Uma vez que as estradas do Cazaquistão se revelavam melhores do que o esperado, o nosso objectivo para o dia era percorrer os quilómetros de território cazaque que nos faltavam, até à cidade de Semey (antiga Semipalatinsk), e atravessar a fronteira para a Rússia. E assim fizemos.
A Burra, nos últimos dias, teima em ter alguma dificuldade em pegar. Não sabemos se é alguma válvula ou estrangulamento de algum tubo, mas parece que a gasolina tem dificuldade em chegar ao motor logo pela manhã. Depois de alguma persistência, começa a trabalhar e durante o dia porta-se de forma excelente. As estradas asfaltadas são um prémio de recompensa para a nossa Burra, que já passou por dias complicados. No entanto, os quilómetros a percorrer por dia continuam a ser muitos, mas até agora tem-se portado muito bem.
A extensão das terras cazaques é mesmo impressionante. Tudo isto é muito longe de Moscovo, e não é de estranhar que, mesmo nos tempos czaristas, o regime tenha mandado para aqui presos políticos para cumprir penas de exílio e trabalhos forçados. Um dos casos mais famosos é o do genial escrito Fiodor Dostoievski, condenado a trabalhos forçados durante cinco anos em Omsk (actual território russo), e a cumprir serviço no exército russo em Semey durante três.
Em Semey, onde parámos para almoçar, aproveitámos para visitar o museu dedicado ao escritor, com objectos pessoais, nomeadamente livros, e fotografias de locais, amigos e família. Infelizmente, poucas são as legendas em inglês. Ao lado do museu, encontram-se preservadas três divisões da casa onde o escritor viveu.
Também tentámos visitar o Museu Anatómico (dentro da Universidade da cidade), onde se encontra uma exposição de fetos e animais com defeitos genéticos provocados por exposição a radiação, mas não conseguimos acesso (a senhora que tinha a chave só regressava ao trabalho no dia seguinte).
Este museu, que por si só poderia parecer insólito, tem toda a razão de ser pois, a pouco mais de cem quilómetros de Semey, encontra-se o complexo de Polygon, com base na cidade de Kurchatov. Ali, entre 1949 e 1989, foram despoletadas centenas de bombas nucleares, e estudados os efeitos, em pessoas e animais, da exposição à radiação. Com a indepedência do Cazaquistão, os testes nucleares passaram à história, mas os seus efeitos continuam a sentir-se e a marcar a vida dos habitantes daquela área.
Hoje encontra-se aí um centro de investigação nuclear e o próprio complexo transformou-se numa atracção turística, com possibilidades de visitas organizadas or agências locais. No entanto, por falta de tempo, não pudemos visitar Polygon. Ficará para uma próxima oportunidade, pois, a par de Pripyat e a central de Chernobyl, são locais importantíssimos para contar a história da energia nuclear, da sua importância, e do cuidado que se deve ter com ela.
Seguimos para a fronteira com a Rússia, junto à localidade de Auyl. Tivemos de esperar um pouco, pois alguns camiões se encontravam à nossa frente, mas os procedimentos foram rápidos, em ambos os lados, e passado pouco mais do que uma hora, estávamos já em território russo.
Dali, rapidamente chegámos à cidade de Rubtsovsk. Ali, após procurarmos um pouco, conseguimos um hotel com bons quartos e com um excelente restaurante. As funcionárias não falavam inglês, o menu era só em russo, mas as fotos e alguma mímica permitiram-nos pedir. E o resultado foi uma das melhores refeições da viagem, com camarões grelhados, e um naco de carne acompanhado de arroz e salada. Somos a favor de experiências culturais, mas depois de mais de um mês a comer, invariavelmente, shashlik, manti e laghman, sabe muito bem saborear comida mais próxima da de nossa casa!
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