Santo Antão é a segunda maior ilha do arquipélago e é um paraíso para treks em paisagem montanhosa. Os ventos secos e húmidos que varrem a ilha dividem-na em diferentes zonas climáticas. O norte da ilha tem vales verdejantes percorridos por linhas de água temporárias ou permanentes, que são designados pelo nome dessas linhas, ou seja Ribeiras. O sul da ilha é árido e exibe uma paisagem desértica rochosa. Pode passar-se semanas a explorar os recantos da ilha e os seus percursos pedestres mas, como só tínhamos dois dias, tivemos de optar pelo nordeste da ilha. Para o nosso primeiro dia, dedicamo-nos ao percurso costeiro entre a cidade de Ponta do Sol e a aldeia da Cruzinha da Garça (trilho da Ponta do Sol).
Começámos por tomar o nosso pequeno-almoço no terraço do Aldeia Jerome, onde estávamos alojados em Paúl (também conhecido como a Cidade das Pombas), e por volta das 8.00h dirigimo-nos ao ponto de encontro com os alugueres (serviços de transporte colectivo popular em carrinhas Hiace) que angariavam clientes com destino às cidades de Ponta do Sol e Ribeira Grande. Para chegar ao trilho da Ponta do Sol, depois de alguma espera, pois o transporte só segue viagem depois de completo, lá prosseguimos. A estrada costeira é fenomenal, permitindo vistas panorâmicas das localidades que íamos passando. Na Ribeira Grande, ficamos impressionados pelo tamanho da cidade e pelo movimento de pessoas, o que não será de estranhar pois estávamos sediados em Paúl, uma pequena e sossegada vila.
Descemos na Ponta do Sol, estabelecida numa fajã, ou seja, um terreno plano de pequena extensão junto ao mar, resultante de desprendimentos de arribas ou de escoadas de lava que penetram no mar. A cidade já exibe um carácter mais urbano, com alguns prédios de apartamentos. Iniciámos o trek junto ao cemitério, iluminados pelo sol brilhante da manhã. Começámos o trilho da Ponta do Sol logo a subir, ora mais gradualmente, ora mais acentuadamente. Passámos por alguns locais, que percorrem este primeiro troço do caminho, entre a Ponta do Sol e a aldeia das Fontainhas. À saída da cidade encontramos algumas pocilgas construídas nas vertentes inclinadas, onde cada porco tinha direito a uma «habitação» individual.
O o trilho da Ponta do Sol, inicialmente mais junto ao mar, vai inflectindo um pouco para o interior, serpenteando enquanto sobe e desce pelas ravinas escarpadas. Após aproximadamente uma hora de caminho, chegámos a um dos pontos altos do trek: a visão sobre a Ribeira das Fontainhas e a aldeia homónima, pendurada numa crista na vertente inclinada.
O o trilho da Ponta do Sol começa então a descer acentuadamente, levando-nos até à aldeia, rodeada de campos cultivados em socalcos. Alguns trekkers passam por nós; o nosso ritmo é lento, pois paramos muitas vezes para tirar fotos à paisagem magnífica. Há pouca gente na aldeia à vista, que nos cumprimentam enquanto passamos.
Deixando a aldeia para trás, o caminho volta a subir, e novamente em direcção ao mar. Atingimos um local cimeiro, de onde se voltam a ter vistas panorâmicas espectaculares. Para trás, as Fontainhas e a sua localização que realmente nos impressionou, assim como a necessidade de água e terreno cultivável que levou as pessoas a estabelecerem-se num local tão isolado.
Para a frente, uma descida serpenteante e acentuada, terminando na aldeia do Corvo, aninhada no fundo da Ribeira homónima. Pelo caminho, alguns locais passam por nós no sentido contrário, e reparámos nas Estações (ou Passos) da Via Crúcis de Cristo, representadas em curvas da descida, e recordamo-nos que estamos a fazer este trek na Sexta-Feira Santa, uma curiosa coincidência. Mas estávamos a descer, por isso a Via Dolorosa era ao contrário, começando por Jesus ser sepultado e acabando em Jesus a ser condenado à morte. O esforço nos nossos músculos era, no entanto, igualmente intenso.
A partir do Corvo, o caminho seria sempre junto ao mar, ora encravado na base das ravinas escarpadas, com o mar aos nossos pés, ora abrindo os nossos horizontes, quando o caminho cruza alguma ribeira. Pelo caminho, encontrámos o António, um rapaz que estava a fazer um peditório para o transporte de alunos, mas contribuímos com alguns cadernos e marcadores que tínhamos trazido de Portugal.
Almoçámos na localidade de Formiguinhas, onde conhecemos uma linda menina, Alice, com a qual conversamos um pouco e à qual também arrancamos um sorriso com a oferta de um caderno e lápis de pintar. Aqui foi também onde vimos a maior concentração de trekkers do caminho, na sua maioria franceses, e a percorrerem o trek em sentido contrário ao nosso. Inicialmente era esse o nosso propósito, mas o conselho de uns amigos cabo-verdianos que nos aconselharam a fazer no sentido a favor da luz da manhã. E tinham razão, pois não só a exposição à luz era mais favorável para as fotografias, como ter feito a Ribeira das Fontainhas logo no início foi claramente a opção correcta.
O caminho continuou aos altos e baixos pouco acentuados, até chegarmos à Ribeira de Aranhas e a Chã de Mar. Aí confrontamo-nos com uma subida em ziguezagues extenuante, que nos levou ao último troço do caminho, passando pela Praia da Ribeira Seca, de areia vulcânica, e chegando, por fim, após cerca de seis horas de caminhada, à aldeia de Cruzinha da Garça.
Aí, depois de uma bebida fresca e um pratinho de lapas, negociámos um transporte que nos levaria à Ribeira Grande, num percurso que é também verdadeiramente espectacular, e que pode ser feito a pé por aqueles que tenham mais tempo na ilha, passando pela Chã da Igreja, descendo o magnífico vale da Ribeira Grande, e passando pela Boca de Ambas Ribeiras e Coculi, terminando na cidade de Ribeira Grande. Daí regressamos noutro aluguer ao sossego do nosso lar em Santo Antão, a Vila das Pombas, ou Paúl. Era o final do nosso trilho da Ponta do Sol.
Tínhamos acabado de fazer um dos treks mais bonitos da nossa vida, o trilho da Ponta do Sol à Cruzinha da Graça.
PROCURE ALOJAMENTO NA ILHA DE SANTO ANTÃO
Outras opções de alojamento na ilha de Santo Antão são:
Pedracin Village (na área rural da Ribeira Grande)
Casa Santa Barbara Deluxe (uma casa com piscina na Ribeira Grande)
Tiduca Hotel (um bom hotel na Ponta do Sol)
Luatur (um apartamento particular na Ribeira Grande)
Hotel Miranda & Miranda (em Ponta do Sol)
Questel BronQ (em Chã da Igreja)
Casa De France (em Porto Novo)
Fiz na segunda feira Fontainhas-Cruzinha e foi excelente!!!
Irei voltar!
Ainda bem que gostou. 😀
Belíssimas fotos e belíssimo relato!
Parabéns!
Obrigada 🙂
Santo Antão no seu todo é uma maravilha pese embora o “cereja em cima do bolo” fica no Paul…
Queria dizer …*a “cereja em cima do bolo”. Fica a correção. Aproveito para vos desafiar a fazerem a serpentina “Cova a Cabo de Ribeira”. Simplesmente fantástico!!!
Quem sabe um dia voltamos e fazemos. Ficou muita vontade de voltar a Cabo Verde e a Santo Antão. Adorámos. Verdadeiramente lindo, genuíno e deslumbrante.
Para aqueles que gostaram da Aldeia de Fontainhas, tentam fazer ess treck depois das chuvas, garanto-vos será ainda mais arrebatador.
Uma informação adicional:
A aldeia das Fontaínha foi eleita pela National Geographic como “a segunda vista mais bonita do Mundo”.
Obrigada pelo apontamento, Homero. Muito bom.
Fontaínhas, o meu berço! A aldeia onde nasci e vivi durante os meus primeiros 20 anos de vida, Saudades…
Imagino a calma destes sítios, sem ruídos “urbanos”…verdadeiros locais para relaxar a mente.
Obrigado pela sugestão, já agora e que tal um passeio pela serra da gardunha? https://www.yup.pt/turismo-rural/pt-pt/percursos/azenhas-e-levadas
Que caminhada fantástica! Mais um sítio para acrescentar à minha imensa lista de lugares a visitar por este mundo fora. Adorei particularmente a aldeia das Fontainhas.
Sim, Levine, é realmente fantástico e a aldeia das Fontaínhas é um lugar verdadeiramente mágico. Vale a pena.