A história dos primórdios da difusão do budismo na China não é bem conhecida. Tendo o budismo sido fundado no séc VI a.C. pelo Buda Shakyamuni, numa região entre os actuais países da Índia e Nepal (Buda nasceu em Lumbini, no Nepal, e morreu em Bodhgaya, na Índia), crê-se que se tenha expandido para terras do extremo oriente a partir do século I d.C., usando a auto-estrada de comunicação que era a Rota da Seda. Esta difusão foi bem sucedida, pois em determinados momentos da História da China, principalmente aqueles mais conturbados, em que a ordem social era posta em causa e os perigos espreitavam em cada esquina, o Budismo conquistou a posição de religião oficial do império. No entanto, tal como o nosso poeta escreveu “Mudam-se os tempos; mudam-se as vontades”, e as reviravoltas históricas também se reflectiam na religião, com as ideias e práticas budistas a sofrerem altos e baixos em terras chinesas. Essa missão de expansão estava assente no esforço e dedicação de muitos indivíduos, tais como o monge Xuanzang, que fez uma peregrinação à Índia e trouxe escrituras budistas (sutras) para serem traduzidos e guardados, sendo possível ainda hoje visitar em Xian o local onde foram depositados (o Grande Pagode do Ganso).
Mais ou menos na mesma altura que o budismo começava a expandir-se para Oriente, surgiu uma nova escola, o budismo Mahayana, com o seu ênfase na figura do bodhisatva, aquele que atingiu a iluminação mas que rejeita o nirvana com o intuito de ajudar todos os seres vivos a atingirem o mesmo objectivo. Foi esta escola (com o nome de Ordem Chan) que se estabeleceu na China, chegando até ao extremo oriente, por exemplo ao Japão, onde surgiu na forma do budismo Zen.
Curiosamente, a mesma figura era venerada em diferentes regiões, mas com um nome diferente, e até com um sexo diferente! O bodhisatva da compaixão, conhecido na Índia como Avalokitesvara, é a figura mais venerada na China, mas na forma feminina de Guanyin, a deusa protectora da Humanidade, com os seus múltiplos braços.
Actualmente podem observar-se dezenas de sítios arqueológicos espalhados por toda a China, relacionados com a presença e expansão dos ideais budistas. Em particular, ao longo da Rota da Seda, é notória a presença de vestígios em cidades já desaparecidas e de complexos de grutas com pinturas ou esculturas representativas do universo e panteão budistas, tais como Jiaohe e Gaochang, e as grutas de Bezeklik, Mogao e Maiji Shan, locais que visitamos e dos quais escreveremos em futuras crónicas.
Além disso, na parte final da Rota da Seda, é possível visitar alguns dos mosteiros mais importantes do budismo tibetano, mesmo sem entrar no Tibete propriamente dito! Pensa-se que o budismo entrou no Tibete no século VII da nossa era, quando um rei pediu a ajuda de um bodhisatva vindo da Índia para subjugar os demónios e espíritos que vagueavam por terras tibetanas e converter as divindades locais ao budismo. Essa figura mítica, de características sobre-humanas, era Padmasambhava (também conhecido por Guru Rimpoche), o fundador do budismo tibetano e ainda hoje venerado e profusamente representado na arte monástica tibetana. O budismo misturou-se assim com as religiões locais (particularmente a fé Bon), e daí nasceu um ramo com características únicas. Muita da simbologia e rituais do budismo tibetano, por exemplo as bandeiras de oração, provêm desta simbiose. As figuras iradas e de aspecto aterrorizador, protectoras do budismo (dharmapalas), eram antigos demónios, convertidos pelo grande Guru, e os tambores de oração eram feitos com a parte superior de 2 crânios, uma forma de relembrar a impermanência de todas as coisas.
Por tudo isto, a nossa Rota da Seda não ficaria completa sem uma pequena «peregrinação» por alguns destes locais cheios de história e significado espiritual, tais como os mosteiros de Labrang e Kumbum e a cidade de Tongren, sobre os quais em breve escreveremos. E tal como antigamente os viajantes paravam nestes locais para fazer uma oferenda pelo êxito de uma viagem já concluída ou de uma que estava prestes a iniciar-se, também nós quisemos desta forma prestar homenagem e, porque não, também agradecer pela nossa bem sucedida Rota da Seda, prestes a terminar.
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