Levantámo-nos cedo, e tomámos o pequeno-almoço no nosso hotel em Almaty. O dia que tínhamos pela frente iria ser longo, e não tínhamos certezas quanto à qualidade das estradas no Cazaquistão. Tínhamos falado com algumas pessoas, e sabíamos que a estrada até Taldykorgan (cerca de 250km) era auto-estrada de boa qualidade. Quanto ao resto, as pessoas diziam que a estrada era má.
Não tínhamos assim qualquer certeza. Como ia ser a estrada, quanto tempo demoraria, onde ficaríamos a dormir. A única certeza era que iríamos atravessar as estepes do Cazaquistão. O nosso objectivo era chegar o mais longe possível, de forma a chegarmos à fronteira com a Rússia talvez no dia seguinte.
Num país das dimensões do Cazaquistão (cerca de 30 vezes maior do que Portugal), o conceito de distância depende crucialmente do factor tempo. Como estávamos escaldados das estradas da Arménia, Turquemenistão e Tajiquistão (junto à fronteira com o Afeganistão), tínhamos receio que a má qualidade das estradas cazaques nos pudesse atrasar o itinerário planificado.
Felizmente, tudo correu pelo melhor. Optámos pela estrada que por oeste do Lago Balkash. Até Taldykorgan, confirmou-se o que nos tinham dito. Mas depois, apesar de já não ser auto-estrada, o tapete asfaltado continuou a ser de boa qualidade e conseguimos percorrer muitos quilómetros. Durante a viagem, a paisagem é impressionante pela sua imensidão e planura. O Cazaquistão foi encarado, desde a criação da URSS, como uma terra distante e agreste, mas também cheia de oportunidades.
Nos anos trinta do século passado, os povos nómadas autóctones foram sedentarizados à força pelo regime comunista e, nos anos cinquenta, seguiu-se a mobilização de centenas de milhares de pessoas para transformar as estepes do Cazaquistão no celeiro da URSS. Ainda hoje, o cultivo de cereais é uma das principais fontes de rendimentos e de exportação do país.
Pelo caminho, testemunhámos que estas terras continuam a ser uma fonte de riqueza inestimável, e cruzámos a linha ferroviária que vai de Almaty até Urumqi, na China, percorrida por comboios dezenas de vagões de carga.
A fome apertava, por isso decidimos parar para almoçar, numa pequena localidade à beira da estrada. Só existiam meia dúzia de casas e uma bomba de gasolina. Apesar do aspecto do restaurante não ser o melhor, a verdade é que comemos um óptimo shashlik de frango.
Continuámos caminho e perdemo-nos na imensidão do Cazaquistão. Ao final da tarde, quase noite, decidimos pernoitar na localidade de Ayagoz. Escolhemos um hotel simpático, com bons quartos e com uma casa de banho comum com uma sauna em anexo. Não chegámos a utilizar a sauna, mas o banho de chuveiro foi um dos melhores da viagem.
Ao jantar, experimentámos o prato nacional do Cazaquistão, beshbarmak, que quer dizer “cinco dedos”, uma vez que os povos nómadas comiam este prato com as mãos. Servido num prato grande para todos, a carne de cavalo e de cordeiro é cozida e cortada em pequenos pedaços e servida com noodles, acompanhada de um caldo de carne chamado shorpo. Foi uma óptima forma de acabar o dia, apreciando a gastronomia local.
A noite não acabou sem antes eu ter sido forçado, fruto de uma aposta mal sucedida com o Carapau Oliveira, a comer um iogurte muito azedo, que servia de acompanhamento ao prato principal, porque, apesar de portuense, não sabia que a santa padroeira do Porto é a Nossa Senhora da Vandoma. Desta, nunca mais me esqueço!
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