o mercado nocturno, onde experimentamos diversas “iguarias” chinesas (ver vídeo), fizemos compras e exploramos uma das áreas mais mágicas da China. Os arredores da cidade são verdadeiramente surpreendentes.
Um autocarro que custa 1 yuan (10 cêntimos) leva-nos por uma estrada até às Dunas Cantantes (Mingsha – Singing Sand Mountains), a apenas 5 km da cidade. Aqui acaba (ou começa) o deserto de Taklamakan. É a visão mais magnífica que tivemos do deserto. As dunas são gigantescas e embora se tenha que pagar (120 yuan) para entrar, vale cada cêntimo.
Tinha imensos planos para este local. Queria subir às dunas, percorrê-las de camelo, explorar o templo e o lago, explorar o oásis que os chineses construíram para receber os visitantes, etc. Mas, o tempo voou. O sol começou a esconder-se por trás das nuvens e das dunas e não havia tempo para tudo. Ou subia às dunas para apanhar aqueles raios de sol que transformam a paisagem, ou saía para o passeio de camelo. Optei por subir às dunas. Não sei se foi a melhor opção mas sei que foi uma tarde magnífica.
As dunas são enormes e merecem ser subidas com tempo suficiente para apreciar a paisagem. Subir ao topo de uma das maiores pode levar cerca de 40 minutos e os pés vão-se enterrando na areia à medida que vamos progredindo. As areias voam à minha volta, deslocadas pelo vento. E cantam, cantam mesmo!
Lá em cima, sento-me e desfruto do “prémio” da subida: uma vista fantástica e eterna. Para um dos lados tenho o lago Quarto-Crescente, um lago alimentado por uma nascente no deserto, onde um templo budista descansa nas suas margens verdejantes. Um contraste que apenas o deserto chinês nos conseguiu mostrar. Ao fundo, a cidade oásis de Dunhuang.
Do outro lado, o deserto imenso e interminável. Começamos a acompanhá-lo em Kashgar e desde essa altura que o ladeamos pela rota do norte mas é aqui que ele exibe o seu maior esplendor.
O templo e o lago, embora pequenos, merecem uma visita atenta. Há uma pequena exposição de arte popular no seu interior e, não fossem as centenas de chineses, sinto-me a viajar no tempo.
Dunhuang é uma caixinha de surpresas. Reservou-nos a secção mais bonita do deserto de Taklamakan e raios de sol dourados sobre as dunas. No entanto, a cidade ainda tinha muito mais para nos oferecer: um magnífico legado de arte budista, provavelmente um dos maiores de toda a China – as grutas de Mogao. Dunhuang foi “música” para os nossos ouvidos.
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Visitar as GRUTAS MOGAO – À descoberta das do maior segredo budista da China
As grutas de Mogao são um dos testemunhos mais espectaculares da importância histórica do budismo na Rota da Seda e na China. A sua construção estendeu-se entre os séculos IV e XI d.C., graças aos donativos de mercadores e governantes, que desejavam associar o seu nome à veneração das divindades budistas, e ao trabalho incansável de monges e artesãos que viviam no local. A sua localização remota, nas franjas do deserto de Taklamakan, contribuiu para a sua preservação ao longo de séculos de esquecimento, até ser redescoberto em 1907 por um arqueólogo alemão, sendo hoje um dos principais sítios arqueológicos da China e uma grande atracção turística.
A cerca de 25 km da cidade-oásis de Dunhuang, as Grutas de Mogao são hoje facilmente acessíveis por uma estrada asfaltada percorrida por autocarros locais que fazem a viagem de ida e volta do centro da cidade (8 yuan). Quando nos aproximamos, as dunas do deserto dominam a paisagem e temos uma noção do que seria este local nos seus tempos áureos. Mas quando nos acercamos do local, vemos que os chineses estão a modificar a paisagem como nunca foi feito. As encostas onde se encontram as cerca de 600 grutas de Mogao foram redesenhadas na forma de apartamentos, com varandas e passadiços, sendo que a maioria das grutas de Mogao não se encontra aberta ao público. O leito seco de um curso de água está a ser alvo de profundas obras, aparentando que no futuro irá correr um rio por aqui… Tal como o resto, as atracções turísticas na China estão em permanente mutação.
Antes de entrarmos no complexo das grutas de Mogao, decidimos visitar o Centro de Pesquisa e Exposições, onde se pode encontrar a história detalhada da descoberta do local e restauro das grutas (com fotos), uma colecção de objectos recolhidos no local (embora a cópia, manuscrita em pergaminho, do Sutra de Diamante, e que se pensa ser o livro impresso mais antigo do mundo, não esteja aqui…) e uma reconstituição minuciosa de 7 grutas em tamanho real. Apesar de ser proibido, foram nestas que recolhemos todas as fotos de esculturas e pinturas que apresentamos nesta crónica, uma vez que descobriríamos depois que não é permitida a entrada de máquinas fotográficas no interior das grutas. Apesar de serem uma cópia, são impressionantes e muito mais fáceis de observar e admirar do que as originais, uma vez que o interior destas não é iluminado, excepto pela lanterna do guia ou pelo frontal de algum turista ocidental como nós.
Gostamos tanto das grutas de Mogao reconstituídas que, quando nos dirigimos à bilheteira, já tínhamos perdido a tour com um guia inglês. Assim, juntamo-nos a um grupo de turistas chineses e lá fomos. A visita normalmente demora cerca de 2 horas, com direito a visitar cerca de 10 grutas, escolhidas pelo guia de entre aquelas que estão disponíveis. Claro está que não pudemos desfrutar da explicação do guia (uma vez que foi em mandarim!), mas complementávamos a visita com a leitura dos guias.
Algumas das grutas que visitámos (nenhuma das quais coincidia com as reconstituídas no museu) impressionavam pela sua grandeza, como aquela que tem um buda sentado gigantesco, com cerca de 25m de altura. Outras destacavam-se pela beleza das pinturas ou pelo detalhe das esculturas.
Algo que aprendemos no museu foi que as esculturas não são esculpidas na rocha, mas sim em madeira, revestidas de palha e finalmente de adobe, permitindo assim uma riqueza de detalhe e naturalidade que não seria possível esculpindo a rocha de arenito local, que facilmente se desagrega. Finalmente, todas as esculturas eram pintadas, usando pigmentos extraídos de rochas minerais.
Como sempre, os turistas chineses ficavam satisfeitos com uma breve visita e explicação em cada gruta, por isso o tempo disponível para cada uma não era muito. No entanto, fazíamos sempre por ser os primeiros a entrar e os últimos a sair… E com a ajuda do nosso frontal (embora não muito potente), conseguíamos ver alguns pormenores não iluminados pela lanterna do guia.
No cômputo geral fica um certo amargo de boca por só podermos visitar 10 grutas quando sabemos que existem muito mais no local. Ainda que, compreensivelmente, seja quase impossível exigir a visita das 600 grutas (e o seu restauro), pensamos que seria benéfico para o turismo e a divulgação do local e da cultura budista que fosse possível visitar as cerca de 30 grutas que estão disponíveis e, não menos importante, a captação de imagens. Claro que a utilização de flash não deverá ser permitida, mas a iluminação (fraca) com luz natural que vem do exterior permite a obtenção de fotos na maioria das grutas (com a ajuda de tripés). Infelizmente o governo chinês não pensa da mesma forma e exige uma licença caríssima para a captação de imagens. Por isso, se desejam ver os originais, têm de imitar os antigos viajantes e calcorrear a Rota da Seda para aqui chegar. Vão ver que não se arrependerão…
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