Carismática e doce, Mindelo recebeu-nos com raios de sol envergonhados. O calor lendário cabo-verdiano parecia tímido. A cidade de Mindelo, na sombra do Monte Cara, estava iluminada pela reflexão da luz nas águas azuis do mar onde o ilhéu dos Pássaros, ao longe, parecia flutuar.
Aproveitámos a cidade de Mindelo assim mesmo, com pouca luz, deambulando por ruas cheias de gente e, cafés, que a cada esquina, nos faziam transportar de volta para Portugal.
VISITAR MINDELO
Começámos a explorar Mindelo na Rua dos Exploradores de África, de frente para o Palácio Presidencial do Mindelo, com tons de rosa que já só os edifícios coloniais exibem. Edson, o motorista que nos tinha levado no seu táxi à Baía das Gatas e ao Monte Verde, deixou-nos no café/restaurante Algarve. Uma espécie de “instituição” da cidade do Mindelo, assim como o café Lisboa, logo em frente, do outro lado da rua. Infelizmente estava encerrado e seguimos, procurando um lugar para almoçar entre os vários cafés existentes. O mercado municipal e as lojas comerciais alegravam a rua de Mindelo.
Um pouco à frente vimos anunciado “bife de atum gratinado- 400$“. Gostámos do letreiro, do preço e do ambiente de Mindelo. Entrámos. O bife estava magnífico e a simpatia dos dois empregados também.
Toda a rua dos Exploradores de África em Mindelo é rodeada por edifícios coloniais, antigas residências com janelas indiscretas, onde espreitavam olhos atentos de anciãs que viam desfilar o mundo na sua cidade. A rua termina (ou começa) em frente à marina de Mindelo, o Pont d’Água como lhe chamam, repleta de barcos. Com o Centro Cultural de Mindelo do lado direito, instalado nas antigas casa da alfândega, resolvemos seguir à esquerda, pela Avenida Amilcar Cabral em direcção ao mercado de peixe.
Pelo caminho, cruzámos as dezenas de redes de pesca estendidas logo ao lado de uma réplica hollywoodesca da Torre de Belém de Mindelo. Os pescadores do Mindelo descansavam ali da faina da manhã, conversando sentados no muro da marginal ou nos barcos de pesca. Outros aglomeravam-se debaixo de um pequeno taipal jogando ouri, um jogo tradicional de Cabo Verde, com uma base de madeira e sementes. Observámos e tentámos aprender ali no Mindelo. Não parecia fácil mas percebemos que o objectivo era “comer” as sementes dos adversários. Uma anciã, no seio de um grupo de homens pescadores, parecia estar a fazer as delícias dos adversários graças à sua destreza no jogo.
Voltada para o mar, a estátua de Diogo Afonso, parecia dar as boas vindas a todos os visitantes da cidade de Mindelo. Ao mesmo tempo, parecia abençoar os barcos de pesca e pescadores do Mindelo que ali se aglomeravam descontraidamente. Até os cães estavam relaxados, dormindo sobre as redes de pesca que no dia seguinte voltariam a entrar no mar.
Chegámos ao Mercado de Peixe do Mindelo já passava da hora do almoço. As capturas do dia estavam quase todas vendidas e apenas alguns pescadores chegavam com peixes gigantescos, essencialmente atum e espadarte, que pesavam e amanhavam nas extensas bancas de cimento. As mangueiras já estavam preparadas para lavar o chão do recinto.
O peixe, comprado pelos restaurantes da cidade de Mindelo, estaria à noite a compor as mais variadas ementas. Os pescadores de Mindelo convidaram-nos para ver o peixe, tocá-lo e até amanhá-lo. Não. Isso já seria demais! Decidimos ficar apenas pela observação e deixar experiências mais tácteis para outro dia no Mindelo. O cheiro era forte mas não incomodava. Era cheiro a peixe e combinava na perfeição com o local.
Seguimos para a Praça da Independência de Mindelo e o mercado de frescos, essencialmente legumes e frutos que chegam de barco da ilha de Santo Antão. Logo ao lado, a Praça da Estrela de Mindelo, rodeada por pequenos quiosques de artesanato, à volta de um coreto transformado em café. Estava cheio de gente, que bebia o seu copinho de grogue. A porta do café exibia um cartaz que dizia “É só xi xi ok“. Rimos e continuamos o nosso percurso rumo à Praça da Igreja e da Câmara Municipal de Mindelo.
Metade do carisma desta cidade de Mindelo resulta do prazer que se tira ao deambular pelas suas ruas e dos sorrisos que se partilham com as pessoas com quem nos cruzamos nas vielas empedradas. É esta a alma do Mindelo que se sente ainda mais na Praça Amilcar Cabral, com um pequeno coreto. Ali bem perto, o nosso excelente Kiras Hotel.
Parámos na esplanada da Casa Café Mindelo, num edifício colonial no Mindelo, numa das praças mais encantadoras da cidade e de frente para o mar. Com búzios estufados, regados por ponche de mel, fomos vendo o sol esconder-se por trás dos barcos atracados na marina e a noite cair.
Comer as melhores lagostas de Cabo Verde
O jantar em Mindelo reservou-nos um investimento na gastronomia cabo-verdiana. Perdemos a cabeça e fomos à Tasca do Sr.º Lima, o restaurante Pica Pau, que é uma espécie de instituição para quem quer provar a lagosta em Mindelo.
O Sr.º Lima não gostou quando perguntei se a lagosta era mesmo boa, então, pegou-me por um braço e puxou-me para dentro da cozinha dizendo “venha ver, vou mostrar-lhe as lagostas acabadas de cozer. Vai ver como não resiste!“. Depois da visita à cozinha minúscula, mostrou-me e leu-me algumas das criticas eternizadas em centenas de guardanapos de papel e restos de toalhas amareladas pelo tempo, penduradas nas paredes da tasca do Mindelo.
Do alto dos seus 84 anos, convenceu-me a comer “lagosta ao natural”, dizendo “lagosta grelhada é para os estrangeiros que nunca comeram coisas boas. Aos portugueses e aos angolanos só vendo ao natural. Eles sabem o que é bom!“. E era mesmo bom ali no Mindelo, especialmente regada com um magnífico vinho da ilha do Fogo.
Ouvir uma morna na noite do Mindelo
Vir ao Mindelo e não ouvir a Morna seria pecado. Terminamos a noite no Mindelo ao som desta melodia musical cabo-verdiana. Era importante ouvi-la e ver os cabo-verdianos dança-la em Mindelo.
Escolhemos um bar típico no Mindelo onde passámos um excelente serão, mas ali, para além de mim, ninguém dançava. Talvez tenha sido do ponche de mel, mas o ritmo era mesmo bom no Mindelo. Foi uma bela forma de nos despedirmos da ilha de São Vicente. A viagem tinha que continuar e rumaríamos no dia seguinte do Mindelo para a Praia e para a ilha de Santiago, onde aí sim, ouvimos e dançamos a Morna com os cabo-verdianos.
Como visitámos o Mindelo
Explorámos Mindelo durante um primeiro dia, antes de partirmos para Santo Antão e, quando regressámos a São Vicente, uns dias depois, voltamos a explorar a cidade do Mindelo. Aí fomos conhecer melhor Mindelo, mas mais especificamente a sua música e noite.
Onde dormir no Mindelo
Foi no Kiras Hotel no Mindelo que descansamos e nos recompusemos dos trilhos de Santo Antão, com vista sobre a praça Amílcar Cabral. Aproveitamos que estávamos no centro da vida nocturna mindelense para conhecer e explorar a noite do Mindelo. Isabel, recebeu-nos com um sorriso rasgado e mostrou-nos o nosso quarto: Boa Vista. Cada quarto tem o nome de uma ilha e ficámos felizes por termos direito a um quarto que transmitia aquilo que precisávamos naquele momento, algum descanso. Era mesmo o que estávamos a precisar no Mindelo para nos recompor dos trilhos que fizemos.
- Kiras Guest House: Localizada ao lado da Praça Amilcar Cabral, no centro de Mindelo, o Kiras Hotel é excelente, e provavelmente a melhor opção de alojamento em Mindelo. Os quartos duplos custam cerca de 65€. A sua localização no Mindelo permite aproveitar para explorar a vida nocturna mindelense. Cada quarto tem o nome de uma ilha cabo-verdiana. O ambiente é muito tranquilo e agradável e as funcionárias são incensáveis e super simpáticas. O hotel, para além da localização excelente, tem um quarto grande e espaçoso e uma casa de banho maravilhosa com água quentinha e cheia de pressão. O quarto tem frigorífico. O terraço do hotel é lindo e acolhedor. Como só ficamos aqui um dia e saímos muito cedo não sabemos como é o pequeno-almoço servido no hotel, mas sabemos algo muito importante. Quando saímos bem cedo pela manhã (05.30), a funcionária preparou-nos um pequeno almoço fantástico com uma tosta mista quentinha, um sumo e fruta para levarmos para o aeroporto do Mindelo. Um gesto de delicadeza que não podemos esquecer no Mindelo.
Há outros alojamentos recomendados no Mindelo. O ideal é procurar alojamento no centro, pelo que pode optar por alguns destes:
- Prassa 3 Boutique Hotel – Local recatado e com glamour no Mindelo. É um local romântico e uma bela escolha no centro da cidade de Mindelo.
- Casa Senador – Mais um belo lugar para se alojar na cidade do Mindelo, cheio de carisma, no interior de um dos edifícios históricos do Mindelo. Muito central.
- Casa Café Mindelo – Um dos hotéis mais típicos do Mindelo. Está no centro da movida de Mindelo. Um excelente opção para combinar boa cama com boa mesa no Mindelo.
- Casa Colonial – Bela casa senhorial no Mindelo, recuperada e agora transformada numa unidade de alojamento tradicional e muito bonito. Tem piscina.
- Blue Marlin Hotel – Em frente à marina e com uma magnífica vista sobre o Mindelo. Tem piscina.
- Apart Hotel Avenida – Muito central, simples e limpo no Mindelo. Uma opção económica no Mindelo.
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Olá, Carla
Por acaso tem o contacto do Edson?
Vamos para a semana…
Muito obrigada!
Carla Matias
Não temos não, lamento.
[…] principalmente explorada pelos ingleses. Mas a vida na ilha nunca foi fácil, e com a ascensão de Mindelo e do seu porto seguro, a Boa Vista declinou e o fantasma da fome periodicamente assolou a ilha. […]
Descobri este blog hoje e gostei muito. só para informar que se perguntar a um mindelense para Rua dos Exploradores de Áfricaa ninguém saberá dizer, mas se perguntar por rua de Lisboa até um bebé sabe dizer. kkkkk porque a rua é conhecida por rua de Lisboa. Boas aventuras
Obrigada, Carmo. Boa informação. Vou acrescentar. 😀
Voltei de São Vicente a semana passada e já estou a morrer de saudades!
Ainda bem que gostou. Nós adoramos. 😀
Que saudades da minha terra natal,e do meu povo mindelense 😍 sodad sodad sodad… ❤
Sodad… Regressei hoje de uma segunda visita. Amei novamente.
deixei a cidade de Mindelo há 3 dias… é mesmo o que aqui se descreve… uma cidade que deixa “sodade” e vontade de lá voltar!!
Verdade. Uma cidade maravilhosa.