Tudo o que precisa saber para fazer o W, o melhor trek no Parque Nacional TORRES DEL PAINE | Chile
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O Parque Nacional Torres del Paine, na Patagónia chilena, é uma das áreas de trekking mais conhecidas do mundo. Abrangendo uma área montanhosa dominada pelas famosas Torres del Paine, gigantescas torres graníticas que se erguem verticalmente do maciço montanhoso atingindo quase 3000 m, apresenta paisagens deslumbrantes que incluem, lagos e lagunas, quedas de água, glaciares e, claro, muitos cumes nevados. Na temporada alta (aqui, nos meses de Janeiro e Fevereiro), a melhor opção é fazer o circuito completo, rodeando o maciço e que demora 8 dias, mas como estávamos em Abril (em pleno Outono) e tínhamos algumas restrições em termos de tempo disponível, resolvemos fazer o chamado “circuito W“, que passa pelas mais famosas atracções do Parque e demora 4 a 5 dias a ser percorrido.
Os refúgios de montanha do parque Torres del Paine são caros, por isso decidimos que a opção mais viável seria acampar. Os acampamentos localizam-se logo ao lado, ou perto dos refúgios, sendo as instalações disponíveis variáveis conforme o caso. Claro que esta opção pode ser um pouco desagradável se o estado do tempo não cooperar. E este era o factor preponderante no sucesso deste trek, pois a chuva e o céu nublado, para além de tornarem os caminhadas e os acampamentos experiências sofríveis, impedem que se veja a paisagem, que e o objectivo principal. E já tínhamos falado com pessoas que fizeram o trek de 5 dias e não chegaram a ver uma única vez as Torres del Paine, devido as nuvens…
Consultadas as previsões meteorológicas para a área, sabíamos que provavelmente teríamos tempo razoável nos primeiros dias, piorando para o final do trek. Não podíamos esperar pelo bom tempo, e depois de tudo organizado em Puerto Natales, e com a companhia de 2 raparigas (uma francesa, já conhecida da Carla, e outra austríaca), lançámo-nos nesta aventura.
1ºDia nas Torres del Paine
Às 8 da manhã apanhámos o autocarro em Puerto Natales, que nos levaria a entrada do Parque Nacional Torres del Paine, a cerca de 150 km de distância. Quando nos aproximávamos, o céu estava praticamente limpo, e as Torres agraciaram-nos com a sua visão (ainda que distante), dominando o horizonte com o seu tom amarelo-alaranjado. Pedimos ao condutor para parar para tirar umas fotos. Esta vista já não escapava! Na entrada do Parque, tínhamos de optar: ou fazíamos o “W” de E para O, e começávamos pela parte das Torres del Paine (a opção que a maior parte dos caminhantes toma, especialmente quando o tempo está limpo e se vêem as Torres), ou de O para E, tendo de apanhar um barco e atravessar o Lago Pehoe, desembarcando junto ao refúgio Paine Grande e começando daí. Foi esta 2ª opção que tomámos, pois queríamos aproveitar o bom tempo para admirar o que, para nos, é a maior atracção do Parque: o glaciar Grey. Dissemos adeus às Torres del Paine (pois não são visíveis do outro lado do Parque) mas, antes de apanharmos o barco ainda tivemos tempo para fazer um pequeno percurso a pé até a um miradouro, junto a uma imponente queda de água, e de onde se tinha uma vista fabulosa dos “Cuernos del Paine”, montanhas lindíssimas com base granítica esbranquiçada e cumes de coloração negra (constituídos por um tipo diferente de rocha). A travessia do lago permitiu-nos tirar mais fotos a este conjunto de montanhas, que figura na capa do guia “Lonely Planet” de Trekking nos Andes Patagónicos.
Desembarcámos, montámos a tenda nas imediações do refúgio e, como ainda era o inicio de tarde, resolvemos percorrer parte de um percurso que, ainda que não faca parte do “W”, permite ter vistas panorâmicas excelentes dos “Cuernos” e montanhas adjacentes. Quando regressámos, tivemos uma desagradável surpresa: ratos tinham entrado dentro da tenda e roído a minha mochila, para comer uma barra de cereais que lá tinha. Já tínhamos sido avisados para a audacidade e voracidade dos “ratones del Paine” mas, a partir dai, tudo o que pudesse atrai-los teve de ir para um quarto de arrumações no refúgio. A noite foi fria mas não muito e, no dia seguinte, era o dia do Grey!
2º Dia nas Torres del Paine
O Grey, um de vários glaciares a que se pode aceder no Parque Nacional Torres del Paine, é rio de gelo gigantesco que desce por vales rodeados de montanhas geladas e que termina no lago com o mesmo nome. A sua “nascente” situa-se no extremo sul dos chamados Campos de Gelo Patagónicos Sul (CGPS), um planalto coberto de neve e gelo (sobressaindo do manto branco apenas os picos mais elevados), remanescente de idades de gelo passadas, de área aproximada 13000 km2 e que se estende por 370 km entre o Chile e a Argentina. Das extremidades dos CGPS fluem cerca de 50 grandes glaciares, que terminam em fiordes no Pacifico (do lado do Chile) ou em lagos e vales do lado da Argentina mas existem, nesta área, mais de uma centena de pequenos glaciares de montanha. Pode tentar dar-se uma ideia da dimensão destas fenómenos da natureza citando números (o Grey tem um comprimento de 28 km e uma área de cerca de 270 km2), mas só estando ao seu lado e sentindo a nossa pequenez perante eles, é que podemos compreender o fascínio que estas maravilhas naturais exercem sobre tantas pessoas. Mas para colmatar isso, existem as fotos!
Quando o Grey se aproxima do lago (por ele criado), a sua língua de 6 km de largura encontra uma “ilha” rochosa e divide-se em duas. Tal como a esmagadora maioria dos glaciares patagónicos, o Grey é um glaciar em retrocesso; a sua frente recuou, desde meados do séc. XX até aos dias de hoje, cerca de 4 km. A nossa caminhada começou às 8.45 h (com atraso devido a problemas com roedores…) e só após cerca de 2 horas começamos a ter vislumbres do glaciar e suas redondezas: primeiro o lago, depois um icebergue encalhado na margem e, finalmente, a visão do glaciar, com as suas duas línguas de um azul lindíssimo tocando o lago, e podendo ver-se no horizonte os campos de gelo. Fiquei boquiaberto… Que visão maravilhosa! Continuamos a aproximar-mo-nos e, passado o refúgio Grey, chegámos à baía em frente à língua esquerda do glaciar e deparou-se-nos uma paisagem que nos deixou sem palavras: os icebergues que se desprendem do glaciar amontoam-se nas margens da baía, oferecendo-nos um panorama fenomenal, especialmente quando o sol, até aí escondido por trás de uma montanha, resolve mostrar que um glaciar é ainda mais bonito quando a luz do sol lhe bate directamente.
Depois de muitas fotos, a nossa vontade era continuar até ao acampamento Guardas, que nos permitiria ter uma visão do glaciar a partir de cima, mas o tempo escasseava e apenas pudemos ir um pouco mais à frente, ainda assim aproximando-nos ainda mais do glaciar e obtendo pelo caminho vistas fantásticas.
Após o almoço, tivemos de enfrentar o caminho de volta, chegando ao acampamento pelas 18.00 h, 9 horas após a partida, com alguma exaustão mas com o coração cheio do que tínhamos tido o privilégio de presenciar, e gratos pelos deuses nos terem agraciado com um dia de sol perfeito nas Torres del Paine.
3º Dia nas Torres del Paine
Talvez devido ao cansaço do dia anterior, esta noite foi melhor dormida, mas o dia acordou cinzento e com chuva. Resolvemos continuar acampados em Paine Grande e fazermos o vale francês (a perna do meio do “W”) ida e volta no mesmo dia. O percurso até ao começo do vale (um pouco menos de 2 horas) foi feito debaixo de chuva e sem um vislumbre da paisagem circundante. O pesadelo de um trekker!
Após uma pausa no acampamento italiano, começámos a subir o vale e, mesmo com pouca visibilidade, pudemos admirar o glaciar francês, um magnífico espécime de glaciar de montanha, escorrendo pela vertente oposta a nós e com a sua frente repousando no fundo do vale. Ainda subimos um pouco mais, mas a chuva transformou-se em neve e decidimos baixar. O tempo começou gradualmente a clarear e, durante a descida, começamos a vislumbrar os cumes dos “Cuernos”, mesmo por cima de nós (mas até então invisíveis!) e ouvimos, por algumas vezes, o som estrondoso (semelhante a trovões) de avalanches nas montanhas vizinhas.
Ao fazer o caminho de volta pudemos, desta vez, observar a paisagem que nos rodeava e admirarmos as montanhas de cumes brancos rodeadas de vegetação dominada pelas cores outonais. Quando chegámos ao acampamento, o vento que se começou a sentir já tinha secado as nossas roupas de protecção, mas era um prenúncio do que a noite iria trazer…
4º Dia nas Torres del Paine
Durante toda a noite, a nossa tenda foi violentamente sacudida pelo vento, que uivava estrondosamente lá fora. Quase não preguei olho a noite inteira… De manhã o vento amainou, mas o céu continuava cinzento e a chuva não tardaria… Resolvemos mudar o plano inicial e, em vez de fazermos o percurso até ao acampamento Las Torres debaixo de chuva e carregados com as mochilas, decidimos apanhar o barco de regresso e voltar à entrada do parque, apanhando uma ligação de autocarro até Las Torres. Aí poderíamos acampar mas, mesmo com o mau tempo, decidimos subir e ver um pouco do vale, até ao acampamento chileno. Foram quase 2 horas de caminhada sob chuva, por vezes intensa, com as montanhas totalmente escondidas atrás das nuvens. Chegados ao acampamento, e montadas rapidamente as tendas, trocamos as roupas encharcadas (pois as roupas ditas impermeáveis só o são até certo ponto!) por umas secas e enrolamo-nos nos sacos-cama… Eram 18.00 h mas não voltamos a sair! A noite foi fria, húmida e muito longa… Torres del Paine… nem vê-las.
5º Dia nas Torres del Paine
Levantámo-nos para constatar que o mau tempo continuava… Mais para cima no vale nada se via, excepto a neve que começava a cair! Decidimos que não valia a pena subir mais, até ao mirador das Torres del Paine, e decidimos desmontar as tendas e baixar. No decurso da descida o tempo começou gradualmente a melhorar, e o céu a mostrar algumas abertas ao fundo do vale. As montanhas continuavam, no entanto, envoltas em nuvens… Quando chegámos, “acampamos” na entrada do Hotel Las Torres (sendo que o refúgio já estava fechado nesta altura do ano). Enquanto fazíamos uma refeição, e éramos alvo de olhares curiosos da classe alta chilena que fazia o check-out do Hotel (era Domingo de Páscoa), o céu ficou gradualmente azul e, perto das 14.00 h (hora da ligação de autocarro com a entrada do Parque), as Torres del Paine resolveram aparecer! Não tivemos sorte, pois a visão do mirador deve ser espectacular, com as três torres (sendo que uma delas praticamente não se vê do fundo vale) erguendo-se acima de um pequeno glaciar e uma laguna (isto pelo que pude ver em fotos na net e em livros!).
Ainda assim, fomos agraciados com a visão das Torres del Paine no primeiro e último dia, sentados no autocarro, na chegada ao Parque e na partida deste. No cômputo geral, e apesar das condicionantes meteorológicas, foram dias recheados de paisagens deslumbrantes e, quem sabe, poderemos um dia voltar para ver as Torres del Paine “arder” ao nascer-do-sol?
Geógrafa com uma enorme paixão pelas viagens e pelo mundo. Desde muito cedo que as viagens de exploração fazem parte da sua vida. A busca do conhecimento do mundo leva-a em direcção a culturas perdidas e ameaçadas, tentando percebe-las. Hoje é também líder de viagens de aventura na Nomad.
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Li apressadamente, as fotos têem-me "lavado" os olhimos tanto !!!!!!, não deixem de escrever.
Mais tarde agradecem. Beijos e obrigada.