Para o nosso segundo dia em Santo Antão, tínhamos reservado um dos trilhos mais emblemáticos da ilha, a descida da Ribeira de Paúl a partir da Cova, formada pela cratera de um vulcão extinto, até à Vila das Pombas. Mas não só. No final do trilho da Ribeira de Paúl, iríamos de aluguer de volta para Porto Novo, de onde seguiríamos de barco de volta a São Vicente, onde contávamos chegar ao final da tarde, mas com ainda tempo para dar uma volta pela cidade de Mindelo com luz do sol.
Preparação do trilho da Ribeira de Paúl e visitar a Corda
Para cumprir um itinerário tão apertado, era necessário começar cedo em Paúl, para seguir para a Ribeira de Paúl. E assim o fizemos. Logo depois de tomarmos o pequeno-almoço na Aldeia Jerome, encontrámo-nos com Joselyn, o jovem motorista de aluguer com quem tínhamos negociado no dia anterior um preço razoável para nos levar até à Cova, subindo pela estrada que serpenteia a Ribeira da Torre.
As ravinas escarpadas que descem até ao mar, com povoações que parecem penduradas nas vertentes, proporcionam um panorama espectacular, principalmente na zona de Corda, quando a estrada segue vertiginosamente numa crista que separa a Ribeira da Torre da Ribeira do Duque.
O tempo estava um pouco nublado no dia em que fizemos a Ribeira de Paúl, principalmente nas maiores altitudes, por isso não era possível ter um vislumbre completo da paisagem que nos rodeava, mas o que conseguíamos ver preenchia-nos as medidas, apesar do ar bastante fresco que corria. Ali no alto, a quase dois mil metros de altitude, a temperatura é bem diferente daquela registada em Paúl. A nossa ideia era ter feito esta estrada no dia em que tínhamos chegado à ilha, mas os motoristas de alugueres pediam demasiado dinheiro. Agora, tínhamos conseguido fazê-lo, e juntá-lo no itinerário do trilho da Ribeira de Paúl que se adivinhava fenomenal.
Trilho da Ribeira de Paúl
Depois de passarmos a aldeia de Espongeiro, chegámos à cratera, iluminada pelo sol da manhã, e com a sua base completamente coberta de terrenos cultivados. Algumas pessoas e animais trabalhavam e percorriam os campos. Joselyn deixou-nos, não sem antes nos indicar por onde deveríamos seguir para a Ribeira de Paúl.
Contornámos a Cova, por uma estrada de terra batida, com bastantes árvores a tapar-nos uma visão integral da cratera. Depois começámos a única subida digna de registo desse dia, para alcançarmos o ponto onde terminava a parede da cratera e se vislumbrava o início da Ribeira do Paúl.
Isto é, vislumbrar-se-ia a Ribeira do Paúl se o tempo assim o permitisse! O problema é que, mesmo antes de chegarmos ao topo, víamos o nevoeiro a chegar do outro lado da Ribeira de Paúl, e a entrar na cratera. Ficámos desiludidos, ainda ponderámos esperar um pouco no topo, mas não tínhamos tempo.
Tínhamos de começar a descer o trilho da Ribeira de Paúl que serpenteava vertiginosamente, mesmo sem ver o que nos esperava mais à frente na Ribeira de Paúl. Como companhia, tínhamos uma família de cabo-verdianos que escolheu esta caminhada para o Sábado de Páscoa, assim como um local que passou por nós a correr acompanhado de um burro carregado.
Felizmente, passado pouco tempo, o nevoeiro deu-nos tréguas e permitiu-nos ter uma visão dos deuses: a Ribeira do Paúl, em toda a sua extensão, começando na borda da Cova, e espraiando-se até ao mar.
Nesta altura, passou por nós um conjunto de trekkers franceses de meia-idade, que subia a Ribeira de Paúl a um ritmo impressionante. Fica para uma próxima oportunidade o desafio de fazer esta caminhada pela Ribeira do Paúl no sentido contrário!
O vale da Ribeira de Paúl exibia uma paisagem verdejante, pontuada por campos cultivados, que iam crescendo em número e extensão conforme íamos descendo o caminho. Ao passarmos por uma aldeia pendurada na vertente da Ribeira de Paúl, uma simpática senhora perguntou-nos se éramos portugueses e convidou-nos a entrar em sua casa onde nos ofereceu grogue e ponche de mel da Ribeira de Paúl.
Mais abaixo, parámos um pouco para comer alguma coisa na Ribeira de Paúl. A descida era longa e íngreme pela Ribeira de Paúl, e os nossos músculos estavam fatigados. Mas tínhamos de continuar. Ao fim de duas horas de descida pela Ribeira de Paúl, encontramos a aldeia de Chã Manuel dos Santos, onde a estrada que vem do mar acaba.
A partir dali, decidimos segui-la, pois estávamos interessados nas localidades por que ela passava na Ribeira de Paúl, e queríamos visitar uma casa onde se produzisse grogue, aguardente obtido da cana de açúcar, já que estávamos no início da sua época ali na Ribeira de Paúl.
A aldeia seguinte era Chã João Vaz, e foi aí que sentimos o cheiro de grogue no ar da Ribeira de Paúl. Entrámos num beco e demos por nós no interior de um quintal onde dois jovens esmagavam cana de açúcar num trapiche, orientados por um senhor de meia idade, que nos explicou o processo.
Recolhiam o sumo daí resultante, o qual seria depois destilado para se obter o grogue. Ainda provámos o sumo, que era bem doce, mas não tínhamos tempo de esperar pelo grogue da Ribeira de Paúl.
As localidades seguintes da Ribeira de Paúl, Passagem, e, após contornarmos um monte que nos tapava a vista para o mar, Boca de Figueiral, receberam-nos com sorrisos. O vale da Ribeira de Paúl tinha cada vez mais terra de cultivo, e o cheiro de grogue misturava-se com o barulho dos trapiches.
Eito, a principal localidade antes de Paúl (Vila das Pombas) e da Ribeira de Paúl indicava-nos que já não faltava muito para chegarmos ao nosso destino. Já se via o mar, já se sentia o cheiro fresco a maresia, mas o dia estava quente e o sol queimava a nossa pele ali na Ribeira de Paúl. Acabámos por entrar em Paúl pela ponte que cruzava a ribeira, e a qual já tínhamos visitado no nosso primeiro dia.
Apesar do começo enevoado, o trilho da Ribeira do Paúl acabou por nos mostrar todo o seu esplendor, e mais uma vez a ilha de Santo Antão surpreendeu-nos pela sua beleza natural e cultural ali na Ribeira de Paúl. Era tempo de partir e já sentíamos saudades. Não sabemos quando, mas sabemos que um dia voltaremos a Santo Antão e à Ribeira de Paúl.
Opções de alojamento na ilha de Santo Antão são:
- Pedracin Village (na área rural da Ribeira Grande)
- Casa Santa Barbara Deluxe (uma casa com piscina na Ribeira Grande)
- Tiduca Hotel (um bom hotel na Ponta do Sol)
- Luatur (um apartamento particular na Ribeira Grande)
- Hotel Miranda & Miranda (em Ponta do Sol)
- Questel BronQ (em Chã da Igreja)
- Casa De France (em Porto Novo)
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Olá!
Esses trilhos podem ser feitos em autonomia? Estão marcados ou são fáceis de identificar?
Obrigada
Rosa
Olá,
O vosso blogue é fantástico e uma forma de dar a conhecer este nosso belo mundo 🙂
Irei ter a oportunidade de ir um dia a Santo Antão (ferry) e gostava de saber na vossa opinião se tivessem que escolher um trilho qual seria: o Trilho da Ribeira do Paúl ou o Trilho da Ponta do Sol à Cruzinha da Garça.
Os trilho são de dificuldade baixa/média, elevada? A duração de qualquer um deles é compatível com o retorno no final do dia ao ferry para São Vicente?
Obrigado desde já 🙂
Olá João. Não tenho presente o horário dos ferrys mas deve contar com cerca de pelo menos 6 – 7 horas de caminhada para cada um dos trilhos. Mais o tempo dos transportes do ponto inicial ao ponto final. Pelo menos uma hora para cada lado. Para conseguir fazer num dia, coisa que acho arriscado, tem que apanhar um táxi no ferry e combinar com o mesmo táxi ele esperá-lo no final do trilho. O mais bonito é o Trilho da Ponta do Sol à Cruzinha da Garça.
Para quem pretende aproveitar alguns dias de aventura, as potencialidades da nossa ilha são enormes. O contraste e a variedade das paisagens, a amabilidade do nosso povo, fazem as delícias aos amantes da natureza.
Verdade 🙂
Já vos tinha desafiados a fazerem esse percurso ao comentar a vossa aventura às Fontainhas, mas tive essa surpresa agradável de constatar que de facto fizeram o percurso inteiro e passaram perto da zona (Boca de Figueiral) que me viu nascer, Figueiral do Paul. Os meus parabéns pela bonita descrição. Ficamos a vossa espera!!!
Obrigada pelas belas e encorajadoras palavras. Nós adorámos Santo Antão e um dia regressaremos. Ficou tanto por fazer.
Li e gostei. Muito obrigado por terem escolhido o nosso país e em particular Santo Antão de uma beleza natural espetacular, aliás sou suspeito para falar da minha própria ilha. Muitíssimo obrigado e voltem sempre.
Obrigada, Anilton. 🙂
Estou a gostar imenso da ilha de Santo Antão e de acompanhar cada etapa da vossa viagem.
Obrigado por partilharem!
Obrigada, Levine. 🙂